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Do Plantio Para Uso Próprio (E Outros Avanços): Desmitificando "Caretices"...


Bas

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Os dados são auto-explicativos: ao longo de 4.429 anos e 8 meses,não houve, até o momento, overdose alguma causada pelo uso de maconha. Chamá-la de "droga leve" é até algo desnecessário, uma vez que os maiores perigos estão na existência de um comércio ilícito, com tudo o que ele acarreta: uma droga voltada ao lucro, e o lucro regulado através da violência. Sem contar a desinformação de fumantes e não fumantes. Porém, como go$tam de um tabu, 90% dos jornais estão pouco se lixando para isso.

A notícia da proposta de alteração da Lei 11.343/06 (também conhecida como LEI DOS TÓCHICO), encabeçada por pessoas como o Deputado Paulo Teixeira (PT/SP), coloca em debate a importância do plantio de maconha para uso próprio em pequenas quantidades, e a mudança de enfoque em direção a políticas de drogas mais sérias. Se isso muito interessa às pessoas canabistas (também conhecidas como MACONHEIRAS), também deveria interessar a cidadãos e cidadãs em geral. Contudo, a idéia de que usuári@s de ilícitos não serão mais pres@s parece, para muita gente, o fim dos tempos. Muitas pessoas caretas (principalmente as que acham que drogas são todas iguais & servem ao demônio) costumam imaginar que terão de fumar passivamente dentro de elevadores, supermercados e durante as viagens da terceira classe. Vale lembrar que ser careta não tem nada a ver com estar em abstinência, mas sim em ter uma certa visão de mundo fechada - o que comprova o dito popular de que usar drogas não é remédio para a caretice.

Demonstrando como vocês, "caretas", são bem vind@s neste blog, vamos falar daquela minoria que se dá mal fumando um - e sobre como algumas alterações no projeto de Lei, como o reconhecimento dos usos de drogas como parte de nossa realidade, serviriam também à preocupação com a Saúde Pública.

Sim, existem casos de abuso com maconha, entretanto, estes não costumam engendrar em vícios perigosos - afinal, uma pessoa extremamente chapada geralmente é incapaz de enrolar outro baseado. Mas existem abusos e existem os vícios, e estes ocorrem quando o uso recorrente de maconha acaba por atrapalhar o convívio social. Para tanto, conhecemos alguns perfis: 1] crianças e adolescentes; 2] pessoas desinformadas de suas comorbidades (depressão, ansiedade & etc.) que se "auto-medicam" com a erva OU que vêem potencializadas certas propensões (esquizofrenia & etc.); e/ou 3] pessoas poliusuárias de drogas.

Discutiremos caso a caso.

1º caso] Crianças e adolescentes.

- Crianças e adolescentes acessam muito mais facilmente drogas ilícitas do que drogas lícitas.

- Crianças e adolescentes podem conversar mais abertamente sobre o que pensam de drogas lícitas antes mesmo de decidir pelo seu uso. Quando o assunto são as ilícitas, estas conversas raramente são incentivadas no âmbito intrafamiliar.

- As drogas ilícitas estão "fora-da-lei", e portanto, fora de nosso controle. Podemos regulamentar e fiscalizar a circulação de drogas lícitas, mas isso é algo impossível com drogas ilícitas como a maconha. Podemos restringir o fumo de drogas lícitas em determinados espaços públicos, mas isso não é possível com drogas ilícitas como a maconha.

- É verdade que a maconha, tendo liberado seu plantio, pode ainda estar acessível a crianças, a não ser que as isolemos da sociedade. Na verdade, muitas delas já acessam crack e inalantes, o que não é nenhuma novidade. Pergunta-se em que sentido a criminalização possibilita um "resgate" de sua infância, ou somente dificulta que ela seja acessada por assistentes sociais, conselhos tutelares e afins.

- Mesmo quando crianças e adolescentes têm "acesso fácil" a drogas Lícitas, elas podem conversar mais abertamente com amigos/as e familiares caso algum problema aconteça - afinal, não se tratará de um crime hediondo. Se ela dá um pega num baseado numa roda de amigos e conhecidos, provavelmente jamais contará nada a pessoas próximas (principalmente pessoas caretas).

- Quando esta criança ou adolescente conta sua experiência a uma pessoa careta/despreparada, geralmente o que recebe são alertas desnecessários e ameaças, pois também seus familiares podem não saber como propôr uma conversa aberta e educativa sobre drogas. Obviamente, depois disso são grandes as chances de que ela passe a mentir pra não ter que ouvir "conselhos" como isso mata ou da próxima vez você será internado.

"It's Just a Plant": um belo projeto educativo sobre canábis -

e uma ilha em meio a tantas BOBAGENS de materiais educativo para pais e mães.

2º caso] Pessoas desinformadas de suas comorbidades (depressão, ansiedade & etc.) que se "auto-medicam" com a erva OU que vêem potencializadas certas propensões (esquizofrenia & etc.)

- Fumantes de maconha que sofrem das interações da erva com outros problemas de saúde que possuam (como as já famosas propensas à esquizofrenia), são também vítimas da ideologia antidrogas, afinal o tabu e a exposição de um crime somente prejudicam o vínculo entre elas e @s agentes de saúde.

- Mesmo quando estes fumantes de maconha conversam com seus respectivos médicos/psicólogos/enfermeiros a respeito, muito provavelmente não obterão um acolhimento preparado.

- Isso ocorre porque, sob décadas de ideologia antidrogas, o currículo das especializações e graduações das ciências da saúde são precários em informações atualizadas sobre drogas, e ainda mais carentes em relação a como abordar pessoas que usam drogas. O que é ensinado nas faculdades é basicamente aquilo que é ensinado no primário: ou seja, não vai muito além do "diga não" & "nem morto".

- Além disso, as pesquisas feitas com drogas ilícitas (com análise em laboratório) são proibidas, podendo os pesquisadores inclusive serem presos por porte de ilícito.

- Neste sentido, todo especialista, do alto de seu pedestal do conhecimento, lança mão dos mais variados achismos, muitas vezes baseados em pesquisas realizadas em países e épocas longínqu@s. Alguém lembra daquele projeto absurdo de pesquisadores com chimpanzés, no qual eles (os chimpanzés) respiravam THC durante 6 horas seguidas sem passar a bola? As metodologias dos atuais "especialistas sobre drogas" da UFRGS (por exemplo) são tão vergonhosas quanto: é ler para crer.

- Em geral, devido à má formação profissional em saúde para o acolhimento humano nos serviços (facilitado pela má gestão), aumentam os casos de auto-medicação, que não abrangem somente drogas ilícitas. Mesmo assim, tomar Rivotril por conta própria é, em tese, muito mais problemático do que dar uns pegas antes de dormir (vamos abordar os usos terapêuticos em um post futuro).

3º caso] Pessoas poliusuárias de drogas.

- Quanto ao caso dos poliusuários, é bom relembrar que teoria de porta de entrada é balela. Para certas pessoas, a "escalada" é dominada pela vontade de usar drogas, sejam lá quais forem. E aí, haja terapia, não é mesmo? Muitas das pessoas poliusuárias, inclusive, começam a repensar sua relação com drogas como crack quando passam somente à maconha: ela dá fome (larica), sono (leseira), e deixa a pessoa noutro ritmo. Mas não existem receitas prontas. A única saída é o acolhimento e o diálogo.

- No caso das pessoas poliusuárias que usam crack e maconha (por exemplo) e que consideram a maconha como porta de saída, a grande diferença com relação a outras drogas é que, ao deixar de usar maconha, não se corre o risco de crises de abstinência, como é o caso do cigarro, da heroína, do crack e do álcool. Em um período curto e sem algum revés, o organismo desintoxica-se.

- Aliás, graças à interação e troca de informações entre si, grande maioria dos usuários/as de maconha conhecem estas regras, e auto-regulam facilmente seus usos quando percebem que a erva pode estar comprometendo algo no dia-a-dia (como por exemplo, suas dietas).

Atrelados a tarefas impossíveis, policiais

também morrem no "combate" às drogas.

Algo válido para todos os casos, de certa forma, é que o padrão de uso de drogas Ilícitas, pela natureza das mesmas (levando em conta sua clandestinidade e adulteração) será um padrão sempre mais propenso ao abuso e à desinformação do que o padrão de uso de drogas lícitas. Mas é claro que nem todas as pessoas caretas se preocupam com a saúde de quem usa drogas. Para muita gente, as drogas somente ameaçam a segurança pública. Eis que, segundo notícia do jornal A Tarde:

"Encomendada pelo Ministério da Justiça, uma pesquisa conduzida pelas professoras Luciana Boiteux, especialista em direito penal da Universidade Federal do Rio (UFRJ), e Ela Wiecko, da Universidade de Brasília (UnB), foi apresentada no início deste mês. O levantamento mostrou que a maioria dos presos por tráfico (70%) é composta de réus primários [...]. Metade foi condenada por posse de maconha e 84% não tinha arma de fogo. Setenta mil pessoas estão nas cadeias brasileiras, hoje, por crime de tráfico de drogas."

A realidade nos demais estados brasileiros (e em outros países) não é diferente.

Fonte: Principio Ativo

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