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O Apocalipse Now


DanKai

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Vila de Trindade é uma praia que fica entre Ubatuba e Parati. Era um reduto hippie, bem deserta, quase o paraíso da Biblia. Hoje em dia já não é como antes, asfaltaram o morro do “Deus me livre” até a boca da praia. Antigamente, quando chovia, ninguém entrava nem saía, mas mesmo asfaltado hoje, não é todo mundo que consegue chegar lá, a subida e a descida são muito íngremes. O Sr. Mindinho conseguiu! Sair foi mais complicado. Mas eu te conto tudo depois.

O Sr. Mindinho (o nome dele é seu Douglas, mas como ele não tem um dedo mindinho, todo mundo conhece ele em Pira como Sr. Mindinho) deve ter entre 50 e 55 anos (ou será 60???) É bancário aposentado e trabalha com aluguel de vans. Quando tem show em Piracicaba, ele leva os artistas pra cima e pra baixo, e por isso, gosta de contar histórias, como por exemplo, que a Daniela Mercury é linda, etc...

Dava pra ir de ônibus. Mas tinha que pegar um pra São Paulo e outro para a praia, que parava e deixava a gente no começo do "Deus me livre” com mala, cuia e barraca de acampamento.

“A gente” eram nove meninas e um carinha. Eu, Doca (minha irmã), a Regina, a Gina, a Tê, a Camila, a Fabiana, a Ritinha, a Maria e o Carlinhos. Todas as meninas fazem odontologia, menos a Fabiana e o Carlinhos que fazem matemática, a Camila, que faz zootecnia, e eu, jornalismo .

Ia sair o mesmo preço alugar a van e as passagens de busão. Decidimos pela van. Ligamos para o Sr. Mindinho, ele topou. Um dia antes, fomos às compras no mercado.

Nosso carrinho era assim:

- 4 caixas de cerveja

- 6 litros de caninha 51

- miojo

- algumas coisas pequenas como: chocolates (glicose), canela e cravo (pra fazer “chiboca”, ou “chiboquinha” que é pinga com melado de açúcar, cravo e canela), limão (pra caipirinha), engov, sal de fruta, aspirina etc...

De comida, só miojão mesmo.

Ah... e arroz também, porque o Sr. Mindinho pediu pra incluir ele nas compras. (A gente pensou... o que ele come será??? ARROZ!!!)

Tudo isso porque fomos com o dinheiro contadinho... e preferimos gastar a grana com goró. Levamos mais umas “misturas” para todo mundo.....risoss......

(molho de tomate, sardinha, atum, comida semi-pronta de saquinho, etc...)

O Sr Mindinho levou leite, integral.

Neste mesmo dia, de manhã, fui atrás de maconha. Ninguém tinha, e ninguém queria viajar sem. Arrecadei a grana e fui na casa de uma amiga, a Telma, que estava pegando com o “disk-fumo”, um taxista de Piracicaba que você liga no celular dele, combina um lugar, e ele leva lá. Eu ia pegar 200g e a Telminha 300g. Combinamos com ele na Rua Nossa Senhora do Rosário, em frente a Igreja. Ele foi. Parou o táxi do lado do meu carro, jogou uma pedra enorme de meio kilo pra dentro, pegou a grana e saiu fora. Foi a fita de fumo mais perfeita que eu já presenciei, coisa de 15 minutos. Enrrolamos um enorme só com a raspa da pedra e fomos fumando pra casa da Tê dividir o “pão”.

Eu avisei que se alguém fosse pego com fumo, eu não ia ser testemunha de nada. Já tinha tomado uma geral da vez que fui para São Thomé das Letras (MG) e não foi nada bom, ficar horas na delegacia de Três Corações. Sugeri que cada um dos 10 ficasse com a sua parte e assumisse caso algo acontecesse com a polícia. Era melhor do que acharem uma pedra só, enorme.

Dividimos... em nove calcinhas.

Arrumamos todas as coisas e o Sr. Mindinho passou primeiro em casa. Fomos para a Tê pegar a galera. Minha mãe foi junto. A primeira coisa que ela falou depois que todo mundo desceu do apartamento foi:

- Cláudia, Doca, tá todo mundo com cheiro de maconha.

- Que nada mãe... é cigarro de cravo.

- Sei.

Fomos. Saímos de Piracicaba as 6:00 da tarde.

Eu fui na frente com ele, e o povo todo atrás. Quando olhei para o Sr. Mindinho, ao lado do volante estava um livro. Fui ver, era o Novo Testamento. Pensei. Ele vai precisar mesmo.

Antes de uma hora de viajem, a gente já tinha tomado uma caixa de cerva.

Fui pra traz. O papo com o Sr Mindinho foi ficando meio pesado quando eu falei que os deuses da bíblia na verdade eram astronautas. Ele avisou que não era pra ninguém fumar cigarro no carro. E se alguém ameaçava fumar, ele parava e mandava todo mundo descer.

Paramos pra fumar vááááárias vezes.

Em todas as paradas, a gente fumava um fininho também. Juntava uma rodinha em volta da van e manda ver! Em todos os postos de gasolina. Lembro de um um posto que só tinha homem, caminhoneiro. A gente entrou, as nove meninas no banheiro feminino, bolamos um e fumamos lá dentro... Parecia uma sauna.

E o Sr Mindinho firme...

Tomamos mais uma caixa, acabaram as geladas. Partimos pra chiboquinha (pinga). O som que rolava na Van??? Bob Dylan, Marcelo D2, Zeca Baleiro, Zé Ramalho, Raulzito e Manu Chao. “Oh minha maconha.. minha torcida, minha querida, minha galera...” (Manu)

Perto de Ubatuba, a Fabiana pediu para mijar. Não tinha nenhum posto aberto eram umas quatro da matina. Ele parou. A Gina, bebaça já, levantou a saiona indiana e mijou ali mesmo, do lado do Sr. Mindinho. A Fabiana queria fazer cocô. Foi entrar num terreno baldio e atolou metade da perna num barro absurdo.

Voltou, sem fazer cocô e com uma bota de terra, literalmente. O Sr. Mindinho saiu correndo, pegou pano, água para limpar. Ele estava super prestativo.

Coitado!

A gente chegou no “Deus me Livre” quase de manhã. Tava todo mundo tri louco. Cantando com a cabeça pra fora da van... Não sei como ele subiu e desceu aquele morro, mas fomos informados que a volta era pior. .

Chegamos no Camping. R$4,00 por dia. Chuveiro frio, e já não tinha mais nenhuma sombra de árvore pra acampar embaixo. Escolhemos um lugar de frente pro mar, lindo, tava começando a amanhecer e a maresia dava boas vindas.

Perguntamos se o sr. Mindinho queria ficar numa pousada e ele quis acampar com a gente (fazer o quê???) Oferecemos uma barraca e ele preferiu dormir na van mesmo.

Montamos as barracas, estacionamos a van perto. E para comemorar... fumar maconha. Fizemos um pequeno ritual na praia, o sol já estava lá, riscando um reflexo no mar infinito. Um círculo na areia, tragadas seguradas por mais tempo no pulmão e as alterações mentais do THC eram absolutamente compatíveis a atmosfera. “Apenas apanhei na beira mar, um taxi pra estação lunar”. (Zé Ramalho)

Fumamos um, dois e quando eu estava bolando o terceiro, avistei o Sr. Mindinho de calção, vindo em nossa direção. A Gina e a Regina já tinham dormido, ali na areia mesmo. Ele chegou, eu dei uma disfarçada, e bebi um gole de pinga. Ele foi caminhar na praia, sozinho.

Fiquei pensando que não ia ter jeito de enganá-lo por muito tempo...

Amanheceu, o camping lotou, compramos gelo, pras outras duas caixas. O Sr. Mindinho corria pra cima e pra baixo, no camping, lavando as panelas, trazendo gelo, montando o fogareiro.

Coitado!

Fizemos macarrão de almoço. Ele lavou todos os pratos. Um baseado digestivo e manda cerveja. Esticamos uma lona na frente da van. Ficou muito legal, uma puta sombra, isopor com cerva e maconha... ninguém queria mais nada.

Aconteceu que as nossas barracas viraram point do camping (claro... nove meninas) Todo mundo que passava lá, ficava. Chegou um negão, que tocava um blues violento, e empolgou com o Carlinhos na gaita. “Estou sentado em minha cama, tomando o meu café pra fumar... Estou sentado em minha cama, tomando o meu café pra fumar, estou na clínica Tobias, sou um canceriano sem lar... (Raulzito)

Ficamo lá... O Sr. Mindinho dormiu embaixo da van (pensei que a fumaça da maconha teria feito algum efeito sobre ele. Ficou horas lá embaixo. Coitado!).

Quando ele acordou, já tinha mais umas 10 pessoas, fora a gente, o negão tocando blues, e um caximbo enorme passando. ENORME. Ele abriu um olho enorme também. (Vai ver, pensou que era crack). Sentou e ficou só observando.

De repente, um menino aparece gritando, chamando um médico. Não tinha nenhum. Foi o Sr. Mindinho e a mulherada que fazia odontologia ver o que acontecia. Um carinha tava tendo convulsão, de muito álcool. Tava lá se debatendo e vomitando, e os amigos dele só rindo... O Sr. Mindinho virou ele de lado, colocou na sombra, deu água... depois, ainda ficou uns 15 minutos plantado do lado do garoto...

Coitado!

Voltou e agora o povo tava dando pirueta já no camping... Ele decidiu que não ia dormir. Ficou lá de canto, só olhando. Pegou o Novo Testamento. Acabou tudo, cerveja e pinga, no primeiro dia.

Uma menina doida, da barraca ao lado, chegou pra mim, na hora que eu estava fazendo macarrão pra janta, junto com o Sr. Mindinho e perguntou:

- Vocês têm molho de tomate aí???

- Tem, vou usar aqui, pode pegar um pouco. (o Sr. Mindinho falou)

A menina abriu a lata, com o abridor, e começou a comer o molho de colherada, sem parar. O Sr. Mindinho ficou atônito, e ela:

- Ai gente, obrigada. É que o macarrão que eu comi agora não tinha molho nenhum, precisava comer um pouco de molho agora. Valeu... tchau.

Ele deu a lata pra ela.

Putz, a história é muito longa... aconteceu tanta coisa.

Chegaram uns meninos de Barretos, que se fixaram na nossa barraca também. Era o Tuim, e o Risadinha (a gente que apelidou) 18 anos. O Risadinha não parava de rir um segundo, parecia que ele ia ter cãibra na bochecha e estava completamente empanado de areia, na boca, no nariz. O Tuim, tava com uma lata de cerveja na mão, que tinha de tudo misturado (nojento), batida de coco, vinho, cerveja e whisky, tudo junto, e ele bebendo (argh!) Eles tinham tomado “bicicletinha” que é tipo um Ácido (na verdade, é anfetamina) que te deixa ligadão, bebendo todas. Todo mundo que passava bebendo o Tuim pedia pra por um pouco lá na latinha dele.

O Risadinha riu todos os dias, sem parar um segundo. Dormia e acordava rindo. No último dia, ele chorou. Tava com medo de não voltar ao normal da loucura e chegar em casa naquele estado. O motorista da van deles já tinha ido embora fazia tempo.

Nosso acampamento virou “As barracas das Dorme Suja” Tudo porquê ninguém tomava banho. No máximo, uma enchaguadinha na bica d´agua. Mas é foda ficar com água do mar no corpo, terra no cabelo. Que saudades do meu banho quente com shampoo, creme, sabonete e buchinha... eu parecia uma louca no banheiro, cheia de coisinhas...eu nunca tinha acampado.

De noite, a garota que comeu o molho de tomate ficou com o Tuim, tinha todo mundo saído do acampamento e eles transaram ali mesmo, na areia, fora da barraca do acampamento. Eles só não viram que o Sr. Mindinho estava na van. E VIU TUDINHO! Esta hora eu tinha ido pegar uma seda na minha barraca e vi que ele tava vendo.

O Sr. Mindinho aguentou 2 dias. No terceiro dia, sumiu, fiquei sabendo que ele tinha ido na igrejinha da praia. E depois, almoçou sozinho, e á noite, assistiu novela. Sumiu e levou o leite. Neste dia a minha irmã também sumiu.

Eu chapei demais... tava todo mundo no cio naquela praia. Todo mundo ficando com todo mundo. E eu afim de ficar sozinha (tinha acabado de terminar com o Rodrigo) A não ser que um belo caiçara moreno, alto, musculoso aparecesse né? Ninguém é de ferro também. Fiz o seguinte fui pra praia no LUAU, peguei meio litro de pinga, um beise enorme e fui fumar sozinha, no meio da praia, distante da barulheira.

De longe, fiquei vendo o povo. A lua tava cheia, fazia até sombra. As pessoas tinham feito buracos redondos na areia e colocavam velas dentro. Ficava muito lindo de longe. Todo mundo dançando, e o som... do Planet Hemp:

Não quero saber de mais nada... só quero saber... quem tem seda? Quem tem seda?” (você já ouviu??? Se não, compra. É o último do planet hemp. “A invasão do sagaz homem fumaça”)

Eu pensei que estava viajando, quando vi no meio do mar umas bolas de fogo e me passou pela cabeça que poderiam ser OVNIS. Eram uns caras, engolidores de fogo que depois foram vindo na praia fazendo malabarismo com bastões incendiados. Muito doido! Lisérgico!

Enfim, todos sobrevivemos as 4 noites sem dormir, O Sr. Mindinho voltou no último dia. A Van estava destruida, tudo suja (tinha virado cozinha oficial do camping).

Na volta, fumamos um dentro da van, quer dizer, com o beise pra fora do vidro, no congestionamento (acredita?)

Chegando aqui em Piracicaba, ele deixou um por um nas casas, e no outro dia, veio trazer um cantil, e outras coisas que havíamos deixado na van. Entre elas, um caximbo cheiroso.

Ele falou pra minha mãe:

- Dona Beatriz, as suas duas filhas são uns amores, educadas, bondosas... mas nestes cinco dias, nesta praia, eu vi coisas que nunca vi na minha vida inteira. É o Apocalipse, dona Beatriz, é o Apocalipse!

Coitado!

Mas é verdade. A praia tinha cheiro de maconha. Juro. Tava todo mundo no cio, louco de anfetamina, álcool, tudo.

Foi doido demais.

Isso tudo foi há nove meses. Ontem a minha irmã deu à luz. Jura que foi um dos meninos de Barretos. Mas o bebê nasceu com um problema congênito: faltam dois dedidos nos pés. Os dois dedos mindinhos.

Vai ver que foi efeito do ácido!

FONTE: http://lubru.tipos.com.br/arquivo/2002/07/01/o-meu-mindinho

PS: Cabelo retardado HUIEAHUEAHEA peguei essa porra num site achei mtu piada HAEUIHEAEA chapadão HAEIUHAE

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