Há um ano, as polícias não realizam grandes operações para erradicar a droga, deixando os traficantes livres para ocupar áreas de Orocó, Cabrobó, Belém de São Francisco e várias ilhas da região
EDUARDO MACHADO
Enviado especial
SALGUEIRO – O Sertão pernambucano, que havia perdido para o interior do Maranhão o posto de maior área produtora de maconha do País, está voltando ao topo do ranking do tráfico. Há um ano sem sediar uma grande operação de repressão ao plantio da erva, os municípios de Cabrobó, Orocó e Belém de São Francisco estão novamente repletos de roças. A maior incidência das plantações está nas ilhas do Rio São Francisco, entre as três cidades vizinhas e o Estado da Bahia.
A facilidade para encontrar os plantios é tanta que, ontem pela manhã, em três ilhas escolhidas ao acaso por policiais federais da Delegacia de Salgueiro e PMs da Companhia Independente de Operações e Sobrevivência em Área de Caatinga (Ciosac), foram localizados e destruídos 12 mil pés de maconha e 21 sementeiras. No dia anterior, a mesma equipe encontrou uma roça com 13 mil pés em Belém de São Francisco.
A última grande investida no chamado Polígono da Maconha ocorreu há um ano, quando foram erradicados 234 mil pés da erva e apreendidos 136 quilos prontos para o consumo, durante a Operação Controle XII. Em setembro do ano passado, quando seria deflagrada a Operação Controle XIII, um acidente com o helicóptero da Secretaria de Defesa Social, logo no primeiro dia, suspendeu a ação. De lá para cá, os plantios vêm crescendo indiscriminadamente e os poucos policiais federais da Delegacia de Salgueiro estão precisando improvisar para tentar impedir que os plantadores colham a quarta safra da droga, que, de tão abundante, está sendo vendida até por R$ 40 o quilo. Um valor cinco vezes menor do que vinha sendo praticado na região no início de 2004.
Ontem pela manhã, os policiais partiram de Salgueiro para Orocó às 5h30, em três viaturas. Sem embarcação própria, a primeira dificuldade foi conseguir um dono de chalupa (tipo de barco) disposto a transportar as duas equipes até as ilhas. Somente às 8h, o barqueiro José Avelar, 49 anos, apareceu e aceitou participar da empreitada.
Como o barco não comportava todos os 15 policiais, apenas quatro agentes federais e quatro PMs puderam seguir. Só um dos policiais tinha colete salva-vidas, porque comprou com dinheiro do próprio bolso.
Nas ilhas, as provas de que a falta de um combate intensivo da produção de maconha precisa ser mantido eram inequívocas. Fora os 12 mil pés erradicados, foi possível notar a infra-estrutura deixada para trás pelos plantadores. Adubo, canos de irrigação e acampamentos no meio do mato. Todas as roças estavam praticamente prontas. “Mais uma semana e a maioria dos plantios já poderia ser colhido. Os traficantes estão agindo descaradamente”, explicou o agente João Evangelista.
O delegado Welington Santiago, que comandou a operação, afirma que o trabalho seria bem mais produtivo com a utilização dos helicópteros. “Com as aeronaves, primeiro se faz uma varredura, através da qual os maiores plantios são localizados e têm suas coordenadas geográficas anotadas. Depois, as equipes são deixadas nesses locais para fazer a erradicação”, relatou.
No plantio encontrado na terça-feira em Belém de São Francisco, os policiais conseguiram prender um suspeito em flagrante. O agricultor Gílson João Damas, 41, que trabalhava no local, tentou escapar, mas foi detido. Um segundo plantador fugiu.
O superintendente da Polícia Federal em Pernambuco, Bergson Toledo, revelou que as grandes operações no Sertão estão suspensas por falta de verba. “Cada uma custa em torno de R$ 160 mil. Chegamos a marcar duas, mas cancelamos porque o dinheiro não chegou. Continuamos tentando, mas, infelizmente, por enquanto só podemos aguardar”, concluiu o superintendente.
FONTE: Jornal do commercio
http://jc.uol.com.br/jornal/2005/05/12/not_136796.php
PS: Este link esta apenas disponivel para assinates da UOL