Ir para conteúdo

Re-Nascimento


Medicinal_User

Recommended Posts

  • Usuário Growroom

Ele explodiu em Tropa de Elite, em 2007. agora Capitão Nascimento virou Coronel, está grisalho e não sabe mais se adianta matar bandido. E Wagner Moura ganhou fama, admiração dos homens, desejo das mulheres e uma convicção sobre as drogas: "Sou a favor da legalização. É mais fácil combater o tráfico do que o usuário". Trip se infiltra no set do filme mais esperado do ano e revela o baiano tranquilo que encarna o policial truculento de novo, em Tropa de Elite 2, que estreia no segundo semestre

De terno, Wagner Moura cruza a delegacia a passos fortes e some do meu campo de visão. Sentada na escada, com maquiadores, assistentes e policiais de verdade, escuto gritos na sala ao lado. Nascimento está de volta, reconheço a voz. Mas agora responde por Coronel e tem o cabelo grisalho, já que anos se passaram desde a trama do primeiro filme. Prometido para o segundo semestre de 2010, Tropa de elite 2 vai além do confronto direto entre Bope e bandidos para falar de milícias, desconstruir a truculência de Nascimento e fazê-lo chorar no filme mais aguardado do ano – em 2007, Tropa de elite foi a única produção brasileira na lista dos dez filmes mais vistos no país, apesar de ter virado DVD pirata antes de chegar ao cinema.

Não pergunte o que aconteceu naquele set, onde estavam também o diretor do filme, José Padilha, e a atriz Maria Ribeiro, colunista da revista Tpm e responsável por me levar aos bastidores, proibidos aos jornalistas. Sei que o conflito tinha a ver com drogas e era protagonizados por um Nascimento em crise. No novo filme, ele questiona o método de combate ao crime que praticava convicto na juventude. "O cara vai amadurecendo e começa a pensar se a vida que leva tem sentido. Acontece com todo policial do Bope", garante Wagner, que, aos 33 anos, não abre mão de seus 20 minutos diários de meditação, mesmo quando tem só uma folga por semana. Pessoalmente, acredita que os traficantes cariocas estão mudando de perfil, como reflexo da política de confronto do governo estadual e das milícias. Para Wagner, esses grupos – formados por policiais, ex-policiais, bombeiros, agentes penitenciários e militares, que expulsam o tráfico das favelas e controlam suas comunidades – são o inimigo número um da sociedade carioca hoje.

No dia seguinte à cena do conflito, Padilha não apenas me autoriza a acompanhar as gravações, como me convida para fazer figuração. Topo, para chegar mais perto do meu personagem.

E foi assim que vi Wagner pedir um café e virar o rosto para tossir, incorporando o policial. "A [preparadora de elenco] Fátima Toledo me contou que quando ele dá essa tossida é que entrou radical no personagem", entrega o diretor.

Não sou Nascimento

Apesar da confusão que a imprensa fez entre as ideias de Wagner e as do fictício Nascimento, na época de Tropa 1, os dois têm diferenças evidentes: o ator defende a legalização das drogas como uma maneira de "acabar com o tráfico sem tanto tiro". "Se for liberado, vai deixar de ser um problema de segurança pública e passar a ser, de fato, um problema de saúde pública", argumenta, contrapondo a crença de seu personagem de que "bandido bom é bandido morto". Outra diferença é que Wagner desliga do trabalho quando está de folga e garante que nunca tomou remédio para dormir, ao contrário do personagem no primeiro filme. Wagner pensa antes de falar, mesmo num papo informal, tem um ritmo baiano que em nada combina com a pressão sob a qual vive o policial. No dia que deixou de buscar o filho, Bem, de 4 anos, na escola para não se atrasar nas filmagens, chegou antes que o resto da equipe no set e teve que esperar. "Tô puto, chateado", murmurava, horas mais tarde, enquanto aguardava para trocar de roupa no camarim.

"O policial vai ficando mais velho e entra em crise. Não tem mais certeza se arriscar a vida tem resultado"

Depois da cena do conflito, a equipe do filme dá uma pausa para o jantar. Wagner, o montador Daniel Rezende e mais três pessoas da equipe decidem ir a um restaurante ali pertinho. Vou junto. Andar com Wagner Moura no baixo Gávea, sentar ao lado dele na mesa, sexta-feira à noite, enquanto ele pede um chope, é virar coadjuvante ao vivo. Garotas levantam de seus lugares e vêm, munidas de máquina fotográfica, dizer para o próprio o quanto é "fofo" e "lindo". Ele sorri sem esticar o assunto.

Quando o papo é sobre trabalho, ideias, drogas, política, Wagner não precisa de perguntas para inspirar reflexões. Mas, quando os questionamentos migram para família, experiências pessoais, assédio feminino... as frases custam a ser concluídas – e podem ser lidas especialmente em outra entrevista exclusiva, publicada na nossa revista irmã, a Tpm, deste mês. Pela primeira vez, uma pessoa ocupa o espaço nobre das duas revistas da casa.

Nascido em Salvador, Wagner Moura chama a atenção da crítica no teatro e no cinema desde o começo dos anos 2000. Mas conquistou de vez o público e os gritos histéricos das fãs com Tropa de elite, em 2007 – ao mesmo tempo em que interpretava o sedutor vilão Olavo, na novela global Paraíso tropical. Em 14 anos de carreira, já fez 18 filmes, 7 peças, 2 novelas e ganhou mais de 20 prêmios – ele se orgulha especialmente dos de melhor ator concedidos a Hamlet, em 2008, que também produziu, sob direção de Aderbal Freire Filho (Prêmio Qualidade Brasil e 2º Prêmio Contigo! de Teatro). Wagner começou a fazer teatro na escola, formou-se em jornalismo, mas mudou para o Rio de Janeiro, em 2000, para viver de arte. Na época, fazia a peça A máquina, dirigida por João Falcão.

Além de Tropa 2, Wagner está no filme VIPs, de Toniko Melo, previsto para estrear no segundo semestre deste ano, quando ele começa a rodar Homem do futuro, longa de Claudio Torres. Mas nenhum trabalho o empolga mais do que o lançamento, em 9 de abril, Dia das Mães, do CD de estreia de sua bandaThe Very Best of Greatest Hits of Sua Mãe –, criada em 1992.

A seguir você conhece Wagner Moura, o homem que não gosta de grito nem de porrada – desde que não mexam com sua família.

Depois da polêmica em torno do primeiro Tropa de elite, você ficou receoso de aceitar fazer o segundo?

Receoso não. Só nunca tinha pensado nisso. Mas, quando vem um convite do Zé Padilha, levo a sério. Porque ele não pensaria: "Ah, o Tropa de elite fez sucesso, vamos fazer outro, ganhar uma grana". Quando ele falou, eu perguntei: "Que história vamos contar?". Ele falou: "Vamos falar de milícia". Antes já tinham pensado de fazermos um seriado sobre o Tropa. Era uma coisa do Zé com a Globo ou alguma outra emissora de TV, tipo vender uma franchising. E a isso eu me recusei.

Na época do lançamento do filme, você disse que não concordava com o capitão Nascimento. No Tropa 2, vocês pensam de forma mais parecida?

Quando estou trabalhando, pouco me importo com essa questão. Minha preocupação é defender o personagem do ponto de vista humano. Quem é essa pessoa? Já ouvi um jornalista dizer: "Mas você humanizou esse homem". Eu disse: "Esse é meu trabalho". Os policiais do Bope são pessoas dignas. Apesar de cometerem barbaridades, têm filhos, amam, choram. Essa é a parte que me interessa. Não posso entrar no set pensando em ideologia. Até hoje acho inacreditável que um crítico confunda o que pensa o personagem com o que pensa o realizador de um filme. Mas estamos prontos para a segunda parte.

O que o Nascimento mudou nesse novo filme?

Ele está mais velho... No primeiro filme, tinha pouca consciência do trabalho dele. O policial do Bope, quando vai ficando mais velho, entra em crise, porque vai entendendo o que faz. Não tem mais certeza se arriscar a vida em confronto com o bandido tem resultado. Esse tipo de questionamento é pirante para uma classe trabalhadora tão estressada como a policial. Nesse filme o Nascimento começa a ganhar consciência do papel dele no jogo. O policial que está no morro combatendo o tráfico é a ponta de uma cadeia que vai parar em Brasília, nos gestores da política pública.

Existia uma admiração do público pelo capitão Nascimento como um policial que não se corrompe, mas é implacável com os bandidos.

O capitão Nascimento foi visto dessa forma no Brasil por conta da nossa fragilidade com relação à segurança pública. Quando a gente vê o cara de preto, fodão, que não se corrompe e pá, mata e bate, fala: "Tá aí a solução". Porque, em um momento de pânico, de angústia e de desespero, a força se impõe. Essa identificação com a figura do capitão Nascimento vem de uma situação de caos em que a gente se encontra, que é a própria identificação que o morador de favela tem com o traficante. Ele recorre a esse líder quando não tem Estado. "Quer comprar um remédio? Fala com o chefe do tráfico." É a figura de poder.

No Tropa 1 teve aquela polêmica de o usuário de drogas estar alimentando o tráfico. O que pensa sobre isso?

É um fato, o usuário alimenta o tráfico. Mas é melhor acabar com o tráfico do que com o usuário. Acabar com o usuário não vai acontecer nunca. O que vai fazer? Responsabilizar o usuário? Acho covarde campanhas que falam: "Você alimenta o tráfico". Já existe tanto problema na vida. O cara pensa: "Eu pago minhas contas, sou uma pessoa legal", quer chegar em casa e fumar um baseado... "Se você fumar um baseado está matando as crianças de todo o mundo!"

E como se combate o tráfico?

Sou a favor da legalização das drogas, de que se discuta esse assunto sem tanta caretice, moralismo. Falta as pessoas se posicionarem com coragem. Tenho gostado de ver pessoas se posicionando a esse respeito. Gilberto Gil falou disso, Chico Buarque, o [governador do Rio de Janeiro] Sergio Cabral chegou a falar...

Fernando Henrique...

Claro, Fernando Henrique Cardoso! Ex-presidente [pausa]. Uma vez fui numa reunião com um político por quem eu tinha admiração e que estava se candidatando a senador, e ele disse: "Sou a favor da legalização, é um ponto fundamental para diminuir a violência. Se legalizar, vai quebrar o tráfico de drogas. Mas não vou colocar isso na minha plataforma de campanha porque quero me eleger". Na hora, pensei: "Não vou votar em você".

O que mudaria se legalizassem as drogas no Brasil?

As drogas vão deixar de ser um problema de segurança pública e vão passar a ser, de fato, um problema de saúde pública. A legalização das drogas está ligada ao conceito de bem-estar social promovido pelo governo, porque é uma forma de você quebrar o tráfico sem tanto tiro. O consumo de drogas é um fato no mundo inteiro. Mas é claro que a legalização é uma experiência que tem que ser cercada de cuidado, de estudos. E há especialistas no Brasil gabaritados para desenvolver isso. Acho que o governador Sergio Cabral deu uma amostra de progressismo implantando a meditação transcendental nas escolas [desde 2008, já são dez escolas estaduais cariocas praticando a meditação, por uma iniciativa da secretária de Educação Tereza Porto, em parceria com a fundação do cineasta norte-americano David Lynch]. O Brasil pode dar uma amostra de progressismo pro mundo.

Você vê uma perspectiva de legalização das drogas a médio prazo?

Vejo. O mundo caminha para um esclarecimento. A própria mudança drástica que houve na presidência dos Estados Unidos, parece que você acordou de um pesadelo, em que o cara que mandava no mundo era um caubói assassino do Texas e hoje é um cara maneiro, inteligente. As coisas tendem a ficar mais claras, sou otimista quanto ao futuro do mundo e do Brasil. Com todas as questões, acho que o governo Lula é o melhor que já tivemos. O grande desafio de um governante no Brasil é diminuir a desigualdade entre quem tem muito e quem tem pouco. E nenhum governo fez tanto quanto esse nesse sentido. Mas é um governo viciado em métodos antiquados, dos conchavos, das alianças, do toma lá dá cá. Quando a gente pensa na figura da Marina [Silva, pré-candidata à presidência pelo PV], me dá a sensação do político do futuro. Mas é engraçado falar que subsistência, respeito à natureza, desenvolvimento sustentável, transparência são uma coisa do futuro, né?

O que pensa sobre as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), que parecem ter ao menos diminuído o tráfico no Rio?

É polêmico. Entendo que a polícia esteja bem armada porque os traficantes estão derrubando helicóptero. Mas acho condenável essa política de confronto. "Vamos meter fogo nos traficantes, matar geral." Isso já aconteceu em outros governos, só que eles não dominavam as favelas. Matavam os traficantes, iam embora e outros traficantes voltavam. A UPP é positiva se vista como um começo, e não um fim. O que falta nas comunidades carentes é a presença do Estado. É importante a população se sentir protegida pela polícia, mas depois tem que botar hospital, creche, praças, escolas. Você dá uma oportunidade pra criança da favela ter um exemplo diferente do exemplo do traficante ou da milícia. Se o governo não fizer isso, a UPP pode se tornar outra coisa perigosa. O que vai ser da relação desses policiais com essa comunidade que continua carente com o passar do tempo? Eles vão deixar de ser dominados pelo tráfico pra serem dominados pela polícia?

Como enxerga as milícias cariocas?

Sinto que a milícia hoje é o crime organizado inimigo número um da sociedade carioca. Ela elege deputados, vereadores, tem um curral eleitoral, pessoas que são obrigadas a votar em quem ela quer. O tráfico está enfraquecido. As UPPs nas comunidades e o governo reforçando a política de confronto fazem com que os traficantes migrem pra outras atividades ilícitas ou migrem de região. O cara sai do [morro] Dona Marta e vai roubar na Tijuca [bairro classe média tradicional do Rio]. Ou o cara deixa de traficar e vai fazer sequestro. Acho que o perfil do traficante no Rio vai mudar daqui a uns cinco, dez anos.

Como seria o novo tráfico?

Ele vai estar mais ligado a esses garotos da Barra [da Tijuca, bairro nobre do Rio de Janeiro], que traficam no condomínio. Vai ser uma alternativa mais segura pro garotão que quer comprar uma peteca, em vez de subir o morro. Mas essa é só a visão de um ator [risos].

Esse assunto já te interessava antes do filme?

Sim, tenho muito interesse pelas causas sociais. Acho que neste mundo contemporâneo, do "pós-tudo", não existem mais os rótulos de conservador, progressista, de esquerda, de direita. Existe uma mistura, ainda mais no Brasil, que tem não sei quantos milhões de partidos... Mas hoje tem um comprometimento ético. Pessoas que dizem: "Por que tanto roubo? Tanta máscara?". Num movimento à parte da política tradicional estão acontecendo outras iniciativas.

Que tipo de iniciativas?

Por exemplo, o ex-capitão do Bope Paulo Storani, que é secretário de Segurança Pública em São Gonçalo, baixada fluminense, trabalha diretamente com a Secretaria de Assistência Social. Quando o foco de violência é forte numa área, ele entra com a polícia e assistentes sociais. Eu vejo com bons olhos as ONGs. É uma forma moderna de fazer política. São pessoas que se juntam e falam: "Estão matando aqueles esquilos ali. Pô, sacanagem, vamos nos juntar e defender os esquilos".

Você conhece pessoas que usam droga e levam uma vida normal?

É evidente que o uso diário de uma substância altera a pessoa. Você está colocando uma droga dentro do corpo, em um determinado momento vai alterar a saúde, o jeito de pensar. Mas conheço pessoas que convivem com isso normalmente, que fumam maconha há muito tempo e estão trabalhando, felizes. Tem também as pessoas que têm problema químico com a história, e aí vira uma tragédia.

Conhece pessoas que pensaram em parar de fumar um baseado depois de assistir ao Tropa de elite?

Tenho amigos que começaram a plantar.

Você já usou drogas?

Eu tive experiência com drogas, sim, mas prefiro falar o que penso a respeito da legalização e do tráfico. Não quero que ninguém se influencie pela minha experiência. Posso dizer que tive uma juventude agitada. Depois que fiquei adulto, acabou tudo. Eu não me vejo como aquele velhinho junkie. Ao contrário, tenho caminhado cada vez mais para uma trilha de saúde, mas até isso eu não queria que fosse exemplo pra ninguém.

-----------------------------------------------------------------------------------------

Galera, a entrevista continua em http://revistatrip.u.../paginas-negras, parei de copiar aqui pq o assunto já vai prum lado pessoal do ator..

Comprei a trip ontem pra ler enquanto fazia companhia pra minha mãe no hospital (hérnia de disco) e me deparei com essa puta entrevista... mto boa mesmo! na verdade a edição toda é sobre drogas, cada matéria mais foda que a outra...

espero que curtam

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

Join the conversation

You can post now and register later. If you have an account, sign in now to post with your account.

Visitante
Responder

×   Pasted as rich text.   Paste as plain text instead

  Only 75 emoji are allowed.

×   Your link has been automatically embedded.   Display as a link instead

×   Your previous content has been restored.   Clear editor

×   You cannot paste images directly. Upload or insert images from URL.

Processando...
×
×
  • Criar Novo...