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  1. 'Fumar maconha está virando um hábito privado como tomar whisky no final da noite' http://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Comportamento/noticia/2015/05/fumar-maconha-esta-virando-um-habito-privado-como-tomar-whisky-no-final-da-noite.html Novo livro do historiador Jean Marcel Carvalho França apresenta a trajetória da Cannabis no país: conversamos com o pesquisador sobre as tendências da maconha no Brasil e no mundo 04/05/2015 - 09H05/ ATUALIZADO 09H0505 / POR ANDRÉ JORGE DE OLIVEIRA JEAN MARCEL CARVALHO FRANÇA É PROFESSOR LIVRE-DOCENTE DE HISTÓRIA DO BRASIL NA UNESP (FOTO: EDSON SILVA/FOLHAPESS/DIVULGAÇÃO) Muitos foram os adjetivos pejorativos associados à maconha ao longo da história brasileira – “erva maldita”, “veneno verde”, “ópio do pobre” e “cocaína do caboclo” são só alguns exemplos. Vários deles são reflexo direto de um processo iniciado nas primeiras décadas do século XX que conseguiu, em pouco tempo, marginalizar completamente a erva e denegrir a imagem de seus usuários. De um produto corriqueiro, encontrado em farmácias e feiras, a Cannabis passou a ser proibida por lei, e seu uso virou crime. Criou-se toda uma mitologia negativa em torno da droga, construída principalmente a partir da ideia de que seu consumo, altamente degradante, era “coisa de pobre”, e que sua cultura havia sido trazida da África pelos escravos. Foi só a partir dos anos 60, com a contracultura, que o estigma começou a se desmanchar, e hoje o mundo caminha a passos largos para uma regulamentação mais flexível da maconha, principalmente para o uso medicinal, mas também para o recreativo. (FOTO: DIVULGAÇÃO) É uma tendência irreversível, segundo o historiador Jean Marcel Carvalho França, professor livre-docente de história do Brasil na Unesp. A editora Três Estrelas publicou recentemente seu livro História da Maconha no Brasil, já à venda nas livrarias. O pesquisador afirma que seu trabalho não toma partido: “é um livro sobre a história de um hábito cotidiano, só isso”, diz. Com uma minuciosa pesquisa histórica, a obra explica como o consumo da erva se popularizou no Brasil por meio dos marinheiros portugueses, apreciadores do bangue da Índia, e dos escravos africanos, que foram introduzidos ao haxixe pelos árabes. Entre outras informações curiosas, o autor conta a história de uma plantação de maconha oficial da Coroa portuguesa no sul do Brasil – por volta de 1770, o vice-rei tentou implantar um cultivo de cânhamo para a produção de cordas e velas de navios. Apesar dos esforços, a tentativa nunca embalou. Conversamos com o historiador sobre a obra e outros assuntos relevantes para compreender a questão da maconha no Brasil e no mundo. Confira a íntegra: O que te motivou a fazer uma pesquisa tão detalhada sobre a história do cânhamo e da maconha no Brasil? Eu trabalho formas de construção do Brasil, me interessam os modos de constituição dos indivíduos. Fui descobrindo ao longo do tempo, mexendo com documentações variadas, que o cânhamo tinha um papel importante dentro da constituição da sociedade brasileira, e daí me veio o interesse de fazer um livro sobre isso, sobretudo que deslocasse um pouco a discussão. Não é sobre a legalização, nem trata de ser contra ou a favor, serve simplesmente para conhecer o papel que a planta teve na sociedade brasileira. Diria que o discurso ferrenho dos anticanabistas, que acabou consolidando o que você chama de “mitologia negativa” em torno da Cannabis, demonstrava mais preconceito social do que evidências científicas? A verdade científica sobre a maconha decorre muito de como se lida com ela socialmente. É possível exaltar suas virtudes, como se está fazendo – crianças que se recuperam de crises de epilepsia, melhora na alimentação para quem faz quimioterapia ou tratamento contra o HIV. No início do século XX, não acho que dê para falar em preconceito, a sociedade é o que ela é, e historiador não é juiz. Não fazemos julgamento moral do passado. Como diz Sérgio Buarque de Holanda, o Brasil sempre conciliou escala cromática e escala social: quanto mais escuro na escala cromática, mais pobre na escala social. No início do século, a maioria dos negros vivia na pobreza, e existia todo um interesse em controlar o canabismo. Isso levou, de certa forma, à associação. À luz do que vemos hoje, é preconceito sem dúvida nenhuma. Mas é preciso entender as teorias raciais da época, as teorias da degeneração. Aqueles homens foram o que o tempo deles permitiu que eles fossem. CULTIVO E CONSUMO DE CANNABIS FORAM COMPLETAMENTE ESTIGMATIZADOS (FOTO: WIKIMEDIA COMMONS) É curioso que, nos anos 60, os jovens brasileiros de classe média simpatizantes do movimento hippie tenham “importado” o uso da maconha, sendo que ele já era bem comum no Brasil. Na sua opinião, isso diz algo sobre a nossa juventude ou classe média? Esse foi um fenômeno que ocorreu um pouco por toda parte. Entre o final dos anos 50, quando a grande campanha contra o canabismo se consolida pelo mundo, você tem 10 anos em que a maconha de fato desaparece do cotidiano e da cultura do brasileiro. Os jovens não fumavam mais nas esquinas. A luta anti-canabista foi vitoriosa. Além de proibir, ela cria um estereótipo para a maconha e para o maconheiro, associando-os à marginalidade. A maconha volta com um outro polo de divulgação: os cantores de rock e artistas de cinema, que quebram essa associação. Ela só vai ser recuperada nos anos 80, que resgatam o vínculo com a tradição negra e com as classes pobres. O novo retorno diz que a maconha foi proibida e marginalizada por causa dessa associação, e que é preciso resgatar tanto a identidade desses povos quanto a maconha. Mas ela já estava consolidada pelos hippies. A apropriação da maconha pelos hippies e artistas teve um cunho mais social ou foi plenamente um discurso libertário de “abrir a percepção”? Os ativistas hippies de São Francisco das décadas de 60 e 70 diziam: “basta fumar um baseado e você já está contra o sistema”. Eles associaram essa contestação ao gosto pelo orientalismo, que abria novas formas de percepção contrárias às formas de percepção burguesa, e associaram tudo isso à maconha. É curioso que você tem dois lados da moeda: o mesmo argumento que serve aos hippies para exaltar a maconha serve aos que são contra a maconha para proibi-la. Ambos partem do princípio de que ela tem poderes inomináveis, incríveis. Uns acham que esses poderes são ruins para a sociedade, então a droga deve ser combatida com vigor; outros acham que esses poderes enormes são libertários, vão criar uma sociedade nova, e que por isso é preciso incentivar a maconha. Mas ambos partem do mesmo equívoco – é uma visão glamourosa e excessiva da droga. O discurso com relação à maconha no Brasil já mudou diversas vezes. Você diz que hoje ele tem um tom mais pragmático e até mais cientificista. Estamos no caminho de uma legislação mais tolerante com relação à maconha? Acho que o mundo está, e o Brasil a reboque. A tendência mundial não é à legalização, mas a criar formas de regulação que transformem a maconha em um hábito pessoal e privado, como tomar whisky no final da noite. A sociedade brasileira é um pouco refratária à mudança e não somos muito bons em fazer discussões calorosas – somos extremados e pouco racionais. Mas já vemos posições claras: Dráuzio Varela defende flexibilizar a legislação para o uso medicinal; Fernando Henrique não fala em legalização, mas em criar mecanismos que regularizem o uso privado em pequena quantidade. Acredito que essa tendência tenha a ver com os custos, fica muito caro combater todas as drogas ao mesmo tempo. É mais barato regular do que proibir. E também com o impacto da maconha na saúde pública, muito menor que o do álcool e do tabaco. Avanços científicos são possíveis com a droga descriminalizada e com pelo menos os usos farmacêuticos e científicos regulados. LEGALIZE JÁ? PESQUISADOR MANIPULA TUBOS COM COMPOSTOS DE MACONHA. NOS EUA, LIBERAÇÃO FEZ CAIR CONSUMO ENTRE JOVENS (FOTO: MAURO FERMARIELLO/SPL/LATINSTOCK) A posição favorável à regulação de figuras como FHC têm um peso enorme na opinião pública, mas advogar posições como essa fora do poder é mais fácil. Como você avalia esse tipo de “militância”? Existe uma coisa que é a posição do sociólogo Fernando Henrique, e outra que era a posição do presidente de uma sociedade que ainda não é muito simpática a isso. Houve um boom pelo mundo afora de estadistas, ex-estadistas e intelectuais que se vincularam a essa campanha. No Uruguai teve um outro mecanismo interessante: pessoas com vida social integrada fizeram campanhas na televisão declarando que eram consumidoras de Cannabis. Isso para que a população uruguaia, que é muito dividida, entendesse que não é necessário associar o uso da droga ao estropiado social. Dá-se uma outra configuração ao usuário, como na sociedade holandesa: a maconha é um produto comum, comprado por arquitetos e intelectuais. Hoje, em uma pesquisa de opinião no Brasil, certamente a proibição iria ganhar. Não há nem de longe maioria para aprovar o uso recreativo da maconha, as discussões ainda são embrionárias. A legalização não é um clamor da sociedade, mas é uma tendência. Se não fizermos essa discussão, o mundo vai fazer, e quando se tem 60 países com a droga legalizada, a possibilidade de um país mantê-la proibida é quase ridícula. No início do ano, a Anvisa retirou o canabidiol da lista de substâncias proibidas. Como você enxerga o futuro da Cannabis medicinal no Brasil? Acho que ela é mais promissora, essa discussão vai avançar com mais velocidade. Na medida em que formos tornando a importação de produtos mais fácil, os resultados vão aparecer. Isso vai criar uma espécie de círculo virtuoso de importação e resultados que vai flexibilizar bastante o uso farmacêutico e medicinal. Já o uso recreativo, não é uma coisa tão simples. Tem partes das forças de segurança que aceitam a legalização, acham que de fato funcionaria melhor, mas outras partes dessas corporações não aceitam, acham que aumentaria a criminalidade. Ainda tem uma discussão longa, o importante é fazer. Mas no Brasil não se faz discussão nenhuma. O Brasil não discute direitos individuais. Eutanásia, aborto, legalização de droga – não discutimos nada dessas coisas. Nós não somos liberais né, temos um pouco de horror ao liberalismo. NA FARMÁCIA: FUNCIONÁRIO REGA PLANTAÇÃO DE MACONHA, QUE SERÁ USADA ATÉ NO COMBATE AO CÂNCER (FOTO: DARRYL DICK/ THE CANADIAN PRESS/ ZUMAPRESS/ GLOW IMAGES)
  2. CANNABIS SATIVA - Cultura e História Cannabis spirituality by Alex Grey (http://www.alexgrey.com/) A mais antiga prova da associação do Homo sapiens sapiens com a Cannabis sativa que se tem notícia são as fezes fossilizadas de um membro de nossa espécie que contêm claramente vestígios do pólen de Cannabis. Este cropólito foi achado às margens do lago Baiakal, na Ásia Central datado em 10 mil anos. É provável que a Cannabis tenha sido uma das primeiras plantas a serem domesticadas pelo homem há 20 mil anos - vários e fortes indícios levam a esta conclusão. Há 15 mil anos, acredita-se, a planta já era usada para a confecção de tecidos, cordas, fios, etc.. no entanto não se sabe se era já inalada ou ingerida deliberadamente com a intenção de alterar a consciência. Em todo caso há provas definitivas do uso cultural da Cannabis há 6.500 anos naquela que é considerada a mais antiga cultura neolítica da China chamada Yang Chao. Nessa cultura, as fibras da planta eram usadas na confecção de roupas, redes de pesca e caça, cordas, etc., sendo que as sementes eram usadas na alimentação na forma de farinha, bolos, pudins e outras preparações. O livro de medicina mais antigo que se conhece, o Pên-Ts'ao Ching, remonta há 4 mil anos e fala do uso mágico das inflorescências femininas da planta: "Se tomada em excesso produzirá a visão de demônios. Se tomada durante muito tempo ilumina seu corpo e faz ver espíritos." Há 3.500 anos, o Atharva Veda, livro sagrado dos hindus, também se referia a Cannabis na forma de Bhang, preparação esta que incluía a resina da planta misturada com manteiga e açúcar. O Bhang era usado para "libertar da aflição" e para "alívio da ansiedade". Ainda hoje o Bhang é consumido livremente em algumas partes da Índia pelos recém-casados na noite de sua lua-de mel, como afrodisíaco. A religião hinduísta acredita que a Cannabis é um presente dos Deuses. De fato, diz-se que a planta teve origem quando Shiva (uma das personalidades de Deus na tríade dessa religião), chegando a um banquete preparado por sua esposa Parvati, começa a salivar ao ver tantas delícias e das gotas de sua saliva que caem ao chão surge a planta abençoada. Os Shivaístas, devotos de Shiva, fumam continuamente a ganja (a planta feminina) com o charas (a resina das flores) para meditarem e se elevarem espiritualmente. Eles consideram que o chillum - o cachimbo onde a planta é fumada - é o corpo de Shiva, o charas é a mente de Shiva, a fumaça resultante da combustão da planta é a divina influência do Deus e o efeito desta, sua misericórdia. Os citas também faziam uso mágico-religioso da cannabis. Esta era privilégio dos nobres que se reuníam para consumi-la em tendas especialmente construídas para este fim. Estas tendas eram montadas sobre as areias do deserto e um grande buraco era aberto onde queimavamtoras de madeiras arométicas. Quando estas estavam em brasa, três ou quatro pés da planta eram jogado inteiros no buraco que era então coberto com uma tampa feita de pele de carneiro, exceto por uma abertura em torno da qual os participantes se reuniam para gozarem dos vapores que se elevavam. Isso há 2.800 anos. Os Assírios conheciam a planta a qual chamavam Kunubu ou Kunnapu, que veio dar no latin Cannabis. A planta era cultivada pelo rei, que a distribuía diariamente, junto com um litro e meio de cerveja, para todos os cidadãos, num claro exemplo de uso hedonístico, não anônimo. As qualidades medicinais da planta estão descritas em escrita cuneiforme num dos livros mais antigos da humanidade e que fazia parte da Biblioteca de Assurbanipal há 2.700 anos. Este livro pode ser visto hoje no British Museum em Londres. Entre os Gregos, a Cannabis na forma de haxixe era ingerida junto com o ópio na célebre preparação (descrita por Homero) chamada nepenthes, que aliviava as dores, angústias e preocupações. Dvido a proibição do Corão ao uso do álcool, desde sempre o haxixe e a Cannabis têm sido o embriagante preferido dos povos islâmicos. A célebre seita dos haxixin, liderada pelo afamado Al-Hassan Ibn Sabbah, o Velho da Montanha, fazia uso da planta. Seu líder levava os membros a um recinto onde estes fumavam haxixe em meio a um lauto banquete servido por jovens e belas mulheres que lhes atendiam em todos os seus desejos. Após isto, o Velho da Montanha lhes dizia que assim gozariam do paraíso de Allah caso cometessem assassinatos políticos que favorecessem a seita. A palavra assassino tem origem a partir desse episódio, já que os membos da seita eram chamados haxixin. É certo que os cruzados que os combateram aprenderam destes o uso do haxixe levando-o consigo de volta à Europa. Com a islamização do norte da África, a planta se espalha rapidamente por este continente e breve não só os povos islamizados dela fazem uso entusiástico como também as tribos animistas do resto da África. Um rei africano apresentado à erva, converte-se a seu culto e a tribo passa a se chamar Bena Riamba - "os irmãos da Cannabis". Todo dia ao pôr-do-sol, os membros desta tribo se reúnem em roda no pátio central da aldeia para fumar a planta. antes de passar o cachimbo, olham-se nos olhos dizendo: "Paz irmão da Cannabis". Representantes desta tribo são até hoje encontrados na costa sul de Moçambique. Assim como os Bena Riambe, muitas outras tribos se convertem ao uso da planta, incorporando-a em destaque no seu panteão. A palavra maconha, nome pelo qual é conhecida entre nós, vem de Ma Konia, mãe divina num dialeto da costa ocidental africana. Apesar de se saber que as caravelas portuguesas tinham seu velame e cordame feitos da fibra do cânhamo (Cannabis sativa), acredita-se que a Cannabis tenha sido introduzida no Brasil pelos negros escravos que pra cá foram trazidos. Os nomes pelos quais a planta é conhecida no Brasil indicam tal fato, já que são todos nomes de origem africana: fumo d'angola, Gongo, Cagonha, Maconha, Marigonga, Maruamba, Dirijo, Diamba, Liamba, Riamba e Pango. Este último vem do sânscrito Bhang, através do árabe Pang, até o africanismo Pango. De toda forma a planta esteve desde o início associada à população de origem africana sendo que a ampliação de seu uso, atingindo também aqueles de origem européia, era considerada por autores como Rodrigues Dória como "uma vingança da raça dominada contra o dominador". Os cultos afro-brasileiros sempre utilizaram a Cannabis. Já no século XVIII, os relatos sobre os calundus - reuniões de negros ao som de tambores - indicavam a presença da planta, que era inalada pelos participantes, deixando-os "absortos e fora de si". Até a década de 30 do século XX, quando são legalizados os Candomblés e Xangôs, a Cannabis era constantemente apreendida nos terreiros junto com os objetos de culto. A cannabis é considerada planta de Exu, sendo consagrada a esta divindade. Em 1830, a legislação do município do Rio de Janeiro punia o uso do "pito de pango", como era conhecida a Cannabis com pena de multa de 5 mil réis ou dois dias de detenção, esta foi nossa primeira lei a respeito da planta. Nas décadas de 20 e 30 deste século, são produzidos os primeiros trabalhos científicos brasileiros a cerca do hábito de fumar Cannabis. apesar de seus autores serem em sua quase totalidade médicos preocupados em justificar a proibição da planta, estes tinham um olhar etnográfico sensível, descrevendo com minúcias os rituais do "clube de diambistas", nome dado à associação de indivíduos com o intuito de fumar Diamba. Os diambistas eram, preferencialmente, membros dos estratos mais baixos da população brasileira, em especial pescadores que se reuniam para fumar a erva cantando loas a esta. São dessa época os famosos versos: "Diamba, sarabamba, quando fumo Diamba, fico com as pernas bambas. Fica sinhô? Dizô, dizô". Termos utilizados pelos diambistas, como "fino", "morra" e "marica" entre outros, são até hoje parte da gíria própria dos usuários de Cannabis. A distribuição geográfica do consumo de Cannabis na época incuía Alagoas, Sergipe, Pernambuco, Maranhão e Bahia. Daí, pouco a pouco o hábito se espalha e, a partir da década de 60, com a contra-cultura, passa a atingir outros estratos sociais. Atualmente seu uso é amplamente disseminado entre as camadas médias urbanas. Também os povos do novo mundo não ficaram imunes à Cannabis. Hoje em dia no Brasil, os Mura, os Sateré-Mawé e os Guajajaras fazem uso tradicional da erva. Os Guajajaras tem a planta em alta estima e sua presença na mitologia do grupo atesta a antiguidade de seu uso, que remontaria à segunda metade do século XVII. A planta é consumida no contexto xamânico, junto com o tabaco para proporcionar o transporte místico do Pajé e na sua divinação. No contexto profano, a erva é inalada em grupo antes de trabalhos pesados nos mutirões para dar disposição, indicando que a chamada "síndrome amotivacional" - associada a Cannabis - possa ser um fenômeno antes cultural que uma decorrência dos seus princípios ativos, Os dados jamaicanos parecem confirmar essa tese, uma vez que nesse país a Cannabis é amplamente fumada por trabalhadores rurais como estimulante antes de trabalhos pesados e extenuantes. Outros nativos da América também usam a Cannabis, entre os quais estão os índios Cuna do Panamá, que já possuíam escrita antes da chegada dos europeus, os índios Cora do México, e outros. Hoje em dia existem religiões organizadas onde observa-se o uso da Cannabis. Para os Rastafari da Jamaica, a planta é Kaya, energia feminina de Deus. Seu uso diário naquilo que é chamado "Irie meditation", a meditação na energia positiva, é justificado pelas seguintes passagens da Bíblia no Gênesis: "Eu sou Jeová teu Deus, eis que te dou toda planta que há sobre a terra, e que da semente nela mesma, para que fazeis bom uso dela" e no livro das revelações, o Apocalipse, quando descreve o paraíso: "Vi também a árvore da vida, cujas folhas são a cura das nações" Para a doutrina do Santo Daime, a planta é sagrada e identificada com Santa Maria, a mãe de Jesus. Para consagrá-la, é nescessário aderir a um uso diferenciado, sendo a planta consumida exclusivamente durante os rittuais, em silêncio, com o pito, a designação nativa para baseado, passando sempre no sentido anti-horário, isto é, da direita para a esquerda. Devida à longa história de associação entre nossa espécie e a Cannabis, esta apresenta um grande polimorfismo decorrente das inúmeras hibridizações levadas a cabo com a intenção de desenvolver plantas com qualidades desejadas. Sendo uma planta dióica, ou seja, possuindo os sexos separados em duas plantas: uma macho e outra fêmea, o gênero Cannabis compreende três espécies distintas: sativa, indica e ruderalis.
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