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Marcos Palmeira: Atitude Para Superar A Indignação


William Bonner

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  • Usuário Growroom

Engajado, adepto da vida simples e paizão, Marcos Palmeira, 44 anos, também é um homem indignado. Durante uma tarde nos jardins do Parque Lage, no Rio de Janeiro, o ator que há três meses vivencia a experiência de ser pai de Julia, fruto de sua união com a diretora da Globo Amora Mautner, 32 anos, conversou com o EGO.

Marcos que há 10 anos é dono da fazenda Vale das Palmeiras, na região serrana do Rio, dá poucas entrevistas. Neste raro desabafo o ator falou da experiência de ser pai de primeira viagem, do projeto orgânico com os pequenos produtores brasileiros e do que acha da violência carioca:

“O Capitão Nascimento e o traficante são a mesma pessoa. Ele não é corrupto, mas tortura.”

Para minimizar está violência nos morros ele é a favor da liberação das drogas: "Acho que sim. Diminuiria. Noventa por cento de quem trafica é por falta de perspectiva".

Leia a seguir a entrevista de Marcos Palmeira ao EGO.

Há 10 anos sua fazenda Vale das Palmeiras, na região serrana do Rio, se transformou num exemplo de agroecologia sustentável. Como é exatamente este projeto?

Não tinha idéia de transformá-la em orgânica porque não fazia idéia do que era o orgânico. Resolvi investir nessa idéia quando descobri que os trabalhadores não consumiam o que produziam, foi aí que resolvi me informar como era esse processo orgânico. Descobri que pesticida é residual, cancerígeno.

"Eu não conheço uma fazenda tradicional que seja viável economicamente. A minha orgânica é viável."

Além das verduras e legumes livres de agrotóxico, como é a filosofia da agroecologia?

Os animais são tratados com homeopatia, o que produz um esterco orgânico de qualidade. Os cavalos, as vacas, eles não tomam nenhum tipo de antibiótico. A resposta homeopática nos animais é muito positiva. Eles não têm problema de carrapato, de vermes, tudo é equilibrado. Um veterinário visita uma fazenda tradicional, sem ser orgânica, de 15 em 15 dias. Na minha, a veterinária vai de três em três meses. Porque está tudo equilibrado. O que a gente busca é isso: um equilíbrio. Para combater as moscas do curral, estão lá as teias de aranha, que comem o inseto. As galinhas ficam perto das vacas porque ciscam os carrapatos delas. A idéia é essa, um conceito bem rústico. Estimulo a rusticidade do alimento, da vida.

É economicamente viável manter uma fazenda orgânica?

Eu não conheço uma fazenda tradicional que seja viável economicamente. A minha orgânica é viável. A tradicional, se o dono não for um investidor na bolsa de valores, um milionário, duvido que ele esteja vivendo com o lucro da fazenda. O orgânico é viável.

Há três anos você promove o PAIS (Produção Agroecológica Integrada Sustentável). Como é isso?

Disseminamos a produção orgânica para os pequenos produtores do Brasil. Existem hoje mil núcelos PAIS instalados pelo Brasil. A gente chega lá no interior, monta uma estrutura de produção para aquele pequeno produtor. Eles estão tirando hoje R$ 800 livres. É uma mudança radical na realidade. Muito melhor do que fazer o Bolsa Família.

"O bandido, o traficante, não é uma praga, ele é um desequilíbrio. Você tem que atacar o desequilíbrio. Na agricultura, a formiga não é uma praga. Se você tem uma roça e ela está destruindo o seu jardim, pára e observa. Ela é um indicador que tem alguma planta ali que está doente."

O que a cultura orgânica te trouxe de lição?

Na cultura orgânica você aprende que o fato do ‘Caveirão’ entrar na favela e atirar em todo mundo, não vai funcionar. O bandido, o traficante, não é uma praga, ele é um desequilíbrio. Você tem que atacar o desequilíbrio. Na agricultura, a formiga não é uma praga. Se você tem uma roça e ela está destruindo o seu jardim, pára e observa. Ela é um indicador que tem alguma planta ali que está doente. A formiga só se alimenta do fungo da planta. Se o jardim está doente, a formiga vai invadir. Se o seu jardim é fértil, ela sai dali e vai para o meio do mato. E a violência é a mesma coisa. É uma minoria que toma conta da violência. Não pode ser impossível de resolver. No fundo, está tudo no Congresso. Sou a favor da liberação das drogas já como princípio.

Você é a favor da liberação de todas as drogas: maconha, cocaína e também das drogas sintéticas?

Eu acho, eu acho. É uma dureza ter um filho viciado. Estou com uma filha pequena, pode ser que daqui a pouco esteja pagando, mas acho que é um desequilíbrio que existe na gente. O homem sempre buscou as drogas como um auto-conhecimento. Claro que virou um grande comércio, um grande business. Agora não acho que o cara que compra ali está alimentando o tráfico, não está.

Então você discorda do que o Capitão Nascimento prega em ‘Tropa de Elite’, quando ele culpa o jovem da classe média pela violência nos morros? Aquilo é o imediatismo do cara. É a cobra mordendo o próprio rabo. O Capitão Nascimento e o traficante são a mesma pessoa. Ele não é corrupto, mas tortura. Não acredito nisso. Como disse Helio Luz (delegado e ex-chefe de Polícia Civil do Governo Marcello Alencar no Rio de Janeiro nos anos 90) 'não existe guerra civil, o que existe é guerra entre bandido e polícia'. A polícia é paga para manter o pobre e o bandido na favela. Ela não é paga para resolver o problema da gente. O que é uma pena.

Você acredita que a liberação das drogas diminuiria a violência?

Acho que sim. Diminuiria. Noventa por cento de quem trafica é por falta de perspectiva.

"Queria que o Lula fosse para a televisão e falasse: ‘Gente, a barra é pesada! Ta difícil!’ Provoca! Quem sabe acontecendo uma revolução a coisa mude."

Mas tem jovens da classe média que moram no asfalto, na zona sul carioca, que estão cada vez mais envolvidos com o tráfico.

Porque dá muito dinheiro, é claro! O mercado de trabalho está difícil até para a classe média. Está todo mundo apertado. O exemplo vem lá de cima. O cara tem 22 anos, mora num apartamento quarto e sala em Copacabana: ele, a mãe e o pai. Liga a televisão e está lá o Renan Calheiros com aquela cara de pau falando. O outro vai, rouba, e diz que não roubou. Esse jovem pensa: ‘Cara, não vou me dar bem do jeito que está esse negócio. Então vou pegar um pacote de maconha e vou me dar bem’. Sei que não justifica, mas acho que alimentamos isso. Existe a indústria da violência que vende o carro blindado, o circuito interno de televisão, a grade. A favela está aqui, Pavão-Pavãozinho (favela da Zona Sul do Rio). Vamos fazer um trabalho social. Isso parece demagogia, mas não é, é o básico. Se entrar no morro e der cidadania para esse pessoal, acesso à escola, transporte; respeitá-lo por ser negro, por ser pobre, tudo muda. Queria que o Lula fosse para a televisão e falasse: ‘Gente, a barra é pesada! Ta difícil!’ Provoca! Quem sabe acontecendo uma revolução a coisa mude.

E a Julia neste mundo?

O que eu puder facilitar para ela sofrer menos com a dureza que a vida traz, eu farei. A vida nem sempre é tão boa assim. Mas acho que ela tem um bom exemplo. Sou tranqüilo, vou ser um pai bem ativo na criação. A Amora (diretora Amora Mautner) também vem de uma geração tropicalista, tem um lado mais ‘hiponga’, apesar de ser sofisticada. Mas ela vai esbarrar com a escola, com os amigos, os professores... Vai ter a rua... E a vida vai transformando. O importante na família é saber que você pode retornar àquele núcleo depois que você se desprende dele. Que depois de bater a cara lá fora, vai ser bem recebido, poder recuperar as energias, cicatrizar e voltar para fora de novo.

Valeu a pena esperar tanto tempo para ser pai?

Na realidade, esperei só nove meses. Não esperei nunca.

Mas eu li que seu sonho era ser pai.

Dizem muita coisa. Disseram que sou viciado em charuto... Nem fumo charuto! Devo ter dito em alguma entrevista que gostaria de ser pai. Sou bastante paternal. Fui casado com a Vanessa (a cantora Vanessa Barum). Numa época a gente perdeu um bebê, mas hoje acho que estou mais maduro, preparado em termos de temperamento. Não tenho tantas questões como quando tinha 20, 30 anos. Acho que a Julia ganha com isso. Espero ter energia bastante para brincar com ela. Não tinha ansiedade com a paternidade. Eu e Amora não programamos o filho. Mas conforme a relação foi amadurecendo, foi a hora boa.

"O importante na família é saber que você pode retornar àquele núcleo depois que você se desprende dele. Que depois de bater a cara lá fora, vai ser bem recebido, poder recuperar as energias, cicatrizar e voltar para fora de novo."

Você detecta mudanças dentro de você com a chegada da Julia?

A gente se cobra um pouco mais. No sentido de abrir mais espaços dentro da gente. Temos uma tendência a sermos sempre muito egoístas. Já no casamento você já se divide bastante. Com filho então, não tem jeito. Já estou vivendo essa mudança. Mas eu, com toda a minha função de vida, da fazenda, o convívio com os animais, com os meus cachorros... Tenho a sensação de que sou preparado para isso, que estou mais aberto do que imaginava.

Então você está preparado para se doar mais.

Sim, exatamente. Agora tem uma coisa que preciso mudar. Eu faço muita coisa. Sou hiperativo: faço filme, peça, jogo futebol, tênis, pilates, corro, sou mestre de cerimônia, filmo Mandrake, estou sempre inventando coisas para fazer. E realmente com a Julia, terei que ter tempo para ela. Senão não é justo, né? Essa hiperatividade vai ter que ser melhor canalizada.

Você cuida da Julia?

Dou banho direto! De chuveiro comigo, de banheira, troco fralda. Isso para mim não tem problema nenhum. O mais difícil que acho é a dosagem do tempo. Agora vou tirar umas férias, 25 dias, a partir do dia 10 de dezembro.

Há 10, 20 anos, você se imaginava assim, tão cheio de energia?

Quando eu tinha trinta anos, não imaginava que chegaria assim aos 40. Acho que cheguei mais jovem do que imaginava. A mulher de 35 era balzaquiana, hoje é a de 50 que corresponde a essa categoria. Vê a Amora com 32. É balzaquiana aonde? É uma guria.

Você se considera uma pessoa realizada?

Acho que estou me realizando, estou dentro dessa busca.

"A minha vida pessoal não interessa para ninguém, se interessar mais do que o meu trabalho, tem alguma coisa errada. Se não você passa a ser o personagem da sua própria vida."

O que incomoda em ser famoso?

A mentira, a exposição dessa mídia televisiva, todo esse jogo de mentira. Aquela coisa do cara ter me fotografado dentro da maternidade. Aquele fotógrafo foi de uma infelicidade absurda, tenho até medo de encontrar com esse cara. Foi como se ele tivesse pegado uma grua, tivesse invadido o meu quarto e tivesse filmado eu trepando com a minha mulher. Aquele ali era um momento íntimo meu com a minha família. A minha vida pessoal não interessa para ninguém, se interessar mais do que o meu trabalho, tem alguma coisa errada. Se não você passa a ser o personagem da sua própria vida. Nunca tive intenção de aparecer mais do que o meu trabalho. Tenho uma relação de vida de simplicidade. Fui mimado como menino, mas era um mimo de afeto e não para me tornar onipotente.

Você hoje se definiria como um cidadão indignado?

Eu sou um cidadão indignado. Eu tenho pouca paciência. E olha que faço um trabalho ligado a um órgão do governo. O Banco do Brasil em parceria com o Sebrae que patrocina o PAIS. Mas acho que a gente perdeu tempo. Esse país não andou nada! São 500 anos! Política tem que ser uma missão de vida do cidadão. O presidente do Brasil tem que transformar o país com as suas idéias.

"Acho que é importante enxergar as pessoas de uma maneira mais simples, não julgar tanto, pois a natureza não permite muito julgamento."

O que a experiência de 10 anos na fazenda, e a sua vivência com os índios do Xingu, trouxe para o Marcos Palmeira?

Sou totalmente urbano também, mas isso tudo me mostrou que posso ter conforto onde quiser. Posso estar no Palácio de Buckingham, em Londres, ou numa maloca que vou me sentir do mesmo jeito. Acho que é importante enxergar as pessoas de uma maneira mais simples, não julgar tanto, pois a natureza não permite muito julgamento. É igual a uma gravidez. Não adianta querer que o bebê nasça antes, você tem que respeitar esse tempo e acaba se respeitando também. Os seus desejos, suas raivas, seus problemas. Não sou um cara sem problemas, eu faço análise, vivemos em busca de sofrer menos.

Essa sua paixão pela natureza, pela terra, vem de cedo, né?

Quanto eu tinha 17 anos fui morar com os Xavantes no Mato Grosso. Acho que a partir dali, aquela experiência me transformou. Fui criado na roça, no interior. Acho que a melhor expressão do brasileiro está lá, no interior. São os caras que têm o verdadeiro humor brasileiro.

Parece que a felicidade está na simplicidade não? Acha que é fácil ser feliz nessas condições mais simplórias?

A simplicidade é o mais difícil. Difícil é ser simples. A gente tem que acabar inventando problemas para justificar os nossos problemas. Você tem necessidade de ter que comprar presente no Natal? Tem nada! Eu dou um bejio para todo mundo, muito mais importante do que ter que ir a um shopping center. Está cada vez mais difícil se distanciar desse mercado que a gente vive, que nos dá uma urgência para a vida incrível. É um mundo de ansiedade. A gente acaba se distanciando da nossa pulsação. Vamos perdendo o sabor da vida.

"Estou com um prazer hoje na minha profissão muito maior do que eu tinha há 10 anos."

Você não faz novela desde “Celebridade”. Como está sua vida profissional?

Ela está se transformando. O espetáculo que enceno com a Adriana Esteves, "Virgolino Ferreira e Maria de Déa- Auto de Angicos" é um trabalho totalmente diferente de tudo que eu já fiz. Um aprofundamento no trabalho do Amir Haddad que é um diretor essencialmente teatral, sem vaidade. Encontrei a Adriana numa parceira maravilhosa, explorando essa área obscura da nossa vida com a possibilidade de tirarmos algumas capas de cima da gente.

Que capas foram tiradas?

A coisa do entendimento do texto, da compreensão do que está sendo dito não da forma como deve ser dito. O entendimento que está ligado a um corpo. Você não precisa andar, aprender a respirar, tudo isso vem a partir de quando você entende o que esta contando profundamente. Esse trabalho do Haddad lida com a inteligência do ator. Não sou o Lampião, estou contando a história, o que é bem diferente. Muda o sentido. Você passa a fazer parte de um jogo muito mais interessante. Estou com um prazer hoje na minha profissão muito maior do que eu tinha há 10 anos. Filmar o “Mandrake” (exibido pela HBO) também me enriqueceu muito. Quando eu voltar para a televisão para fazer novela, estarei com o frescor que eu tinha no início da carreira e que fui perdendo por contingências da vida: excesso de trabalho, cansaço... Hoje eu entendo melhor o que eu queria quando comecei a trabalhar como ator.

http://ego.globo.com/ENT/Noticia/Perfil/0,...INDIGNACAO.html

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  • Usuário Growroom

Eu pensei a mesma coisa cabelo. Eu tenho não um agronegócio, mas um cultivo de subsistência orgânico.

Esse cara para mim, depois desta entrevista, passou de um global imbecil para uma pessoa diferenciada. Não apenas nas partes relativas a legalização, mas todo o resto foi de uma lucidez difícil de se encontrar hoje.

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  • Usuário Growroom

esse infeliz trabalha bem...

sei lá...fica a dúvida...se vagabundo não for trafica vai ser o q?!?assaltante!?estuprador,sequestrador!?só pioraria ainda mais...sem contar que maconha ''legalize'' iria ser coisa de playboy...junta turismo+país tropical+bunda+maconha...metade da erva seria imposto..um bebe compraria maconha...e o mercado paralelo agiria como sempre só que fora de morro...misturaria gente de bem com trafica fdp das mais diversas espécies entre vários outros ''problemas''...bote fé...

em relação ao comentário do bope eu tava vendo esse dias com um bro meu que tem um pai aposentado da CBC...o velho mostrou com age uma bala de AK-47...a melanina da pele derrete a 18 mm antes de encostar...

como se trata um verme que atira chuvas disso em cima de vc e de qualquer outro?!? ''fala ae mano certo...ai véi bora desce tranquilo!?!?''...idiota...imagino que la na hortinha dele bem longe não deva ter esse tipo de coisa...embora eu ache tbém que ''capitão nascimento'' seja apenas um herói do povo...mais nada...nada...

complicado falar disso....até pq do jeito que tá tbém não dá pra ficar..

mas enfim...sem dúvidas ele curte uma erva...

té...

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