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Dubismo...


Guedzillaz

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Aí rapaziada, volta-e-meia recebo 'n' números de MPs pedindos informações sobre música. A maioria sobre o dub, o dance-hall e o reggae. Como o reggae tá cambaleante e mendigo, fiz um texto (muito do básico) bem rápido aqui e posto pra esta galera ler e pra novos adeptos conhecerem a música jamaicana. É breve e sutil, podem fuma-lo.

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Ambientado nas profundezas do Congo e esculpido com a batuta cirúrgica de heróis sub-humanos do coração de Kingston (capital da Jamaica), assim é o dub jamaicano: pepitas de ouro-verde escondidas no underground da selva de concreto do Grande Organismo Humano que é Kingston. A vertente psicoativa do reggae roots fora retratada de forma fiel e avassaladora pelos humanóides jamaicanos na década de 70, eternizando assim o período mais entorpecido, vanguardista e pitoresco da história da música moderna: o dub jamaicano, ancestral do remix e grão-mestre da árvore genealógica da música eletrônica atual (sobretudo no trip-hop, turntablismo, trance, rap underground) .

A tentadora vontade de juntar nos dez dedos da mão os maiores músicos-produtores-e-profetas é tratorizada pela avalanche de outros grandes produtores que merecem espaço. São tantos. Do essencial e patrono King Tubby ao visionário Lee “Scratch” Perry, passando por intermediários que estenderam os tentáculos psicoativos do dub (Mad Professor na metrópole inglesa, Horace Andy em Nova Iorque), há também hoje os novatos produtores (destacaria o selo inglês Blood and Fire e a boa fase do ragga pela garotada classe-média atual de Kingston) que vêm pincelando novos tijolos no muro do grande labirinto espacial que é o dub.

Lee Perry foi o mais importante e pioneiro produtor do estilo, seu álbum “Super Ape”, considerado um marco, entregou ao mundo moderno doses cavalares de fumaça-hipnotizadora. Aparece nas listas dos álbuns mais influentes da música underground eletrônica, é cuspido pela boca de fanfarrões como Fatboy Slim e influência definitiva para produtores brasileiros que buscaram no dub o caminho mais legítimo para o paraíso da consciência (Instituto, Black Alien, Echo Sound System, Enganjaduz). “Super Ape” fez o dub se firmar como um ritmo tribal, cujas raízes entrelaçaram as mesas de som e se fundiram em novas tecnologias – se isto não é sinônimo de modernidade, maconha é uma droga. Até o rei do reggae e do engajamento consciente, Bob Marley, bebeu nas fontes de água verde do dub. Ficaram célebres suas letras com o próprio Lee Perry e suas experiências sônicas com produtores do estilo (por muito tempo, em fins da década de 60 e meados da de 70, produtores do Studio One faturaram com versões dub de clássicos de Bob). Lee Perry (um brutamontes brigão e perverso) em seus maiores delírios chegava a enterrar seus álbuns com os Upsetters sete dias sob a chuva úmida para “sugar as forças das raízes da natureza”.

Também já citado, King Tubby foi o gênio que montou a caixa de implosivos do dub e que a explodiu. Uma das versões: pioneiro, Osbourne (seu nome real) teria fundado o dub num compacto que gravava de um grupo local e que, por acidente, sofreu alteração tecnológica dos andamentos das músicas, deixando-as mais lentas, obscuras e chapadas. Como um visionário diante dum périplo de explosões da consciência, King Tubby incorporou a descoberta e passou a operar o estúdio tal como uma nave espacial – abusando de tecnologia e testando novas possibilidades. King Tubby desbravou o caminho, Lee Perry pavimentou, e, pelas mãos de operários como Mad Professor, Prince Jammy, Scientist e Jah Shaka, seguiu sua rota rumo ao futuro.

Impossível esquecer do dance-hall oitentista fazendo revolução sobre a carcaça da revolução (o cantor/MC/toaster faz um rapeado jamaicano em cima das bases do dub) pelos poderes tecno-analógicos dos visionários da mesa de som. Saudosos como Lone Ranger (antecipando o fino do trip-hop em vocais miraculosos), Barrington Levy (vertendo a luta legítima pela legalização da Cannabis em poderosos protestos cheios de hipnose e malemolência) e Cutty Ranks (sugado pelas forças do obeah, o mais violento e decaído toaster da selva de Kingston) e muitos outros que arquitetaram a continuação da guerrilha (Shinnehead, lendário...), aplicando subversão sobre a revolução (dub+reggae = dancehall) – impossível também não se curvar à sabedoria natural do rasta John Holt delirando “se a polícia queimar nossos pés de maconha nós vamos queimar seus pés-de-cana” em “Police in Helicopter”.

Hoje, eternamente hoje, e sempre amanhã, o código genético do dub foi incorporado ao organismo underground da música moderna com perfeita simbiose. Exemplos, não há como negar que DJ Shadow mergulhou de pipe na mão no estilo ou que o psy-trance não seja um dub picado por uma agulha anabolizante, o mesmo quando nos lembramos de outros produtores do dub jamaicano (circa 70) que estão aí até hoje, construindo novos labirintos e misturando maconha com novas visões. Elaborado pelas mentes entorpecidas de seus genitores, o dub permaneceu à margem da civilização e riscou de lá seus planos para proliferar pelo território urbano. Soberano, hoje o dub caminha entre os sulcos digitais da modernidade e enxerga reverência absoluta.

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  • Usuário Growroom

"Super Ape" é um disco FODA!!! sem mais nenhum comentário...

Guedzillaz: sem comentários pra vc tb velho... resenha fodona pra galera...

Ae rapazeada de sampa q deseja curtir uma balada DUB... toda sexta no Juke Joint na Frei Caneca, 304... rola o famoso "Susi in DUB"...geralmente é 10 reais d entrada OU 15 de consumação... e toda última setxa do mês rola uma banda e tal... a balada é lôca!

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