Ir para conteúdo

Arnaldo Jabor - O crime no Rio vive do nariz dos otários!


CLONE

Recommended Posts

  • Usuário Growroom

:.. O crime no Rio vive do nariz dos otários

20/04/2004

Não adianta mais dizer "que horror!" Enquanto procurarmos uma solução para o crime no Rio, não haverá solução. Não haverá solução enquanto não entendermos que somos parte do problema - nós, a polícia, a burocracia, a lei, as Forças Armadas, governos central e estadual. "Solução" é um conceito antigo e obsessivo; só um processo amplo, multidisciplinar, um processo lento, caro, difícil poderá ir melhorando a coisa toda. São 650 favelas, com mais de 30 mil armas pesadas (calcula-se), aumentando o número a cada dia, chegando de barco pela Baía, de aviãozinho, de caminhão. Algum sucesso, algum avanço só virá se desistirmos de defender a "normalidade" de nosso sistema, pois não há mais normalidade nenhuma; precisamos é de uma urgente autocrítica de nossa ineficiência. Já escrevi várias vezes sobre isso e aqui repito frases de outros artigos. Nada avançou nos últimos anos.

A nossa secular irresponsabilidade está em questão. Nós é que temos de nos reformar, subverter nossas cabeças, nossas polícias, nossos poderes. A defesa pública está engarrafada numa rede de burocracia corrupta, leis antigas, velhos conceitos que são facilmente superados pela eficiência leve e imaginosa do bandidos.

Nós ainda falamos dos criminosos como se fossem "desviantes" de nossa moral, como gente que se "perdeu" da virtude e caiu no "pecado", no "mundo do mal".

Não se trata mais de crime contra a virtude. O que surgiu foi uma nova sociedade periférica, feita de fome e funk, de rancor e desejo de consumo. E são estranhas anomalias do desenvolvimento torto. Há uma terceira coisa crescendo aí fora, como um monstro Alien que se esconde nas brechas da cidade. Não há mais a idéia de proletários ou de infelizes ou de explorados.

Estamos perplexos com o mistério da miséria. Não basta denunciarmos contradições e injustiças. Estamos diante de uma espécie de pós-miséria.

Isso. A pós-miséria está gerando uma nova cultura, se é que esta palavra se aplica à vida esmagada tentando existir. Hoje não adianta mais o papo de luta de classes, de conscientização, cidadania. Os miseráveis se conscientizaram sozinhos, em outra direção. E quem disse que eles ainda querem que nós os "salvemos"? Parte da miséria está armada. Eles ainda têm muito a tirar de nosso mundo: granas, assaltos, vinganças. Mas, mesmo assim, continuamos sonhando com um mundinho limpo, com uma utopia de Ipanema.

Dançou, gente boa.

A verdade é que o Brasil sempre teve a "cultura do desrespeito" à lei. Nossa sociedade foi montada na transgressão à ordem, no horror à coisa pública, aos direitos da maioria; somos uma sociedade de contraventores, de sonegadores, de pequenos psicopatas light, uma sociedade de malandros cariocas. Agora é tarde. Isso que está acontecendo é a realidade previsível, não é uma anomalia.

A verdade é que a única coisa que aumentou a renda dos morros foi a cocaína.

Como disse o policial Helio Luz, com desalento: "O pó é uma companhia multinacional que diminui o desemprego dos miseráveis"... Fazer o quê?

Ganhar 200 reais para ser limpador de privada de branco? Ora... Os criminosos cariocas têm a mesma vantagem dos terroristas - não têm rosto e ninguém sabe de onde vêm. Eles são microempresas privadas, filiais da grande multinacional do pó. Nós somos o Estado incapaz. Eles agilizam métodos de gestão. Eles são rápidos e criativos. Nós somos lentos e burocráticos. Eles lutam em terreno próprio. Nós, em terra estranha. Eles não temem a morte.

Nós morremos de medo. Eles estão no ataque. Nós, na defesa. Nós nos horrorizamos com eles. Eles riem de nós. Nós os transformamos em superstars do crime. Eles nos transformam em palhaços. A droga e as armas vêm de fora.

Eles são globais. Nós somos regionais.

A luta contra o tráfico, é óbvio, começa lá longe, nas fronteiras. Por lá entram as armas e o pó. Não adianta subir e descer de morros. Temos de fechar fronteiras. Mas, não temos nem Guarda Costeira.

A luta contra o crime não é mais uma luta policial; não é mais a Lei contra o Pecado. Não. O crime cresceu tanto que se tornou um problema de Estado-Maior. Sim. Trata-se de uma luta política e, mais do que isso, uma luta policial militar. Acho que tem de haver, sim, uma séria articulação das Forças Armadas com as polícias. Tem de haver generais estudando estratégias e logísticas de cercos e ataques. Meses de estudo, planos secretos, dinheiro, muito dinheiro e milhares de homens com armas modernas. E tudo isso coordenado com campanhas de esclarecimento e de proteção às comunidades que eles "protegem". "Ahh... - alguns vão gritar -, o Exército não foi treinado para isso!" Pois, que seja treinado. Trata-se de uma guerra. Ou não? Não combateram a guerrilha urbana com implacável ferocidade e competência? Aposto que outros dirão: "O Exército não é para crimes comuns; é para guerras maiores..." Para quê? A invasão da Argentina? Não podemos enfrentar o crime do século 21 com uma polícia do século 19.

No fundo, muitos não admitem a ação das Forças Armadas porque desejam ocultar a derrota de um sistema legal e policial. A guerra é reconhecimento do fracasso da política. Pois que seja. Nosso fracasso tem de ser assumido.

Crime hediondo é que o combate ao crime e à miséria não seja uma prioridade nacional, crime é que não haja alocação de bilhões de reais para se fazer uma guerra política e social, e não meras operações policiais inócuas. A tragédia das periferias brasileiras me lembra um terremoto ignorado, para o qual ninguém enviou patrulhas de salvamento. Já houve um terremoto e todos nós tentamos esquecê-lo, subindo grades em nossas casas, com os socialites cheirando o pó malhado de otários, perpetuando esta miséria. O crime começa e acaba no nariz das classes dominantes.

fonte: http://noticias.cardiol.br/listanotsql.asp?P1=138766

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Usuário Growroom

AE Arnaldo Jabor é o máximo.

Ele mexe com a gente, fala da realidade com uma crítica muito forte .

Pena ele apenas inspirar a gente e não aos políticos que gastam muita grana em suas campanhas e depois de eleitos não fazem absolutamente NADA pro povo.

A guerra civil no Rio de Janeiro é apenas a consequência de anos de descaso com as classes menos favorecidas.

Historicamente comparo nosso momento com a época da escravatura, acho que nas devidas proporções deve ter sido um momento muito parecido com este. Os escravos depois de varias torturas e péssimas condições de vida, começaram a ver q podiam se rebelar criando os quilombos e usando a capoeira como luta.

Mas a abolição só surgiu por pressão de outros países.

Mas que mesmo assim foi um processo gradual.

Hoje contamos com armas, pistolas e fuzis.

granadas e até minas terrestres.

Aonde vamos parar?

Quando isso vái acabar.....

Desculpe a viagem, mas depois de ler um texto como esse

a gente Pira o cabeção

;)

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Usuário Growroom

muito bom o texto!

semente de luz escreveu

Pena ele apenas inspirar a gente e não aos políticos que gastam muita grana em suas campanhas e depois de eleitos não fazem absolutamente NADA pro povo.

Faz parte do sistema o estado ñ se assumir...ele só se vende pros eleitores mas fazer algo pra mudar...nunca!

Se não houver luta nunca vai mudar!

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

Join the conversation

You can post now and register later. If you have an account, sign in now to post with your account.

Visitante
Responder

×   Pasted as rich text.   Paste as plain text instead

  Only 75 emoji are allowed.

×   Your link has been automatically embedded.   Display as a link instead

×   Your previous content has been restored.   Clear editor

×   You cannot paste images directly. Upload or insert images from URL.

Processando...
  • Tópicos

  • Posts

    • Salve galera, tudo certo?! Alguns anos sem entrar aqui na casinha, mas como eu vi que tem alguns Growers retornando à casa e outros novos chegando, resolvi postar uma "atualização jurídica" (que não é tããão atual assim) para todos os usuários que já "rodaram/caíram" nesses anos todos de cultivo!!  Todos nós sabemos do julgamento do RE 635.659 (Recurso no STF para descriminalização do porte de maconha), agora chegou o momento de revisar as antigas condenações.  Sabe aquela transação penal assinada? Aquela condenação pelo 28 (que não foi declarada inconstitucional na época)?? Aquela condenação do seu amigo pelo 33, mas que se enquadrava nos parametros de um grower??? Pois então, chegou o momento de revisar todos esses processos para "limpar" a ficha de todos(as) os(as) manos(as) jardineiros(as)!! "O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) dará início, em 30 de junho, ao mutirão nacional para revisar a situação de pessoas presas e/ou condenadas por porte de até 40 gramas de maconha ou seis plantas fêmeas. A realização do mutirão cumpre determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) ao julgar recurso sobre o tema em junho de 2024, que resultou na fixação de parâmetros para diferenciar o porte de maconha para uso pessoal do tráfico. Entre o dia 30 de junho e 30 de julho, os tribunais da Justiça Estadual e regionais federais farão um esforço concentrado para rever casos de pessoas que foram condenadas por tráfico de drogas, mas que atendam aos critérios do STF: terem sidos detidos com menos 40 gramas ou 6 pés de maconha para uso pessoal, não estarem em posse de outras drogas e não apresentem outros elementos que indiquem possível tráfico de drogas. De acordo com da Portaria CNJ n. 167/2025, os tribunais atuarão simultaneamente para levantar os processos que possam se enquadrar nos critérios de revisão até o dia 26 de junho. Este é o primeiro mutirão realizado no contexto do plano Pena Justa, mobilização nacional para enfrentar a situação inconstitucional dos presídios reconhecida em 2023 pelo STF. O CNJ convidará representantes dos tribunais que atuarão diretamente na realização do mutirão para uma reunião de alinhamento na próxima semana, além de disponibilizar o Caderno de Orientações." LINK DO CNJ Caso o seu caso se enquadre, ou conheça alguém que também passou por essas situações, sugerimos buscar um Advogado de confiança ou entrar em contato aqui neste tópico mesmo com algum dos Consultores Jurídicos aqui da casinha mesmo!! Bless~~
    • Curitiba é sempre pior parte hahahaha!
    • o teu chegou? o meu já passou por Curitiba mas tá devagar (pelo menos o pior já passou) kkkkkkkkkk
×
×
  • Criar Novo...