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Aprovada venda de Medicamento à base de Cannabis no Canadá


Thomas

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  • Usuário Growroom
Já tive pacientes que cometeram suicídio porque achavam que a vida não tinha mais sentido", diz William Notcutt, anestesista do Hospital James Paget, em Great Yarmouth, Norfolk, Inglaterra. Notcutt é especialista em tratamento de pacientes que sofrem de dores crônicas persistentes. As causas variam de lesões na coluna vertebral a esclerose múltipla, mas a maioria dos pacientes tem ao menos uma coisa em comum: os remédios existentes não os ajudam em nada.

Se há uma coisa mais frustrante para o médico do que ser incapaz de lidar com os problemas do paciente é saber que existe um medicamento que poderia ajudá-lo - mas que ele não pode receitar. Para Notcutt, esse remédio é a maconha. Muitas pessoas com problemas de difícil tratamento usam a Cannabis para aliviar seus sintomas, mas na maior parte do mundo isso faz deles criminosos. Cidadãos cumpridores da lei preferem não ter de adquirir seus remédios com traficantes de drogas. Além disso, a qualidade do que se consegue por esses meios é, para dizer o mínimo, variável.

Em abril de 2005, as autoridades canadenses aprovaram um spray sublingual de Cannabis chamado Sativex, para uso por pacientes portadores de esclerose múltipla. Na condição de primeiro remédio do mundo feito a partir da maconha, ele permitirá que doentes façam seu tratamento de forma segura e consistente. O produto poderia estar disponível no Reino Unido em aproximadamente um ano, e o fabricante britânico, a GW Pharmaceuticals, pleiteia aprovação oficial também na Austrália e na Nova Zelândia.

O Sativex não produzirá curas milagrosas, e em países como os Estados Unidos, em que a hostilidade das autoridades em relação à maconha está profundamente enraizada, os pacientes provavelmente terão de esperar mais tempo até terem acesso a seus benefícios. Mesmo assim, a existência de um remédio preparado a partir da Cannabis é um marco na batalha de médicos e pacientes - que já dura décadas - pela legalização do uso medicinal da Cannabis.

Uso histórico

A história do uso da maconha é longa. As pessoas cultivaram suas sementes por milhares de anos para utilização como alimento, como fonte de óleo e na fabricação de cordas com suas fibras. A planta é utilizada na medicina tradicional em todo o mundo para alívio de espasmos musculares e dores, para prevenir convulsões e auxiliar em distúrbios do sono. Ela também ajuda a tratar enjôos - apesar de poder causar enjôos em novos usuários - e aumenta o apetite.

Mas a maconha é mais conhecida por seus efeitos na mente; ela é uma substância intoxicante que faz as pes-soas se sentir felizes e relaxadas. Seu uso "recreativo" tem se tornado cada vez mais freqüente nos países ocidentais. A Cannabis não é muito viciadora, e seus efeitos nocivos atingem principalmente o pulmão, quando fumada. Em alguns usuários ela pode desencadear delírios e alucinações, e ainda se discute se pode causar problemas psiquiátricos duradouros. No começo do século XX, a maioria dos governos de países ocidentais reagiu ao que eles viam como o crescente perigo da maconha, tornando-a ilegal. Quanto ao seu uso na medicina, a Cannabis passou a ser vista como um remédio fitoterápico obsoleto e de potencial imprevisível. Ela desapareceu da U.S. Pharmacopeia and National Formulary em 1941 e do British National Formulary em 1971.

Até o final dos anos 80, quando Not-cutt começou a estudar as aplicações medicinais da Cannabis, as pesquisas sobre a droga estavam voltadas principalmente para a identificação dos perigos de seu uso por usuários recreativos ou seus efeitos sobre animais. O interesse de Notcutt surgiu de seu desejo de descobrir algo novo para lidar com a dor crônica de seus pacientes. Ele encontrou diversas referências à droga na literatura de história da medicina sobre alívio de dores, e um número cada vez maior de pesquisas com animais mostrava que a principal substância química ativa da Cannabis, o tetrahidrocanabinol (THC), se ligava a certos receptores cerebrais. Em 1982, uma forma sintética de THC foi aprovada como remédio para aliviar as náuseas decorrentes de tratamentos com quimioterapia, o que levou Notcutt a pesquisar seus efeitos no alívio da dor.

Ele começou uma pequena série de testes com seus pacientes mais afetados pela dor, na maioria pessoas com lesões na coluna vertebral. Algumas delas afirmaram que o THC ajudava; outras, que a substância as fazia se sentir muito mal. Outras ainda disseram que ele não era tão bom quanto a "coisa de verdade".

Foi assim que Notcutt adentrou o submundo do uso medicinal da maconha. Mesmo na pacata Norfolk ele encontrou pessoas que obtinham dos traficantes de drogas locais o que para eles era um remédio indispensável. Notcutt passou a notar um número crescente de pacientes com esclerose múltipla que diziam que a Cannabis melhorava suas dores e seus espasmos e rigidez musculares e os ajudava a dormir. O passo seguinte, diz Notcutt, foi descobrir um jeito melhor de dar aos pacientes o que eles queriam. No começo da década de 90, Notcutt e seus colegas começaram a pensar em como eles poderiam realizar testes clínicos com a Cannabis.

Os problemas surgiram desde o início, uma vez que a droga é ilícita e seus canais de fornecimento são pouco confiáveis. "Você vai usar qualquer porcaria que conseguir nas bocas-de-fumo?", ele pergunta. "Qual a qualidade, como estabelecer padrões mínimos?" Eles também não conseguiram descobrir um modo seguro e eficiente de administrar a droga. Ingerida por via oral, a potência da maconha varia muito e ela só começa a fazer efeito depois de uma hora. Fumando, você inala um monte de substâncias causadoras de câncer - assim como ao fumar tabaco.

Tratamento contra aids

Na Califórnia, Donald Abrams, especialista em HIV do Hospital Geral de San Francisco, teve problemas bastante parecidos. Ele estava interessado na possibilidade de que a Cannabis pudesse ajudar pessoas com aids a evitar perdas drásticas de peso. "Elas perdiam o apetite, tinham diarréia e definhavam", diz Abrams. "Era um jeito muito duro de morrer." Em 1992, o THC sintético foi aprovado como remédio para combater a náusea, um dos sintomas da aids. No entanto, como no caso dos pacientes com esclerose múltipla, muitos achavam a maconha mais eficaz. Eles também tiveram problemas de fornecimento, como os pacientes ingleses. Após um voluntário de 70 anos de idade de sua clínica ser preso por fornecer brownies com maconha a seus pacientes, Abrams decidiu realizar testes clínicos formais com a maconha.

Ele encontrou mais resistência que Notcutt. Em 1994, sua equipe pediu permissão ao Departamento Antidrogas dos Estados Unidos para comprar Cannabis de uma empresa holandesa chamada Hortapharm, o que lhes foi negado. Em seguida, eles recorreram ao Instituto Nacional de Prevenção às Drogas (Nida, na sigla em inglês), o único órgão dos Estados Unidos autorizado a fornecer maconha para pesquisas científicas. Mais uma vez o pedido foi rejeitado, em parte porque as autoridades do órgão temiam que os pacientes vendessem a maconha fornecida a eles, mas também porque o Instituto estava mais interessado em estudar os efeitos nocivos do uso da maconha. Em 1996, um terceiro pedido foi novamente recusado.

Nessa época, a atitude do governo britânico em relação ao uso da maconha para fins medicinais estava se tornando mais favorável. Paradoxalmente, isso foi causado em parte por uma reação contra o consumo de drogas. Um número cada vez maior de portadores de esclerose múltipla que usavam maconha estavam sendo levados aos tribunais, e muitos estavam recebendo penas leves ou simplesmente sendo dispensados. Preocupados com os efeitos que isso poderia ter sobre a legislação antidrogas, o governo começou aos poucos a dar indícios de que poderia legalizar a Cannabis medicinal se fosse possível desenvolver uma versão farmacêutica da substância.

Canabinóides naturais

Enquanto isso, pesquisas médicas sobre a Cannabis estavam ganhando respeitabilidade ao redor do mundo à medida que começavam a surgir detalhes sobre os canabinóides produzidos pelo nosso próprio corpo . Mas esses estudos eram em sua maioria realizados por acadêmicos. Que indústria farmacêutica aceitaria o risco de investir num campo tão controverso politicamente e bastante incerto do ponto de vista financeiro?

Eis que entra em cena Geoffrey Guy, um empresário da área farmacêutica à procura de investimento. O histórico da Cannabis impossibilitava o caminho normalmente usado para ganhar dinheiro com uma substância comum: patenteando-a. Mas Guy percebeu que ele podia obter exclusividade de mercado com uma droga desenvolvida a partir de uma subespécie de Cannabis clonada, da qual ele era dono dos direitos de propriedade. Guy recorda que, quando conversou com as autoridades para tentar obter a aprovação da idéia, mal foi preciso convencê-las. "Elas estavam quase aliviadas com o fato de uma empresa ter aparecido", diz ele. "Eu estava forçando uma porta que já estava aberta."

Sua nova empresa, a GW Pharmaceuticals, comprou da Hortapharm inúmeras variedades de Cannabis com potência bastante elevada, e no final dos anos 90 já estavam cultivando 5 mil plantas. Para evitar a absorção variável da Cannabis ingerida, a empresa decidiu produzir um spray para aplicar sob a língua, onde ela seria rapidamente absorvida pela corrente sangüínea. Assim nasceu o Sativex.

Notcutt concordou em coordenar um teste clínico. No entanto, apesar da crescente aceitação pelo público da idéia do uso medicinal da Cannabis, ele teve problemas para conseguir aprovar o estudo em seu hospital. Foi preciso um ano para ele receber a permissão para iniciar um pequeno estudo de três meses de duração em pacientes, portadores de esclerose múltipla, para quem os tratamentos existentes eram ineficazes no alívio de dores crônicas. Os resultados, publicados no ano passado (Anaesthesia, vol. 59, pág. 440), mostraram que o Sativex provocou alívio considerável da dor em 28 dos 34 pacientes do estudo. A GW começou então a realizar testes clínicos mais amplos em pessoas com esclerose múltipla ou dores crônicas, bem como estudos-piloto em pessoas com câncer.

Nessa altura a GW começou a procurar uma empresa farmacêutica com dinheiro e força para colocar o Sativex no mercado. No final de 2002, circularam rumores de que Guy estaria conversando com uma grande indústria farmacêutica, talvez a Glaxo Smith Kline ou a Astra Zeneca. Guy não confirma a história porque, antes de fechar o acordo, a empresa deu para trás. Ficaram com medo da maconha, segundo Guy. A Cannabis era muito polêmica para os diretores americanos. A GW teve então de arranjar outro sócio, e em maio de 2004 ela finalmente conseguiu fechar acordo com a multinacional de origem alemã Bayer.

Aprovações Legais

Enquanto isso, os testes clínicos em larga escala começavam a chegar a resultados positivos. A GW requereu aprovação da Medicines and Healthcare Products Regulatory Agency (Agência Regulatória de Remédios e Produtos para a Saúde, MHRA na sigla em inglês) para vender o remédio no Reino Unido. A MHRA pediu um "estudo confirmatório" para provar que a redução de espasmos e rigidez muscular que acontece com o uso do Sativex traz benefícios significativos para os pacientes. A GW ainda trabalha em estudos desse tipo.

Talvez não demore muito para que outros remédios produzidos a partir da Cannabis se juntem ao Sativex. O Instituto para Pesquisas Clínicas de Berlim, uma organização sem fins lucrativos, está desenvolvendo cápsulas de ingestão oral de Cannabis, chamadas Cannador. Em novembro de 2003, um estudo com 630 portadores de esclerose múltipla produziu resultados ambíguos. Enquanto o sistema formal de medição de espasmos e rigidez muscular indicava que a Cannador tinha o mesmo efeito de um placebo, os pacientes achavam que ela ajudava. O coordenador da pesquisa, Martin Schnelle, diz que as deficiências do sistema de medição formal utilizado no teste são bastante conhecidas. "Existem remédios aprovados contra espasmos e rigidez muscular que foram reprovados por esse sistema", diz ele. A equipe prevê outro estudo em que os relatos dos pacientes serão a principal medida por meio da qual será investigada a eficácia do remédio.

Nos Estados Unidos, a Nida está se tornando mais aberta a pesquisas sobre os benefícios da Cannabis, e Abrams está estudando sua capacidade de reduzir a dor causada por danos ao sistema nervoso pelo HIV e diminuir náusea e vômitos após quimioterapia. Ele está pesquisando um aparelho chamado Volcano, que aquece a Cannabis ao ponto de vaporização, sem queimá-la, o que, segundo ele, é menos nocivo do que fumar a Cannabis num baseado porque libera menos agentes carcinogênicos. Mesmo achando muito bem-vindos produtos como o Sativex, Abrams acha que algumas pessoas continuarão a preferir a maconha em vez de um preparado comercial - entre outras razões, porque elas mesmas podem cultivar a planta.

No entanto, independentemente de como mudem as atitudes culturais em relação à maconha comprada nas ruas ou cultivada em casa, o fato de ela estar disponível na forma de remédios padronizados e licenciados, como no caso do Sativex e da Cannador, é que poderá aumentar seu uso medicinal. A GW planeja estudos sobre os possíveis benefícios para pessoas com uma grande variedade de problemas (doença de Crohn, artrite reumática, vício em heroína). Se os resultados forem positivos, a decisão do Canadá indicará uma grande mudança no status da Cannabis, diz Philip Robson, diretor-médico da empresa. "É o nascer de uma nova era de pesquisas médicas."

Fonte: Viver, Mente e Cérebro

http://www.paraiba.com.br/noticia.shtml?25362

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  • Usuário Growroom

Se há uma coisa mais frustrante para o médico do que ser incapaz de lidar com os problemas do paciente é saber que existe um medicamento que poderia ajudá-lo - mas que ele não pode receitar. Para Notcutt, esse remédio é a maconha. Muitas pessoas com problemas de difícil tratamento usam a Cannabis para aliviar seus sintomas, mas na maior parte do mundo isso faz deles criminosos. Cidadãos cumpridores da lei preferem não ter de adquirir seus remédios com traficantes de drogas. Além disso, a qualidade do que se consegue por esses meios é, para dizer o mínimo, variável.

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  • Usuário Growroom

Mas esse médico levantou a questão. A comunidade médica e farmacêutica como o próprio texto fala não estuda nem muito menos investe no assunto. O artigo mostra que tem gente que acredita no poder medicinal da cannabis.

Eu te digo uma coisa cara, daqui a pouco vai começar a ficar díficil da industria farmacêutica ignorar a maconha. Quando a primeira empresa do setor começar a investir de verdade no assunto, todas as outras vão atrás. Esses cara adoram dinheiro, e como quem desenvolve o medicamento antes patenteia o produto e enche o rabo de dinheiro, ninguém vai ficar de bobeira. Ai eu garanto que eles vão bombardiar a mídia com informações favoráveis a danada, vão "preparar" a população com "novas" descobertas sobre a maconha.

Eu acho que a connabis tem grande potencial médico.

E sobre os anestésicos, a cannabis não seria um anestésico, ela seria um analgésico. E diferente, ela diminui a dor, não elimina nem bota para dormir. Ela funcionaria tipo como uma novalgina entende? Diferente dos anestésicos usados em cirúrgia e para suturas.

E tem mais, todos os anestésicos apresentam riscos para quem toma. Existe o risco real da mais saudável das pessoas morrer com uma cirúrgia simples, este risco é muito pequeno mas existe, só lembrar de vários casos de pessoas que emtram em coma ou mesmo falecem na mesa de cirúrgia.

abraços

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  • Usuário Growroom

Bom, imagino que a comunidade médica não teria como ir contra uma evidência científica.

Como eu disse, os médicos em geral dizem que há no mercado remédios mais eficientes e com menos efeitos colaterais que um baseado de cannabis.

Isso é apenas o que eu sei até agora.

Off:

Adoro Pennywise!

Editado por Atheist
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