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Guerra Contra As Drogas [artigo]


dio logan

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Guerra contra as drogas

A espantosa hipocrisia do Ocidente

Apesar dos repetidos fracassos da guerra contra as drogas,

ela continua a todo vapor.

Provavelmente as verdadeiras motivações

são mais econômicas e políticas do que sanitárias ou sociais...

O preço do café despenca, viva a coca!

Em julho de 1989, enquanto a Colômbia declarava guerra aos traficantes de drogas, o Acordo Internacional do Café é rompido, em conseqüência das pressões do Departamento do Comércio dos Estados Unidos. Resultado: uma queda do preço de cerca de 50%, isto é, uma perda de 100 milhões de dólares em seis meses só para a Colômbia, onde o café é responsável por 40% das exportações. O desemprego atinge 3 milhões de pessoas (10% da população) que trabalham nesse setor.

Assim, alguns agricultores se voltam naturalmente para a coca, cujos lucros são mais elevados (em média, quatro vezes maiores) e o comércio, mais estável. Sem falar de outras vantagens: acaba o longo e penoso trabalho de transportar a colheita ao mercado mais próximo — os traficantes vêm buscar o produto e trazem sacos repletos de notas verdes.

O exemplo colombiano está longe de ser o único. Em diversos países do Terceiro Mundo ou regiões carentes — do Triangulo de Ouro (Tailândia e Laos) ao Rif marroquino, passando pelo Oriente Médio, o Mali, a Guiné, os países andinos etc. — as áreas destinadas às culturas ilícitas (maconha, ópio, coca) estão em constante expansão. A maior parte desses países têm uma grande população rural, constituída principalmente por agricultores.Todos esses camponeses têm cada vez menos condições de enfrentar a globalização da economia e a modernização capitalista, em que são obrigados a concorrer com os camponeses ocidentais, cuja produtividade é cem vezes superior à sua. Essa concorrência é ainda mais desleal porque os produtores do norte dispõem de subsídios que representam entre 42% e 75% do preço de venda, dependendo do produto e do país.

Os camponeses do sul são forçados a abandonar a produção de alimentos destinados ao mercado interno e voltar-se para culturas de exportação — café, cacau, frutas cítricas — cujo preço é manipulado (com prejuízo) pelas multinacionais (General Food, Nestlé, Douwe Egberts e Procter & Gamble para o café) e, buscam, finalmente, a sua salvação nas culturas ilícitas.

Projetos enganosos, soluções inaplicáveis

Conscientes desse círculo vicioso, mas nem um pouco interessados em corrigí-lo na fonte, os países ricos elaboram diversos “projetos de desenvolvimento” nebulosos, aparentemente destinados a promover a substituição das culturas proibidas por plantações lícitas. Exemplo: o projeto “Agro Yungas” lançado na Bolívia por iniciativa da ONU, visando plantar café em lugar de coca. Mediante um empréstimo, os agricultores, que aceitaram as regras do jogo, foram convencidos de que conseguiriam quatro colheitas anuais. O resultado após cinco anos foi uma magra colheita anual, os grãos secando no pé, camponeses endividados até o pescoço e 4/5 dos 21 milhões de dólares, destinados ao projeto, que nunca chegaram aos interessados. Durante esse tempo, a coca do vizinho produz três vezes por ano a preços astron&ocir c;micos...

A solução preconizada por alguns seria aumentar a diversificação agrícola e reabilitar a cultura de alimentos, garantindo uma relativa proteção do mercado interno em relação à exploração agrícola dos países industrializados. Entretanto, na prática, isso é impossível: os famosos “planos de ajustamento estrutural” — verdadeiros garrotes econômicos impostos pelo FMI e o Banco Mundial para o pagamento da dívida externa — opõem-se a qualquer protecionismo. Em nome do livre intercâmbio, favorecem, ao contrário, a importação de produtos alimentícios, forçando os países do sul à especialização...em culturas “seguras”. Resolver o problema da droga e dos narco-dólares, sem procurar ao mesmo tempo uma solução equil ibrada e justa para o problema da dívida dos países do Terceiro Mundo, parece conseqüentemente uma solução pouco realista.

Paranóia: prioridade da droga sobre a fome

Para o cúmulo da hipocrisia, os países ocidentais, designaram a droga como o flagelo número um em países onde os problemas principais são na verdade a fome, a desnutrição crônica e a pobreza.

“É contra a miséria e a fome que temos que declarar a guerra”, afirma o Pastor Claude Olievenstein numa entrevista, “fazemos tudo errado quando procuramos primeiramente substituir as colheitas ilícitas dos países subdesenvolvidos por outras colheitas. Essas são muito menos rendosas, apresentam problemas de comercialização etc. É a espiral da pobreza sem fim. Essa solução é demente e demagógica! Os órgãos internacionais”, continua, “ colocam à disposição de governos, muitas vezes corruptos, recursos para o combate à droga bem mais importantes do que aqueles que são usados contra a fome e o analfabetismo.”

Países produtores, países consumidores, uma distinção falsa... mas operacional

Reservando o rótulo de “produtores” apenas aos países do sul, os países ricos “consumidores” justificam uma guerra ao narcotráfico como pretexto para aumentar o controle polivalente sobre esses países desfavorecidos por um comércio internacional injusto. Essa distinção “produtores / consumidores” é falsa por vários motivos.

Em primeiro lugar, ela repousa sobre uma classificação arbitrária das drogas que torna lícitas as que vêm do Norte (álcool, fumo, medicamentos) e ilícitas as do Sul (coca, ópio, maconha..., muitas das quais desempenham um papel socioeconômico e religioso comparável ao do vinho no Ocidente). “A folha de coca é usada diariamente nos países andinos (nascimento, colheitas, medicina natural, infusões), onde suas qualidades nutritivas a tornam um complemento indispensável da alimentação muitas vezes insuficiente”, afirma Frères des Hommes. Isso não impediu as autoridades espanholas de confiscar oito quilos de folhas de coca destinadas ao Pavilhão Boliviano da Exposição Internacional de Sevilha... Imaginemos o que aconteceria se, de maneira semelhante, a França fosse proibida de exportar não apenas seus vinhos, mas até a sua uva e fosse obrigada a arrancar os seus vinhedos!

Em segundo lugar, essa distinção “produtores / consumidores” é contestada pela evolução da produção de drogas ilícitas nos países ocidentais: os Estados Unidos, apesar de seu papel de líder no combate às drogas, produzem 12% da maconha mundial. A “guerra às drogas” vai se tornar uma guerra civil? Não é essa a finalidade.

Em terceiro lugar, é preciso saber que os países industrializados produzem e exportam não apenas álcool, fumo e medicamentos, cujos efeitos são muitas vezes devastadores sobre as populações do Terceiro Mundo, mas também produtos químicos necessários à fabricação das drogas (éter,acetona...). Alguns gigantes da indústria química (principalmente dos EUA e da Alemanha) alimentam, cientes do que acontece — por meio de intermediários — a produção de heroína ou de cocaína, que não poderia funcionar sem esses produtos de base.

E, enquanto as campanha anti-fumo estão no auge nos países ricos, as sete multinacionais que dominam o mercado do cigarro se voltam com eficiência para os países do Terceiro Mundo, onde o consumo aumenta vertiginosamente. Fumo de má qualidade — subvencionado por Bruxelas — taxas de nicotina e alcatrão elevadas. O Terceiro Mundo têm o direito a um tratamento especial!

Finalmente, a distinção “produtores / consumidores” é falsa, infelizmente, porque hoje em dia é nos países do Terceiro Mundo que encontramos o maior número de consumidores de drogas. É inevitável que a produção tenha conseqüências locais. Os jovens, empregados na produção de drogas, são, às vezes, pagos com produtos ilícitos nocivos fabricados no local e os traficantes também desenvolvem o comércio local para se protegerem contra as variações do comércio internacional.

No Paquistão, onde as drogas clássicas eram desconhecidas até o final da década de 80, existem atualmente milhares de jovens viciados em heroína. Também na Tailândia e na Malásia milhares de pessoas estão afetadas, para citar apenas alguns casos. È preciso acrescentar a isso a propagação do alcoolismo — vários povos foram destruídos por essa droga importada que não fazia parte de sua cultura — assim como o uso de colas e solventes pelas crianças dos grandes centros urbanos, com danos irreparáveis no sistema nervoso central.

Por todas essas razões, “a guerra contra as drogas” está longe de ser uma nobre cruzada do bem contra o mal, como a propaganda política quer fazer crer. O Ocidente combate um mal que ele provoca de um lado e alimenta do outro, satisfazendo tanto os interesses políticos como os econômicos. A guerra contra as drogas é uma guerra protecionista e discriminatória, que usa pretensas motivações sanitárias e sociais como disfarce. Os verdadeiros perdedores dessa falsa guerra são os excluídos, os desfavorecidos, todos os elos fracos da cadeia social que continuam a deslizar pela ladeira da toxicomania, porque o verdadeiro combate contra a droga ocorre em outro lugar. “ Nós lutamos por valores humanos e morais”, clamam para se justificar os narco-exterminadores. Sempre lutamos por aquilo que mais nos falta...

Fonte: "Le Lien", novembro 1992, Andouillé. França

Tirado do site: http://www.taps.org.br/Paginas/violartigo05.html

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Cultura do medo

“Toda analise da cultura do medo que ignora a ação da imprensa ficaria evidentemente incompleta. Entre as diversas instituições com mais culpa por criar e sustentar o pânico, a imprensa ocupa indiscutivelmente um dos primeiros lugares”

A cultura do medo é globalizada. E a mídia tem o papel de difundir esta cultura para o mundo, ajudando a criar um imaginário sobre o medo. Vivemos em uma época que nunca antes estivemos mais seguros do nosso futuro, do nosso presente. Mas mesmo assim o medo ainda é parte de nossas vidas de uma maneira desproporcional.

“A cultura do medo deixa claro o que o sucesso da difusão do medo depende não somente da forma como é expresso, mas também da eficácia em exprimir ansiedades culturais profundas`

A mídia e a opinião pública retroalimentam o sistema que difunde a cultura do medo. Num ciclo cujos resultados podem ser comprovados pelo exemplo da cultura do medo no consumo de cannabis.

No começo do século XX a imigração mexicana no sudeste dos Estados Unidos da América trouxe consigo muitos componentes de seus hábitos tradicionais. Entre eles o habito de fumar maconha. A cannabis desempenha um papel já muito conhecido antigamente. A mais de 5.000 anos a cannabis é usado em forma de fibra para a confecção de roupas, seu óleo é usado como combustível, sua semente é fonte rica de alimento, e sua flor é um tradicional psicoativo. Os mexicanos que imigraram para o sudeste estadunidense utilizavam a cannabis em suas varias formas, e manteve o seu uso mesmo nos EUA.

O movimento de imigração e a cultura do medo tomou uma posição que relaciona diretamente certos hábitos com certas populações. Geralmente hábitos degradantes, impuros. Vale lembrar que nos EUA o puritanismo é uma corrente forte no pensamento político, valendo-se da crença de uma sociedade sem excessos e fundamentada na religião. Para tal efeito o puritanismo através de filmes atrelou a imigração mexicana com o consumo de cannabis, uma droga que levaria à loucura. No filme “Louco no Rancho” de 1929 uma cena mostra o xerife ao ver um cowboy com cigarros de maconha dizendo que a maconha é um entorpecente diabólico que se você fumar só causará confusão.

“Depois que os profs. Robert Blendon e John Young, da Universidade de Harvard, analisaram 47 pesquisas sobre o consumo de drogas, realizadas entre 1978 e 1997, também descobriram que são os meios jornalísticos e não a experiência direta os americanos em seus principais medos. 8 em cada 10 adultos afirmam que o consumo de drogas nunca causou problemas em suas famílias e a grande maioria relatou pouca experiência direta com problemas relacionados ao consumo de drogas. A preocupação muito difundida sobre problemas com drogas provem, segundo Blendon e Young , do alarmismo difundido pela mídia jornalística e especialmente pela televisão.”

A cidade fronteiriça de El Paso aprova em 1914 uma lei que proibia maconha no município. Esta iniciativa também tem como objetivo controlar os mexicanos, já que a imagem da droga é associada a eles.

Na década de 20 e 30 o purista Harry J. Aslinger toma posse do Federal Bureau of Narcotics, um órgão ligado ao Departamento do Tesouro norte-americano que cuida da repressão e do orçamento destinado à esta questão. Em um discurso ele diz: “ O Dep. Do Tesouro esta determinado em investir numa guerra implacável contra esses desprezíveis abutres que se aproveitam da fraqueza de outros”.

O fracasso da Lei Seca manchou o prestigio de Aslinger e ainda deixou a questão das drogas na esfera estadual da lei. Com a chegada da cannabis nos centros urbanos através da música e da disseminação, Aslinger percebeu a oportunidade de fazer e lançar uma campanha que direcionasse os eleitores a pressionar os governos estaduais a assinarem a Lei Única de Entorpecentes. Esta lei via a maconha como ameaça. Para isso a campanha contava com filmes, um deles chamado “Erva da Loucura” de 1936. Numa cena um casal fuma cannabis e toca piano compulsivamente. Ao serem interrompidos por um colega, o homem tem um acesso de loucura e mata-o. No julgamento o promotor diz que o homem estava num estado de insanidade provocado pela maconha, e a internação num hospital psiquiátrico seria a solução. Aslinger ainda faz diversos discursos nas rádios relatando casos de consumo de maconha e morte, assassinatos, vícios e loucura.

“Os riscos muitas vezes inflados que pairam sobre a juventude e as soluções grosseiras propostas para iluminá-los dissimulam políticas estúpidas, cujos pressupostos partem por definir a sociedade como doente.”

Aslinger obteve sucesso, todos os estados assinaram a Lei Única de Entorpecentes. E mais, os eleitores ficaram tão chocados que exigiu do governo federal novas leis de combate à maconha, tal como a “Lei de controle da Maconha” de 1937.

No campo do entretenimento, Aslinger efetuou diversas prisões de atores e músicos para coibir o comportamento de figuras populares. Hollywood se curvou para o poder do governo federal e entregou a censura desta questão para o Aslinger.

Apesar dos esforços do governo, outra droga começou a se destacar, a heroína. Muito mais perigosa e letal do que a cannabis, a heroína tem seu consumo crescente na década de 50. Não perdendo a visão puritana, Aslinger atua para aproximar as duas drogas, deixando claro que quem fuma maconha irá consumir heroína. Para isso é vinculado no cinema o filme “Vicio” de 1951. Neste filme um grupo de jovens estão fumando maconha, vão à loucura e começam a injetar heroína momentos depois. As penas na época para o consumo de ambas as drogas eram iguais, chegando à prisão perpétua em alguns estados.

Aslinger ainda aproveitou a paranóia comunista para também relacionar as drogas aos commies, como eram chamados os simpatizantes do regime vermelho. Aslinger chegou a dizer que a China pós-revolução transformou-se no maior traficante do mundo e que pelo menos no governo nacionalista, anterior ao comunista, as execuções pro trafico aconteciam. Nesta mesma época novas leis foram implementadas, como a Lei Boggs (1951) e a Lei de Controle de Narcóticos (1956).

Os anos 60 e 70 foram os mais agitados em debates. A juventude com a contracultura traziam mudanças de hábitos que refletiam na sociedade em geral. Os debates entre a proibição e os danos da própria proibição foram mais intensos e repercutiu em alguns afrouxamentos das leis. Mas sempre no nível estadual, em nenhum momento a lei federal foi relaxada. A reação dos legalistas veio com Nixon em 1966 com o lema “Restaurar a lei e a ordem”. A população carcerária aumenta consideravelmente com as penas indo para 50 anos no caso de venda de menos de 28gr de cannabis. Criando a Drug Enforcement Agency (DEA) Nixon aparelha uma das maiores divisões da policia federal estadunidense, responsável por toda a questão das drogas.

Reagan em 1970 em um discurso de campanha diz que considera a maconha a droga mais perigosa do mundo. A direita religiosa e puritanista voltava ao poder, sendo novamente representada por Bush em 1988 com o maior orçamento da DEA da historia, com U$ 8 bilhoes.

Percebemos que a existência de uma cultura do medo se estabelece desde que somos crianças, em nossa infância. Através de conceitos e noções que definem o que é normal, seguro e saudável. Sempre que construímos algum conceito/noção que nos gera sensação de segurança é porque negamos outros que possam nos desestabilizar, gerar pânicos. È claro que com a cultura do medo sendo promovida e difundida pelos meios de comunicação de massa a violência, o pânico, o medo, e os discursos de seguridade são glocalizados pelo mundo.

Bibliografia >TRIVINHO, Eugênio. O mal-estar da teoria.

GLASSNER, Barry. Cultura do medo

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  • 2 years later...
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Cultura do medo

“Toda analise da cultura do medo que ignora a ação da imprensa ficaria evidentemente incompleta. Entre as diversas instituições com mais culpa por criar e sustentar o pânico, a imprensa ocupa indiscutivelmente um dos primeiros lugares”

A cultura do medo é globalizada. E a mídia tem o papel de difundir esta cultura para o mundo, ajudando a criar um imaginário sobre o medo. Vivemos em uma época que nunca antes estivemos mais seguros do nosso futuro, do nosso presente. Mas mesmo assim o medo ainda é parte de nossas vidas de uma maneira desproporcional.

“A cultura do medo deixa claro o que o sucesso da difusão do medo depende não somente da forma como é expresso, mas também da eficácia em exprimir ansiedades culturais profundas`

A mídia e a opinião pública retroalimentam o sistema que difunde a cultura do medo. Num ciclo cujos resultados podem ser comprovados pelo exemplo da cultura do medo no consumo de cannabis.

No começo do século XX a imigração mexicana no sudeste dos Estados Unidos da América trouxe consigo muitos componentes de seus hábitos tradicionais. Entre eles o habito de fumar maconha. A cannabis desempenha um papel já muito conhecido antigamente. A mais de 5.000 anos a cannabis é usado em forma de fibra para a confecção de roupas, seu óleo é usado como combustível, sua semente é fonte rica de alimento, e sua flor é um tradicional psicoativo. Os mexicanos que imigraram para o sudeste estadunidense utilizavam a cannabis em suas varias formas, e manteve o seu uso mesmo nos EUA.

O movimento de imigração e a cultura do medo tomou uma posição que relaciona diretamente certos hábitos com certas populações. Geralmente hábitos degradantes, impuros. Vale lembrar que nos EUA o puritanismo é uma corrente forte no pensamento político, valendo-se da crença de uma sociedade sem excessos e fundamentada na religião. Para tal efeito o puritanismo através de filmes atrelou a imigração mexicana com o consumo de cannabis, uma droga que levaria à loucura. No filme “Louco no Rancho” de 1929 uma cena mostra o xerife ao ver um cowboy com cigarros de maconha dizendo que a maconha é um entorpecente diabólico que se você fumar só causará confusão.

“Depois que os profs. Robert Blendon e John Young, da Universidade de Harvard, analisaram 47 pesquisas sobre o consumo de drogas, realizadas entre 1978 e 1997, também descobriram que são os meios jornalísticos e não a experiência direta os americanos em seus principais medos. 8 em cada 10 adultos afirmam que o consumo de drogas nunca causou problemas em suas famílias e a grande maioria relatou pouca experiência direta com problemas relacionados ao consumo de drogas. A preocupação muito difundida sobre problemas com drogas provem, segundo Blendon e Young , do alarmismo difundido pela mídia jornalística e especialmente pela televisão.”

A cidade fronteiriça de El Paso aprova em 1914 uma lei que proibia maconha no município. Esta iniciativa também tem como objetivo controlar os mexicanos, já que a imagem da droga é associada a eles.

Na década de 20 e 30 o purista Harry J. Aslinger toma posse do Federal Bureau of Narcotics, um órgão ligado ao Departamento do Tesouro norte-americano que cuida da repressão e do orçamento destinado à esta questão. Em um discurso ele diz: “ O Dep. Do Tesouro esta determinado em investir numa guerra implacável contra esses desprezíveis abutres que se aproveitam da fraqueza de outros”.

O fracasso da Lei Seca manchou o prestigio de Aslinger e ainda deixou a questão das drogas na esfera estadual da lei. Com a chegada da cannabis nos centros urbanos através da música e da disseminação, Aslinger percebeu a oportunidade de fazer e lançar uma campanha que direcionasse os eleitores a pressionar os governos estaduais a assinarem a Lei Única de Entorpecentes. Esta lei via a maconha como ameaça. Para isso a campanha contava com filmes, um deles chamado “Erva da Loucura” de 1936. Numa cena um casal fuma cannabis e toca piano compulsivamente. Ao serem interrompidos por um colega, o homem tem um acesso de loucura e mata-o. No julgamento o promotor diz que o homem estava num estado de insanidade provocado pela maconha, e a internação num hospital psiquiátrico seria a solução. Aslinger ainda faz diversos discursos nas rádios relatando casos de consumo de maconha e morte, assassinatos, vícios e loucura.

“Os riscos muitas vezes inflados que pairam sobre a juventude e as soluções grosseiras propostas para iluminá-los dissimulam políticas estúpidas, cujos pressupostos partem por definir a sociedade como doente.”

Aslinger obteve sucesso, todos os estados assinaram a Lei Única de Entorpecentes. E mais, os eleitores ficaram tão chocados que exigiu do governo federal novas leis de combate à maconha, tal como a “Lei de controle da Maconha” de 1937.

No campo do entretenimento, Aslinger efetuou diversas prisões de atores e músicos para coibir o comportamento de figuras populares. Hollywood se curvou para o poder do governo federal e entregou a censura desta questão para o Aslinger.

Apesar dos esforços do governo, outra droga começou a se destacar, a heroína. Muito mais perigosa e letal do que a cannabis, a heroína tem seu consumo crescente na década de 50. Não perdendo a visão puritana, Aslinger atua para aproximar as duas drogas, deixando claro que quem fuma maconha irá consumir heroína. Para isso é vinculado no cinema o filme “Vicio” de 1951. Neste filme um grupo de jovens estão fumando maconha, vão à loucura e começam a injetar heroína momentos depois. As penas na época para o consumo de ambas as drogas eram iguais, chegando à prisão perpétua em alguns estados.

Aslinger ainda aproveitou a paranóia comunista para também relacionar as drogas aos commies, como eram chamados os simpatizantes do regime vermelho. Aslinger chegou a dizer que a China pós-revolução transformou-se no maior traficante do mundo e que pelo menos no governo nacionalista, anterior ao comunista, as execuções pro trafico aconteciam. Nesta mesma época novas leis foram implementadas, como a Lei Boggs (1951) e a Lei de Controle de Narcóticos (1956).

Os anos 60 e 70 foram os mais agitados em debates. A juventude com a contracultura traziam mudanças de hábitos que refletiam na sociedade em geral. Os debates entre a proibição e os danos da própria proibição foram mais intensos e repercutiu em alguns afrouxamentos das leis. Mas sempre no nível estadual, em nenhum momento a lei federal foi relaxada. A reação dos legalistas veio com Nixon em 1966 com o lema “Restaurar a lei e a ordem”. A população carcerária aumenta consideravelmente com as penas indo para 50 anos no caso de venda de menos de 28gr de cannabis. Criando a Drug Enforcement Agency (DEA) Nixon aparelha uma das maiores divisões da policia federal estadunidense, responsável por toda a questão das drogas.

Reagan em 1970 em um discurso de campanha diz que considera a maconha a droga mais perigosa do mundo. A direita religiosa e puritanista voltava ao poder, sendo novamente representada por Bush em 1988 com o maior orçamento da DEA da historia, com U$ 8 bilhoes.

Percebemos que a existência de uma cultura do medo se estabelece desde que somos crianças, em nossa infância. Através de conceitos e noções que definem o que é normal, seguro e saudável. Sempre que construímos algum conceito/noção que nos gera sensação de segurança é porque negamos outros que possam nos desestabilizar, gerar pânicos. È claro que com a cultura do medo sendo promovida e difundida pelos meios de comunicação de massa a violência, o pânico, o medo, e os discursos de seguridade são glocalizados pelo mundo.

Bibliografia >TRIVINHO, Eugênio. O mal-estar da teoria.

GLASSNER, Barry. Cultura do medo

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Vou imprimir e mostrar pra minha mãe já! É o que eu venho tentando falar pra ela há um bom tempo, so que muito completo e perfeito =D

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