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Médica Fumadora Critica Ausência De Uso Terapêutico


William Bonner

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  • Usuário Growroom

O uso da ´cannabis´ para fins médicos não está previsto em Portugal mas Maria José Campos, médica e fumadora esporádica desta planta, acredita nas suas potencialidades e lamenta que o problema seja "sistematicamente colocado e adiado".

"A questão da ´cannabis´ não é pacífica, razão pela qual alguns relatórios que lhe são favoráveis saem de circulação", apontou Maria José Campos, recordando um documento emitido pela Organização Mundial de Saúde nos anos 1990, "que desmistificava a perigosidade da ´cannabis´ e mostrava que o tabaco e o álcool são bem mais perigosos".

"Ainda há dois ou três meses, houve uma nova reunião entre os peritos da ONU para a área das drogas e algumas organizações não governamentais mas, mais uma vez, não se chegou a nenhuma conclusão, porque os EUA querem controlar a situação com a sua política proibicionista", acusa.

Com 52 anos, vinte dos quais como "fumadora esporádica" de ´cannabis´, Maria José Campos considera que o problema em torno das suas aplicações terapêuticas é "sistematicamente colocado e adiado, colocado e adiado, colocado e adiado".

No entanto, "na Região da Catalunha (Espanha), na Califórnia (Estados Unidos) e no Canadá existem programas de administração terapêutica apoiados por médicos e farmacêuticos", assinalou a médica.

Afirmou à Lusa que não prescreve ´cannabis´ aos seus pacientes "porque, em Portugal, isso seria ir contra a lei" mas está sempre atenta às informações sobre o assunto.

"Nos doentes com SIDA - que são o grupo com que trabalho e que conheço melhor - sei que a ´cannabis´ estimula o apetite e reduz as náuseas, que constituem um efeito secundário de alguns antiretrovirais", medicamentos usados no tratamento da SIDA, revelou Maria José Campos à agência Lusa.

A médica acrescentou que "também são referidos bons resultados em doentes oncológicos ou com glaucoma, havendo outras doenças onde as aplicações ainda estão a ser estudadas, como a esclerose múltipla".

Para Maria José Campos, o uso terapêutico da ´cannabis´ em Portugal esbarra "na falta de vontade política para legislar nesta matéria, em que cada estado é soberano" e "nas pressões da indústria farmacêutica, que não tem interesse na investigação sobre a planta porque esta é muito barata e isso não lhe convém".

Ainda segundo a médica, recorrer à planta propriamente dita é "de longe preferível" a criar um fármaco a partir dela, pois "um medicamento será sempre um derivado sintético ou semi-sintético".

Então, como se poderia tomar a ´cannabis´? "Se o doente já for um fumador [de tabaco], pode fumar a planta. Se não for, não faz sentido iniciá-lo num vício e, nesse caso, é preferível que ingira a ´cannabis´ através de bolos, manteiga ou bebidas, pois a planta dá para tudo isso".

Em relação ao Marinol - medicamento com Dronabinol (a versão sintética do tetrahidrocanabinol, que é uma substância activa existente na ´cannabis´) que teve autorização de introdução no mercado em 1999 e foi revogado em 2005 sem nunca ter sido comercializado - a opinião de Maria José Campos não é a melhor.

"Os doentes norte-americanos que experimentaram não gostaram, porque ficavam com a sensação de ´pedrados´, além de ser um medicamento muito caro e de os médicos serem contra o seu uso", justificou, alertando que a plantação de ´cannabis´ exige certas cautelas.

"Concordo com a plantação mas cumprindo determinadas condições, pois a planta deve ser testada para se aferir o teor de tetrahidrocanabinol, que não pode ser demasiado elevado", esclareceu, adiantando que, para se conseguirem plantas em condições, estas devem ser criadas "em ambientes naturais e não fechadas dentro de casa".

A necessidade de plantar às escondidas é algo que não faz sentido para Maria José Campos, segundo quem a ilicitude das drogas surgiu em meados do século XX, "pois até então o ópio e a cocaína vendiam-se nas farmácias".

"Aliás, a heroína, que hoje é ilegal, não o era até meados dos anos 1950", contou a clínica de medicina interna à Lusa, assinalando que esta droga deve o seu nome ao facto de ter sido considerada "heróica" para tratar os dependentes de morfina, "o que mostra como as mentalidades vão mudando", concluiu.

http://da.online.pt/news.php?id=117146

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