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"proibir As Drogas Gera Violência"


William Bonner

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  • Usuário Growroom

Proibir as drogas gera violência"

O deputado verde conhecido pelas idéias polêmicas responde às perguntas dos leitores de ÉPOCA

Na trajetória que começou na luta armada contra a ditadura, nos anos 60, e culminou em três mandatos de deputado federal pelo Partido Verde, as idéias de Fernando Gabeira evoluíram. Defensor de teses polêmicas, como a legalização da maconha e da prostituição, ele também assume posições radicalmente contrárias à de sua juventude. Integrante do grupo que seqüestrou o embaixador americano Charles Elbrick, em 1969, hoje ele diz que o seqüestro é “abominável”. Respondendo aos leitores de ÉPOCA, ele também falou do papel do usuário de drogas no financiamento do tráfico.

VIDA

Nascido em 1941, em Juiz de Fora, Minas Gerais, mudou-se para o Rio de Janeiro aos 22 anos. É casado e tem duas filhas

CARREIRA

Jornalista, participou da luta armada durante a ditadura. Elegeu-se deputado federal em 1994 e foi reeleito em 1998 e 2002

OBRA

No livro O Que É Isso, Companheiro?, de 1979, conta o seqüestro do embaixador americano no Brasil Charles Elbrick

O senhor já fumou maconha? O que tem a dizer a respeito das drogas?

Samuel do Valle, Divinópolis (MG)

Fernando Gabeira – Já. As drogas sempre existiram na história da humanidade, seja para reduzir a dor, aumentar o prazer ou ampliar a consciência. Mas elas se tornaram agora um grande problema mundial, por serem a principal atividade de grupos criminosos que mobilizam, segundo cálculos extra-oficiais, US$ 500 bilhões.

A liberação do uso de drogas, nos mesmos moldes do que acontece com o álcool, diminuiria a violência causada pelo tráfico?

Otto Simon da Silveira, Olinda (PE)

Gabeira – Potencialmente, sim. A experiência da liberação do álcool, depois da Lei Seca, contribuiu para reduzir a violência nos Estados Unidos. No entanto, para que seja bem-sucedida, uma experiência de liberação pressupõe polícia bem equipada e capaz e instituições sociais capazes de abordar, rapidamente, conseqüências indesejadas e, às vezes, imprevistas.

O filme Tropa de Elite atribui parte da responsabilidade pelo caos do narcotráfico aos usuários. O senhor concorda com isso?

Eduardo Gomes, São José dos Campos (SP)

Gabeira – Sim. Se você é contra a compra de produtos de empresas que destroem o meio ambiente ou usam trabalho escravo ou infantil, por que não ser contra a compra de produtos que contribuem com a violência? Essa questão ética foi inicialmente levantada pelos próprios usuários. No caso dos que usam maconha, houve até campanhas para que se plantasse em casa. Lembro que a plantação em casa também é proibida. Acho que parte da responsabilidade deveria ser estendida também aos adeptos da proibição, pois essa política contribui com a violência. Quando não há uma autoridade externa para regular um comércio, os atores tendem a se matar. Se alguém compra 10 quilos de droga e recebe apenas 8, não pode reclamar na polícia. Se alguém quer um ponto-de-venda, não pergunta ao rival se ele tem alvará, mas o mata.

O senhor se arrepende da participação no seqüestro do embaixador americano Charles Elbrick?

Mateus Alexandre Castanho, Brasília (DF)

Gabeira – Considero o seqüestro uma forma de luta abominável. Hoje vejo o seqüestro com os olhos de Ingrid Betancourt, que está há cinco anos nas mãos dos guerrilheiros das Farc, definhando, sem poder ler um livro. O seqüestro, mesmo apesar de sua retórica social, é uma violação de direitos do indivíduo, de sua família e amigos.

O senhor se arrepende de ter trocado o embaixador americano pelo ex-deputado José Dirceu, então preso pela ditadura militar?

Raul Pinheiro, Belo Horizonte (MG)

Gabeira – Não participei da confecção da lista. Na verdade, não conhecia as pessoas que estavam sendo liberadas, com exceção dos líderes estudantis do Rio de Janeiro.

Qual é sua opinião sobre um terceiro mandato presidencial?

José Maria de Sousa, Brasília (DF)

Gabeira – Sou contra, e penso que a maioria do povo brasileiro também o é. O resultado das pesquisas e a derrota de Chávez na Venezuela esfriaram um pouco esse tema.

"Se você boicota empresas que usam trabalho escravo, por que comprar drogas de quem contribui com a violência?"

O que o senhor tem a dizer das críticas referentes a seu projeto de lei que tentou legalizar a profissão das prostitutas, mas foi vetado pelo Congresso?

Maria Luiza Perez Meira, Rio de Janeiro (RJ)

Gabeira – Algumas críticas foram mais no campo moral. O projeto prevê a integração das profissionais na Previdência, com grandes vantagens para o Brasil. Somos um país onde o trabalho informal é muito grande e nem todos colaboram com a Previdência. O projeto poderia ajudar também no combate à prostituição infantil, pois conseguiríamos, como já o fizemos na campanha contra a aids, a participação das pessoas adultas que trabalham no setor. No entanto, há críticas que podem ser absorvidas, principalmente as que indicam a possibilidade de uma articulação maior do projeto com as diretrizes de combate à prostituição infantil e juvenil.

Há, entre os jovens, uma clara aversão à política e aos políticos. Como fazer para motivá-los a participar da política?

Ronaldo Conde Aguiar, Brasília (DF)

Gabeira – As crises, como a da Venezuela, costumam contribuir para lançar os estudantes na luta. Quando sentem que as velhas gerações falharam ao tratar dos grandes problemas nacionais, normalmente entram em cena. Aqui os órgãos estudantis ainda estão aprisionados a uma lógica de esquerda e apóiam o governo. Passaram a ser um movimento chapa-branca, o que os torna, apesar da juventude, velhos e sem atrativos.

Como nós, cidadãos comuns, poderíamos atuar mais diretamente no combate à corrupção na política e nas estatais?

Sandra Fernandes de Oliveira, São Paulo (SP)

Gabeira – O problema central é a transparência. Apoiar e exigir a transparência são bons exemplos. Monitorar os eleitos, exigir seriedade do governo, existe, enfim, uma lista de atitudes que ajudam a reduzir a corrupção. Acredito também que a mudança nas regras do jogo é muito importante. Apostar mais na redução das oportunidades de se corromper do que, propriamente, na capacidade de regeneração das pessoas.

Por que o povo não se manifesta contra a corrupção? A que o senhor atribui o comodismo nas atuais questões políticas?

Laíse Coelho, Belém (PA)

Gabeira – A saída em massa às ruas depende de muitas condições. Na Espanha, com o uso do celular, foi possível organizar uma grande manifestação. Mas o país estava no calor da eleição e traumatizado por um atentado terrorista. As pessoas se movem, mas precisam de razões bem fortes. No momento, se você examinar as cartas de leitores de jornais, verá que há uma minoria bastante participativa. Também na internet existem inúmeras discussões. Existe, em muita gente, certa resignação com a corrupção e, afinal, nem sempre as pessoas ligam a si mesmas o dinheiro que é roubado, como se não fosse delas. É preciso mostrar com insistência o que deixa de ser feito de bom quando se desvia dinheiro público. Talvez, vendo o que perdem com isso, as pessoas se manifestem mais.

http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoc...556-501,00.html

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