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Uma Ética Equivocada - José Padilha O Globo


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Uma ética equivocada

José Padilha, O Globo, 01/10/10

Em “Tropa de elite”, Nascimento disse o que pensava dos usuários de drogas do Rio para um adolescente que agrediu em uma favela. Incomodadas com a “opinião” do capitão, algumas pessoas escreveram artigos para refutar a “minha opinião” sobre o assunto. Confundiram o personagem de um filme com o seu diretor. Como nunca escrevi o que penso sobre o usuário de drogas carioca, vou fazê-lo agora.

Como avaliar eticamente um usuário de drogas? A partir da lógica inerente às avaliações éticas: analisando as consequências de suas ações (quando conscientes), em uma situação específica (a do consumo de drogas no Rio), segundo um conjunto de valores.

Pois bem: como a maioria dos usuários cariocas obtém as drogas que consome? Comprando-as de traficantes armados, que utilizam seu dinheiro para obter munição, corromper a polícia e dominar comunidades carentes. O financiamento das atividades desses traficantes é, portanto, uma das consequências do consumo de drogas desses usuários, sobre os quais vou centrar a minha análise.

É claro que a avaliação ética de um usuário de drogas tem que levar em conta os efeitos químicos da droga que ele consome quando estes efeitos afetam a sociedade. Por exemplo: se um adolescente dá entrada em hospital público com overdose de crack, a sociedade tem que arcar com os custos do seu vício. Todavia, vou ignorar este aspecto da situação, e considerar que o único efeito relevante do consumo de drogas no Rio é o financiamento do tráfico local. Neste aspecto, o usuário carioca difere dos usuários de Toronto, por exemplo, onde a arrecadação do tráfico tem outro destino. São situações diferentes, que implicam avaliações éticas diferentes.

Pois bem, o usuário carioca sabe que seus fornecedores são violentos? Certamente. A violência do tráfico no Rio é amplamente divulgada em filmes, livros, teses, jornais e revistas. Quem compra drogas dos traficantes violentos do Rio, mesmo que indiretamente, o faz de maneira consciente.

E quanto ao conjunto de valores? O certo seria listar o meu, uma vez que a avaliação é minha. Mas isso é desnecessário. Excluindo quem considera bacana sustentar traficantes armados, estimular a corrupção policial e financiar bandidos armados, os demais leitores concluirão comigo: quem compra drogas de traficantes violentos faz uma escolha eticamente errada.

Isto é trivial. Todavia, há gente que discorda. O argumento preferido dessas pessoas é o seguinte: não é o usuário carioca quem torna os traficantes locais violentos, e por isso esse usuário não é responsável pelo uso que os traficantes fazem do seu dinheiro. A responsabilidade seria do Congresso, que torna os traficantes violentos criminalizando as drogas.

De fato, a violência dos traficantes do Rio é um fenômeno complexo, que não é causado nem pelos usuários e nem pela ilegalidade das drogas no Brasil. Se a ilegalidade das drogas fosse suficiente para gerar traficantes violentos, Londres e Toronto estariam crivadas de balas. Mas este “detalhe” não é o maior defeito do argumento em questão. Seu maior defeito é ser irrelevante. Afinal, as causas da violência do tráfico no Rio e a ilegalidade das drogas no Brasil são parte da situação na qual o usuário em questão decide se vai ou não comprar drogas, e não há nada nesta situação que o impeça de decidir de um jeito ou de outro.

Um segundo argumento, mais absurdo ainda, postula que a situação do Rio é tal que, na ausência do consumo de drogas, os traficantes “desceriam” do morro, tornando a cidade mais violenta. Quem acredita nisso acha que o usuário carioca cumpre uma função social: a de garantir que os traficantes permaneçam nas favelas. É um argumento descabido. Primeiro, porque o risco dos crimes no asfalto é percebido pelos traficantes como sendo maior do que o risco dos crimes na favela. Segundo, porque o tráfico de drogas tem uma cultura própria, que coopta jovens, e o sequestro e o roubo armado, não. Finalmente, o argumento é condenável porque sugere que a vida dos pobres tem menos valor do que a dos ricos.

Ao contrário do capitão Nascimento, eu não responsabilizo o usuário carioca pela violência dos traficantes da sua cidade. Mas dado que são violentos, acho que quem consome drogas vendidas por eles faz uma escolha eticamente equivocada.

JOSÉ PADILHA é cineasta.

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  • Usuário Growroom
Ao contrário do capitão Nascimento, eu não responsabilizo o usuário carioca pela violência dos traficantes da sua cidade. Mas dado que são violentos, acho que quem consome drogas vendidas por eles faz uma escolha eticamente equivocada.

Ou seja, não compre, plante!

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Ao contrário do capitão Nascimento, eu não responsabilizo o usuário carioca pela violência dos traficantes da sua cidade. Mas dado que são violentos, acho que quem consome drogas vendidas por eles faz uma escolha eticamente equivocada.

Mas dado que existem por conta do estado, que garante o monopólio da distribuição de Maconha / Cocaina (e seus derivados) nas mãos dos mesmos...

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Antes achava legal ter amigo traficante, pois podia comprar maconha mais barata e melhor, isso demonstra como nossos valores se alteram pela necessidade. so que o mesmo cara que me vendia maconha, vendia pó, vendia crack, vendia armas...e necessariamente eu aceitava pacificamente isso. compactuava com o crime "doando" mensalmente 100 a 200 reais que cedo ou tarde iriam financiar o crime.

Na verdade a gente engana a nos mesmos achando que comprando maconha de um amigo playboy que mora em lugar bacana não esta financiando o trafico, sempre vai existir exploração na ilegalidade e existirão familias devastadas e pessoas presas ou mortas para que voce fume seu baseado, um baseado manchado com a energia do crime, energia de sangue.

Essa atitude é imensamente egoista e hipocrita, diria mais é covarde, quem compra maconha na rua financia sim o crime e ajuda a gerar esse estado repressivo, ajuda a gerar o medo e a morte.

Mais de ano e meio livre do trafico! Obrigado GR! Não fumo mais do prensado por escolha, depois que conheci a verdadeira cannabis me libertei verdadeiramente, antes era apenas mais um escravo do trafico...

Com certeza tenho mais medo de uma pessoa armada do que contar a verdade para meus pais, com certeza prefiro arcar com as consequencias do meu ato de plantar (e possivelemente até ser preso como traficante para depois ser solto como usuario) do que fazer toda sociedade pagar o preço da minha acomodação.

Ta com medinho de plantar? pede pra sair!!!

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  • Usuário Growroom

mais em cima do muro, impossivel... nao falou nada com nada....

Escreveu um monte de coisa e nao conseguiu deixar a opiniao dele, pior q eu escrevendo... e olha q eu sou da area de exatas hein...

Um abraco!

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