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Cérebros, truques e armadilhas Estou escrevendo esse texto num avião para Nova York e, acredite, as comissárias estão distribuindo drogas grátis! Eu já pedi meu café e o sujeito ao meu lado está bebendo vinho. Cigarro não pode, dizem os sinais luminosos espalhados por toda a parte. Já voamos sobre os EUA e, lá embaixo tenho certeza que nesse momento alguém está sendo preso por usar ou vender alguma droga proibida. Os americanos são os campeões globais disso tudo – de uso, de venda e de proibir drogas, é claro. Também deve ter, muito provavelmente, algum mexicano tentando atravessar a fronteira com alguns quilos de drogas. E outro morrendo para ter o direito de fazer a mesma coisa. Enquanto executivos engravatados discutem como vão aumentar suas vendas de cerveja ou cigarro em algum país da África ou da Ásia. Hoje, mais do que nunca, drogas lícitas e proibidas são um grande negócio. São também um grande problema. E desde sempre foram uma importante fonte de inspiração religiosa, mística e artística. Uma fonte de prazer e diversão – e dor de cabeça, no dia seguinte. Até macacos ancestrais do Homo sapiens enchiam a cara com frutinhas fermentadas. Era uma preciosa e embriagante fonte de energia para a vida pré-histórica. Você pode procurar nos livros de história sobre toda e qualquer civilização da história: todas usaram pelo menos um tipo de droga psicoativa, dessas que entram no seu cérebro e mexem com seus sentidos, sua expressão, seu comportamento. O mais comum, porém, sempre foi a turma usar mais de uma substância desse tipo. Uma era melhor para falar com Deus, outra para falar com as mulheres, e outras para ficar na sua pensando na vida. Algumas davam energia para o sujeito trabalhar mais, outras colocavam o cara para dormir e evitar a dor, o sofrimento. A relação com essas substâncias foi um dos primeiros exercícios do homem na tentativa de entender e controlar algo que ele então nem sabia que existia e muito menos que, na verdade, controla todas as suas ações, pensamentos e sentimentos: o cérebro. É um dos mais assombrosos e complexos produtos da evolução. Nem todos os milênios de experiência com drogas psicoativas nem as tecnologias mais avançadas que já produzimos até hoje nos fizeram entender direito como funciona essa enorme massa cinzenta dentro do nosso crânio. Conseguimos fazer esse avião decolar, voar e pousar, mas não sabemos explicar porque algumas pessoas tem uma fobia descontrolada e não conseguem sequer entrar num desses. Sabemos como usá-los para bombardeios atômicos, mas não conseguimos resolver o sofrimento de alguém com mal de Alzheimer – nem sequer sabemos direito porque algumas pessoas ficam doentes. É disso que vamos falar nesse espaço: sobre cafés e neurônios. Não apenas sobre esse café solúvel aguado que acabei de beber, mas sobre todas essas coisas que estão por aí e muitas vezes nem nos damos conta. Sobre todos esses truques que os homens usam para viajar (sem avião) e que eventualmente se tornam armadilhas difíceis de escapar. E sobre neurônios e tudo que compõe essa maravilhosa máquina de emoções e razão que é o nosso cérebro. Sobre os truques que ele usa para inventarmos tanta maluquice e sobre as armadilhas nas quais ele cai de vez em quando, para nos levar à loucura. Vamos falar muito de ciência, para conhecer esses truques e armadilhas. Mas vamos falar também de economia, de política, de história – como no Almanaque das Drogas –, porque afinal essas coisas também nos ajudam a entender como e porque cafés e neurônios são tão importantes para nosso dia a dia. Repare que escrevo “vamos falar”. Não é estilo nem retórica: é que não pretendo ficar sozinho aqui nessa coluna e nesse ecossistema Galileu, com meus colegas de redação. Espero que você volte, participe e me ajude a construir esse espaço. Comente, mande suas dúvidas mortais, suas sugestões de assunto. Desde já. O cafezinho vai ficar muito mais legal. E os neurônios, mais conectados. Agora eu preciso ir, porque o comandante mandou desligar o computador. Hum… Será que rola mais um cafezinho daquele? http://colunas.revistagalileu.globo.com/colunistas/2013/03/15/cerebros-truques-e-armadilhas/