Um Busto na Praça.
Quem me dera ter sido alguém que merecesse
Ter um busto singelo, numa praça !
Numa praça Paulista, quem me dera
Estar quieta, esculpida na massa
Da pedra, rodeada de flores na primavera,
Ouvindo o eterno canto que a cidade entoa,
Cismando em meu silencio,
A fronte descoberta na garoa !...
E assim, noite e dia,
Figura da rua,
Na rua estaria,
Debaixo do sol, em noites de lua,
Dizendo no rosto a tristeza vadia
Da alma boêmia que foi sempre sua !
Cabelos ao vento, o olhar pensativo
Seguindo quem passa,
Perdendo-se longe... Que estático anseio
Talvez expressasse, assim, sem motivo,
De dia e de noite, no meio
Da praça !
Nas praças, há gente
Que caminha
Devagar e pára na frente
Das estátuas e conta alguma historia... A minha
Se diria em poucas palavras, nua
Como a simplicidade, somente :
"Fazia versos. Nasceu em São Paulo.
Morreu em São Paulo.
Gostava da rua ".
E eu, quieta, na praça !...
Eu, vendo garoa peneirar saudade,
Como se toda a cidade
Estivera chorando
À toa...E vento levando
Garoa
E garoa voando...
E toda a cidade boiando diante da minha vista !
E eu, quieta, parada no meio da praça Paulista !...
Um brinde à São Paulo e ao seu povo que não teme o trabalho e corajosamente encara o dia a dia louco com um sorriso no rosto.