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A Ilusão Da Operação Militar No Rio


cuba_libre

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  • Usuário Growroom

Na Folha de SP de Hoje

(destaque para os dois ultimos paragrafos)

GILBERTO DIMENSTEIN

A ilusão da operação militar no Rio

O que vai acontecer agora não é o fim do tráfico, mas sua gradual sofisticação, menos primitivo e violento

A operação lançada no Rio contra os traficantes é, até aqui, um êxito militar, mas uma incógnita -para dizer o mínimo- no que diz respeito à redução do consumo de drogas.

Os cidadãos podem até se sentir mais seguros com a tomada dos morros, como se tivéssemos desalojado de um território nacional tropas selvagens estrangeiras. Soldados são aclamados como heróis, ganham perfis no Facebook. Há uma grande chance de a operação ser um marco histórico no controle dos indicadores de violência. Só isso já justificaria plenamente a ação, mas a dúvida hoje, vendo a facilidade com que os marginais foram desmobilizados, é o motivo por que a ofensiva não foi realizada antes, o que só é explicável por uma dose de conivência com o tráfico.

O que vai acontecer agora não é o fim do tráfico, mas sua gradual sofisticação, sem tanto primitivismo e violência. A ocupação territorial, por mais complexa que pareça, é uma tarefa razoavelmente simples em comparação com o desafio da dependência química.

O que está fora disso são ilusões e pirotecnias.

Dezenas de milhares de policiais podem prender todos os dias traficantes, mas não vão extinguir a lei da oferta e da procura. Quanto maior a repressão, maior o valor dos produtos e, portanto, a atratividade do mercado e, é claro, maior a propina.

O melhor e mais difícil jeito de reduzir o dano é atacar o consumo para que as pessoas, mesmo que eventualmente usem drogas, não abusem. A semana que passou mostrou o efeito positivo de décadas de campanha de consciência sobre saúde.

O Dia Mundial de Combate à Aids apresentou dados indicando que, no mundo, a epidemia parou de se alastrar. No Estado de São Paulo, o número de mortes por causa do HIV é o menor em 20 anos. Isso ocorre por causa dos novos medicamentos, dos testes de detecção precoce e das insistentes campanhas por sexo seguro. A camisinha, enfim, entrou na cesta básica. O movimento foi tão bem articulado que obrigou o Vaticano a rever sua posição sobre os preservativos.

Dados do Censo 2010, divulgados na quarta-feira, revelam que a mortalidade infantil diminuiu rapidamente, embora a média ainda esteja alta mesmo para padrões da América Latina. A queda se deve, entre outros fatores, como saneamento básico, ao esforço pelo aleitamento materno e à divulgação de noções básicas de higiene. A expectativa de vida do brasileiro subiu para 73 anos.

Muitas das campanhas que ajudaram a aumentar a expectativa de vida foram arquitetadas por publicitários, permitindo a governantes e legisladores tirar as ideias do papel. É o que se vê no aumento das ações preventivas ao câncer de mama e até na redução do número de fumantes. As pessoas agora prestam mais atenção ao que comem e ao próprio peso e se incomodam com o sedentarismo.

Não há ainda no Brasil campanhas contra a dependência química com a inteligência e o charme utilizados para prevenir o câncer de mama ou o HIV. Ou então as campanhas pela defesa do ambiente: na semana passada, o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) divulgou que a Amazônia teve, neste ano, o menor desmatamento de sua história. Algumas das melhores cabeças publicitárias do mundo se envolveram na questão ecológica.

Bobagem tentar fazer campanhas moralistas, sombrias, quase terroristas, contra o vício. Outro erro é tentar colocar num mesmo saco todas as drogas. Qualquer droga é perigosa -aliás, excesso de açúcar e excesso de sal também matam. Maconha, porém, não é igual a cocaína, a crack ou a heroína.

O que de fato funciona contra o abuso do álcool e das drogas, como mostram inúmeras pesquisas, é aliar informação a estímulo aos jovens para montarem seus projetos de vida, ganhando autonomia. Os projetos educativos que funcionam ensinam, em essência, que a liberdade é um maravilhoso vício.

PS- A longo prazo, a única solução sustentável é legalizar as drogas, fiscalizar a sua fabricação para reduzir seus efeitos deletérios e gastar com prevenção e tratamento as verbas arrecadadas com as vendas. Qualquer medida hoje, agora, seria uma insanidade e, de resto, não encontraria respaldo na opinião pública. É algo para ser realizado aos poucos, em meio a um entendimento entre vários países. Especialistas lembram que as medidas liberalizantes poderiam inicialmente contemplar a maconha, que, segundo todos os estudos científicos, é menos perigosa do que o álcool e o cigarro.

gdimen@uol.com.br

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  • Usuário Growroom

Concordo com Gilberto Dimenstein, e quem viu foram apreendidos mais de 50 toneladas da ervinha, muito mais do que qualquer outra droga, sinal que é dai que vem a maior parte do dinheiro que gera essa violência. Realmente uma ironia para um droga que foi tratada por muitas culturas por trazer a paz( ver musica do gabriel pensador)e eu como usuário me sinto envergonhado em usar meu dinheiro nessa guerra ao invés de ser utilizados para fins benéficos ao país, como clinica para tratamentos de dependentes ou conscientização em escolas. A grande questão é: quem é o culpado? Nós usuários que utilizamos a droga como fonte de recreação ou o estado que não toma providencias e não tem maturidade para tratar o assunto abertamente?

Fica ai a pergunta.

muito amor de Jah para todos, GANJALOVE

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  • Usuário Growroom

Claro que essa operação deu um prejuízo a muitos traficantes (e policiais!), mas eles recuperam tudo inflacionando o produto, o que pra eles é mais vantajoso a médio e longo prazo, já que podem trabalhar com quantidades menores para ter o mesmo rendimento.

Tava mais do que na hora dessa operação ser realizada, mas é algo que isoladamente só muda alguma coisa a curtíssimo prazo.

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  • Usuário Growroom

Ótimo texto!

Claro que essa operação deu um prejuízo a muitos traficantes (e policiais!), mas eles recuperam tudo inflacionando o produto, o que pra eles é mais vantajoso a médio e longo prazo, já que podem trabalhar com quantidades menores para ter o mesmo rendimento.

Tava mais do que na hora dessa operação ser realizada, mas é algo que isoladamente só muda alguma coisa a curtíssimo prazo.

Poder eles podem, mas não é o que acontece. Pois a demanda se mantém a mesma.

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  • Usuário Growroom

como a moderação não liberou o tópico ainda, e a ansiedade é muito grande, vou postar por aqui mesmo, até pq tá cabendo no assunto Folha/Drogras.

vejam só a principal charge na edição de ontem, no carderno Opinião.

no meu entendimento, a Folha e seu Conselho Editorial, do qual o Dimenstein faz parte, estão se posicionando a favor da legalização da maconha.

fiquei muito feliz quando vi essa chage

gallery_39208_2630_158153.jpg

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