Em teoria, sou a favor da comercialização irrestrita, tanto pelos home growers, quanto pelos cultivadores em larga escala.
Dizer que sou contra a comercialização da produção seria hipocrisia. Afinal, todo mundo aqui gosta da maconha, seja para uso recreativo, seja para uso medicinal, certo? Se nós ou algum de nossos amigos não tivesse violado leis para adquirir esta substância, nós não a teríamos conhecido, não a usaríamos para fins recreativos e não estaríamos na luta para descriminalizar tal uso.
Particularmente, gosto de cerveja. Não sei fabricar cerveja, nem quero aprender. Se a cerveja fosse ilegal, mas fosse relativamente fácil adquiri-la no mercado negro, eu deveria necessariamente montar um esquema difícil, caro, de longo prazo, que envolve grandes riscos e meses de estudo, para fabricá-la em casa, simplesmente para não alimentar o tráfico de cerveja? Aqueles que não têm condições de montar tal esquema deveriam ser excluídos do consumo da substância?
O que eu (e todos aqui, creio) somos é contra a atual lógica que domina o tráfico e a comercialização. Sou contra as substâncias tóxicas, tal como amônia, incluídas na maconha comercializada, sou contra a utilização da grana do tráfico para a compra de armas, sou contra a lógica da violência das favelas, alimentada em parte pelo tráfico. Infelizmente, esta lógica não vai mudar se nós pararmos de comprar do traficante. Ela só irá mudar com a descriminalização.
Pelas minhas condições sócio-econômicas, eu jamais venderia cannabis. Mesmo que tivesse em condições piores, também não venderia, devido aos riscos envolvidos. Não tenho nenhum amigo cultivador, mas, se tivesse, não o julgaria. Deixaria que ele mesmo avaliasse os riscos e conseqüências de seus atos e, se necessário, deixaria para o advogado dele inventar as mentiras necessárias para que ele não fosse punido pela hipocrisia social que criminaliza a substância de que gostamos.