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Paulinhuuu

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Tudo que Paulinhuuu postou

  1. Se vc fizer extração e depois misturar na glicerina fica igual recarga de cigarro eletrônico
  2. https://www.youtube.com/watch?v=VQr5iqEd7Uk&index=7&list=PLV1TCvLjPHSKuir-M4bM22cFy_uC81cWc
  3. Por Matias Maxx Repórter maio 16, 2016 Foto: Matias Maxx Mesmo com este aparente sucesso, ultimamente os maconheiros do Brasil não têm muito o que celebrar. Se por um lado a Marcha vem crescendo exponencialmente no país desde 2007, dentro da era PT o assunto foi totalmente ignorado pelo Poder Executivo desde a reforma na Lei de Drogas de 2006. Agora, a nomeação do deputado Osmar Terra (PMDB) pro Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário dá aos militantes da causa motivos para temer Ele é autor de uma lei, que tramita no Senado, que segundo os ativistas prevê um retrocesso na discussão sobre as drogas. O projeto da Lei Antidrogas n.º 7663/2010, criado pelo ministro, autoriza que o usuário seja internado para tratamento sem que ele, ou o juiz, autorize tal ação. Em poucas palavras, Osmar Terra defende a internação compulsória. Ele a justifica da seguinte maneira: "Isso permite antecipar o tratamento." Foto: Matias Maxx Em 2014, o atual Ministro do Desenvolvimento Social e Agrário publicou em sua coluna um texto em que não reconhece os efeitos medicinais do canabidiol. O ministro afirmou na época que "o argumento central, mas dissimulado, é o de que existe uma molécula na droga, com efeito medicinal, e que por isso a droga é remédio e deveria ser liberada. Nada mais falso". Bom, parece que Osmar Terra ignora as evoluções nas pesquisas acerca do CBD. Talvez ele não tenha visto Ilegal, vídeo de Tarso Araujo e Raphael Erichsen sobre a luta de uma mãe com uma filha de 5 anos epilética ou não olhe para as movimentações de outros pais com problemas parecidos. Júlio Delmanto. Foto: Matias Maxx Júlio Delmanto, do Coletivo Desentorpecendo a Razão, um dos grupos que encabeça a organização do evento em São Paulo explica que "com a lei de 2006, se melhorou para o usuário, piorou muito para o tráfico, aumentando muito o encarceramento. Isso fez parte da negociação que o PT fez, entre isso e a questão das comunidades terapêuticas, realmente daria para dizer que se no PT a gente tinha chance zero de mudar alguma coisa, neste do Temer as chances são menos cem, sei lá, menos ainda com essas figuras que estão colocadas aí. Agora acho que a postura nossa da Marcha, mesmo que ela seja muito plural, sempre teve esse entendimento que a mudança não vai vir dos políticos, não vai vir do Estado. Eles não fizeram nada nos últimos dez anos que teve marcha, e a marcha já mudou muito, a situação de quem fuma já mudou, a discussão sobre o uso medicinal mudou, então acho que o canal vai continuar sendo por aí. Se o Temer cair e entrar outro, os nomes que são colocados, Marina, Aécio, qualquer um desses, acho que nossa postura tem de ser a mesma, fazer com que por baixo seja tão forte que qualquer um deles vai ser obrigado a aceitar". Foto: Matias Maxx Júlio acredita que o fato da marcha crescer ano a ano decorre do fato do debate geral ter crescido no Brasil e no mundo, com maior posicionamento da mídia e países vizinhos mudando suas leis, mais especificamente ele aponta o trabalho feito pela organização. "Desde que a gente saiu do Ibirapuera, a gente tem tentado ampliar a Marcha, desde quem constrói à quem frequenta. No início era muito movimento estudantil, galera universitária e tal, e a gente tentou expandir isso, indo pra junto de outros movimentos, ou indo para a quebrada, para a periferia. Neste ano a gente fez algumas atividades nas quatro zonas da cidade, isso ajuda bastante na divulgação e também ajuda essas pessoas a participarem mais e se sentirem mais membras da parada." Júlio também aponta ao fato que com o debate em pauta e o fortalecimento do movimento, ficou muito mais relax fumar na Marcha de forma explícita: "a galera quer isso também, uma manifestação para fumar e celebrar o rolê". Foto: Matias Maxx É fato que entre pelo menos três projetos de reforma de lei engavetados no Congresso e um Poder Executivo mudo, os únicos avanços recentes na reforma da política de drogas vieram de articulações na sociedade civil, como as recentes conquistas no acesso ao uso medicinal, ainda restrito a algumas poucas doenças. Ainda que a espessa nuvem de fumaça que seguia a Marcha não esconder que a maioria dos manifestantes ali eram usuários, é inegável que a proibição da maconha afeta a todos, do morador de favelas e periferias que está sempre sob o risco de ser encontrado por uma bala perdida, como muitos portadores de doenças aonde o único remédio é a maconha. Carregando uma faixa que dizia "A regulamentação não garante o acesso, regulamentação do cultivo já", pais e mães de crianças que fazem o uso medicinal da maconha lembram que os altos custos da importação inviabilizam o acesso a muitas famílias, além do fato de que o óleo que é comercializado em massa não atende a todos os casos, e se o governo permitir o auto cultivo e o desenvolvimento de pesquisas no Brasil, muitas outras cepas de maconha poderão ser exploradas, expandindo a abrangência de pessoas que podem se beneficiar das propriedades terapêuticas da cannabis. Cidinha.Foto: Matias Maxx "Minha filha usa o óleo artesanal que é cultivado aqui no Brasil e produzido aqui no Brasil por uma rede de apoio secreta. Ela usa há dois anos e tem muitos benefícios mesmo, e é um acesso, o único acesso, que garante de uma forma democrática com igualdade. O cultivo é o que você permite testar outras cepas, tem crianças que as vezes nem tem resultados com o importado, acontece que tem pacientes que não tem resultados com uma determinada cepa de cannabis, mas através do cultivo ele pode ir testando outras cepas até obter o resultado. A que a minha filha usa, que está dando ótimos resultados, não significa que vai dar resultados em outra criança que tem a mesma síndrome que ela", explica Cidinha, associada da ABRACANNABIS, mãe de uma menina portadora da Síndrome de Dravet. Ela completa: "Eu sou a favor de todos os tipos de acesso, o acesso com igualdade, quem quiser importar que importe, quem quiser cultivar que cultive, mas fora isso cobramos que haja pesquisas junto com universidades, que tenhamos um respaldo, que ofereçam cursos para os médicos que as vezes nem querem prescrever por conta de falta de conhecimento. Precisamos fazer campanhas informativas para que combater esse preconceito, pois existe preconceito tanto da população como dos médicos também, e esse preconceito é justamente a falta de informação". Gilberto Castro. Foto: Matias Maxx O designer Gilberto Castro, que há alguns anos controla seu quadro avançado de esclerose múltipla com o uso da maconha contesta: "O que eu fico pensando é quando é que vão tirar essas pessoas daí, porque essa galera que tá ai em cima não é possível, não tem nem mulher lá em nenhum ministério. O Osmar Terra ele lucra com o encarceramento de pessoas, ele tem as clínicas dele, ele não pode estar na jogada, as pessoas que ganham dinheiro com a proibição não podem estar na jogada. Tão comhelicóptero de cocaína e proibindo a maconha, que nunca matou ninguém". Pedi ao Dr. Henrique Carneiro, professor de história da USP, autor de vários trabalhos a respeito da história da alimentação, das bebidas e das drogas e um dos maiores crânios a discutir o proibicionismo no Brasil uma análise de professor de história a respeito das expectativas quanto ao próximo governo na questão. "Eu acho que a direita brasileira tem uma característica, que é pior do que vários outros países do mundo, que é um traço muito ideologicamente atrasado de vínculo ao puritanismo religioso, as correntes evangélicas. Isso enfim ocorre também nos EUA, a gente tinha lá o Ted Cruz concorrendo ao Partido Republicano, mas aqui é pior, não é à toa que o Temer foi logo em seguida fazer uma oração com os evangélicos e nomeou não só um pastor como o Osmar Terra, que é o grande lobbysta anti-proibição no Brasil. Foto: Matias Maxx Então acho que aqui temos uma direita que é pior que a direita liberal clássica que reconhece como uma questão básica das liberdades fundamentais, não haver nenhuma restrição do Estado a nenhum tipo de produto em que haja demanda na sociedade. Isso é um fundamento liberal, inclusive do funcionamento de uma sociedade na qual se supõe que o indivíduo é dono de si próprio, ele não pode ser punido, muito menos criminalmente, por algo que diz respeito a sua autonomia, ao seu corpo, a sua pauta de vida." Carneiro, que já posicionou-se abertamente de forma muito crítica ao governo Dilma e ao PT, espera que haja confronto ao novo governo. "Espero que a gente consiga com o movimento social não apenas confrontar esse governo, mas eventualmente até derrubá-lo pois eu acho que ele é ilegítimo. Não tenho expectativa que ele termine o mandato de dois anos, acho que a exigência de uma eleição direta agora vai ser tornar cada vez mais um movimento social que pode levar a derrubada do governo Temer." Dr. Henrique. Foto: Matias Maxx Com a novela do impeachment chegando perto de um desfecho, usuários e militantes pela regulamentação da maconha esperam que o STF retome o julgamento do RE635659 a respeito da descriminalização das drogas, estacionado desde setembro no gabinete do Ministro Teori Zavaski, que pediu vistas. Carneiro explica que "pelo menos o STF teve até agora uma posição que é correspondente ao que se espera de um consenso jurídico internacional com um respeito mínimo a essa esfera da autonomia de si, que é uma prerrogativa na qual não pode existir nenhum tipo de conduta ilícita porque o indivíduo é o dono de si próprio, então não pode ter crime sem vítima, não pode ter autolesão do ponto de vista jurídico. Nesse sentido o próprio Gilmar Mendes, que é um reacionário em vários aspectos, nessa votação ele teve um voto melhor do que os demais, do que o próprio Barroso e o Fachin, que estavam falando só da maconha. Foto: Matias Maxx O Gilmar Mendes lembrou que são todas as substâncias que tem de ser descriminalizadas, então eu acho que o STF pode sim descriminalizar. Isso não acaba com a guerra às drogas, porque uma coisa é considerar que não é crime o consumo individual, e outra é criar condições reais de haver um fornecimento, um cultivo, até mesmo uma indústria, que seja ligada a essa demanda da sociedade. Nesse sentido, por incrível que pareça os EUA são o país aonde mais está se avançando para o sentido de uma legalização que corresponda pelo menos à equalização da maconha com outros produtos da ingestão humana, que necessita que o estado fiscalize, garanta a correspondência do que é prometido numa embalagem, e que estabeleça o acesso de adultos de forma totalmente normal para esse produto que tem uma enorme demanda social. O problema lá é o regime de propriedade que parece que está criando uma série de mecanismos que podem levar ao crescimento de grupos mais oligopolisticos, mas ainda existe uma proibição de que o produtor seja comerciante, isso também quebra a cadeia de uma possibilidade de monopólio mais ampla". Foto: Matias Maxx Quando o movimento que veio a se transformar na Marcha da Maconha chegou ao Brasil em 2002, os exemplos que tínhamos de legislação vinham de realidades distantes como Holanda e Espanha. Hoje temos reformas não só nos EUA, como na Argentina, Uruguai, Colômbia e Chile, todos com uma realidade social e política mais semelhante a nossa. A des-demonização dos usos da maconha parecem cada vez mais próximos a nível global, o Brasil, trocando um poder executivo que era mudo sobre o assunto, por um abertamente contra, mantém sua liderança histórica na vanguarda do atraso. Fomos os últimos a abolir a escravidão, provavelmente seremos os últimos a terminar com a guerra às drogas. http://www.vice.com/pt_br/read/marcha-da-maconha-2016-sao-paulo-osmar-terra-guerra-drogas
  4. ESCRITO POR RACHEL PICK 22 March 2016 // 10:14 PM CET Quando fui convidada para participar da Conferência dos Investidores em Cannabis da Viridian Capital Advisors, nos Estados Unidos, em janeiro, já tinha uma imagem do que me aguardava. Imaginei fileiras de homens de meia-idade com grana, ansiosos por despejar dinheiro em algo que, na melhor das hipóteses, está prestes a virar uma indústria legítima no território norte-americano. Um bando de caras que passou o ano de 1969 no MBA em vez de montar caravanas para ir ao Woodstock. Pessoas que não fumam e, possivelmente, nunca fumaram uma ervinha. E foi bem isso mesmo. Estava frio e ventava muito no West Side de Manhattan enquanto caminhava ao local do encontro – que numa ironia deliciosa se deu na Faculdade de Justiça Criminal John Jay. Era um mar de ternos azul e cinza no saguão. Alguns poucos jornalistas presentes, identificáveis pelo fato de serem décadas mais novos que quase todo mundo. As empresas que seriam apresentadas aos investidores estavam lá com suas mesinhas. Uma companhia que havia me chamado a atenção fora a CannaKorp. Apresentava-se como a “Keurig da erva” e seu maior (e talvez único) produto era um vaporizador gigante chamado CannaCloud, com doses de uso único. (“O X do Y” é um termo muito usado quando se tenta vender algo relacionado a startups, mas neste caso a CannaKorp tinha mesmo pego alguns antigos funcionários da Keurig). Enquanto conversava com um representante da KannaCorp, conheci uma das outras jornalistas presentes, uma mulher negra mais ou menos da minha idade. Conversamos brevemente sobre a composição do público. Mencionei como era irônico que tantos brancos mais velhos estivessem ali querendo lucrar em cima da cannabis, substância cuja proibição levou tantos pra cadeia – especialmente negros. Rimos, mas daquele jeito que as pessoas riem de algo que nem tem graça. Fomos recepcionados no auditório. Sentei e botei meu telefone para gravar. Foi então que ouvi “I Shot the Sheriff” de Bob Marley tocar ao fundo. *** Viridian Capital Advisors, o grupo responsável pelo evento, é “um banco de investimentos e plataforma de aconselhamento” dedicada ao mercado de maconha medicinal. As empresas sob seus cuidados incluem aquelas dedicadas à iluminação “inteligente” de estufas, tais como HelioSpectra; à segurança de instalações de cultivo, como a Canna Security; e até mesmo a análises de marketing na figura da CannaSys. Fundada por Scott Greiper em 2014, a Viridian é uma empresa pequena porém séria. Greiper, por sua vez, é investidor especializado em mercados emergentes há 20 anos. Uma das áreas que ele investiu foi a segurança nacional. Greiper também épresidente e sócio-fundador do Secure Strategy Group, outro banco de investimentos focado em tecnologia de segurança e defesa. “Uma das minhas coisas favoritas na vida é ser o primeiro a fazer coisas”, disse Greiper durante seu discurso de abertura. E ele parece mandar bem nisso. Greiper falou bastante sobre fazer a Viridian decolar e explicou o nome completo do evento daquele dia – “Investindo na Indústria Emergente da Cannabis Enquanto Se Administram Riscos”. “Riscos”, no caso, não se referia a riscos financeiros, e sim “riscos reputacionais”, algo com o qual muitos investidores se preocupam. Ao referir-se aos empreendedores que se apresentariam, Greiper falou que não se tratavam de "caras que ficavam na esquina da Haight-Ashbury e que decidiram entrar no ramo e cortar seus dreads”. Nem os investidores, completou. Mas será que importa mesmo que esses caras – e eram pelo menos três quartos de homens na conferência, nas minhas contas – sejam gente de Wall Street que não tem nada a ver com nada? A ideia de todos esses caras de finanças loucos pra pegarem um pedacinho nessa febre da maconha que movimentou 5,4 bilhões de dólares em 2015 e que se estima que movimentará 11 bilhões até 2019 me deu ruim. Mas não seria tremendamente ingênuo pensar que gente que nunca fumou na vida pudesse representar de forma eficaz os possíveis benefícios médicos da maconha? Gostaria de sentar e ter uma conversa sincera sobre o setor com alguém de dentro, alguém que também estivesse interessado na maconha apenas pelo aspecto de negócios e que não a consumisse; alguém menos ganancioso que aquela galera ali na conferência. No final das contas, sabia com quem poderia falar. *** Após a conferência, liguei para David Reader, pai de um amigo próximo que faz parte da equipe de P&D de uma empresa da Flórida chamada AltMed. A AltMed foi fundada em 2014 por dois antigos executivos farmacêuticos. Estruturada como uma empresa de holding com várias subsidiárias, ela foi criada para compreender um amplo escopo dentro do setor, do cultivo de maconha medicinal à venda de acessórios correlatos. O objetivo: levar os recursos biotecnológicos e precisão da indústria farmacêutica para o mundo da maconha medicinal. Os ideais da AltMed são um ponto focal da indústria no momento: deve-se esperar certo grau de controle de qualidade quando se trata do uso de algum tipo de THC (tetrahidrocannabinol, ingrediente psicoativo da maconha) ou CBD (cannabidiol, outro princípio ativo da planta) para fins medicinais. Os pacientes têm que saber as concentrações de THC/CBD do que estão fumando ou comendo; devem esperar por certo nível de consistência e também estar cientes quais tipos de concentração e método de uso são mais apropriados para seu caso. A atual regulamentação de maconha medicinal na Flórida permite o uso de maconha com baixo THC e apenas em pacientes de câncer ou com convulsões. Mas isso pode muito bem mudar ao longo dos próximos anos, e a AltMed quer estar lá para quando isso acontecer. “Do nosso ponto de vista, o atual emprego da maconha medicinal na Flórida não apresentava um modelo de negócios tão atraente como esperávamos”, disse Reader. Ele mencionou que entrará em votação nova legislação em novembroe, pelo visto, poderá ser aprovada. A última vez que a Flórida votou sobre o tema foi em 2014, quando defensores da expansão do uso da maconha no estado perderam por 2%. Por enquanto, o cultivo da AltMed está localizado no estado do Arizona, um dos 23 estados que legalizou a maconha medicinal até certo ponto. A AltMed também está formando uma entidade sem fins lucrativos para ajudar a educar comunidades sobre o uso de maconha medicinal a fim de acabar com alguns temores sem fundamento. “Pense de onde vem a mentalidade de todos”, disse Reader. “Pense em Reefer Madness e a guerra às drogas [dos anos 70]. “Ainda tem gente por aí que acredita que não somos nada mais que traficantes de jaleco branco.Que somos Snoop Dogg com uma trouxinha nos fundos da loja de conveniência.” Entre 2001 e 2010, mais de 7 milhões de pessoas foram presas por porte de maconha, de acordo com o Sindicato de Liberdades Civis Norte-Americano. E pessoas negras ou de cor eram presas quase quatro vezes mais que brancos apesar de ambos os grupos usarem maconha em proporções semelhantes. O que fazer quando muitos se preparam para lucrar em cima da maconha são homens brancos e milhares de negros são presos nos EUA por delitos não-violentos ligados à erva? É uma questão que Reader crê que precisemos debater ao passo em que maconha é cada vez mais legalizada. “Há muitos rostos brancos no setor”, disse. “E alguém que não é branco vai ver isso e falar: ‘Esses caras estão se safando, como meu primo foi parar na cadeia?’” *** Claro que há negros que já se envolveram com a indústria de maconha medicinal. Tomemos Wanda James, restauranteur do Colorado e antiga sócia de um dispensário de maconha medicinal. Liguei para ela para coletar sua opinião sobre a divisão racial no crescente mercado da maconha. “Não é só a indústria”, disse. “Não é como se as pessoas envolvidas no setor fossem contra negros nele. O problema mesmo vem do sistema regulatório. E o fato de que as autoridades dizimaram as comunidades de cor ao prender em grande parte jovens negros entre 17 e 24 anos aos borbotões, fazendo com que fossem condenados.” Wanda James e seu esposo, Scott Durrah. Este foi um tema que tratei com Reader também: seria ótimo se pudéssemos ajudar jovens acusados de posse a se ajeitarem, digamos, como cuidadores de plantas e agricultores e empreendedores no setor. Mas tem um problema aí: nenhum cultivador ou dispensário vai querer contratar alguém que foi fichado. Logo, uma série de pessoas não-violentas são barradas de participarem do setor. “Agora que as barreiras em torno da maconha estão caindo e tem gente lucrando, me parece absurdo que pessoas em certos CEPs estejam ficando milionárias enquanto em outras regiões tem gente sendo presa”, disse James. A indústria não tem culpa disso, mas poderia forçar um rumo mais justo. Ao passo em que a legalização se amplia e o lucro em torno da maconha cresce, o setor poderia usar de influência para reverter prisões e retirar acusações. Na conferência, porém, não vi nem sinal de alguém preocupado em consertar os erros impostos pela guerra às drogas. Da sua parte, James não culpa ninguém por querer lucrar. “Meu descontentamento surge quando impedimos pessoas de participarem do negócio que é a maconha”, disse. “E é isso que estamos fazendo agora.” *** A conferência da Viridian se voltou para maconha medicinal. Afinal, apenas quatro estados, mais Washington D.C., legalizaram a erva para uso recreativo. Além disso, fiquei com a sensação de que operar sob a intenção de ajudar pessoas doentes faz com que investidores externos se sintam mais à vontade com a ideia de gastar grandes quantias de dinheiro em algo que ainda leva uma quantidade desproporcional dos menos afortunados para a cadeia. Com esse clima, vi a palestra da Dra. Sue Sisley, acompanhada do veterano do exército norte-americano Sean Kiernan. (Sisley foi a única mulher palestrando na conferência.). Ambos são defensores ferrenhos da maconha medicinal: Sisley por meio de seu trabalho como médica, e Kiernan como um dos fundadores do grupoWeed 4 Warriors. Ela no momento trabalha em um teste aprovado pela FDA em que a maconha é usada para tratar veteranos de combate ao estresse pós-traumático. O próprio Kiernan sofre do distúrbio. A palestra de Sisley e Kiernan foi o gancho emocional do evento. Depois de ouvir Kiernan falar de sua experiência com estresse pós-traumático ligado a combate e como a maconha o ajuda, é impossível não pensar que legalizar a cannabis, ao menos para fins médicos, faz sentido. Quando falamos do tratamento do estresse pós-traumático, colocar benzodiazepínicos e ansiolíticos viciantes na balança, bem como seus efeitos colaterais, junto da maconha, que não chega nem perto de tais efeitos negativos, não é nem mesmo uma comparação justa. Mas agora que os investidores estavam preparados, tendo ouvido sobre todo o bem que a maconha poderia fazer pelas tropas, era hora de vender. Ilustração: Shaye Anderson Os organizadores deixaram claro que nenhum negócio deveria ser fechado no dia do evento. Mas, mesmo assim, não deixavam de ser propostas de venda. E se desenrolavam como qualquer apresentação de negócios. Mas a Viridian parece achar que é diferente. Diferentona até. “Há muito dinheiro a ser ganho”, disse Greiper aos investidores durante seu discurso. Greiper insinua que trabalhar com maconha significa lidar com um grupo de gente menos formal e mais relaxada, ao contrário dos envolvidos com Segurança Nacional. Algumas das ideias apresentadas tinham potencial real do ponto de vista de negócios. A CannaKopr, ao adotar o modelo de produtos bem-sucedido da Keurig, posiciona-se para ser adotado por um público mais velho de consumidores de maconha medicinal. Esse grupo, acreditam eles, gostaria de ter um aparelho sofisticado e dedicado ao consumo. A HelioSpectra foca no desenvolvimento de sistemas de iluminação de LED para estufas; as lâmpadas de LED são muito mais econômicas que muitos dos sistemas de iluminação utilizados hoje e reduzem a pegada de carbono do cultivo enquanto também minimiza custos com eletricidade. (Hoje a indústria da maconha usa 1% da eletricidade dos EUA, o que não é pouca coisa considerando seu tamanho.). Mas, enquanto vagava pelo estandes das empresas após o final das apresentações e via dezenas de homens idênticos apertando mãos, pensei se a indústria não acabará assim. Aqui estava um monte de gente que não parecia dar a mínima pro histórico sociopolítico ou o espírito básico por trás da substância. Com certeza nem trataram disso. Claro, nem todo envolvido na indústria é assim. O site-irmão do Motherboard, Broadly, há pouco visitou uma feira de casamentos e maconha no Colorado, e os empreendedores ali pareciam um pessoal mais tranquilão e com maior empatia. Mas, aos olhos do executivo norte-americano clássico, estes pequeninos não faturam o tanto que poderiam. A próxima onda quer trazer controle de qualidade rigoroso, marketing profissional e integração vertical à indústria. Seria de se esperar que houvesse espaço para vários tipos de empreendimento no futuro próximo. Ou que empresas intermediárias, como a AltMed, que estão pelo menos interessadas em contribuir com informação, formariam boa parte do mercado. Mas, com a maconha medicinal, o equivalente das Grandes Farmacêuticas podem acabar levando tudo. No final, negócios são negócios. Viridian é um termo que representa tanto a cor da erva quanto do dinheiro. Então o que significa, exatamente, um dono de empresa não ter experiência pessoal com seu produto? Como Reader me disse: “Você faria a mesma pergunta de alguém que começou uma loja para vender papel de presente?”. Ainda assim, após horas de apresentações, esta era a questão que permanecia. Fui em cada estande – havia pelo menos seis –, conversei com representantes e perguntei se fumavam. Na esperança de promover a honestidade, não os gravei e prometi que nem seus nomes ou o das empresas seria associado à resposta. Um cara, que no final era o “testador de maconha” da CannaKorp, disse que fumava sim. Todos os outros disseram que não. Alguns até mesmo pareciam chateados por ter perguntado aquilo. Mas por que isso importaria? A maconha é um ramo multifacetado e, quando você o examina de forma crítica, uma série de fatores deve ser levado em conta, disse Wanda James. “Muitas vezes nos pegamos aqui nos EUA pensando que só podemos falar de assuntos de determinada maneira, quando o assunto da maconha é tão interessante porque abrange tudo”, comentou. “Estamos falando de trabalhos, de dinheiro, de saúde, câncer, justiça social, prisões em massa, novas formas de renda. Digo, trata de tantas coisas.” Tradução: Thiago “Índio” Silva http://motherboard.vice.com/pt_br/read/a-industria-da-maconha-nos-eua-e-administrada-por-homens-brancos-nao-fumantes
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