Ir para conteúdo

Cânhamo e consciência humana


macerai o hemp

Recommended Posts

  • Usuário Growroom

Cânhamo e consciência humana, postado por Jujuba_ no samba420.net

Fonte: http://www.samba420.net/forum/showthread.php?t=997

Cânhamo e consciência humana

Terence McKenna atribui a plantas psicotrópicas como a cannabis muitas das qualidades que espiritualistas mais convencionais conferem a Deus. McKenna, um cultivador de plantas xamanistas e grande arauto da experiência psicodélica, teoria que as plantas alucinógenas são o veículo de uma maciça transmissão de informação do reino vegetal para a espécie humana. Ele escreve: "A totalidade das funções que associamos à natureza humana, entre as quais a lembrança, a imaginação projetiva, a linguagem, a denominação, a fala mágica, a dança e um senso de religio, talvez tenha emergido da interação com plantas alucinógenas.

Por mais intrigante que sua visão possa ser, não é preciso comprar as idéias de McKenna em blobo para retraçar uma parceria entre seres humanos e cânhamo que remonta há dez mil anos, quando o caçador-coletor do Velho Mundo fez a transição para a agricultura. Os estudiosos geralmente citam o cânhamo como um dos primeiros produtos agrícolas, mas o divulgador científico Carl Sagan sugere que seu uso para alterar a consciência pode ser ainda mais antigo. Em Os dragões do Éden, Sagan observa que, segundo um amigo que visitou a tribo, os pigmeus, que são caçadores-coletores, se embriagam com maconha ante de perseguir sua caça para melhor suportar a faina. Dizem eles que usam a planta, único produto que cultivam, desde o início dos tempos. "Seria curiosamente irônico", diz Sagan, "que na história humana o cultivo de maconha tivesse genericamente conduzido à invenção da agricultura e, por essa via, à civilização."

Como McKenna e Sagan, muitos historiadores admitem que o efeito da cannabis sobre a consciência foi descoberto pouco depois que os humanos primitivos descobriram a própria planta. Os povos arcaicos experimentavam livrementeas plantas de seu ambiente como possíveis fontes de alimento. Assim, logo teriam detectado que aquela erva de rápido crescimento alimentava mais que seus estômagos.

Pode ser, porém, que não apenas acidentes felizes expliquem o papel sagrado do cânhamo. Muitos especialistas em religião sugerem que os antigos teriam naturalmente imaginado que as plantas continham os segredos do céu. As plantas sugam alimento tanto do orvalho acima delas quanto do solo a seus pés. Assim, é possível que nossos ancestrais as vissem como óbvios intermediários entre céu e terra, sendo portanto a chave perfeita para os mistérios divinos. E em razão da multiplicidade dos usos práticos do cânhamo, talvez tenha sido para ele que os antigos olharam primeiro.

Há quase cinco mil anos o imperador chinês Chen Nong recomendou o cânhamo para malária, constipação, dores reumáticas, distúrbios femininos e alheamento. Os que compreendiam suas versáteis propriedades provavelmente sabiam também de sua capacidade de elevar a consciência, embora seja possível que esses segredos tenham sido desvendados pela primeira vez por xamãs chinesese doutos em assuntos religiosos. Segundo um livro publicado pela Igreja Copta Sião da Etiópia, um sacerdote taoísta que escreveu no século V a.C. atestou que a cannabis era usada por "necromantes, em combinação com o ginseng, para fazer avançar o tempo e revelar eventos futuros". Sobrevivem também antigas advertências de que as alucinações (demônios videntes) vão atormentar aqueles que abusam do Mafen, ou "fruto do cânhamo", mas que o uso prolongado ajuda "a comunicar com os espíritos e torna o corpo mais leve".

O mais antigo indício específico de consumo de cânhamo para fins espirituais vem da Índia. Datado de cerca de 1400 a.C. e contendo material muito mais antigo, o texto religioso Athharva Veda menciona a erva sagrada "bangue", o meio pelo qual se dá a comunicação com Shiva, a divindade da iluminação espiritual na trindade hindu. O texto implora à planta sagrada que "nos livre da calamidade" e nos "proteja ... contra doenças e todos os Demônios". Segundo a tradição indiana, a planta bangue foi gerada quando os deuses agitaram o oceano celeste, usando o monte Mandara como bastão. Uma gota de néctar caiu sobre a terra e o cânhamo brotou no lugar. Desde o século X, esse néctar do bangue - um presente dos deuses e um favorito dos deuses Indra e Shiva - foi chamado Indracana. Por volta de 1300 a.C. o uso do cânhamo por prazer ou para fins religiosos era comum.

O uso da cannabis se expandiu da Índia para a Pérsia e a Assíria. Já em 900 a.C. os assírios usavam cânhamo para fazer incenso, numa época em que não se queimavam ervas cerimoniais apenas por sua fragrância. Mircea Eliade, o conhecido estudioso das religiões, observa que "o êxtase xamanista induzido pelo fumo do cânhamo era conhecido no antigo Irã". A persistência do uso do incenso em rituais contemporâneos lembra um tempo em que as propriedades psicoativas que ele possui era reverenciadas como uma maneira de pôr o adorador em contato com forças sobrenaturais.

Os gregos e os romanos antigos preferiam em geral se inebriar com álcool, mas negociavam com povos que ingeriam e inalavam cannabis e sabiam dos feitos psicotrópicos das plantas. Escrevendo no século V a.C., o historiador grego Heródoto observou que os citas jogavam sementes de cânhamo sobre pedras aquecidas numa tenda fechada como um ritual pós-funeral. Heródoto comentou: "Os citas, transportados pelo vapor, lançavam gritos altos." Talvez Heródoto não tenha percebido os gritos em sua própria terra. Seu contemporâneo Demócrito (c.460 a.C.) escreveu que quando a planta - que conhecia como potamaugis - era tomada com vinho e mirra, produzia delírio, estados visionários e por vezes, "riso imoderado". Séculos mais tarde, por volta de 200 d.C., o médico romano Galeno descreveu o costume de partilhar cannabis com os visitantes para infundir alegria e risos no encontro.

Os israelitas que viviam na época do Antigo Testamento também negociavam com os povos usuários de cannabis que os cercavam e, embora os especialistas pareçam divididos quanto à existência ou não de menção à cannabis no Antigo Testamento, não é preciso muito para acreditar que as sugestões de seu uso são corretas. Referências a incenso ritual abundam e os judeus antigos não eram menos propensos que outros povos antigos a inalar a fumaça de erva por suas propriedades psicoativas. O Dr. C. Creithton, médico inglês que, escrevendo em 1903, afirmou que o "favo" mencionado no Cântico de Salomão (5:1) e a "madeira de mel" que aparece em 1 Samuel 14:25-45 são cannabis. Nesta última referência, Jônatas molhou uma vareta no favo, "levou a mão à boca e seus olhos brilharam".

Um uso ritual disseminado do cânhamo aparece em seguida no Oriente Médio após a ascensão do islã, que proibia o uso do álcool mas não fazia qualquer menção ao cânhamo e seus derivados. Na ausência de proibições culturais de seu uso, o consumo do haxixe tornou-se corriqueiro. Seus poderes espirituais eram apreciados particularmente pelos sufis. Segundo uma história apófrica, um líder religioso sufi chamado Haider, que vivia nas montanhas de Rama por volta de 500 d.C., descobriu por acaso os poderes euforizantes da planta e os partilhou com seus seguidores. Um monge seu, Sheraz, dizia aos discípulos que Deus lhe concedera o "favor especial" de uma planta "que irá dissipar as sombras que lhes anuviam as almas e iluminar-lhes os espíritos". Como é comum nas classes sacerdotais, Haider pedia a seus discípulos que escondessem as propriedades divinas da planta da gente comum. Se sorrisos beatíficos ou línguas soltas traíram o segredo, isso não foi registrado. Seja como for, logo os poetas sufis estavam exaltando as virtudes da "taça de Haider", que, diziam, tem "a fragrância do âmbar e cintila como uma esmeralda verde".

Apesar da ausência de proibições formais, muitos sacerdotes muçulmanos pregavam para as massas sobre os males do haxixe, enquanto em particular se regalavam com suas provisões escondidas. Numa velha história recontada por Abel, um sacerdote está no meio de um inflamado sermão contra "a droga ignóbil" quando sua túnica se abre e um saco com a erva cai no chão. Sem pestanejar, o sacerdotes vocifera para sua espantada audiência: "Este é o demônio contra o qual vos preveni; a força de minhas palavras o pôs em fuga. Tomem cuidado para que, ao me deixar, ele não se lance sobre um de vós e vos esravize." Quando o santo homem termina sua arenga, a multidão se dispersa; ele apanha seu saco, amarra-o bem debaixo da túnica e segue seu caminho.

Uma urna funerária, que se acredita datar de 500 a.C., contendo folhas e sementes de maconha, parece ser a mais antiga prova incontestável do uso do cânhamo na Europa. A urna, sugere Abel, representa a influência do culto cita aos mortos na vitória sobre os celtas, cuja cultura dominava a maior parte da Europa na época. Mas embora o cânhamo fosse extremamente estimado por suas propriedades medicinais, os indícios de seu uso como alucinógeno praticamente desapareceram por volta dos tempos medievais. Muito provavelmente, contudo, ele foi simplesmente confinado à clandestinidade pela expansão do cristianismo. No século III, o ambicioso imperador romano Constantino converteu-se ao cristianismo e declarou-o religião oficial obrigatória, somando assim o poder da Igreja primitiva ao seu próprio e prolongando a vida de seu império em desintegração. Cinquenta anos depois o imperador Teodósio, o Grande, interditou a prática de qualquer religião salvo o cristianismo, empurrando sem dúvida para as sombras muitos cultos que faziam uso do cânhamo. Já no século XIII a Inquisição declarou ilegal a ingestão de cânhamo juntamente com muitos outros remédios naturais; no século seguinte, as proibições se espalharam pela França. O uso da cannabis - fosse para comungar com o divino, fosse para curar ou simplesmente para festejar - foi tachado de bruxaria, podendo seus praticantes ser severamente punidos, até com a morte. Entre os incriminados esteve Joana d'Arc, a quem a Inquisição acusou de usar várias ervas "de bruxa", entre as quais a cannabis, para ouvir vozes.

Em 1484 o papa Inocêncio VIII, como parte do ataque da Igreja à cultura árabe em geral, promulgou um decreto declarando o cânhamo um sacramento maldito de "missas satânicas". A condenação que durou mais de 150 anos, não escapou a contestações. O monge beneditano e dissidente radical François Rabelais (1483-1553) satirizou tanto a Igreja quanto o Estado na série de livros esotéricos Gargantua e Pantagruel, em que "erva pantagruelion" é ondiscutivelmente o cânhamo.

O uso do cânhamo como alterador da mente ficou tão estgmatizado que não reemergiu na Europa de maneira clara até meados do século XIX, quando seu uso assumiu um caráter menos espiritual e mais recreativo. Em 1845, o psiquiatra francês Dr. Jacques Joseph Moreau (de Tours) relatou os resultados de experimentos sobre a embriaguez pelo cânhamo; ele os realizara ingerindo haxixe que trouxera da Argélia. Para o público médico, ele descreveu a experiência - euforia, alucinações, fuga de idéias e incoerência - em comedidos termos clínicos. Para os amigos, entre os quais o escritor Theophile Gautier, exclamou entusiasmado: "Prove isto!" Após seguir o conselho do médico, Gautier espalhou a boa nova em seu círculo boêmio de amigos, que incluía os escritores românticos Charles Baudelaire e Alexandre Dumas. Não demorou muito e a coterie estava se reunindo regularmente no Hotel Pimodan sob a égide do Club des Hachischins ("Clube dos Comedores de Haxixe") para mascar dawamesk, um potente confeito de haxixe, antes de seus opíparos jantares.

Num artigo escrito para La Revue des Deux Mondes, Gautier, evidentemente tão inebriado por seus próprios talentos literários quanto pelo haxixe, descreveu uma das noitadas de seu clube: "Parecia que meu corpo se dissolvera e se tornara transparente. Vi dentro de mim o haxixe que havia comido na forma de uma esmeralda que irradiava milhões de minúsculas centelhas. Por toda parte à minha volta eu ouvia jóias multicores a se estilhaçar e desintegrar. De quando em quando eu ainda via meus companheiros, mas como seres desfigurados, metade plantas metade homens." Tendo tido sua atenção despertada pela descrição superdramática que Gautier fez dos eventos que conduziram ao jantar, o psiquiatra Lester Grispoon, autor de vários livros importantes sobre plantas psicoativas, comentou: "Não parece haver muita diferença entre as descrições que ele faz das próprias percepções quando sóbrio e quando sob a influência da droga."

Os relatos sobre o haxixe do perturbado Baudelaire pareceriam ainda menos confiáveis que os de Gautier, embora não destituídos de mérito. Ele enfatiza, como o fariam Timothy Leary e outros um século mais tarde, o impacto que a disposição mental e o ambiente físico têm ambos sobre a experiência alucinógena, e distingue entre a alucinação do haxixe, que "tem suas raízes no ambiente", e as alucinações "verdadeiras", que não têm. Mas, como seu colega de clube Gautier, Baudelaire também tendia para a hipérbole e outras formas de exagero literário. Como Grinspoon e outros observaram, suas descrições de uma euforia promovida pelo haxixe mais parecem aquela produzida por uma dose alta de LSD ou pela fusão que um meditador alcança com a consciência cósmica. Em Os paraísos artificiais (1860), Baudelaire escreve que o usuário habitual de haxixe "acredita ser o centro do Universo ... Mas logo essa tempestade de orgulho se transforma numa beatitude calma, silente, serena; a universalidade do homem é coloridamente anunciada, e iluminada como se fora por uma aurora sulfúrea".

Embora o cultivo do cânhamo para fins industriais remonte a 1629 nos Estados Unidos, nenhum registro claro de seu uso aparece até meados do século XIX. A cannabis era amplamente usada como um medicamento nessa época, e sua capacidade de produzir "exaltação, embriaguez, alucinações delirantes", e assim por diante, foi catalogada no Dispensatory dos Estados Unidos em 1951. Cinco anos depois, um jovem americano chamado Fitz Hugh Ludlow publicou um artigo na revista Putnam's sobre sua experiência como consumidor de haxixe. No ano seguinte, a editora Harper Brothers publicou seus contos, expandidos no livro O comedor de haxixe. Embora Ludlow fosse indubitavelmente um usuário do haxixe, os especialistas consideram seus escritos ainda mais fantasiosos que os de Gautier e Baudelaire, que provavelmente o influenciaram.

Nas décadas seguintes, redutos boêmios clandestinos de consumo do cânhamo parecem ter florescido em muitas das grandes cidades americanas. A edição de novembro de 1883 do Harper's New Monthly Magazine estampou um artigo anônimo intitulado "Uma Casa de Haxixe em Nova York", em que o autor descreve uma "casa no norte da cidade onde o cânhamo é usado de todas as formas concebíveis, e onde as luzes, os sons, os odores e o ambiente são todos arranjados de modo a intensificar e aumentar seus efeitos". O escritor - que se supõe ser o Dr. H.H. Kane, autor de um texto médico sobre a morfina - relata que "fumantes de diferentes cidades, Boston, Filadélfia, Chicago e especialmente Nova Orleans, contam-me que cada uma delas tem seu refúgio do cânhamo."

Em Baltimore, a cannabis era consumida de modo cada vez mais aberto. Num livro publicado em 1894, o Dr. George Wheelock Grover narrou que, andando por uma rua da principal área comercial, avistou por acaso uma loja cuja tabuleta anunciava: "Confeito de Gungawalla, Confeito de Haxixe". Comprou uma caixa e, para experimentar a potência, tomou "uma dose inteira". Três horas depois, quando jantava com amigos médicos, os efeitos vieram à tona. Ele descreveu então aos colegas sua consciência alterada, dizendo inclusive que estava vendo "centenas de canários a cantar em gaiolas douradas".

Outros relatos de consumo recreativo eventual continuaram até cerca de 1920, quando o uso da cannabis sofreu uma brusca expansão em seguida à implementação da Lei Seca por meio da 18ª Emenda e da Lei Volstead. Na cidade de Nova York, "casa de chá", nos moldes dos antros do ópio ou dos locais de venda ilegal de bebidas alcoólicas, proliferaram como erva daninha. Seus amáveis proprietários distribuíam maconha por módicos 25 centavos para fregueses ue se deleitavam ali mesmo. No sul, Nova Orleans conquistou ampla notoriedade como porto de entrada e centro de distribuição da maconha vinda de Havan, Tampico e Vera Cruz. A violenta investida da legislação antimaconha na década de 1930 teve o efeito que as leis antidrogas geralmente produzem - expandiu o mercado. A maconha tornou-se popular entre os músicos de jazz, cuja arte era, como a cannabis, uma fuga espiritual do mundano. À medida que se transferiam de Nova Orleans para cidades do norte, os jazzistas levavam sua cannabis consigo.

Enquanto se insinuava entre a população em geral, através de espaços como a cultura popular e a influência de músicos e artistas usuários de cannabis, o uso da maconha penetrava também em regimentos mais organizados. Durante a Segunda Guerra Mundial e a Guerra da Coréia, muitos soldados tiveram seus primeiro contato com a erva. Ao voltar para casa após seus períodos de serviço, muitos deles se valeram da G.I. Bill (lei votada pelo Congresso em 22 de junho de 1944 para financiar educação universitária para veteranos de guerra dos EUA) para ingressar na universidade, introduzindo a cannabis no fértil ambiente social de campi espalhados por todo o país. Entediados com o conformismo insípido da vida suburbana a que seus pais os haviam destinado, desiludidos com os valores complacentes que observavam nos afluentes estilos de vida dos pais, os jovens americanos de classe média haviam começado a sentir um aperto na alma. Algo em seu âmago clamava por um destino cultural mais autêntico, um destino cuja essência fosse espiritual, não material. Embora esse anseio só fosse se expressar como cultura de massa juvenil uma década depois, o padrão foi estabelecido pelos beats da década de 1950, cujo sacramento era a maconha. Os beats idealizavam os oníricos mundos boêmios do século anterior e também as culturas urbanas exóticas dos músicos de jazz e outros artistas, que pareciam oferecer atraentes alternativas para as vidas que seus pais haviam traçado para eles. Na década de 1960, toda a dinâmica conducente à maconha nascida nas décadas anteriores - a repressão legal, a alienação dos valores sociais dominantes, o apelo de alternativas boêmias e espirituais - somou-se a forças sociais novas e igualmente poderosas para difundir o uso da maconha em meio a quase toda uma geração. A despeito das tentativas de controle feitas por governos, instituições religiosas e corporações, fica evidente que o uso da cannabis para propósitos transcendentais vai perdurar como um traço indelével da existência humana.

"O Guia Celeste": o papel do cânhamo na cultura espiritualista

No Velho Mundo, resquícios da antiga tradição do cânhamo, fundada no espírito, sobrevivem ao lado de formas mais atuais de consumo. Por exemplo, em parte da Europa oriental subsiste o costume de jogar um punhado de sementes de cânhamo no fogo como oferenda aos mortos, costume originado provavelmente entre os citas, milhares de anos atrás. Na Polônia e na Lituânia, persiste o costume de preparar uma sopa de semente de cânhamo - chamado samieniatka - para os mortos na véspera do Natal, quando se acredita que eles visitam suas famílias. Um impressionante número de culturas estabeleceu um vínculo entre a cannabis e a reverência aos mortos, sem dúvida por causa da aparente capacidade que tem a erva de transcender limites espaciais e temporais.

O uso do cânhamo, que afetou praticamente todas as grandes tradições espirituais da Terra em algum momento da história, continua a desempenhar hoje um papel proeminente em muitas tradições. Em várias tradições mais obscuras ou esotéricas, seu uso é central. Em contraste, a maioria das mais importantes religiões do Ocidente repudiou qualquer herança mística em que o uso da cannabis possa ter algum dia desempenhado um papel. Como William Emboden observa em seu livro Uso ritualístico da Cannabis sativa L., as tradições religiosas ocidentais tendem a enfatizar "pecado, arrependimento e mortificação da carne". É nos mais antigos cultos religiosos não ocidentais que encontramos um costume ininterrupto de uso da cannabis como euforizante, "que permitia ao participante um caminho prazenteiro para o Fim Último; por isso denominações como 'guia celeste'".

O que se segue retraça o percurso desse guia celeste através das mais importantes tradições espirituais do mundo e de várias de menor relevo.

A perspectiva secular

Além de promover a espiritualidade mística, a cannabis desempenhou um papel de destaque, sobretudo na história recente, ao elevar a consciência num sentido mais mundano. A mesma qualidade da cannabis - a de criar a capacidade de ver tudo de uma maneira distinta - que pode produzir uma hilaridade quase incapacitante também pode abrir os olhos e mentes de alguns usuáiros para possibilidades novas, mais sérias, no plano cultural, político, estético e intelectual. Subitamente, todos os pressupostos anteriores podem ser apreendidos e as justaposições fortuitas e os absurdos do mundo se convertem na matéria de um jogo mental completamente sem limites. As conclusões alcançadas - ou as músicas compostas, ou os poemas escritos - sob a influência da cannabis nem sempre se sustentam no dia seguinte, mas quando o fazem, podem ser profundas.

Isto não significa que a expansão da consciência é automática ou intrínseca com maconha ou haxixe. Andrew Weil assinala que, no século XIX, médicos na Inglaterra e nos Estados Unidos costumavam ministrar tinturas de cannabis a pacientes em uma variedade de casos. Não somente a prática não contribuiu para uma elevação em massa da consciência como alguns pacientes até relataram ter ficado inebriados, "provavelmente porque não o esperavam e assim ignoravam os efeitos psicoativos". A cannabis, assim como alucinógenos mais potentes, tende a ampliar qualdades que já estavam presentes no usuário. Para os que se sentem tolhidos numa trilha de moderada convenção e querem se libertar, a cannabis tem o poder de satisfazer seu desejo. Para aqueles cujas mentes já têm uma fenda, a fenda se alarga sob a influência da cannabis. Nas circunstâncias históricas em que a cannabis produziu uma grande diferença em termos sociais, é possível que ela tenha sido plantado em terreno já fértil.

Um breve exame da história espiritual da cannabis demonstra essa relação recíproca entre ela e mudança pessoal e social. Historicamente, aqueles que proclamaram com mais ênfase os poderes de alteração da mente pela cannabis foram inconformistas culturais e elites - xamãs, sacerdotes, devotos religiosos, artistas, esritores, boêmios e músicos. Essas pessoas já começam vendo, ou pelo menos desejando ver, as coisas diferentemente das massas. A cannabis acelera um processo já bem encaminhado. No Ocidente, os nomes Rabelais, Crowley, Baudelaire, Gautier, Rimbaud, Yeats, Ginsberg e Kerouac - todos ativos dissidentes sociais - se projetam. Os rastas fumadores de ganja da Jamaica são rebeldes políticos e culturais devotados, que evitam até o termo "rastafarianismo" porque implicaria uma religião organizada, convencional. Para os beats, a maconha era mais que uma mera janela para o misticismo oriental ou um vínculo com certo idolatrado músico de jazz ou afro-americano; era um protesto contra tudo que havia de errado com o mundo burguês, e as percepções intensificadas que tinham quando "ligados" apenas aumentavam o volume do que ouviam e sentiam quando sóbrios.

O exemplo mais profundo da capacidade que tem a maconha de elevar a consciência social de massa ocorreu durante a época da Guerra do Vietnã, tanto na frente doméstica quanto na frente de batalha. A difusão do uso de maconha em meio a quase toda uma geração de jovens de classe média que chegavam à maioridade na década de 1960 é indissociável das formidáveis mudanças no valores sociais, políticos, espirituais e culturais que marcaram aquela época. A cannabis não os sequestrou em sua consciência coletiva: a geração estava pronta para a maconha. Foi quase como se os deuses Shiva e Dioniso tivessem descido à Terra na forma da planta fêmea cannabis. Esses deuses de longos cabelos da embriaguez e do êxtase são conhecidos no Oriente e no Ocidente por sua dança frenética, a rejeição da vida urbana, a defesa dos animais e do mundo natural. Representando a natureza selvagem e livre da humanidade, eles são também os deuses que destroem as convenções e as barreiras da sociedade.

A seguir são apresentadas apenas algumas das maneiras pelas quais a cannabis, como outras drogas psicodélicas, contribuiu para a mudança convulsiva da década de 1960:

Como haviam feito os beats na década de 1950, as propriedades espirituais e a herança da cannabis despertaram o interesse da juventude por uma variedade de alternativas às religiões rejeitadas de seus pais: misticismo clássico como o hinduísmo, taoísmo, espiritualidade americana nativa, ou esoterismos ocultistas como a astrologia e o tarô - para citar apenas alguns.

Os rituais comunais do fumo da cannabis, bem como a consciência comunal utópica partilhada que a experiência ajudava a inspirar, levaram à formação de muitas experiências de vida grupal com bases espirituais, algumas das quais perduraram, como The Farm, no Tennessee.

Quando jovens criados nos subúrbios passaram a vagar pela natureza, cigarro de maconha na boa, muitos perceberam coisas sobre montanhas e rios e árvores que lhes haviam escapado por completo na viagens feitas na infância com os pais ou o chefe do grupo de escoteiros. Essa nova apreciação da beleza sublime e da inteligência do mundo natural deu origem a numerosas formas culturais, inclusive o interesse pela saúde natural, a agricultura sustentável, as fontes renováveis de energia, os conceitos de moradia orgânica, o protesto antinuclear e, por fim, por um ambientalismo abrangente. Sem dúvida não se pode atribuir todo o movimento ambientalista à consciência expandida pelo cânhamo, mas pode-se dizer com certeza que foi a influência de psicodélicos naturais como a canabis que primeiro sensibilizou muitos ambientalistas nascentes para a frágil interdependência e a insubstituível magnificência da natureza.

Intelectuais que fumavam cannabis, que estimula as associações de pensamento fluidas e relativistas, descobriram as maravilhas de pensadores de sistemas fechados como Buckminster Fuller e Gregory Bateson e teóricos que desqualificam o conceito de gênero, como Marshall McLuhan e Claude Lévi-Strauss.

Em vários países da América Latina proliferaram violações aos direitos humanos como método de persuasão das ditaduras militares que se instalaram entre os anos 60 e 70. Jovens de todos os níveis começaram a contestar os regimes militares e autoritários, gerando uma reação sem precedentes. E foi exatamente entre os anos 60 e 70 que a maconha ganhou milhares de adeptos em quase todo o mundo. Com a maconha proibida, os seus usuários passaram a fumar clandestinamente, muitas vezes nos mesmos locais onde se refugiavam rebeldes e opositores das ditaduras. Dessa forma, a maconha acabou penetrando até mesmo em alguns grupos revolucionários da época, contrastando com posturas políticas um tanto severas e ortodoxas. Nesse período, mais precisamente 1968-76, a legislação referente às drogas, no Brasil por exemplo, passou por três mudanças profundas: a primeira [68] incluiu o porte de drogas para uso pessoal como crime; a segunda [71] igualou punições entre usuário e traficante; e a terceira [76] manteve a punição para as duas condutas, porém de forma diferenciada. Assim, a ditadura militar passou a ter mais um instrumento legal para reprimir, em alguns casos para torturar e matar, jovens que eram encontrados com qualquer quantidade de maconha.

O movimento pacifista expandiu enormemente seu corpo de seguidores graças a uma planta que promovia o comportamento pacífico, comunitário, sensível. O movimento em prol de abordagens progressivas do capitalismo, de orientação mais comunitária, é em grande medida um produto da geração baby boom usuária da cannabis.

Muitas dessas tendências, juntamente com seus iniciadores, amadureceram, tornando-se traços permanentes da paisagem cultural. Os rebeldes da contracultura da década de 1960 estão agora na meia-idade, mas muitos conservam seus sonhos de contribuir para a criação de uma sociedade mais cooperativa, e muitos desses sonhos ganharam traços de realidade. O amplo interesse por saúde holística; a profusão de negócios com preocupações sociais; o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis que permitem a preservação de recusos (algumas delas originalmente inventadas e testadas por engenhosos cultivadores de cânhamo de áreas remotas). A expansão de alternativas da educação progressista e da instrução doméstica secular; o crescimento de vigorosas organizações sem fins lucrativos com raízes nas batalhas pelo ambientalismo, a paz e a justiça social das décadas de 1960 e 1970; o persistente interesse de milhões pela religião mística e o crescimento pessoal; experiências com alternativas comunitárias de moradia; a persistente expansão de métodos e mercados agrícolas orgânicos; e o atual ressurgimento do interesse pela utilidade industrial e médica do próprio cânhamo - todos esses desenvolvimentos sociais devem muito à contracultura do fumo da cannabis, originada quase três décadas atrás.

Estudos do cânhamo - A defesa do preconceito apaixonado

A especulação e a pressuposição governam necessariamente a maior parte das histórias antigas sobre a cannabis como um guia celeste. Seus primeiros usos terão ficado sem registro, é claro. No tocante aos milhares de anos seguintes, o registro histórico remanescente é incoerente e vago.

Como então interpretamos? A maior parte dos historiadores da cannabis provém das fileiras dos estudos religiosos acadêmicos ou das ciências, como botânica ou psiquiatria. De acordo com sua rígida formação acadêmica, eles só presumem o uso da cannabis nos casos em que o registro é explícito ou em que a identidade da planta pode ser inferida com segurança. Com algumas notáveis exceções, eles não encontram, por exemplo, referências à cannabis salpicadas pelo Antigo e o Novo Testamento à maneira de alguns comentadores menos conservadores, sobretudo defensores apaixonados do cânhamo.

Não é impossível, no entanto, justificar a abordagem dos defensores, com suas associações mais livres. Em geral, o fervor comum aos defensores da fé tende a obscurecer seu julgamento, em particular quando se trata de interpretar informação ambígua. No caso da pesquisa sobre a cannabis, porém, é bem possível que os especialistas mais isentos estejam contagiados por uma tendenciosidade que lhes é própria. Em seu livro Ouro Verde, a árvore da vida, os autores Chris Bennett e Lynn e Judy Orburn citam a relevante concepção do professor de filosofia Stanley Moore. Consultado durante um caso levado ao tribunal envolvendo membros da Igreja Copta Sião de Israel fumadores de cannabis, Moore sugeriu que as afirmações dos coptas sobre o uso da cannabis na Bíblia podiam de fato ser corretas: "Os judeus e cristãos do Ocidente, que evitam as drogas psicoativas em suas práticas de fé, são a exceção, não a norma".

Textos retirados do livro: O Grande Livro da Cannabis - guia completo de seu uso industrial, medicinal e ambiental (Rowan Robinson)

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Usuário Growroom

Cannabis e sexualidade mística

postado por Jujuba_ no samba420.net

Através de toda a longa história de seu uso humano, a cannabis esteve associada à sexualidade, tanto para o puro gozo sensual como no sentido místico, tântrico, de união física santificada. Sua reputação no primeiro caso ajuda a explicar seu uso no segundo.

A capacidade que tem o cânhamo de estimular e intensificar a experiência sexual foi muito apregoada em alguns setores, escarnecida em outros: alguns consideram a cannabis um afrodisíaco, ao passo que outros sustentam que ela ou reduz seu interesse por sexo ou simplesmente lhes faz dormir! Segundo o escritor médico de orientação holística Andrew Weil, "as experiências das pessoas que fumam maconha são espantosas em sua variedade porque a atividade intrínseca dela é diminuta comparada à de outras substâncias, não sendo nem um sedativo acentuado, nem um estimulante". A "farmacologia discreta da cannabis", escreve Weil, torna a atmosfera especialmente decisiva para a experiência dos usuários. Weil acredita que a cannabis claramente não é um afrodisíaco, conclusão a que também chegaram praticamente todos os pesquisadores que examinaram o assunto. Em contrapartida, a cannabis pode elevar a experiência sexual dos sensualmente inclinados a proporções divinas. Amantes que apreciam a cannabis descobrem que a erva amplia as sensações sexuais, retarda a ejaculação nos homens e intensifica o sentido da união de pessoas em uma. Não espanta portanto que cannabis e tantra tenham se unido por sua vez.

Os adeptos do tantra, um movimento pan-indiano do século II que influenciou tanto o hinduísmo quanto o budismo, usam a sexualidade como um meio de elevação ao estado superconsciente. Mircea Eliade explica que os filósofos originais do tantra sentiam que o espírito estava tão "espessamente velado pela carne", nos tempos que para eles eram modernos, que aquele que busca "deve por isso 'retornar à fonte' e, para esse fim, começar pelas experiências fundamentais, específicas de sua condição maldita - em outras palavra, as próprias fontes de sua vida". Mas simplesmente qualquer sexo não seria suficiente. O intervalo sexual tântrico deve ser meditativo e centrado numa numa experiência de unicidade, não no orgasmo. Para esses propósitos, a cannabis deve ter parecido aos adeptos originais do tantrismo um auxiliar quase indispensável.

Como o descreve Ernest Abel, o prelúdio da cannabis ao sexo iogue começava 90 minutos antes do intercurso sexual. Com uma tigela de bangue à sua frente, os devotos entoavam o mantra Om hrim - que invoca a imagem da deusa Káli, a quem o sexo é consagrado - e rogavam por poder oculto, ou siddhi. Após vários outros mantras, os empenhados na busca tomavam a mistura e se entregavam ao ato amoroso ritual.

É sabido que também os sufis e os cristãos gnósticos - em oposição às suas tradições ascéticas - geraram grande número de seitas que praticavam a sexualidade espiritualizada, provavelmente sob a influência das idéias tântricas indianas. Por exemplo, segundo Barbara Walker em A enciclopédia feminina de mitos e segredos, a Grande Mãe gnóstica Sofia está para Cristo como Káli está para o Shiva hindu, sendo o aspecto feminino de uma divindade andrógina. As duas religiões partilham também idéias similares de iluminação, diz Walker, o apolytrosis gnóstico, ou soltura, correspondendo ao moksha hindu, ou liberação. Dado o conhecido gosto dos sufis pela cannabis e do seu presumível uso pelos gnósticos, além do pendor anti-ascético do sexo místico em geral, é razoável supoer que a cannabis desempenhou um papel nessas práticas também.

Texto retirado do livro: O Grande Livro da Cannabis - guia completo de seu uso industrial, medicinal e ambiental (Rowan Robinson)

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Usuário Growroom

HINDUÍSMO

postado por Jujuba_ no samba420.net

Entre todas as literaturas espirituais, são as escrituras hindus que contêm as mais antigas e profusas referências diretas à cannabis como um estimulante divino. Como já foi mencionado, os Vedas identificam o bangue ao meio pelo qual uma pessoa tanto comunga com o deus Shiva quando se livra do pecado. Uma história mítica das escrituras relata como Shiva e a planta cannabis vieram a se associar. Após brigar com sua família, Shiva se afasta indo até os campos para ficar só. Oprimido por um sol inclemente, encontra abrigo sob uma planta alta de cânhamo e então esmigalha e come algumas de suas folhas. A merenda o revigora tanto que ele adota a planta como seu alimento preferido, tornando-se por isso conhecido como o "Senhor do Bangue". Segundo J.M. Campbell, num apêndice ao Relatório da Comissão Indiana para Drogas do Cânhamo de 1893-1894: "aquele que bebe bangue bebe Shiva. A alma em que o espírito do bangue encontra morada desliza para um oceano de Ser livre do extenuante círculo de matéria que se cegou." ele continua: "Para o hindu, a planta do cânhamo é sagrada. Um guardião vive na folha do bangue ... Encontrar alguém carregando bangue é um presságio seguro de sucesso. Ver em sonho as folhas, a planta ou a água do bangue traz sorte; ele põe a deusa da fortuna ao alcance do sonhador ... um anseio por bangue prenuncia felicidade." Um texto hindu do século XVII, Rajvallabha, confirma que o consumo desse alimento dos deuses gera energia vital, amplia os poderes mentais e produz deleite para Shiva.

Nos tempos antigos a preparação da resina de cânhamo era um segredo dos sacerdotes brâmanes, que restringiam seu uso público, permitindo que o bangue fosse consumido apenas ocasionalmente e em quantidades limitadas como uma oferenda em celebrações religiosas como os festivais Kali, Durja-Puja e Vijaya Dasmi. Entre sua miríade de epítetos, Shiva é conhecido como Senhor do Bangue e, no Shivram (noite de Shiva), decocções de manteiga quente e bangue são derramadas sobre representações do falo estilizado da divindade durante toda a noite. No dia final do festival de Durja-Puja, os ídolos são arremessados na água e os celebrantes visitam os amigos e parentes. Os anfitriões oferecem aos visitantes uma taça da bebida bangue e um prato de doces majoon.

Historicamente, o bangue tornou-se associado a Káli, um aspecto feminino de Shiva, nos rituais sexuais tântricos da Idade Média. Campbell relatou que os adoradores de Vishnu - como Shiva, membro da trindade hindu e um protagonista do mito veda sobre a origem do cânhamo - frequentemente faziam oferendas de bangue. Os sikhs, um desmembramento hindu que remonta a 1500, e combate o sistema de castas e a idolatria mágica, também têm uma tradição de consumo do bangue. Ernest Abel escreve que, durante o dia santo de Desehera, era obrigatório para os sikhs tomar o bangue em homenagem ao fundador da religião.

Embora desautorizado por muitos líderes espirituais hindus, em particular aqueles que conquistaram grandes números de adeptos no Ocidente, o uso da cannabis persiste hoje entre muitos hindus indianos sob três formas: a bebida bangue, preparada com folhas secas; as visçosas e potentes flores da copa, chamadas ganja; e as resinas recolhidas, chamadas charas ou haxixe. Na Enciclopédia High Times do uso recreativo e drogas, Michael Aldrich escreve: "A maior parte dos ascetas errantes da Índia usa cannabis constantemente, tomando tigelas de bangue para celebrar dias santos auspiciosos e fumando abarrotados chillums (cachimbos) de ganja diante das piras de cremação ao longo do Ganges." Cumprindo uma função espiritual descrita nos Vedas, os ascetas - chamados sadhus - emanam energia espiritual à medida que caminham pelo país, alimentando a consciência da Índia e do planeta, e acreditam que o uso do bangue os abastace de força espiritual, torna-os mais próximos da iluminação e homenageia Shiva, que, segundo se diz, está perpetuamente inebriado por cannabis.

Desabrigados por opção, os sadhus vivem na floresta ou em cavernas, ou perambulam perpetuamente, subsistindo de esmolas. O cabelo pendente em longas madeixas trançadas, a pele coberta de poeira ou de cinzas, eles vestem apenas alguns trapos ou coisa alguma. Os sadhus adotam práticas austeras, entre as quais o celibato e longos jejuns sem nenhum alimento ou água. Diz-se que o bangue os ajuda a concentrar seus pensamentos no divino e a suportar agruras. A erva sagrada tem ainda a reputação de ter auxiliado a população em geral a sobreviver a períodos de fome.

A cannabis desempenha também outras funções espirituais para os hindus leigos. Nos dias santos - em particular aqueles dedicados a Shiva - e nos casamentos, ela ajuda hindus de todas as classes a celebrar e consagrar a ocasião. J.M. Campbell descreve o costume, comum entre estudantes, iogues e outros praticantes religiosos, de partilhar a cannabis antes de contemplar os Mistérios. Nem todas as seitas advogam o uso do bangue - ou, aliás, de qualquer outra substãncia alteradora da mente - mas nenhuma condena a cannabis, desde que não seja consumida de maneira frívola, desprovida de intenção religiosa.

Texto retirado do livro: O Grande Livro da Cannabis - guia completo de seu uso industrial, medicinal e ambiental (Rowan Robinson)

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Usuário Growroom

ISLÃ

postado por Jujuba_ no samba420.net

Em seu apêndice ao Relatório da Comissão Indiana para Drogas do cânhamo de 1893-1894, J.M. Campbell deixou claro que, em larga medida, o que se pode dizer sobre os hindus e o cânhamo aplica-se também aos muçulmanos:

"Proibir ou mesmo restringir seriamente o uso de uma erva tão benigna quanto o cânhamo causaria sofrimento e irritação generalizados e, para amplos grupos de ascetas venerados, uma cólera profundamente arraigada. Seria roubar do povo um consolo no desconforto, uma cura na doença, um guardião cuja compassiva proteção os livra dos ataques de influências malignas e cujo grande poder faz do devoto um vitorioso, superando os demônios da fome e da sede, do pânico, do medo, do feitiço de Maia ou da matéria, e da loucura, capaz de meditar em paz no Eterno, até que o Eterno, possuindo-o corpo e alma, o liberte da obsessão do eu e o receba no Oceano do Ser. Essas crenças, o devoto muçulmano maometano as partilha plenamente. Como seu irmão hindu, o faqui muçulmano reverencia o bangue como aquele que prolonga a vida, que liberta das cadeias do eu. O bangue traz união com o Espírito Divino. "Tomamos bangue e o mistério Eu sou Ele ficou claro. Tão grande resultado, tão minúsculo pecado."

No mesmo apêndice, Campbell descreveu a prática do culto a Trinath, comum tanto aos hindus quanto aos muçulmanos, em que "o uso de ganja é considerado essencial". "Ao que parece ele é observado em todos os tempos", continou ele,

e em todas as estações igualmente por hindus e muçulmanos, os últimos chamando-o Tinlakh Pir ... Originalmente, noz-de-areca no valor de um paisa era oferecida ao deus. Mas hoje a ganja - pode ser em grandes quantidades - é preferida, e durante as encantações e a execução do ritual é obrigatório a todos os presentes fumar.

Ainda assim, Campbell afirma, o muçulmano distingue entre a reverência ao bangue e a verdadeira adoração, "que é devida a Alá somente". No islã, o bangue representa não o espírito de Deus, mas o espírito do profeta Khizr, ou Elias.

Os sufis são os muçulmanos mais associados a cannabis. Em Escândalo: Ensaios sobre a heresia islâmica, Peter Lamborn Wilson cita Fuzuli, poeta sufi turco, que afirma que "o haxixe é ele próprio o senhor do sufi". Wilson observa que o uso da cannabis declinou no sufismo moderno, tendo sido inteiramente banido de algumas seitas. Mas outros devotos de nossos dias ainda mantêm por ela a estima original e a usam da maneira original.

Texto retirado do livro: O Grande Livro da Cannabis - guia completo de seu uso industrial, medicinal e ambiental (Rowan Robinson)

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Usuário Growroom

JUDAÍSMO

postado por Jujuba_ no samba420.net

Como mencionado anteriormente, os judeus antigos comerciavam com culturas usuárias de cannabis, e afirmações de que suas próprias práticas religiosas permaneceram livres de substância psicoativas - afora o vinho sacramental - são suspeitas. Sula Benet escreve: "A assombrosa semelhança entre a palvra semita kanbos e a palavra cita cannabis leva-me a supor que a palavra cita teve origem semita." Outros estudiosos discutiram a respeito, mas etimologistas da Universidade Hebraica, em Jerusalém, concluíram em 1980 que a paavra kineboisin, do Antigo Testamento, significa de fato cannabis. Representantes embaraçados das correntes dominantes, tanto judaicas quanto cristãs, mostraram que o kineboisin era simplesmente parte de um óleo sagrado para ungir que Deus ordenou a Moisés aplicar externamente (Genesis 30:23). Mas se o uso da cannabis é admitido nesse caso, não teria ela sido uma escolha óbvia para servir de incenso, que a Bíblia mostra os judeus usando ritualmente até cerca de 300 a.C.?

Texto retirado do livro: O Grande Livro da Cannabis - guia completo de seu uso industrial, medicinal e ambiental (Rowan Robinson)

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Usuário Growroom

Maconha e Candomblé

por Alma Rastafari no growroom.net (desculpem se repito o tema)

http://www.growroom.net/board/showtopic.php?threadid=8257

A cannabis sempre foi usada durante toda a história do Brasil. Usavam-na tanto na medicina popular, em rituais religiosos e de forma meramente recreativa.

Estudando sobre o assunto eu poderia lhe indicar o texto de Júlio César Adiala, foi publicado sob o título: "O Problema da Maconha no Brasil: Ensaio sobre Racismo e Drogas". Esse texto foi publicado em 1986. A cópia que eu tenho foi tirada para uma disciplina da faculdade, mas ela tem um carimbo do Instituto de Medicina Social e Criminologia de São Paulo - IMESC. É possível que lá se encontre tal texto.

Esse texto é interessante para todo aquele que procura estudar a maconha, mas particularmente para aqueles que pretendem entender melhor as origens do proibicionismo no Brasil, que estão muito longe do simplismo das explicações que dizem que a culpa é dos E.U.A.

Nesse texto Júlio César analisa a formação de uma mentalidade sanitarista, eugênica e racista, inserindo-a no contexto histórico da época, através da análise da obra de um dos maiores combatentes anti-cannabis da época, um dos responsáveis diretos pelo proibicionismo no Brasil que é o Rodrigues Dória.

Júlio César vê na formação da Comissão Nacional de Fiscalização de Entorpecentes (1936) o início do processo proibicionista, que foi justamente o órgão que possibilitou que fossem criados instituições específicas para cuidar do “problema das drogas”, como os DTE’s, DENARC’s, etc.

Sobre o candomblé especificamente, Júlio analisa e cita um trecho da clássica obra de Rodrigues Dória (O Problema da Maconha no Brasil), abaixo transcrito:

“Entre nós a planta é usada, como fumo ou em infusão, e entra na composição de certas beberagens, empregadas pelos ‘feiticeiros’, em geral pretos africanos ou velhos caboclos. Nos ‘candomblés’ – festas religiosas dos africanos, ou dos pretos crioulos, deles descendentes, e que lhes herdaram os costumes e a fé – é empregada para produzir alucinações e excitar os movimentos nas danças selvagens dessas reuniões barulhentas. Em Pernambuco a herva é fumada nos ‘catimós’ – lugares onde se fazem os feitiços, e são freqüentados pelos que vão ali procurar a sorte e a felicidade. Em Alagoas, nos sambas e batuques, que são danças aprendidas dos pretos africanos, usam a planta, e também entre os que ‘porfiam na colcheia’, o que entre o povo rústico consiste diálogo rimado e cantado em que cada réplica, quase sempre em quadras, começa pela deixa ou últimas palavras de contendor.”

No texto de Júlio César, ele discorre não apenas sobre o uso nos candomblés, mas também em outros cultos afro-brasileiros, e de forma recreativa por mestiços e negros. No mesmo texto ele cita os usos pelos rizicultores do São Francisco.

Existem alguns livros sobre outros aspectos da maconha, que não apenas os jurídicos e os médicos. Posso te indicar dois muito bons.

Especificamente para se aprofundar mais sobre a história da maconha no Brasil inclusive o uso no candomblé, recomendo: Diamba, Sarabamba (Anthony Henman e Osvaldo Pessoa Jr.). É uma coletânea de textos sobre o assunto, textos clássicos (inclusive o de Rodrigues Dória) e textos mais contemporâneos. Acha na Submarino.com

Outro livro do interesse é: Rodas de Fumo, o uso da maconha por camadas médias urbanas. Do professor Edwar MacRae.

É bom dar uma lida também nesse link é sobre rituais afro-brasileiros, e cita o uso não apenas da maconha mais de outras substâncias psicoativas também, como a extraída da Jurema.

Um dos meus professores (Luiz Mott, ele assina um dos textos do Diamba, Sarabamba) disse que na época que Getúlio estava querendo ufanar o nacionalismo e valorizar a capoeira, o candomblé, etc, uma das negociações para permitir o candomblé foi uma espécie de troca para exterminar o uso da maconha em rituais.

Ainda hoje algumas seitas do Daime usam a Erva de Santa Maria, que é a maconha, em uma parte dos rituais. Sobre esse uso é possível saber mais no livro: Guiados pela Lua, também do prof. Edward Macrae.

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Usuário Growroom

CRISTIANISMO

postado por Jujuba_ no samba420.net

É bem possível que a orientação puritana que o cristianismo atual manifesta em relação aos psicotrópicos traia a inclinação de sua história mais antiga. Em particular, a tradição cristã da Eucaristia talvez derive de tradições sacramentais anteriores - do hinduísmo, zoroastrismo, e assim por diante - em que o cânhamo e outras substâncias psicoativas eram empregados. Alguns comentadores sugerem, com uma lógica razoável se não com muitas provas incontestáveis, que Jesus pode ter aprendido a cerimônia diretamente de outras seitas usuárias do cânhamo - talvez os gnósticos, embora o conhecimento que estes teriam tido sobre o cânhamo seja também inferido, não documentado. A mesma linha de reflexão poderia levar à suposição de que as primeiras cerimônias eucarísticas teriam incluído o próprio cânhamo.

Texto retirado do livro: O Grande Livro da Cannabis - guia completo de seu uso industrial, medicinal e ambiental (Rowan Robinson)

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Usuário Growroom

ZOROASTRISMO

postado por Jujuba_ no samba420.net

O zoroastrismo, que iria influenciar profundamente o cristianismo, o islã e o judaísmo posterior, data de cerca de 500 a.C. Ele surgiu na Pérsia primitiva, mas deriva de raízes hindus, ainda que apresente importantes divergências em relação a elas. Por exemplo, como notaram os autores Chris Bennett, Lynn Osburn e Judy Osburn em Ouro Verde, a árvore da vida: Marihuana na magia e na religião, "grande parte do Zendavesta, o livro que contém os ensinamentos de ... Zoroastro ... provém diretamente dos Vedas hindus.

Há consideráveis conjecturas de que a substância haoma, central para mito zoroástrico, é na verdade cânhamo. A história do nascimento de Zoroastro, o fundador mítico e talvez histórico da religião, está impregnada de haoma. A alma do profeta vem à terra com chuva, que faz crescer plantas comidas pelas vacas de seus pais e transmuta sua alma-corpo em leite. seus pais tomam uma mistura desse leite com haoma, têm relações sexuais, e concedem Zoroastro, que entra no mundo rindo. Will Durant escreve que Zoroastro, também conhecido como Zaratrusta, condenava a prática do consumo de haoma que encontrou entre seu povo em rituais religiosos pré-zozoástricos. Mas Mircea Eliade sugere que, mais provavelmente, Zoroastro ficou transtornado não só com o sacrifício cruento de vacas, que el considerava sagradas, mas também com "ritos orgiásticos" e outros excessos, inclusive o consumo imoderado de haoma associado ao ritual, e não com a haoma em si. Considerando o papel da substância na história do nascimento do profeta, a conclusão faz sentido.

Diz-se que, quando apropriadamente preparada e tomada de maneira piedosa, a haoma confere sabedoria, coragem, sucesso, saúde, longa vida, grandeza e proteção contra os desejos malévolos dos outros. Mulheres jovens à procura de marido, mulheres casadas na esperança de conceber e estudantes em busca de conhecimento são aconselhados a utilizar seus poderes divinos. A haoma é descrita como de cor amarela ou dourada e cresceria em encostas de montanhas que estudiosos identificaram como a região do Kush hindu. Bennett e colaboradores assinalam que o cânhamo maduro no Oriente Médio e na Índia é dessa mesma cor e que a ganja do Kush hindu é de uma potência legendária.

Seja como for, as referências à haoma se desvanecem misteriosamente na literatura, para serem substituídos pela celebração direta do bangue. No Zendavesta, os heróis zoroástricos primitivos, Gustap e Ardu, tomam bangue para conseguir que suas almas viajem até o céu e aprendam mistérios divinos. Os magos da história da natividade cristã eram adeptos do zoroastrismo, de tal modo que muitos defensores do cânhamo conjecturam que a cannabis talvez estivesse entre os presentes levados ao Cristo infante.

Hoje, o zoroastrismo sobrevive sobretudo como a religião dos gabars do Irã e dos parses da Índia. Sula Benet, estudioso do cânhamo, observa que até tempos recentes, letões e ucranianos preparavam um prato de cânhamo para o "Dia dos três reis". Nas tradições de ambas as culturas (e da cultura irlandesa também) podem ser encontradas referências a moças que usam sementes de cânhamo para adivinhar quem seriam seus futuros maridos.

Texto retirado do livro: O Grande Livro da Cannabis - guia completo de seu uso industrial, medicinal e ambiental (Rowan Robinson)

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Usuário Growroom

TRADIÇÕES JAPONESAS

postado por Jujuba_ no samba420.net

Marinheiros levaram o cânhamo para o Japão, onde ele foi chamado asa e desempenhou uma função em muitos rituais e histórias tradicionais. Diz-se que os sacerdotes xintoístas do antigo Japão usavam varetas cerimoniais - chamadas gohei - com fibras de cânhamo não tingidas amarradas a uma ponta. Acredita-se que agitar as fibras, que simbolizavam a pureza, sobre a cabeça de uma pessoa expulsava quaisquer espíritos malignos que nela residissem. O cânhamo desempenhava também um papel nos costumes ligados ao casamento dos primeiros tempos. A família do noivo mandava presentes de cânhamo para a família da noiva no intuito de demonstrar que a aceitava. fios da fibra eram exibidos durante as núpcias como símbolo da obediência da esposa ao marido. O defensor do cânhamo Jack Herer encontrou no xintoísmo indícios do uso de maconha para ligar casais e agraciar sua união com risos e felicidade. A pesquisa de Chris Conrad indica que os taoístas japoneses usavam sementes de cannabis em seus queimadores de incenso já no século I d.C.

Texto retirado do livro: O Grande Livro da Cannabis - guia completo de seu uso industrial, medicinal e ambiental (Rowan Robinson)

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Usuário Growroom

OCULTISMO, HERMETISMO E MISTICISMO OCIDENTAIS

postado por Jujuba_ no samba420.net

Em razão do policiamento e da repressão agressivos exercidos por uma Igreja que a condenava, menções explícitas à cannabis na Europa são raras desde a Idade Média até meados do século XIX. No entanto, ocultistas e alquimistas de tempos remotos provavelmente sabiam dos atributos espirituais da cannabis e deles se beneficiavam, como muitos de seus descendentes espirituais claramente fizeram. Em Ouro Verde, a árvore da vida os autores sugerem que os primeiros rosa-cruz e maçons tomaram conhecimento dos poderes da cannabis através de seu contato com fontes arábes. Textos medievais esotéricos e alquímicos contêm profusas referências ao sufismo e ao zoroastrismo, duas tradições intimamente ligadas a plantas psicoativas, entre as quais a cannabis. E, é claro, os escritos de François Rabelais trouxeram à tona a associação antes encoberta entre cannabis e conhecimento esotérico.

Entre ocultistas posteriores, Aleister Crowley (1875-1947) escreveu com enlevo sobre a cannabis em seu ensaio de 1907, "A psicologia do haxixe", afirmando: "O ato de me exaltar misticamente e continuar minhas invocações enquanto a droga dissolvia a matriz de minha Alma diamantina" constituía "o supremo ritual de todas as religiões." Entre seus discípulos e iniciados no haxixe estava o escritor de ficção científica H.G. Wells. O poeta W.B. Yeats também frequentava círculos esotéricos, nos quais conheceu Crowley e os companheiros ocultistas Dion Fortune e A.E. Waite. Yeats descreve suas experiências com o haxixe em "The trembling of the veil" (1926). O místico russo George Gurdjieff (1877-1849), que obteve muito de seu conhecimento sobre a metodologia transcendental de fontes sufistas e de outras fontes dervixes, escreveu abertamente sobre o haxixe em Encontros com homens notáveis e, ao que se diz, o utilizava com alunos para introduzi-los à experiência do despertar da consciência.

Texto retirado do livro: O Grande Livro da Cannabis - guia completo de seu uso industrial, medicinal e ambiental (Rowan Robinson)

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Usuário Growroom

MOVIMENTO RASTAFARI

postado por Jujuba_ no samba420.net

Fundado na década de 1930, o movimento rastafari, baseado na Jamaica, é o exemplo mais óbvio de emprego da cannabis para propósitos sagrados. Essencialmente espiritual, mas mais que uma religião, atua também como uma filosofia social, cultural e política para seus seguidores, e o fumo da ganja está em seu cerne. Os rastas - adeptos do rastafari - afirmam que a ganja é a "cura da nação" e a "semente da sabedoria", encontrando justificação para sua visão na Bíblia ocidental, à semelhança dos coptas egípicios e etíopes. Eles acreditam que fumar cannabis de maneira ritual limpa tanto o corpo quanto a mente, preparando o usuário para a meditação, a prece, a recepção da sabedoria, a reflexão e a harmonia comunal com os outros, um valor central para os rastas.

O movimento rastafari, que celebra a herança africana negra da Jamaica, tem suas raízes num fascínio pela Etiópia, ela própria um centro de cultura religiosa influenciado pela cannabis representada pela tradição copta etíope. Os ensinamentos de Marcus Garvey, que apontou a Etiópia como um símbolo de liberdade, soberania e espiritualidade africana, abriu caminho para o rastafari. Na verdade, os rastas acreditam que o falecido imperador etíope Hailé Selassié era Deus reencarnado, cumprindo a profecia de Garvey de que a coroação de um rei negro na África iria identificar o Redentor.

Mas os laços do rastafarianismo com a Etiópia e a ganja talvez tenham raízes ainda mais profundas. Alguns anciãos coptas da Jamaica afirmam que suas crenças chegaram à Jamaica pela primeira vez quando seus ancestrais para lá foram levados como escravos no século XIX. A influência hindu através de trabalhadores emigrados da Índia não pode também ser descartada. Quando os escravos negros ganharam a liberdade no Caribe britânico, trabalhadores contratados vieram da Índia para substituí-los. Lá encontraram o cânhamo crescendo de maneira silvestre, resultado de um projeto industrial ligado ao cânhamo iniciado pelos britânicos em 1800 e abandonado. Entre as muitas palavras rastas para cannabis - erva, iley, I-Shence, Kaya, lambsdread etc. - há dois nomes que parecem indiscutivelmente hindus: ganja e Káli.

Texto retirado do livro: O Grande Livro da Cannabis - guia completo de seu uso industrial, medicinal e ambiental (Rowan Robinson)

--

Aqui, no growroom, tem mais um tema do grande Alma Rastafari, Prelúdio à uma Teoria do Neo-Rastafarianismo

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Usuário Growroom

TRADIÇÕES AFRICANAS

postado por Jujuba_ no samba420.net

O uso da cannabis, tanto para fins religiosos quanto para outros, mais informais, de alteração da mente, abunda em todo o continente africano. Embora ninguém tenha sido capaz de fixar uma data de origem, a inalação informal e ritual de fumaça de cannabis é anterior à chegada dos europeus. Conhecida sobretudo como dagga, a cannabis é um sacramento e um remédio para os pigmeus, os zulus e os hotentotes. Nos tempos antigos, a Etiópia era conhecida como a "Terra do incenso" - isso num país ainda renomado por seu potente haxixe.

O cristianismo etíope, em que o uso da cannabis é comum, é anterior até à formação da Igreja católica romana. É possível, porém, que o uso da cannabis pelos cristãos etíopes no culto tenha origem ainda mais remota. A Igreja Copta Sião da Etiópia conserva uma prática eucarística baseada na cannabis que seus membros mais idosos atribuem, através da tradição oral, a seus ancestrais de antes da era cristã. Quando nativos dessa região foram levados para a Jamaica como escravos, levaram consigo sua espiritualidade ligada à cannabis, possivelmente lançando as sementes para sua adoção pelo movimento rastafari de nossos dias.

William Emboden Jr., destacado especialista em plantas psicoativas, relata que o narguilé, usado para refrescar e purificar a fumaça da cannabis, foi desenvolvido na África do Norte. Antes da chegada dos portugueses, escreve Emboden, o povo do vale do Zambeze, no sul da África, costumava se unir numa comunidade pela inalação da fumaça de um monte de cânhamo a arder em fogo brando. Posteriormente, métodos mais avançados, entre os quais os narguilés, aperfeiçoaram essa prática.

No final do século XIX, os balubas, uma tribo banto que conquistou grande parte do Congo Belga, usou a dagga para unificar os diversos povos subjugados. Tendo primeiro destruído ostensivamente os objetos religiosos tradicionais das tribos capturadas, o chefe Kalamba-Moukenge substitui-os pela dagga para promover a harmonia e a cooperação entre elas. "Tão impressionadas ficaram as facções antes em conflito", observa Emboden, "que se uniram sob o nome bena-Riamba - 'filhos da cannabis'."

Na África do Norte contemporânea, muitas pessoas mantêm em suas casas salas especiais onde se fuma kif enquanto histórias, danças e canções são transmitidas à nova geração.

Texto retirado do livro: O Grande Livro da Cannabis - guia completo de seu uso industrial, medicinal e ambiental (Rowan Robinson)

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Usuário Growroom

BUDISMO

postado por Jujuba_ no samba420.net

Na tradição do budismo mahaiana, reza a lenda que o Buda viveu de uma semente de cannabis por dia durante os seis anos de disciplina ascética que precederam sua iluminação. Mas o envolvimento da cannabis em alguns tipos de prática budista é mais que meramente místico e é tanto histórico quanto contemporâneo. Por exemplo, sengundo Richard Evans Schults, professor de botânica em Harvard, e Albert Hofmann, descobridor do LSD, dois dos mais destacados especialistas em plantas psicoativas, os budistas tântricos do Himalaia tibetano usam a cannabis ritualmente para aprofundar sua meditação e elevar a consciência.

Texto retirado do livro: O Grande Livro da Cannabis - guia completo de seu uso industrial, medicinal e ambiental (Rowan Robinson)

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Usuário Growroom

TAOÍSMO CHINÊS

postado por Jujuba_ no samba420.net

O historiador Joseph Needham atribui a fundação do Monte Shao, o primeiro grande centro de prática taoísta (c.350 d.C.), em parte ao uso da cannabis pelo sábio Yang Hsi. Sob a influência da erva, Yang Hsi experimentou uma série de visões da Senhora Wei, dos irmãos Mao e de outros membros do panteão que por meio dele transmitiram vários textos sagrados. Lamentavelmente para os historiadores do cânhamo, os taoístas antigos escreveram sobre o uso sacramental de cannabis feito por outros, não por eles próprios. Tao Hung-Ching, o mais eminente mago taoísta do século V, observou em seu livro Ming-i pieh-lu, que "os magos dizem" que, se uma pessoa consumir as sementes de cânhamo com gniseng, elas lhe conferirão a capacidade de ver eventos futuros. Outros textos taoístas documentam o uso do cânhamo tanto por magos quanto por alquimistas. Por exemplo, a coletânea taoísta Wu Shang Pi Yao (Tópicos essenciais dos livros incomparáveis), do século VI, afirma que os alquimistas adicionavam cânhamo a seu incenso.

Esses textos, ao lado de outras fontes que subsistiram, indicam que durante essa época os xamãs chineses faziam amplo uso da cannabis para fins espirituais. Uma edição tardia da farmacopéia chinesa Pen Ts'ao, atribuída ao imperador Chen Nong, afirma que, se o cânhamo for consumido por um longo período de tempo, a comunicação com os espíritos torna-se possível. Ampliando essa prescrição, o médico do século VII Meng Shen aconselhava a ingestão de sementes de cânhamo durante pelo menos três meses para se poder ver espíritos dessa maneira.

Existem também indícios de um intercâmbio entre o taoísmo e tradições místicas sabidamente usuárias do cânhamo na Pérsia e na Índia, o que leva talvez alguns estudiosos a conjecturar que o texto taoísta clássico O segredo da flor de ouro contém numerosas referências ao cânhamo. Considere o seguinte conselho a propósito do incenso: "Se houver tempo de manhã, devemos nos sentar enqaunto uma vareta de incenso queima, isso é o melhor. À tarde, os assuntos humanos interferem e por isso não se pode cair facilmente em indolência."

Texto retirado do livro: O Grande Livro da Cannabis - guia completo de seu uso industrial, medicinal e ambiental (Rowan Robinson)

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Usuário Growroom

Pronto, quem fez o download da coletânea já tinha lido isto de uma forma mais organizada e ilustrada, mas acho que ficou bom, simples mas bem informativo, quem puder comprar este livro (O Grande Livro da Cannabis, ah, e o do Chris Conrad tb) acho que é uma boa aquisição, não deixem de ler este livro, peçam emprestado se preciso for (mas não a mim...).

Abraços, e fiquem com Deus!

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Usuário Growroom

Podes crer, Santo Daime e a moderna Thc Ministery

Algumas Religiões Indígenas tb :)

Mas só algumas correntes do Daime usam a Erva Santa... e não pode comprar do tráfico pra não ter energia ruim!

gallery_20140_651_1121794981.jpg

alabhamagrower, parece que isto ocorreu há 100 mil anos atrás (no máximo e mais possivelmente 75 mil anos), o Sapiens Sapiens derrepente passou a ter o pensamento simbólico, parece ter sido pelo uso de enteógenos, tvz a própria cannabis, os dois estavam na África!

abraço canábico!!!

com Deus!

edit agora foi...

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Usuário Growroom
cuidado pros cara num vim fechar o tópico hein!!!!

  cade os policias da erva??? contra a religião aki dentro??? olha lá hein!!!!

Deus vive.

Não entendi por que os policiais da erva irão fechar um topico instrutivo como esse :blink:

Parabens Iracema pelo otimo topico foi para os favoritos ;)

E sobre Deus vivo...Amen

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Usuário Growroom

Acho o tópico interessante pela informação, mas não creio na real utilização de drogas como algo espiritual benéfico...creio que se Deus quisesse que a maconha fosse o meio de comunicação entre o homem e ele nós nasceriamos com um pacotinho de seeds na mão....hahahaha também por que nem todos os lugares da terra são próprios para o cultivo da danada então por que alguns povos seriam mais favorecidos que outros? Quer queiram ou não maconha é uma droga e isso não é ofensa, afinal a palavra droga no dicionário , em uma de suas definições, diz que é qualquer substância que muda seu estado normal...e quando eu fumo um kank não fico normal mesmo...hahahaha Creio que se a pessoa tem um lado espiritual desenvolvido ela vai ser espiritual com ou sem a maconha...Não sou católico, mas admiro madre tereza de calcutá que, apesar de não dar uns tapas na danada, era super espirituosa.

Não creio na parte sagrada que alguns colocam sobre a erva (que é uma criação de Deus), inclusive como sendo a Natureza uma mãe e Deus um Pai, afinal a natureza é uma criação de Deus , assim como nós...Mas essa é minha opinião ...Creio sim que a danada foi criada por Deus para relaxar os animos, socializar as pessoas, servir de alimento e remédio...uma benção! não personificação divina...queleabraço

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • 2 weeks later...

relacao ao tópico... tem muita coisa mano... se ta loco... primeiro eu quero sber pq os catalolico fala que maconha eh do diabo???... ja li a biblia e nao nada que fala disso... pelo contrario mano... tem umas parte que nao lembro...mas tipo fala que Deus deu semente na terra e as planta da fruto e tal... nao diz que a maconha eh do capeta.... vamu comecar por ai mano qiue nem o ronaldo banido falo... eh por causa disso q o barato eh proibido nao eh???...Pq a maconha eh proibida^e tals????Ja que ela tem tanta istoria q nem a gente ve aqui no topico???? quem fez as lei??...vixi... tem le muito e num to afim... se alguem sober como que rolo essas lei ia ser dahora fala aqui pra gente sabe... ne não???

Quase sai na mão com mia irmâ de tanto que a mina me chama de encapetado quando me ve de olho vermelho... a gente nem conversa mais...

ela vai na igreja e tals... eu tb curto Deus... mas ele nao fala na biblia que erva eh do mal... ae gente nao troca ideia por isso...

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

Join the conversation

You can post now and register later. If you have an account, sign in now to post with your account.

Visitante
Responder

×   Pasted as rich text.   Paste as plain text instead

  Only 75 emoji are allowed.

×   Your link has been automatically embedded.   Display as a link instead

×   Your previous content has been restored.   Clear editor

×   You cannot paste images directly. Upload or insert images from URL.

Processando...
×
×
  • Criar Novo...