Guedzillaz Postado October 9, 2004 Denunciar Share Postado October 9, 2004 João Donato, O prodígio Obra-prima relançada comemora 70 anos do compositor do Acre Acrense filho-fugido da elite da bossa nova, João Donato se arranjou com todo o mundinho da bossa-jazz – de João Gilberto à Gal Costa - só comendo pelas beiradas, mais ouvindo do que fazendo. Deixara a tarefa de catequizar a boemia para Tom Jobim e preferiu ser perfeito pouco tempo depois, mais precisamente em 1974, lançando “Lugar-comum”. Que no fim do primeiro semestre deste ano sofreu up-grade em CD com direito a remasterização de último modelo e embalagem luxuosa. Um trabalho que em 1974 estava, por baixo, uns 40 anos à frente de sua época: já untando a malemolência do free-jazz com a cadência dos ritmos afro-caribenhos e antecipando o traçado fino do lounge. Entre outros boquiabertos, Marcelo D2 percebeu tudo antes e chamou o maestro pra dar tratamento especial ao seu acústico. Muito do justo, afinal, no agosto passado Donato celebrara 70 primaveras e nada melhor que reconhecimento. Hoje ponta-de-lança desta geração que vem re-equacionando a fase bossa-jazz da música brasileira, na década de 70 João se desgarrou do bando – que, por vias de um Tom e outro, estava sempre anzolado à caretice do cool jazz - e manipulou “Lugar-comum” de forma mais fluída, free, sem qualquer quinhão de padronização (mas sem deixar de dosar o virtuosismo e precisar a sofisticação). No geral, samba-jazz e afro-jazz na linha de outros prodígios que se marginalizaram por conta própria – Moacir Santos (profeta da gafieira), J.T Meirelles, Sérgio Mendes, etc. João canta (ainda que tímido, portanto, único), toca piano, arranja, grava, apaga, muda, dá pitaco, mete o bedelho e bate escanteio – egoísmo merecido. Entre uma suíte luxuosa e outra (na faixa-título, em “Tudo-tem” e na difícil versão de “Pretty Dolly”), o acrense dá vazão à influência do pontuado do terreiro e, por conseqüência, de toda a África. Observando as ondas sempre do mesmo mirante (o jazz), “Lugar-comum” pincela a macumba (pelos refrões hipnóticos e pela pluralidade da percussão) sobre o fundo da atmosfera do verão lento da Copacabana carioca (pela timbragem esmerada e pela instrumentação orgânica). Em fase de exaltação juvenil pós-exílio, Gil e Caê, freqüentadores assíduos da rodinha de João, surgiam como que operários-ajudantes no álbum, cedendo para o trabalho uma série de letras e participações (Gil brilha na non-sense “Patumbalacundê”, por exemplo). Mas Rosinha de Valença, hoje saudosa, foi quem roubou o show em “Ê menina”, fazendo o eterno violão da bossa-nova tilintar em chapa-quente em nome do samba-jazz inquieto de Donato. Tudo muito atual, contemplativo e desenvolto. Recorra ao dicionário para conferir porque João Donato é um prodígio. Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
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