Usuário Growroom BraveHeart Postado June 12, 2011 Usuário Growroom Denunciar Share Postado June 12, 2011 Lu Lacerda admite uso de maconha para fins medicinais e faz apelo Texto publicado na seção Logo, A Página Móvel deste domingo, na página 16 do jornal O Globo A ERVA, A CULPA, A CURA ________________________________________ Por Lu Lacerda Aproveito o lançamento do documentário “Quebrando o tabu”, sobre descriminalização das drogas, estrelando Fernando Henrique Cardoso, para fazer um depoimento-desabafo: um amigo californiano usa maconha com fim medicinal (possui até uma carteira de identificação para, se preciso for, provar que está legalizado). Em seu país, o consumo terapêutico dessa droga é autorizado por lei. Numa conversa, descobri que a planta o curara de um grande problema que também tenho: o bruxismo. Fiz o teste, dando duas tragadas num desses cigarros por algumas noites alternadas. Resultado: vi-me livre das dores com que convivo a cada manhã, livre de acordar no meio da noite com a cabeça latejando, livre de, em certos dias, sequer poder mastigar uma colher de pudim. Pensando mais no futuro, veio-me ainda a esperança de talvez não mais ter que conviver com ameaças de surdez nos próximos anos; não me sentir na iminência de uma outra cirurgia para implante de osso; dar um basta na sensação de que engoli mais um pedacinho de metal; livrar-me de uma das minhas inúmeras placas usadas para dormir (tenho de todos os tipos: plástico, silicone, acrílico — todos os materiais, modelagens, desenhos existentes no terrível escopo do bruxismo. Não há meditação, ioga, homeopatia, marido, Rivotril, esporte, que amenizem o sofrimento provocado pelo travamento dos dentes, muito desgastados desde a pósadolescência. Fiquei num grande estado de excitação: a cura estava ali, a meu alcance. Pedi a duas médicas uma declaração, um depoimento, atestando que preciso fazer uso dos benefícios dessa planta. Nada obtive: nenhuma delas está autorizada a fazê-lo. “Seria ilegal”, diz uma psicóloga que defende o uso dos cigarrinhos verdes para alguns pacientes (nas internas, que fique claro). Ensina até quem vende a droga sem química, plantada e colhida na região fluminense. Maconha orgânica. Conversei também com um advogado. Ele me disse que poderia tentar, mas dificilmente conseguiríamos alguma coisa. O único resultado positivo seria o de estimular o debate. Foi o que me impeliu a escrever este apelo. Quero apenas o direito de dar duas tragadas num cigarro de maconha todas as noites, na minha cama, no meu quarto — apenas duas! —, sem precisar ir morar nos Estados Unidos, vivendo na minha cidade, no meu país, sem ter que me sentir uma contribuinte do tráfico e, por tabela, da violência. Não suportaria essa culpa, mesmo sabendo que é um argumento sujeito a vários questionamentos. Duas tragadas. É tudo. Fazemme amolecer um pouco, nada mais. Não se trata de usar a droga como quem o faz para “suportar melhor a existência” (já ouvi isso). Simplesmente, encontrei um remédio. Uma erva. Como outras, com fins medicinais, dependendo, sempre, da dosagem. Os índios fazem bom uso de todas elas, e o limite é estabelecido por cada um de acordo com o conhecimento acumulado ao longo de milênios. Não tenho interesse em nenhuma droga como droga, nem para o chamado uso recreativo (álcool aqui incluído); aliás, não suporto perder o controle, em nenhuma situação. Nem na adolescência, quando, na minha fantasia, os baseados tinham o poder de trazer inspiração, criatividade e ideias originais para escrever textos maravilhosos, da mesma forma como os roqueiros que eu conhecia faziam com suas músicas. Claro que na época experimentei maconha, como todos os jovens da minha idade. Uma amiga insistia para que eu fumasse mais, mais e mais (em vez de aguardar, como se deve, que as primeiras tragadas façam efeito), resultando numa primeira experiência bastante penosa que terminou em vertigem e vômito. Não me tornei usuária, mas tive, na ocasião, um sonho intenso, marcante. Eu fumava e começava a escrever freneticamente. Parava, analisava e concordava com todos os pensamentos que surgiam, não discordava de nada. Coisas banais ficavam importantes, coisas importantes ficavam banais, mas todas iam passando. Por vezes eu abraçava as palavras, mas elas conseguiam fugir de mim quando eu menos esperava. As letras criavam disfarces: elas estavam ali, mas não estavam. E nem sempre seguiam a ordem de que eu gostaria. As mais sinuosas se misturavam entre si na forma de colares gigantes, que iam de um país a outro, sem se deixarem molhar no mar ao atravessá-lo. Algumas só se perdiam, levando com elas a coesão do pensamento. O que ia me restar, então? E escrevia, relia os textos, as sensações, as paixões, as confissões, mas tudo se esvaía. Era mesmo o fim da minha lua de mel com as palavras. A morte era preferível. O problema é meu ou do fumo?, pensava, no sonho, cheia de uma culpa injusta. Ou seja, durante as décadas que se seguiram, minha relação com a maconha se resumiu a esse pesadelo. Até eu tomar conhecimento desse seu lado atenuante para meu desespero pessoal. O fato é que o meu sonho agora é bem outro. Quero apenas isto que considero essencial: não ser privada do que para mim é um medicamento que me alivia o insuportável bruxismo. Quero poder consumir as ervas que bem entender, assim como posso usar hortelã para um suco, ou a arruda para “limpar” um ambiente, tranquilamente. A sálvia anda difícil, segundo me disse a espiritualista Ana Lang, que vive na Gávea. Não poder usá-las? “Arrenego”. Fiz questão de escrever a palavra por achar que combina bem com uma camponesa como eu (fui criada em fazenda), acostumada a uma relação de intimidade e respeito com todas as plantas e, apesar disso, sem o direito de usá-las como algo útil, essas dádivas. Aliás, quando ouvi pela primeira vez a palavra maconha, era ainda uma criança. Foi durante uma conversa entre meu pai e um senhor muito simples, candidato a vaqueiro. Ao ver minha mãe nervosíssima, numa crise violenta de tosse, ele perguntou se não teria um pé de maconha ali por perto. E afirmou: “Se fizesse um chá, ela se acalmaria e ficaria logo boa.” Nunca soubemos se isso seria real. Voltando à atualidade, considero-me, de fato, uma cidadã: trabalho muito, pago imposto, respeito o outro. Por que, então, no meu país me proíbem um remédio que me traria a paz ante um mal que me consome? Isso dito, deixo uma pergunta: entre o bruxismo e a culpa, o que faço eu? http://oglobo.globo.com/blogs/arnaldo/ Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Usuário Growroom bio_cañamo Postado June 12, 2011 Usuário Growroom Denunciar Share Postado June 12, 2011 Arnaldo Bloch - O Globo 12/06/2011 - O Globo - Página 16 . . Muito tem evoluído a discussão sobre as drogas. . A ONU já admitiu o fracasso da política de confronto capitaneada pelos EUA . Novas abordagens, como a da redução de danos, ganham corpo, sobretudo na Europa. Do lado de cá a Comissão Latino Americana Sobre Drogas e Democracia tem no ex-presidente Fernando Henrique Cardoso um porta voz entusiasmado. . É ele quem conduz a narrativa do documentário "Quebrando O Tabu", produção multinacional (em cartaz no Rio) que aprofunda o tema, mostrando que a equação drogas/violência é bem mais complexa do que prega a esparrela de culpabilização do usuário. . A descriminalização da maconha já é realidade em muitos paíse, inclusive, com todas as suas limitações relacionadas com sua aplicação, no Brasil. Paradoxalmente, nos EUA, onde se está muito longe de um estatus quo que penalize menos o usuário, avança a passos mais largos a permissão para uso medicinal da Canabis para o alívio de sintomas em diversas enfermidades, enquanto, no Brasil, pouco se discute esse aspecto do problema. . Por isso a página "Logo" abriu este espaço para a jornalista e colunista Lu Lacerda, que jamais foi usuária, relatar a descoberta que fez, recentemente, sobre os efeitos da maconha numa doença que lhe causava profundo sofrimento. E o estigma que, imediatamente, se abateu sobre sua consciência. . (Arnaldo Bloch) A erva, a cura, a culpa 12.06.2011 - por Arnaldo Bloch - O Globo . Lu Lacerda admite uso de maconha para fins medicinais e faz apelo . Texto publicado na seção Logo, A Página Móvel deste domingo, na página 16 do jornal O Globo: . . Jornalista admite uso de maconha para aliviar sintomas de doença e faz apelo para que se debata consumo medicinal da planta no Brasil. . . Aproveito o lançamento do documentário “Quebrando o tabu”, sobre descriminalização das drogas, estrelando Fernando Henrique Cardoso, para fazer um depoimento-desabafo: um amigo californiano usa maconha com fim medicinal (possui até uma carteira de identificação para, se preciso for, provar que está legalizado). Em seu país, o consumo terapêutico dessa droga é autorizado por lei. . Numa conversa, descobri que a planta o curara de um grande problema que também tenho: o bruxismo. Fiz o teste, dando duas tragadas num desses cigarros por algumas noites alternadas. Resultado: vi-me livre das dores com que convivo a cada manhã, livre de acordar no meio da noite com a cabeça latejando, livre de, em certos dias, sequer poder mastigar uma colher de pudim. . Pensando mais no futuro, veio-me ainda a esperança de talvez não mais ter que conviver com ameaças de surdez nos próximos anos; não me sentir na iminência de uma outra cirurgia para implante de osso; dar um basta na sensação de que engoli mais um pedacinho de metal; livrar-me de uma das minhas inúmeras placas usadas para dormir (tenho de todos os tipos: plástico, silicone, acrílico — todos os materiais, modelagens, desenhos existentes no terrível escopo do bruxismo. . Não há meditação, ioga, homeopatia, marido, Rivotril, esporte, que amenizem o sofrimento provocado pelo travamento dos dentes, muito desgastados desde a pósadolescência. . Fiquei num grande estado de excitação: a cura estava ali, a meu alcance. Pedi a duas médicas uma declaração, um depoimento, atestando que preciso fazer uso dos benefícios dessa planta. Nada obtive: nenhuma delas está autorizada a fazê-lo. “Seria ilegal”, diz uma psicóloga que defende o uso dos cigarrinhos verdes para alguns pacientes (nas internas, que fique claro). . Ensina até quem vende a droga sem química, plantada e colhida na região fluminense. Maconha orgânica. Conversei também com um advogado. Ele me disse que poderia tentar, mas dificilmente conseguiríamos alguma coisa. O único resultado positivo seria o de estimular o debate. Foi o que me impeliu a escrever este apelo. . Quero apenas o direito de dar duas tragadas num cigarro de maconha todas as noites, na minha cama, no meu quarto — apenas duas! —, sem precisar ir morar nos Estados Unidos, vivendo na minha cidade, no meu país, sem ter que me sentir uma contribuinte do tráfico e, por tabela, da violência. Não suportaria essa culpa, mesmo sabendo que é um argumento sujeito a vários questionamentos. . . Duas tragadas. É tudo. Fazem me amolecer um pouco, nada mais. Não se trata de usar a droga como quem o faz para “suportar melhor a existência” (já ouvi isso). Simplesmente, encontrei um remédio. Uma erva. Como outras, com fins medicinais, dependendo, sempre, da dosagem. Os índios fazem bom uso de todas elas, e o limite é estabelecido por cada um de acordo com o conhecimento acumulado ao longo de milênios. . Não tenho interesse em nenhuma droga como droga, nem para o chamado uso recreativo (álcool aqui incluído); aliás, não suporto perder o controle, em nenhuma situação. Nem na adolescência, quando, na minha fantasia, os baseados tinham o poder de trazer inspiração, criatividade e ideias originais para escrever textos maravilhosos, da mesma forma como os roqueiros que eu conhecia faziam com suas músicas. . Claro que na época experimentei maconha, como todos os jovens da minha idade. Uma amiga insistia para que eu fumasse mais, mais e mais (em vez de aguardar, como se deve, que as primeiras tragadas façam efeito), resultando numa primeira experiência bastante penosa que terminou em vertigem e vômito. . Não me tornei usuária, mas tive, na ocasião, um sonho intenso, marcante. Eu fumava e começava a escrever freneticamente. Parava, analisava e concordava com todos os pensamentos que surgiam, não discordava de nada. Coisas banais ficavam importantes, coisas importantes ficavam banais, mas todas iam passando. Por vezes eu abraçava as palavras, mas elas conseguiam fugir de mim quando eu menos esperava. As letras criavam disfarces: elas estavam ali, mas não estavam. E nem sempre seguiam a ordem de que eu gostaria. . As mais sinuosas se misturavam entre si na forma de colares gigantes, que iam de um país a outro, sem se deixarem molhar no mar ao atravessá-lo. Algumas só se perdiam, levando com elas a coesão do pensamento. O que ia me restar, então? E escrevia, relia os textos, as sensações, as paixões, as confissões, mas tudo se esvaía. Era mesmo o fim da minha lua de mel com as palavras. A morte era preferível. . O problema é meu ou do fumo?, pensava, no sonho, cheia de uma culpa injusta. Ou seja, durante as décadas que se seguiram, minha relação com a maconha se resumiu a esse pesadelo. Até eu tomar conhecimento desse seu lado atenuante para meu desespero pessoal. O fato é que o meu sonho agora é bem outro. Quero apenas isto que considero essencial: não ser privada do que para mim é um medicamento que me alivia o insuportável bruxismo. Quero poder consumir as ervas que bem entender, assim como posso usar hortelã para um suco, ou a arruda para “limpar” um ambiente, tranquilamente. A sálvia anda difícil, segundo me disse a espiritualista Ana Lang, que vive na Gávea. Não poder usá-las? “Arrenego”. Fiz questão de escrever a palavra por achar que combina bem com uma camponesa como eu (fui criada em fazenda), acostumada a uma relação de intimidade e respeito com todas as plantas e, apesar disso, sem o direito de usá-las como algo útil, essas dádivas. . Aliás, quando ouvi pela primeira vez a palavra maconha, era ainda uma criança. Foi durante uma conversa entre meu pai e um senhor muito simples, candidato a vaqueiro. . Ao ver minha mãe nervosíssima, numa crise violenta de tosse, ele perguntou se não teria um pé de maconha ali por perto. E afirmou: “Se fizesse um chá, ela se acalmaria e ficaria logo boa.” Nunca soubemos se isso seria real. Voltando à atualidade, considero-me, de fato, uma cidadã: trabalho muito, pago imposto, respeito o outro. Por que, então, no meu país me proíbem um remédio que me traria a paz ante um mal que me consome? Isso dito, deixo uma pergunta: entre o bruxismo e a culpa, o que faço eu? . O GLOBO Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Usuário Growroom Canabiando Postado June 13, 2011 Usuário Growroom Denunciar Share Postado June 13, 2011 A erva cura todos os males serve para tudo Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Usuário Growroom filho de Gandhi Postado June 13, 2011 Usuário Growroom Denunciar Share Postado June 13, 2011 ôrra !!! essa aí disse tudinho e muito mais, valeu !!! Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Chaplin de Judah Postado June 13, 2011 Denunciar Share Postado June 13, 2011 Enviado por Arnaldo Bloch - 12.6.2011 | 13h08m Lu Lacerda admite uso de maconha para fins medicinais e faz apelo ATENÇÃO: ESTE BLOG ESTÁ SUPRIMINDO, NA MAIOR TRANQUILIDADE, TODOS OS COMENTÁRIOS OFENSIVOS, GROSSEIROS, ESTIGMATIZANTES OU BELIGERANTES SOBRE O TEXTO ABAIXO. PELO MENOS O DOBRO DO QUE FOI POSTADO JÁ ESTÁ NO LIXO. LEITORES QUE NÃO PRIMAM POR EDUCAÇÃO NÃO PRECISAM NEM PERDER O TEMPO DE ESCREVER. Texto publicado na seção Logo, A Página Móvel deste domingo, na página 16 do jornal O Globo A ERVA, A CULPA, A CURA ________________________________________ Por Lu Lacerda Aproveito o lançamento do documentário “Quebrando o tabu”, sobre descriminalização das drogas, estrelando Fernando Henrique Cardoso, para fazer um depoimento-desabafo: um amigo californiano usa maconha com fim medicinal (possui até uma carteira de identificação para, se preciso for, provar que está legalizado). Em seu país, o consumo terapêutico dessa droga é autorizado por lei. Numa conversa, descobri que a planta o curara de um grande problema que também tenho: o bruxismo. Fiz o teste, dando duas tragadas num desses cigarros por algumas noites alternadas. Resultado: vi-me livre das dores com que convivo a cada manhã, livre de acordar no meio da noite com a cabeça latejando, livre de, em certos dias, sequer poder mastigar uma colher de pudim. Pensando mais no futuro, veio-me ainda a esperança de talvez não mais ter que conviver com ameaças de surdez nos próximos anos; não me sentir na iminência de uma outra cirurgia para implante de osso; dar um basta na sensação de que engoli mais um pedacinho de metal; livrar-me de uma das minhas inúmeras placas usadas para dormir (tenho de todos os tipos: plástico, silicone, acrílico — todos os materiais, modelagens, desenhos existentes no terrível escopo do bruxismo. Não há meditação, ioga, homeopatia, marido, Rivotril, esporte, que amenizem o sofrimento provocado pelo travamento dos dentes, muito desgastados desde a pósadolescência. Fiquei num grande estado de excitação: a cura estava ali, a meu alcance. Pedi a duas médicas uma declaração, um depoimento, atestando que preciso fazer uso dos benefícios dessa planta. Nada obtive: nenhuma delas está autorizada a fazê-lo. “Seria ilegal”, diz uma psicóloga que defende o uso dos cigarrinhos verdes para alguns pacientes (nas internas, que fique claro). Ensina até quem vende a droga sem química, plantada e colhida na região fluminense. Maconha orgânica. Conversei também com um advogado. Ele me disse que poderia tentar, mas dificilmente conseguiríamos alguma coisa. O único resultado positivo seria o de estimular o debate. Foi o que me impeliu a escrever este apelo. Quero apenas o direito de dar duas tragadas num cigarro de maconha todas as noites, na minha cama, no meu quarto — apenas duas! —, sem precisar ir morar nos Estados Unidos, vivendo na minha cidade, no meu país, sem ter que me sentir uma contribuinte do tráfico e, por tabela, da violência. Não suportaria essa culpa, mesmo sabendo que é um argumento sujeito a vários questionamentos. Duas tragadas. É tudo. Fazemme amolecer um pouco, nada mais. Não se trata de usar a droga como quem o faz para “suportar melhor a existência” (já ouvi isso). Simplesmente, encontrei um remédio. Uma erva. Como outras, com fins medicinais, dependendo, sempre, da dosagem. Os índios fazem bom uso de todas elas, e o limite é estabelecido por cada um de acordo com o conhecimento acumulado ao longo de milênios. Não tenho interesse em nenhuma droga como droga, nem para o chamado uso recreativo (álcool aqui incluído); aliás, não suporto perder o controle, em nenhuma situação. Nem na adolescência, quando, na minha fantasia, os baseados tinham o poder de trazer inspiração, criatividade e ideias originais para escrever textos maravilhosos, da mesma forma como os roqueiros que eu conhecia faziam com suas músicas. Claro que na época experimentei maconha, como todos os jovens da minha idade. Uma amiga insistia para que eu fumasse mais, mais e mais (em vez de aguardar, como se deve, que as primeiras tragadas façam efeito), resultando numa primeira experiência bastante penosa que terminou em vertigem e vômito. Não me tornei usuária, mas tive, na ocasião, um sonho intenso, marcante. Eu fumava e começava a escrever freneticamente. Parava, analisava e concordava com todos os pensamentos que surgiam, não discordava de nada. Coisas banais ficavam importantes, coisas importantes ficavam banais, mas todas iam passando. Por vezes eu abraçava as palavras, mas elas conseguiam fugir de mim quando eu menos esperava. As letras criavam disfarces: elas estavam ali, mas não estavam. E nem sempre seguiam a ordem de que eu gostaria. As mais sinuosas se misturavam entre si na forma de colares gigantes, que iam de um país a outro, sem se deixarem molhar no mar ao atravessá-lo. Algumas só se perdiam, levando com elas a coesão do pensamento. O que ia me restar, então? E escrevia, relia os textos, as sensações, as paixões, as confissões, mas tudo se esvaía. Era mesmo o fim da minha lua de mel com as palavras. A morte era preferível. O problema é meu ou do fumo?, pensava, no sonho, cheia de uma culpa injusta. Ou seja, durante as décadas que se seguiram, minha relação com a maconha se resumiu a esse pesadelo. Até eu tomar conhecimento desse seu lado atenuante para meu desespero pessoal. O fato é que o meu sonho agora é bem outro. Quero apenas isto que considero essencial: não ser privada do que para mim é um medicamento que me alivia o insuportável bruxismo. Quero poder consumir as ervas que bem entender, assim como posso usar hortelã para um suco, ou a arruda para “limpar” um ambiente, tranquilamente. A sálvia anda difícil, segundo me disse a espiritualista Ana Lang, que vive na Gávea. Não poder usá-las? “Arrenego”. Fiz questão de escrever a palavra por achar que combina bem com uma camponesa como eu (fui criada em fazenda), acostumada a uma relação de intimidade e respeito com todas as plantas e, apesar disso, sem o direito de usá-las como algo útil, essas dádivas. Aliás, quando ouvi pela primeira vez a palavra maconha, era ainda uma criança. Foi durante uma conversa entre meu pai e um senhor muito simples, candidato a vaqueiro. Ao ver minha mãe nervosíssima, numa crise violenta de tosse, ele perguntou se não teria um pé de maconha ali por perto. E afirmou: “Se fizesse um chá, ela se acalmaria e ficaria logo boa.” Nunca soubemos se isso seria real. Voltando à atualidade, considero-me, de fato, uma cidadã: trabalho muito, pago imposto, respeito o outro. Por que, então, no meu país me proíbem um remédio que me traria a paz ante um mal que me consome? Isso dito, deixo uma pergunta: entre o bruxismo e a culpa, o que faço eu? O Globo - Arnaldo Blog Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Usuário Growroom saporo Postado June 13, 2011 Usuário Growroom Denunciar Share Postado June 13, 2011 AUTORIZAÇÃO PARA O AUTO-CULTIVO E FORMAÇÃO DE COOPERATIVAS ENTRE GROWERS,DEPARTAMENTO DE ESTUDO DA NEUROCIÊNCIA E HOSPITAIS. É SÓ QUERER DILMA!! Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Usuário Growroom OveRal Postado June 13, 2011 Usuário Growroom Denunciar Share Postado June 13, 2011 Legal essa mina, já que ela tem espaço na mídia para isso, relatar o caso dela....achei legal que no meio do texto ela desviou da parte da saúde e mostrou que a maconha tbm é inspiradora..... Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Usuário Growroom brucejapa25 Postado June 13, 2011 Usuário Growroom Denunciar Share Postado June 13, 2011 Enquanto eles vão pensando dali , eu vou plantando daqui...pra frente Brasil !!! FREE SATIVA LOVER !!!!!!!!!!!! Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Usuário Growroom tremendomatagal Postado June 13, 2011 Usuário Growroom Denunciar Share Postado June 13, 2011 Lu Lacerda mandou muito bem no seu depoimento, no seu apelo. Mais uma força ao nosso lado, mas um relato puro da relação do homem com a natureza. Descriminaliza, Brasil! Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Usuário Growroom Maconheirão Postado June 13, 2011 Usuário Growroom Denunciar Share Postado June 13, 2011 estive no simposio da agencia medicinal e até agora nada ! Liberdade para cultivar e vender ! Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Usuário Growroom Jahbaa the Hut Postado June 13, 2011 Usuário Growroom Denunciar Share Postado June 13, 2011 Esse é o caso da minha mulher que atenua tambem o bruxismo com cannabis (embora ainda que não atenuasse Dona Jahbaa fumaria do mesmo jeito....hehehehehe)... Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Usuário Growroom Canadense Postado June 13, 2011 Usuário Growroom Denunciar Share Postado June 13, 2011 ... bruxismo??? de bruxa??? é isso msm???? Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Usuário Growroom Gabriel Is Postado June 13, 2011 Usuário Growroom Denunciar Share Postado June 13, 2011 ... bruxismo??? de bruxa??? é isso msm???? bruxismo eh qnd a pessoa tem um disturbio psicologico que fica rangendot os dentes com força durante o sono. desgasta os dentes, sente dores nos ossos, na articulação da mandibula, etc Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Usuário Growroom Canadense Postado June 13, 2011 Usuário Growroom Denunciar Share Postado June 13, 2011 abao.... num sabia nao Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Usuário Growroom Jahbaa the Hut Postado June 13, 2011 Usuário Growroom Denunciar Share Postado June 13, 2011 desgasta os dentes, sente dores nos ossos, na articulação da mandibula, etc Alem de atrapalhar o sono merecido do conjuge.... Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Usuário Growroom Mr.Smoking Postado June 13, 2011 Usuário Growroom Denunciar Share Postado June 13, 2011 Alem de atrapalhar o sono merecido do conjuge.... Verdade, agora a minha conjuge riu muito dessa reportagem... e falou pra mim, Pô! vc fuma maconha de montão e ainda fica rangendo os dentes! Vc tem que arumar o contato de peso da psicologa! heheheheh Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
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