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  1. "Imprensa tem preconceito com qualquer tema tabu", diz autor do "Almanaque das Drogas" Lucas Carvalho* | 03/04/2014 15:45 http://www.portalimprensa.com.br/noticias/brasil/64995/imprensa+tem+preconceito+com+qualquer+tema+tabu+diz+autor+do+almanaque+das+drogas Tarso Araújo é um jornalista viciado em falar sobre drogas. Começou a pesquisar o assunto em 2006, quando atuava como freelancer para diversas revistas da editora Abril, como a Superinteressante, Mundo Estranho, Capricho e Placar. Interessado em ampliar o debate e oferecer uma fonte abrangente de informação sobre o tema, Tarso lançou em 2012 o “Almanaque das Drogas”, pela editora Leya. Crédito: Patrícia Stavis Jornalista reúne informações sobre drogas em livro “Durante todo aquele tempo pesquisando o assunto, me dei conta de que não existia um livro com informação sobre drogas para o público leigo. Era uma literatura que faltava no Brasil, em português. [...] Quando tive a oportunidade, eu propus a ideia de um livro sobre drogas para um editor e ele topou na hora”, conta o jornalista. O “Almanaque das Drogas” apresenta em quase 400 páginas, 200 fotos e mais dezenas de ilustrações e infográficos uma rica pesquisa sobre todo tipo de substância psicoativa conhecida — lícitas, proibidas, sintéticas, naturais, estimulantes, depressoras e alucinógenas. A obra apresenta a história, a composição química das drogas, além de sua influência em questões sociais, políticas e econômicas. Desde a cafeína até a metanfetamina. “É importante que as pessoas conheçam o que elas estão usando, porque o problema não é com as drogas, mas com o jeito que a gente usa, a relação que estabelecemos com elas. Muitas vezes, essa relação se desenvolve de uma maneira problemática, porque as pessoas não têm informação sobre os perigos que as drogas podem representar”, diz. Desafios na produção O desenvolvimento do livro durou cerca de um ano. Tarso revela que reunir dados concretos e informações atualizadas sobre o assunto foi o maior desafio devido à falta de conteúdo acadêmico disponível. “No caso da história das drogas, existem pouquíssimas publicações que a olhem como um todo. Ou o cara estuda a história de uma droga específica, ou ele estuda um período específico. Então eu tive que fazer um grande trabalho de compilação, usando muitas fontes diferentes.” Crédito:Divulgação Edição atualizada será lançada em 2015 Para o jornalista, o capítulo mais difícil de produzir no livro foi o sobre economia. “O aspecto econômico é muito difícil de se pesquisar, porque existem poucos estudos acadêmicos sobre economia das drogas, de mercados ilegais etc. A informação pra valer, a que mais importa, está nas mãos de dois tipos de pessoa: policiais e traficantes. E essas duas fontes são muito difíceis de se abrir. Mas, no fim, a parte de economia ficou muito interessante, acho que é uma das mais legais do livro, porque é justamente baseada nesse tipo de fonte ‘quente’.” Mas a parte de pesquisa e a tarefa de reunir e organizar os dados não foi o único desafio do jornalista. Para ele, o momento de colocar as informações no papel e encontrar a linguagem ideal para sua redação foi um trabalho duro. “O desafio é conseguir escrever sobre um tema polêmico como esse sem tomar partido, sem puxar sardinha para essa ou aquela opinião ou ponto de vista. Não era a minha intenção fazer nenhum tipo de proselitismo, defender essa ou aquela causa. Meu objetivo era realmente informar e fazer isso de uma maneira que o leigo entendesse. Transformar um assunto complexo num texto que seja simples para qualquer adolescente entender”, conta. A importância do debate O tema tem voltado à pauta da imprensa nos últimos meses após a legalização da maconha no Uruguai e os projetos de liberação da cannabis medicinal em diversos distritos dos Estados Unidos. Tarso conta que uma nova edição está sendo planejada para 2015, englobando esse novo cenário internacional em que as drogas se encaixam. Enquanto isso, o jornalista trabalha numa outra frente: a campanha “Repense”. O projeto de crowdfunding registrado no Catarse propõe a criação de um canal de comunicação sobre o uso da folha da maconha, a cannabis sativa, em tratamentos médicos. Para promover a campanha, Tarso dirigiu o documentário em curta-metragem “Ilegal” sobre uma mãe que importa de maneira ilícita o canabidiol, medicamento derivado da planta proibido no Brasil, para tratar a filha que possui uma rara doença genética. “A imprensa cobre [o assunto drogas] relativamente pouco. Ultimamente, isso tem mudado. Tem coberto um pouco mais. Mas a gente não tem coberto melhor. [...] Ano passado, a grande imprensa deu bastante atenção ao assunto ‘maconha’, ‘descriminalização’ e ‘legalização’, por causa do que aconteceu no Uruguai e nos Estados Unidos. Mas, apesar disso, nenhum grande veículo fez nenhuma grande matéria sobre a maconha medicinal”, afirma Tarso. Para o jornalista, é uma certeza: a mídia ainda tem muito preconceito com o tema. “É com qualquer tema tabu. A imprensa não fala, por exemplo, de suicídio, e também não fala de drogas porque é um tema sensível, polêmico, que envolve uma série de valores morais e religiosos. É como se fosse um vespeiro para a grande imprensa. Ela não sabe exatamente qual é a opinião das pessoas, numa época em que tudo muda tão rápido, ela prefere não tocar nesse assunto para não se arriscar”, afirma. Tarso conclui dizendo que o assunto drogas envolve uma série de questões de grande relevância no Brasil, desde economia, até corrupção, violência e saúde. Para ele, é papel da imprensa divulgar informações concretas e sem preconceito sobre o tema, para que assim ele seja compreendido e discutido em toda a sua complexidade pela sociedade. “É papel da imprensa informar melhor para que as pessoas tomem decisões mais bem informadas. Isso vale pro caso do debate sobre drogas e para qualquer outro debate”, finaliza. Assista ao vídeo "Ilegal": * Com supervisão de Vanessa Gonçalves
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