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'De Drogas Ilícitas E Drogas Cerebrais'


CanhamoMAN

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  • Usuário Growroom

'De drogas ilícitas e drogas cerebrais'

Publicada em 26/10/2009 às 13h39m

Fonte O Globo

Artigo da leitora Noga Sklar

Acabo de ler no GLOBO, com alguns dias de atraso, a tristíssima história do pai do rapaz viciado que, num surto de crack, ou de álcool, ou de sei lá o quê, estrangulou a namorada que amava. É gente, que estranha forma de amar, não é mesmo? E, no entanto, não me é estranha.

Não li, é claro, os 354 comentários publicados, mas deu para apreender o tom geral: procurar os culpados, culpar ou não de tantos graves desatinos o próprio drogado, ou a polícia, ou o Estado, ou ainda o traficante procurado que, a bem da verdade (e talvez sem saber), ao cometer seu crime, não negocia apenas drogas "recreativas", mas mortes e vidas e demais tormentos de quem muitas vezes nada tem a ver com isso.

Não pretendo aqui fazer apologia - todo mundo sabe que até certo ponto sou pela liberação total, vocês me entendem, que se mate quem quiser se matar (uai, até certo ponto ou total?). Confusa, não sei: mente de viciado não tem lei, e é aí que mora o verdadeiro risco de se contar com a total liberdade pessoal -, nem culpar esse ou aquele nem muito menos propor qualquer mudança judicial, mas ampliar essa arena fatal para incluir um aspecto bem menos debatido desse imenso problema que temos em mãos e que, como um câncer moral, não para de crescer e de se intrincar.

Pretendo, isso sim, aliar às ilegais o enorme e mal divulgado perigo mortal daquelas primas ricas, as que só vestem grifes bem conhecidas, sabem como é, disfarçando de "fino estilo" o pérfido vício intrínseco que lhes come por dentro: as drogas legais, livremente fabricadas e vendidas pelo sistema médico banal, negociadas com lucro na bolsa risível dos novos valores sociais.

Exagero? Creio que não. O mais do que comum abuso de dosagem desses terríveis remédios cerebrais causa mais danos às famílias e aos casais do que sonha vossa vã ilusão de eficiência da medicina. Eu disse remédio? Remendo: arremedo emocional. Dá medo a causa vendida de nossa moderna psiquiatria. Eu sei, tenho passado por isso, melhor, tenho sofrido: se até ontem eu apenas desconfiava dos sérios motivos por trás das crises violentas que enfrento em casa, hoje tenho certeza que vão e vêm, como maré de pensamento, ao sabor do consumo rotineiro - e completamente legal, repito, não só recomendado, como largamente estimulado por médicos graduados -, de prosaicas pílulas para dormir.

E agora que a coisa (por esta vez) passou, eu talvez devesse me calar, aproveitar o tranquilo, doce e amoroso - e, por que não dizer, sexualmente caloroso - intervalo entre as jamais discutidas visitas ao doutor e o inevitável próximo round medicado. Mas não consigo.

Porque a minha mente, meus amigos, sendo careta e razoavelmente estável (apesar de sujeita às intensas flutuações de artista), desconhece o ritmo químico deste insano vai-e-vem de mal compreendida interferência psíquica - disponível desde sempre nos melhores e mais lucrativos laboratórios do ramo -, e vive eternamente a insegurança maldita que tal receita de vida nos prescreve nessa vil rotina médica de hoje em dia, onde para cada mal moral que nos aflige há uma droga infalível que nos (des)governa. O que fazer, me digam: conformar-se ou fugir?

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