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Maconha: a discriminada


Thomas

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  • Usuário Growroom
Maconha: a discriminada

Lei seca

Segundo o psiquiatra Sergio Seibel, presidente do Conselho Estadual de Entorpecentes da Universidade de São Paulo, a Cannabis sativa (maconha), na China, já era utilizada com fins terapêuticos para estimular o apetite, contra náuseas, vômitos e dor, há mais de cinco mil anos antes de Cristo.

Mais recentemente, por volta de 1930, a indústria farmacêutica, com a madeireira e têxtil, pressionou o governo americano a proibir o uso da maconha, um produto natural, que ia contra os grandes interesses financeiros. Juntou-se a isso, no final da época da lei seca, um movimento moralista, com o pretexto de que já havia no mercado medicamentos tão poderosos quanto os canabinóides, sem os seus pretensos efeitos colaterais. "O que se provou não ser verdadeiro, pois a maconha não produz nenhum tão importante que os medicamentos sintéticos não causem". Assim, retirou-se do mercado uma substância absolutamente ativa, colocando-a na clandestinidade.

Atualmente, governos, como o do Canadá, de alguns estados americanos e países da União Européia resolveram, por pressão de representantes de pacientes, reconsiderar esta questão. Mesmo nos EUA, onde a política é oposicionista, já existem centros de pesquisa, vinculados a institutos nacionais de saúde, que permitem fabricar a maconha em forma de cigarro, com a finalidade de estudar seus benefícios em pacientes com AIDS e câncer. "E isso é feito em institutos de pesquisa, porque a que se fuma aí fora, é maconha de rua, malhada. Não dá para saber qual a concentração de THC, que é seu princípio ativo", explica Seibel.

Já se produziu similares à maconha, em spray e em comprimidos (tronabinol), que contêm THC sintético. Há também um canabinóide de síntese (labilone), utilizado na Inglaterra, EUA e Canadá, para a mesma finalidade. "Mas o que se vê, é que determinados pacientes, ao compararem estes dois produtos com a maconha fumada, acham que esta tem efeitos muito mais importantes".

O psiquiatra considera o preconceito à maconha semelhante ao da morfina. "Colocaram a droga na ilegalidade e agora tem de se discutir o assunto, saindo da questão legal e pensando exclusivamente no paciente" e acrescenta: "é claro que medidas legais e jurídicas são necessárias, como as existentes na fabricação de medicamentos". "A gente tem à mão uma substância fácil de se encontrar; já existem, no Brasil, grupos interessados enestes estudos. Algumas organizações já estão se movimentando para sensibilizar o Ministério da Saúde. É preciso que haja uma pressão da sociedad e de pacientes, porque a pressão contrária também é grande".

Quanto ao perigo da dependência, Seibel revela que foram feitos vários estudos, em hospitais norte-americanos, com pacientes em uso de morfina e derivados, que não se tornaram dependentes. "Ao contrário, quando o sujeito, que não é um paciente, vai para a rua, é para se drogar mesmo. Ele procura a droga no mercado paralelo, torna-se dependente porque tem o desejo de alcançar aqueles efeitos prazerosos que a droga produz. Quer dizer, neste ponto, a maconha pode criar dependência como qualquer outra coisa. O problema não é a dependência química. Ë o comportamento que está em jogo, mais do que a química em si". E conclui: "O importante é que se tire dessa discussão toda conotação moral ou religiosa que se possa ter em relação a isso. O produto pode ser usado como terapêutico e nós estamos numa guerra contra a dor. Vamos usar as armas que temos, e a maconha é uma delas".

Legalidade

Quando se trata de maconha, a posição do deputado federal do PT, Fernando Gabeira, já é conhecida de longa data. Ele é autor de projetos que tramitaram no Congresso, visando à legalização da erva. Como jornalista, também escreveu matérias e livros sobre o assunto. Não faz apologia da maconha pura e simples. Seus argumentos são fundamentados em estudos históricos, sociológicos e científicos. Segundo acredita, o grande tabu em relação à maconha é influenciado pela impressão dos opositores radicais de que, liberá-la ao uso terapêutico, abriria as portas para a legalização total, ou seja, ao uso recreativo. Nessa suposta brecha haveria um risco que não valeria a pena correr. Reconhece, na verdade, que não existe ainda um acúmulo de conhecimento sobre a maconha por parte dos deputados, para que a discussão caminhasse amadurecida no Congresso.

Quanto à questão terapêutica, imagina que, "negar o uso da maconha na esfera terapêutica é desumano". Ele lembra que, na Inglaterra, houve um movimento de mães, protestando contra essa proibição para seus filhos com doenças graves. Inclusive, faz uma comparação com a morfina, outra droga que já foi estigmatizada, e antes negada aos pacientes, com medo de que fosse utilizada em outro contexto.Segundo ele, a legislação aprovada recentemente no Congresso não fecha a porta totalmente ao uso legal e terapêutico. Promete para 2002, avançar na questão. "Inclusive, já existe um laboratório em Pernambuco, preparado para produzir um remédio utilizando o princípio ativo da Cannabis sativa, o THC. Mas, o governo brasileiro é pressionado pelos EUA", afirma. O deputado vê muitos interesses por trás desse tabu, como, por exemplo, o financeiro, pois para a medicina, a maconha seria uma meteria-prima muito barata.

Aos argumentos dos médicos que não vêem vantagens ao uso da maconha aos sintomas de seus pacientes com câncer (enjôos, falta de apetite e dor), uma vez que existem remédios mais eficazes para os benefícios prometidos pela maconha, Gabeira devolve a bola: "É um argumento que significa que todos os demais remédios que não fossem os primeiros seriam, então, supérfluos". No fundo, acha que a resistência dos médicos é produzida pela própria sociedade. Nos EUA, por exemplo, há uma pressão muito forte em cima deles, quando o assunto é anestésico.

ANVISA é contra

A posição do presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Gonzalo Vecina, é contrária ao uso da maconha. "Sabe-se que não existe nenhum efeito terapêutico da maconha que não seja exercido por outros remédios de forma mais eficaz e com menor risco de efeitos colaterais", diz Vecina. Em seus argumentos, cita que, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer, dos EUA, outras drogas ou combinações anti-eméticas se mostraram mais úteis do que a maconha fumada ou o THC sintético, como tratamento de primeira linha para combater náuseas e vômitos causados pelos medicamentos anti-câncer.

"Estudos realizados durante anos por comunidades científicas de todas as partes do mundo, chegaram a conclusões que colocam a maconha no rol das substâncias capazes de produzir nas pessoas efeitos que modificam uma ou mais de suas funções", afirma, acrescentando que a droga "provoca, entre outros efeitos, alucinações, perturbação do sistema nervoso central e dependência". Lembra ainda que a maconha pode alterar o comportamento e comprometer a produtividade e o relacionamento interpessoal dos usuários. "É tecnicamente uma droga e seu enquadramento jurídico, no Brasil, é o de droga proibida".

Caso a maconha fosse liberada para fins terapêuticos, caberia à ANVISA adotar procedimentos de praxe, usuais para outros produtos novos, que garantissem sua segurança e eficácia, conclui Vecina.

Posição moderada

Segundo o oncologista clínico, Ricardo Caponero, atual presidente da Associação Brasileira de Cuidados Paliativos, não há por quê continuar a discussão sobre o uso da maconha com finalidade anti-emética (contra enjôos), uma vez que existem outras drogas mais eficazes. "Quando não havia analgésicos, embebedavam o pacientes com whisky, como a gente vê nos filmes de cowboy, antes de extrair seu dente. Hoje, fazer uso da maconha contra enjôos, seria o mesmo", conta Caponero. "Se o THC, princípio ativo da maconha fosse mesmo tão efetivo, seria bem mais caro para a indústria farmacêutica plantar quantidades enormes da erva, para extrair a substância, do que sintetizá-lo, o que, aliás, já foi feito e descartado, por não apresentar resultados satisfatórios", explica. Caponero acredita que os relatos de pacientes que alegam melhora de seus sintomas fumando maconha, deve-se mais a fatores psicológicos.

Com relação ao perigo de dependência, ele concorda com o psiquiatra Seibel. "É uma questão muito mais comportamental do que química, tanto é que dependentes de nicotina e álcool sofrem de síndrome de abstinência, enquanto que usuários de maconha, não". Caponero dá uma prova de sua convicção ao repetir a citação do cantor e compositor Lobão:

"Quem tem propensão à dependência psíquica, pode ficar viciado até em sucrilhos".

"Bloqueadores de 5HT3 são os anti-eméticos de última geração indicados para pacientes com câncer. Ainda custam caro, mas o SUS os coloca à disposição dos doentes", termina Caponero.

"Maconha: a discriminada" revista Hands nº 8 fevereiro / março 2002

http://www.jornalexpress.com.br/noticias/d...8&id_noticia=79

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  • Usuário Growroom

Que Absurdo, e esse nosso Presidente corrupto deveria fazer alguma coisa em relação a isso, ou talvez um filho dele tenha que cair nas mãos da policia, pra ele se tocar. Não é só ele, uma pessoa com a mente tão limitada quanto esse Gonzalo Vencina, que com certeza, é mais um com um preconceito asqueiros e nojento, depois do que li ontem sobre o DonkeyDick, estou revoltado com este maldito sistema. Thomas, ontem enviei um mail para o Gabera comentando sobre o caso e pedindo ajuda, e mandei um para o Fantástico. Acha que isso pode ajudar? Estava pensando em fazer uma corrente on-line se mais pessoas mandarem mails para REde Globo, com certeza vai chamar atenção, acredita que isso pode acontecer? Ou acha inutil minha ideia?

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