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Fumaça cobre a Catalunha


Freud_Floyd

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  • Usuário Growroom
12.2005 |  Há cinco anos, nas telas dos cinemas, uma senhora simpática e divertida chamada Grace Trevethen, sob a influência de seu jardineiro, passou a cultivar cannabis – nada mais do que maconha - em sua estufa. O objetivo: vender o produto final da plantação e saldar as dívidas que seu marido, recentemente falecido, lhe havia deixado. Era 2000 e, enquanto a atriz Brenda Blethyn fazia o público rir com a comédia “O Barato de Grace”, um movimento – ainda tímido – ia ganhando força em Barcelona: começavam a surgir na província as primeiras grow shops (lojas especializadas na venda de produtos relacionados com a maconha, incluindo sementes e toda a parafernália necessária para o autocultivo da planta, além de livros e revistas).

Não era exatamente algo pioneiro. Em Amsterdã, por exemplo, a primeira destas lojas – a Sensi Seeds – já existia desde 1985. Mas aqui em Barcelona, sim, era uma novidade que começara a se expandir somente em 1999. Embora, na Espanha, a primeira tenda tenha surgido em Madri - a House Plant, aberta em 1997 – é na capital da Catalunha que o movimento cresce mais. Há seis anos, havia duas lojas: L’Interior e uma filial da House Plant. Em 2001, esse número subiu para cerca de 20. E atualmente a província encabeça o autocultivo de cannabis no país. Das 400 lojas existentes em toda a Espanha, cerca de 100 estão aqui, segundo pesquisa feita pelos organizadores da Feira Highlife de Cânhamo de Barcelona, que ocorreu há quase dois meses e atraiu 20 mil pessoas.

“Ia muito a Amsterdã, freqüentava a Cannabis Cup (a famosa Copa da Maconha, que acontece desde 1988 - leia a reportagem “Uma careta na Copa da Maconha”, de Adriana Maximiliano, publicada em NoMínimo no dia 26/11/2004), e percebi que, se lá funcionava, aqui poderia dar certo também”, diz o dono da L’Interior, Karulo Abellán, que fuma baseado desde os 11 anos e planta desde os 13, por influência dos irmãos mais velhos e do pai. “Minhas primeiras sementes foram roubadas do avô de um vizinho”, conta. Pioneira, a Holanda é, sem dúvida, a principal referência para os compadres espanhóis. Enrique Lastra, da House Plant, também abriu sua loja influenciado pelos colegas europeus: “Tinha muitos amigos lá que me incentivavam a fazê-lo. Aqui não havia nada parecido e tinha certeza de que funcionaria.”

Funcionou. E, se no final de “O Barato de Grace”, a viúva botava fogo nas plantinhas, acontece o contrário na Espanha: o autocultivo vem ganhando cada vez mais adeptos. Associações, consumidores, especialistas no tema, donos de grows começaram a se dar conta de que plantar em sua própria casa significava ter segurança, evitando consumir uma substância adulterada. A idéia foi sendo difundida através de revistas, livros e sites especializados. Hoje em dia, todos defendem a prática também como uma forma de contribuir para a diminuição do tráfico, pois se deixaria de comprar no mercado negro (embora ainda não haja datos concretos para confirmar se isso está acontecendo). “Graças a nós, vai diminuir o tráfico de haxixe de m… Não há mais volta, esse movimento é incontrolável”, diz, convicto, Karulo Abellán.

Em casa, qualidade garantida

É isso o que também acredita Jaime García, de 21 anos, que fez sua primeira plantação foi há um ano e meio. Atualmente, tem nove plantas cultivadas em ambiente exterior, em contato direto com a luz solar, e quatro dentro de casa. “Fui me informando sobre o autocultivo através de amigos e vi que é realmente a melhor opção. Sei o que estou fumando, tenho maconha de qualidade e sempre que quero”, comenta.

Até mesmo entidades que são contra as grows shops por considerar que não se deveria fazer da maconha um negócio, estão de acordo com o autocultivo. É o caso da Associação Ramon Santos para Estudos do Cannabis, a ARSEC, criada há 11 anos com o objetivo de, como sugere o nome, estudar o uso lúdico e terapêutico da planta. “Não incentivamos o consumo, mas, já que se vai consumir, que se plante em casa. É mais seguro”, diz Jaime Torrens, um dos fundadores.

O assunto ganha cada vez mais visibilidade e já foi parar na televisão. Na Espanha, a popular série de comédia “Aquí no hay quien viva” mostrou recentemente um episódio em que uma das personagens – um senhora pra lá dos 70 anos – decide plantar sementes de cannabis em casa para vender e ganhar uns trocados a mais. Argumento parecido com “O Barato de Grace” e com “Weeds”, uma série americana que estreou no Brasil, no canal a cabo GNT, há pouco mais de um mês. Nela, a atriz Mary-Louise Parker é Nancy Botwin, uma viúva que passa a vender maconha numa pacata cidade do interior da Califórnia para garantir o sustento dos filhos. Ok, nos três casos a erva é tratada como uma simples alternativa para ganhar dinheiro. Mas, se está na TV, é uma demonstração de que pelo menos está se tornando uma realidade mais visível, mais discutida.

O problema é que, por causa disso, o feitiço acabou virando contra o feiticeiro. Hoje em dia, ter uma grow shop já não é tão rentável quanto antes. Primeiro porque há competição é grande. Segundo porque não é tão caro manter uma plantação e, além do mais, de uma planta-mãe, se podem produzir outras. O que significa que é possível ter maconha durante um bom tempo. É claro que as lojas não vendem exclusivamente para os que plantam em casa, mas as sementes e todo o material necessário continuam sendo o carro-chefe do negócio que, na Espanha, gera entre 28 e 30 milhões de euros por ano, segundo o mesmo estudo feito pela HighLife.

Na alta temporada européia, uma grow pode chegar a ter um lucro de 6 a 10 mil euros por mês. Parece muito, mas não é, porque o investimento que se precisa fazer também é alto. “O mercado já não deve crescer mais. A tendência é que o número de lojas se mantenha ou mesmo que diminua um pouco”, diz Karulo Abellán. Na baixa estação, o lucro cai para uns 2 ou 3 mil euros por mês. “No início do negócio, cheguei a vender 22 mil euros em produtos. E, num só dia, 3 mil euros só em sementes”, garante ele.

O custo com uma plantação só é mais alto no começo, principalmente dentro de casa, pois é preciso tentar reproduzir as mesmas condições da natureza. Um exemplo: para a sua plantação ao ar livre, Jaime García gastou 60 euros. É mais ou menos o valor necessário para a compra de sementes, fertilizantes e um aparelho de medição do PH da água. Já para cultivar a maconha dentro de casa, são necessários também uma luz de sódio de pelo menos 400 watts, ventiladores e extratores (o primeiro para fazer circular o ar e o segundo para renová-lo, controlando assim a umidade, que deve ficar em torno de 60%), um medidor de temperatura (que deve ficar em torno de 25 graus), entre outras coisas. Jaime gastou 300 euros, mas o kit completo pode chegar a mil euros. A vantagem é que se pode plantar em qualquer época e, portanto, é possível garantir a maconha e o haxixe de cada dia durante todo o ano. Uma vez, ele chegou a ter 31 plantas. “Fiz 32 cruzamentos e apenas um não sobreviveu. Distribuí várias para amigos e vizinhos e, ainda assim, fiquei com mais de 20”, lembra, com um sorriso de felicidade.

De qualquer forma, os gastos com uma plantação de maconha variam de acordo com a qualidade das sementes. Há pacotes com 10 – ou até 16, no máximo – a partir de 15 euros. O valor vai subindo de acordo com a “marca”. O preço de tipos como AK-47, Jack Herer, Jack Flash, Chronic, Afgani #1, Sugar Loaf, entre outras “marcas”, variam entre 50 e 150 euros – e não há garantia de que as plantas sejam fêmeas, as que produzem a maconha. Por isso, muitas empresas trabalham com sementes “femininas”, cujos preços vão de 45 a 120 euros.

“Sei que meu trabalho é ilegal”

Aprender a cultivar a erva não é difícil. Existem vários livros, revistas e sites que explicam detalhadamente como fazê-lo. Segundo o “Manual de cultivo para autoconsumo”, publicada pela ARSEC, é importante deixá-las expostas ao sol durante umas 14 horas diárias, aproximadamente, nos primeiros meses. Assim crescem mais fortes. Também precisam estar um pouco distantes uma das outras (uns 60cm, pelo menos) porque, se crescem juntas, não desenvolvem tudo o que podem. A terra deve estar sempre úmida e tem de ser rica em nitrogênio, potássio, fósforo, magnésio, cálcio e ferro. O PH deve ser de pelo menos 5.5 e o ideal é algo entre 6.5 e 7.5.

Algumas dos chamados bancos de sementes mais conhecidos são holandeses: Sensi Seeds, Dutch Passion, Paradise Seeds, T.H.Seeds, Serious Seeds, Soma Seeds, entre outros. Mas a Espanha também já conta com seus próprios distribuidores: Good House Seeds (Barcelona), Cannabiogen (Madrid) e Dinafem (País Basco). Fernando Casabona criou a Good House Seeds há quatro anos. Vende 12 tipos diferentes de sementes e ele mesmo faz os cruzamentos de plantas, cujas taízes genéticas vêm de países como Brasil, Colômbia, México, Hawaí e Holanda, por exemplo. Os preços vão de 15 a 40 euros, o pacote com 11 unidades.

“Adoro maconha, sempre fui um estudioso da planta. Há 12 anos trabalho com isso, mas de forma caseira. Em 2001, decidi comercializá-las” – diz ele a NoMínimo. Segundo Fernando, no ano passado seu faturamento foi de 24 mil euros. “Mas metade disso investi em propaganda e na participação em feiras. Não dá muito lucro”, comenta ele que, em realidade, se sustenta trabalhando oito horas por dia numa distribuidora de livros. “Não gosto de me esconder, mas sei que meu trabalho é ilegal. Estou esperando o dia em que deixe de sê-lo, embora acredite que isso não vai acontecer nunca.”

Sim, porque muita gente pensa - incluindo alguns donos de grows – que vender sementes é legal - ou mesmo que a lei permite o autocultivo. Nem uma coisa nem outra. A comercialização já era considerada proibida até o final de 2003 e, em janeiro de 2004, o Partido Popular (PP), então no governo, elaborou, através do Ministério da Saúde, uma extensa lista de plantas com venda proibida ao público: dos 197 nomes, a cannabis entrou em 28o lugar.

Acontece que, faltando apenas dois meses para o final do mandato – que terminou em março, quando José Luis Rodríguez Zapatero, do Partido Socialista Obrero Español (PSOE) venceu as eleições presidenciais -, o governo acabou não aplicando a norma e tudo se manteve como antes. “Creio que, apesar da lista, não quiseram criar novos problemas. Acho que se deram conta de que lhes daria demasiada dor de cabeça se meter com as grow shops depois de tantos anos e de já estar tudo tão assentado”, explica Jaime Torrens, da Arsec.

“Autocultivo é consentido, mas não é legal”

Com relação ao autocultivo, o artigo 368 do Código Penal é claríssimo: “(…) Os que executem atos de cultivo, elaboração, tráfico ou mesmo que promovam, favoreçam ou facilitem o consumo de drogas, estão sujeitos a penas de três a nove anos de prisão (em caso de produtos que causem grave prejuízo à saúde) e de um a três anos para casos considerados menos graves”.

Segundo Jaime Torrens, “o autocultivo é consentido, mas não significa que seja legal”. Explica-se: a Lei Orgânica 1/92 de Segurança do Cidadão pune quem estiver traficando qualquer tipo de drogas, mas também penaliza os que consomem em estabelecimentos públicos, transportes ou mesmo na rua com multas que podem chegar a 5 milhões de pesetas, o correspondente atualmente a 6 mil euros.

A Arsec acha que multar alguém por fumar um cigarro de maconha na rua é abusivo. “Se um policial pára alguém que esteja puxando um fuminho ou mesmo que leve no bolso um cigarro de maconha, o portador terá que pagar uma multa. É um absurdo” – insiste Torrens. Ele acredita que há uma grande contradição entre o que está escrito no Código Penal e a Constituição Espanhola que. no artigo 18.1, trata do “direito constitucional à intimidade”. Já o artigo 16.1 trata do direito à liberdade ideológica, “sem mais restrição que a necessária para a manutenção da ordem pública”.

Outras vozes concordam com o raciocínio de Torrens: “Ora, se o consumo de maconha e a plantação acontecem dentro da sua própria casa, trata-se de uma conduta absolutamente privada e isso não gera nenhum perigo para o cidadão, muito menos para a saúde pública”, diz Felipe Borallo, também fundador da Arsec, e dono da livraria Makoki, primeira e única em Catalunha especializada em temas de drogas ou, como diz o cartão de visitas, “em estados modificados da consciência”.

Mesmo as grow shops não possuem uma licença específica para funcionar. Para evitar problemas com a lei, todas estão registradas como floriculturas ou lojas de souvenirs e de jardinagem, por exemplo. “O importante, nesse começo, era poder vender sementes. Sabíamos que, nos registrando assim, poderíamos fazê-lo sem complicações, pois a legislação não nos impedia”, conta Margarita Sicilia, que há quatro anos abriu La Huerta de Juan Valdés. Mesmo assim, ainda tem medo. Ela e o marido mantêm até hoje um cartaz que diz: “Não incentivamos o cultivo. Vendemos as sementes e o cliente faz com elas o que quiser.”

Ora, se não é para plantá-las, para enfeitar a cozinha também não serve. O discurso é uma maneira de se proteger. Afinal, entrevista, tudo bem. Fotos, nem pensar. Karulo Abellán também temia que acontecesse algo. Nos primeiros meses da L’Interior, ele vendia suas sementes escondido: ou levava o cliente para os fundos da loja ou ia com ele à esquina. “Passei muito tempo pensando que, a qualquer momento, a polícia podia entrar, confiscar tudo, mandar fechar, me levar preso, sei lá. Mas nunca aconteceu nada. E, então, relaxei.” Com 35 anos, já não se esconde e fuma seu baseado tranquilamente durante a entrevista e a sessão de fotos.

E é essa liberdade que os curtidores da erva esperam. “Mesmo que a lei não mude, que pelo menos continuem consentindo as plantações e as feiras”, pede Karulo. A próxima, por sinal, já tem data marcada: nos 24, 25 e 26 de fevereiro, o Palau Sant Jordi será sede da terceira edição da Spannabis.

http://nominimo.ibest.com.br/notitia/servl...ontentType=html

Editado por Thomas
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  • Usuário Growroom

Muito legal o post Freud, como gostaria que aqui nesse país levassem em conta a saúde de seu povo. Como lá é feito um consentimento em favor á população, deveria ser feito aqui, não apoiar o tráfico e sim o autocultivo afinal, se quer fumar, fume o que te faz menos mal e nem te expoe a riscos. Eu já participei de más situações como usúario, hoje nem quero mais saber, afinal há muito não presencio, e agradeço a minha família por esta ajuda, me deram o direito de plantar e fumar livremente em minha casa, junto de amigos ou não. Como foi feito por parte da minha família a favor da minha proteção deveria o governo fazer a nossa né? Deveríamos revindicar esses direitos, talvez isso daria certo, pedir a proteção, dizer o que passamos e pedir a proteção, talvez assim todos viriam por outro lado e insentivassem o autocultivo aqui também.

Posso ter viajo mas creio que seja isso mesmo!

Abraço galera!

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