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A Maconha E A Ciencia


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  • Usuário Growroom

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Tudo começou com um grande erro.

Em 1855, a Sociedade Farmacêutica de Paris ofereceu um prêmio para o primeiro cientista capaz de isolar o princípio ativo da Cannabis sativa. O contemplado foi J. Personee (J. Pharm. Chim. 1855, 28, 461–463), um químico francês. Nem um mês se passou para que a comunidade científica da época constatasse o equívoco: o óleo extraído por Personee não era ativo! Não continha nenhum componente com atividade fisiológica - ao contrário da cannabis. Foi Vignolo, um químico italiano, que descobriu o erro: o óleo de Personee era rico em sesquiterpenos, substâncias abundantes na cannabis, mas sem atividade biológica. Durante várias décadas, a busca pelo princípio ativo da cannabis continuou, em todo o mundo. Enquanto que a morfina, a cocaína, a strychnina, a cafeína e outros alcalóides eram isolados e caracterizados, nenhuma novidade aconteceu com a cannabis. Isto porque, ao contrário dos alcalóides - que são facilmente isolados na forma de sais - os terpenóides (tal como o THC) requerem técnicas químicas mais apuradas, inexistentes até 80 anos atrás. O primeiro químico a obter um extrato ativo da cannabis foi Wood, em 1896, na Cambridge University (J. Chem. Soc. 1899, 75, 20-36). Segundo palavras do próprio autor: "The red oil, is extremely active, and taken in doses of 0.05 g induces decided intoxication followed by sleep. The symptoms produced by it are peculiar to Cannabis indica, and as none of the other products appear to possess this action, this substance must be regarded as the active constituent of the plant."

A história do THC na química é ainda mais bizarra: tivemos conhecimento da versão sintética antes de isolarmos a versão natural! Em 1930, Cahn isolou o cannabinol - extraído a partir do óleo de Wood. Na época, acreditava-se que o cannabinol fosse o principal ingrediente ativo da cannabis. O químico americano Adams e o britânico Todd, na década de 1940, desenvolveram várias rotas sintéticas para análogos do cannabinol. Para sua surpresa, uma das rotas levou a um composto com intensa atividade biológica, muito maior do que o cannabinol. Era o d-9-THC (J. Amer. Chem. Soc. 1949, 71, 1624-1628). Dentre os vários derivados preparados, o d-9-THC era o mais ativo. Os químicos da época, então, desconfiaram que a cannabis deveria ter, também, este terpenóide. Entretanto, foi somente em 1964 que a primeira isolação do d-9-THC na forma pura ocorreu. Os químicos Gaoni and Mechoulam obtiveram, de uma extração com hexano de uma amostra de hashish, vários cannabinóides, entre ele o d-9-THC, na forma cristalina.

Maior até do que dos usuários, o interesse dos cientistas pela marijuana está sempre se renovando: todos ficam fascinados pelo poder que as substâncias contidas nesta planta exercem sobre o homem. Entretanto, foi somente em 1988 que a pesquisa sobre a maconha deu um grande salto: Howlett et al. (Mol. Pharmacol. 33, 297-302) descobriram a existência de neurorecpetores para os compostos cannabinóides: isto é, determinados grupos de proteínas existentes em alguns neurônios cujo objetivo era unicamente o de se ligar a compostos com estrutura química semelhante a dos cannabinóides. Howlett chamou estes receptores de CB1; em 1993, outro grupo de receptores para cannabinóides foi descoberto, desta vez por Munro et at. (Nature 1993;365:61). Munro chamou este novo grupo de receptores como CB2. cb1.jpg

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Receptores cannabinóides CB1 e CB2, sequenciados pelo GenBank. Ambos receptores são polipeptídeos com sete a-hélices transmenbrana e possuem N-terminais extracelulares glicosilados e C-terminais intracelulares. O receptor CB1 é maior do que o receptor CB2, nas regiões intra e extra celular. Na região transmembrana os dois receptores tem 78% de similaridade.

Diversas pesquisas, desde então, mostraram que os efeitos farmacológicos da marijuana são mediados por estes dois receptores. Ambos ativam mecanismos de transdução similares, incluindo a inibição da adenilate ciclase e de canais de Ca2+ do tipo N. O CB1 ocorre no cérebro, onde é responsável por efeitos característicos da cannabis (relaxação, bem-estar, analgesia, aumento da percepção audio-visual, depressão da atividade motora, analgesia e catalapsia) e também no sistema nervoso periférico. Aí, os receptores CB1 são localizados pressinapticamente e sua ativação pode produzir uma supressão da liberação de neurotransmitores. Os principais sintomas da ativação destes receptores são a estimulação do apetite, vasodilatação (particularmente dos vasos conjuntivos), taquicardia e inibição da mobilidade instestinal.

Os receptores CB2, até agora, somente foram localizados fora do SNC (sistema nervoso central), principalmente em células do sistema imunológico. Muitos autores relacionam a ativação destes receptores com imunosupressão, efeitos anti-inflamatórios e analgesia associada a processos inflamatórios. Ao contrário dos receptores CB1, pouco se sabe, ainda, sobre este grupo de receptores.

Era quase inconcebível para a maior parte dos neurologistas que o cérebro animal fosse gastar parte de seus nutrientes e mecanismos simplesmente para elaborar um receptor para uma substância provinda de uma planta. Tal como com a morfina, a descoberta de receptores biológicos para cannabinóides exógenos levantou a possibilidade para a existência de cannabinóides endógenos. Muitos químicos e bioquímicos, então, focaram seus esforço no sentido de descobrir candidatos a ocupar esta posição: cannabinóides endógenos.

QMCWEB:// Tema.de.Casa

Chemistry and Physics of Lipids 108 (2000) 1–13

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O esquema acima representa uma das rotas sintéticas para o THC. Identifique os tipos de reações envolvidas em cada passo e os reagentes necessários para as mesmas. Submeta sua resposta para:

temadecasa@qmcweb.org

O primeiro ligante cannabinóide endógeno a ser isolado foi a etanolamida da arachidonila, chamada de anandamida. O nome vem da palavra "ananda", cujo significa em sânscrito é "prazer". Tão logo esta descoberta foi anunciada, centenas de veículos de comunicação publicaram manchetes como "Descoberta a molécula do prazer", ou "Cérebro produz maconha". Obviamente, um péssimo jornalismo científico, como sempre. Na verdade, a anandamida tem poucos efeitos similares ao THC, além de ser facilmente hidrolisada quando em contato com o receptor. Porém, várias situações estimulam o organismo a despejar grandes quantidades de anandamida nas fendas sinápticas: autores sugerem que esta droga esteja relacionada a momentos de relaxamento, prazer e calma. Um derivado sintético da anandamida - a metanandamida - possui uma potência mais elevada e maior estabilidade e mostrou-se portadora de grande efeito fisiológico. Outros derivados eicosanóides capazes de se ligarem aos receptores cannabinóides já foram isolados dos mais distintos tecidos humanos. Entre estes, o 2-arachidoniglicerol, considerado um dos mais potentes cannabinóides endógenos.

O QMCWEB já publicou, na seção The.Flash, um artigo sobre uma das grandes descobertas sobre o chocolate na última década. Cientistas estavam intrigado com o fato de que muitas pessoas deprimidas recorriam ao consumo de chocolate nos picos depressivos. Foi somente em 1996 (Nature 1996;382:677), que Di Tomaso e colaboradores indentificaram no pó de cacau e no chocolate um grupo de substâncias capazes de interagir com os receptores cannabinóides. Entre estas substâncias, estavam a anandamida (ela mesma!) e também dois compostos que podem interferir na hidrólise biológica da anandamida, a N-oleoiletanolamina e N-linoleoiletanolamina. Estes estimuladores cannabinóides, em conjunto com outros ingredientes ativos do chocolate (metilxantinas e aminas biogênicas) talvez justifiquem a fabulosa atração que estes doces exercem sobre as pessoas.

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Tão logo se fez a descoberta dos receptores cannabinóides e dos cannabinóides endógenos, cientistas do mundo todo passaram a brincar de química orgânica e sintetizar os mais variados agonistas e antagonistas cannabinóides possíveis, para estudar as suas atividades biológicas. Embora o número seja imenso, os agonistas cannabinóides (incluindo os sintéticos) podem ser separados em 4 grandes grupos: não-clássicos, clássicos, aminoalquilindols e eicosanóides. O grupo clássico são os derivados do dibenzopirano - tal como o THC. O grupo não-clássico consiste em substâncias bicíclicas ou tricíclicas, similares ao THC, mas sem o anel pirano. O mais comum é o agonista sintético CP55940. Os demais grupos têm estruturas bastante distintas da do THC.

Os cannabinóides antagonistas exercem um efeito completamente oposto nos receptores CB1 e CB2 do que o dos agonistas. O composto SR141716A (patenteado pela empresa francesa Sanofi Recherche), por exemplo, é um dos antagonistas mais estudados. Seus efeitos, em ratos, incluem a supressão do apetite, o incremento da mobilidade intestinal, a melhora da memória recente e aumenta a liberação de neurotransmissores por neurônios centrais e periféricos.

Enquanto o debate sobre a liberação da maconha para uso medicinal continua, vários cannabinóides sintéticos já estão sendo utilizados pela indústria farmacêutica ou estão prestes a entrar no mercado. A tabela abaixo mostra algumas aplicações terapêuticas para agonistas e antagonistas do sistema cannabinóide endógeno.

Uso terapêutico para drogas cannabinóides

Drogas Uso agonistas do CB1 Tratamento do câncer

Dor pós cirúrgica

anticonvulsivo

Antispástico em escleroses múltiplas agonistas do CB1 periférico Incrementador do apetite

Disfunções glandulares agonistas do CB2 Dor inflamatória periférica

Immunosupressão antagonistas do CB1 Deficiência de memória

Tratamento da obesidade

Dependência alcóolica antagonistas do CB1 periférico Disfunções glandulares

Desde a sua descoberta, os endocannabinóides e os exocannabinóides têm sido foco de centenas de trabalhos de química e bioquímica. Os receptores CB1 e CB2 já são considerados alvos para muitas terapias farmacêuticas. E é este, agora, o campo de ação para os pesquisadores e cientistas que trabalham com temas relacionados à cannabis. Isto prova que, de fato (como proclamam aos quatro ventos os defensores da liberação da marijuana) a natureza nos deu a maconha com um objetivo: o de nos tornar cientes da existência dos receptores cannabinóides em nossos próprios organismos!

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Deu no Jornal!

Drug and Alcohol Dependence 63 (2001) 107–116

Ratos "chapados"!

Um grupo de farmacologistas da Virginia Commonwealth University realizou um interessante trabalho com ratos, maconha e THC. Os ratos foram submetidos a inalações de cigarros de maconha (com ou sem THC) e também a ingeções de THC, e vários padrões de comportamento, como mobilidade, catalepsia, antinonicepção foram medidas.

Dentre os resultados, destacam-se a comprovada analgesia conferida pelo THC: tanto através da maconha como pelas injeções, os ratos que usaram THC levavam mais tempo para responder a um estímulo doloroso.

Em todos os experimentos, um grupo de ratos recebeu, também, a aplicação do antagonista cannabinóide SR141416A, que bloqueia a ação do THC.

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Resultados com inalação da fumaça de marijuana. No placebo, a marijuana havia sido extraída com etanol para a retirada dos cannabinóides. (as barras cheias refletem experimentos com administração do antagonista)

Os ratos eram colocados sobre uma plataforma que era lentamente aquecida. A intensidade do calor era automaticamente aumentada até se observar uma reação do rato.

Outra observação interessante era o grau de imobilidade dos ratos em função da droga; postos em uma gaiola cheia de fotodiodos que acusavam a passagem do rato. O número de vezes que o rato passava pelos feixes luminosos era registrado. E, finalmente, a temperatura retal dos ratos era medida antes e depois da administração da droga, sendo expressa sob a forma de variação de temperatura.

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Resultados com administração de injeções de THC. O placebo continha apenas o veículo. (as barras cheias refletem experimentos com administração do antagonista)

Os efeitos da administração do THC via injeção são muito mais pronunciados do que na inalação da fumaça da marijuana. Na injeção, também, os efeitos do antagonista são mais facilmente percebidos. Entretanto, em ambas as situações a resistência ao estímulo doloroso é aumentada com o uso da droga (THC ou marijuana). A imobilidade, também, é maior, independente da forma de aplicação. A variação da temperatura retal, porém, só é diferente no caso a injeção de THC.

Os autores concluem dizendo que a inalação de marijuana produz efeitos similares ao da administração de THC e que o efeito medido através do antagonista indica um mecanismo de absorção da droga via receptor CB1.

Deu no Jornal!

Journal of Chromatography B, 733 (1999) 119–126

Achando maconha na urina, saliva, sangue e cabelo!

Você até pode esconder de sua mãe o seu hábito de fumar maconha. Mas sua mentira não faria sentido para um químico. Desde 1980, métodos analíticos foram desenvolvidos para a determinação - qualitativa e quantitativa - de cannabinóides em várias matrizes biológicas, como a saliva, o sangue, o cabelo e a urina.

Dentre as substâncias analisadas, destacam-se - além do próprio THC - mais dois cannabinóides e os dois principais metabólitos, tal como ilustrado nas estruturas abaixo.

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No sangue, as substâncias mais abundantes são o THC e THC-COOH. A legislação norte-americana proibe a direção de veículos sob o efeito de drogas. O único exame aceito, até agora, é o de sangue. Neste caso, a análise do sangue é interpretada em função de modelos matemáticos que, de acordo com a relação entre a concentração do THC e de seus metabólitos no plasma, são capazes de estabelecer o momento da exposição do usuário à droga.

No cabelo, THC é a espécie mais abundante e THC-COOH é detectável apenas em baixas concentrações. Isto não é surpresa, uma vez que os fatores que determinam a incorporação de drogas no cabelo são a liofilicidade, a afinidade por melanina e permeabilidade na membrana celular. O THC-COOH, portanto, é menos incorporado que drogas básicas, pois a permeabilidade na membrana é baseada no gradiente de pH entre o sangue (pH=7,4) e a matriz capilar (pH=5).

Comparados com outras matrizes biológicas, os cannabinóides CBN e CBD são encontrados em quantidades relativamente altas no cabelo.

É possível se encontrar THC em cabelos de usuários que já estão em até 12 anos de abstinência!

A determinação de cannabinóides na saliva ainda é um ponto polêmico e controverso. A presença de THC na saliva poderia ser atribuida à contaminação da cavidade oral durante o consumo do baseado. Alguns autores já foram capazes de detectar concentrações baixíssimas de cannabinóides na saliva, mas nenhum trabalho registrou a presença de metabólitos. De qualquer forma, o teste só é positivo se o consumo tiver ocorrido pouco tempo antes do teste.

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No suor, somente o THC pode ser encontrado e numa concentração muito baixa. Nenhum trabalho conseguiu estabelecer um método eficaz para a utilização desta matriz na detecção de cannabinóides.

Em todos os casos, os métodos para a detecção envolvem cromatografia gasosa (GC) ou líquida (HPLC), precedidas de extrações líquido-liquido (LLE) ou líquido-sólido (SPE) da matriz biológica.

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Cromatograma obtido após a extração de uma amostra de cabelo de um usuário de maconha.

Muitos métodos desenvolvidos por químicos analíticos são de uso atual da polícia e perícia técnica, e têm auxiliado na solução de vários crimes e infrações ligadas à marijuana.

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  • Usuário Growroom

boa hein...

fonte?? ou vc que escreveu?

Pois é cara, tava vendo aqui e é uma das mais completas que vi ate agora, e cita os dinossauros...

fonte: http://www.qmc.ufsc....ha/ciencia.html

Departamento de Química da Universidade Federal de Santa Catarina

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  • Usuário Growroom

Isto prova que, de fato (como proclamam aos quatro ventos os defensores da liberação da marijuana) a natureza nos deu a maconha com um objetivo: o de nos tornar cientes da existência dos receptores cannabinóides em nossos próprios organismos!

Bom pra mim não preciza mais nada .

Boa Cultivador

clap

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