Bas Postado June 14, 2011 Denunciar Share Postado June 14, 2011 Da VEJA Denis Russo Burgierman Sustentável é pouco Ideias e experiências que vão além do discurso da sustentabilidade Escreva : burgierman@gmail.com 13/06/2011 às 5:01 \ Drogas A porta da frente e a de trás No final dos anos 1960, a maconha chegou à Holanda, junto com os cabelos compridos, o discurso pacifista e o movimento flower power. O governo encomendou a especialistas um relatório, avaliando os riscos da nova droga e sugerindo uma forma de lidar com ela. Na mesma época, vários países fizeram a mesma coisa. O Reino Unido encomendou o Relatório Wootton em 1968, no Canadá produziu-se o Relatório LeDain em 1970, nos Estados Unidos, Nixon mandou preparar o relatório Shafer, em 1972. Todos eles chegaram a uma conclusão semelhante: a maconha é uma droga relativamente segura e a melhor forma de lidar com ela é com regulação. “A diferença é que, aqui, os políticos ouviram os cientistas”, diz Mario Lap, especialista em política pública holandês, que entrevistei no parque da cidade, em Amsterdam, enquanto ele levava sua cachorrinha para passear. Nos outros países, os políticos entraram em pânico com medo da reação interna e ignoraram as recomendações. A Holanda então resolveu regular a venda de maconha, de maneira a poder fiscalizar o comércio e vigiar de perto os vendedores. Só que tinha um problema. Em 1961, o país tinha assinado uma convenção da ONU na qual se comprometia a reprimir o comércio de drogas. Ou seja, pela lei internacional, o país não podia permitir a legalização da maconha. Só que esse país pragmático, de comerciantes bons de contas, tem uma palavra que nem existe no dicionário da maior parte das línguas: “gedogen”. Gedogen é uma coisa que é ilegal, mas tolerada em nome de um bem maior. Os holandeses resolveram então que, em nome da saúde e da segurança públicas, a maconha seria gedogen. Ilegal, mas tolerada dentro de certos ambientes, desde que uma série de regras rígidas fossem seguidas (publicidade proibida, ordem pública mantida, proibição absoluta a menores de idade). Só que o sistema tinha uma incoerência fundamental: era permitido vender maconha nos “coffeeshops”. Mas quem venderia para os coffeeshops? Os pragmáticos holandeses resolveram seguir em frente. Melhor resolver meio problema do que nenhum, pensaram. A política foi bem sucedida. O maior impacto positivo foi o que os holandeses chamam de “separação dos mercados entre as drogas leves e pesadas”. Ao tirar a maconha dos traficantes ilegais, reduziu-se bruscamente os índices de usuários de outras drogas – no Brasil, não é incomum que traficantes empurrem crack para quem só quer comprar maconha. Mesmo o número de usuários de maconha, no país, está bem abaixo da média europeia. Mas sobrou “meio problema”. Os holandeses tiveram pleno sucesso em regular a demanda, mas a oferta continuou nas sombras da ilegalidade. A porta da frente dos coffeeshops é absolutamente legal, mas a dos fundos é tão esquisita quanto a de qualquer boca de fumo do mundo. No começo, quem supria a maconha da Holanda eram produtores tradicionais do Líbano. Mas, no final dos anos 1980 começaram a surgir plantadores no país, e a qualidade começou a ficar muito melhor. Mario Lap, o especialista que entrevistei, trabalhava no governo na época. Ele percebeu que era hora de resolver a outra metade do problema. “Propus que regulássemos, licenciando produtores. Naquela época, eram mamães e papais que plantavam. Era gente como eu e você: professores, motoristas, que tinham o dedo verde e queriam uma renda extra. Eu disse que tínhamos duas opções: ou regulávamos a produção ou o crime iria dominar esse mercado em cinco anos.” Dessa vez, o governo não ouviu os cientistas. Temeroso com a reação internacional, optou por não regular, manter os produtores na ilegalidade e, pior, colocá-los na cadeia. Em muito pouco tempo, as mamães e papais saíram do negócio, já que não viam graça em ir presos. Surgiu um mercado lucrativo desatendido, e obviamente logo logo alguém apareceu para supri-lo. Desde os anos 1990, há grupos criminosos produzindo maconha na Holanda. A qualidade do produto caiu, o preço subiu, a vida dos donos de coffeeshop perdeu um pouco da alegria e ficou mais tensa. Mario olha com inveja para a Espanha, onde o problema da oferta está sendo atacado: há lá cooperativas de usuários que ganharam na justiça o direito de plantar para si mesmos, sem transações comerciais envolvidas (e portanto sem infringir as convenções da ONU). “A Holanda ficou para trás”, diz. Hoje, o sistema todo dos coffeeshops está sob ameaça. A Holanda tem um governo “de minoria”, uma grande coligação que, para governar, precisa do apoio de um partido ultranacionalista xenófobo, que quer ver os coffeeshops fechados (eles também querem cobrar impostos de quem usa o véu muçulmano). Se eles ganharem a briga política, o controle para comprar maconha aumentará muito, centenas de coffeeshops serão fechados e os turistas serão proibidos de entrar. “Os traficantes de rua vão voltar, para vender para os turistas, que certamente não vão embora, e para os holandeses que não se submeterem às restrições”, diz Mario. Se isso acontecer, a Holanda voltará a ter um problema inteiro, como o resto de nós. Estou dentro do trem, rumo ao sul. Vamos ver o que tem na Espanha que deixa os holandeses com inveja. Por Denis Russo Burgierman Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
DanKai Postado June 14, 2011 Denunciar Share Postado June 14, 2011 Na Veja em! Que beleza de reportagem, esse maluco sempre falou sobre a cannabis de uma maneira mais imparcial, texto bem escrito, mandou bem Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Usuário Growroom PLANET-HEMP Postado June 14, 2011 Usuário Growroom Denunciar Share Postado June 14, 2011 boa essa reportagem po então logo mais ira acabar essas "regalias" q tem em amsterdam? Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Usuário Growroom Vermelho Ganja Postado June 14, 2011 Usuário Growroom Denunciar Share Postado June 14, 2011 Muito legal o texto, realmente essa história da Holanda é meio mal contada. Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Usuário Growroom Percoff Postado June 14, 2011 Usuário Growroom Denunciar Share Postado June 14, 2011 muito perspicaz essa materia Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Usuário Growroom CoffeeShop Postado June 14, 2011 Usuário Growroom Denunciar Share Postado June 14, 2011 Excelente texto. No link abaixo tem tudo que ele escreveu sobre drogas. Vale a pena conferir. http://veja.abril.com.br/blog/denis-russo/secao/drogas/ PAZ Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Usuário Growroom T.Agacê Postado June 15, 2011 Usuário Growroom Denunciar Share Postado June 15, 2011 Muito boa a apresentação das cooperativas espanholas como uma boa política de drogas implantada. Dá crédito na sociedade ao projeto tupiniquim de cooperativas apresentado pelo Paulo Teixeira. O debate mais aceso do que nunca. Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Usuário Growroom na moita Postado June 15, 2011 Usuário Growroom Denunciar Share Postado June 15, 2011 nossa cultura é mais parecida com a de Portugal e Espanha , espero que os governantes não esqueçam disso na hora de resolver ! Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Usuário Growroom Geddy Lee Postado June 15, 2011 Usuário Growroom Denunciar Share Postado June 15, 2011 mal dá pra acreditar que isso é uma matéria da veja Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Usuário Growroom PPerverso Postado June 15, 2011 Usuário Growroom Denunciar Share Postado June 15, 2011 Irado! E existe ao menos uma mente um pouco mais aberta na veja Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Usuário Growroom Mongoloid Gnome Postado June 15, 2011 Usuário Growroom Denunciar Share Postado June 15, 2011 Pô gente, galera tá fumando demais e ficando sequelada. Esse jornalista aí foi o cara que fez acontecer aquela reportagem da Super Interessante há uns anos atrás. "A verdade sobre a maconha". Nessa época eu era moleque e minha coroa assinava, me lembro até hj que na edição posterior na seção de resposta/sugestões dos leitores uma mãe ficou EXTREMAMENTE indignada com a matéria e escreveu algo tipo "agora meu filho veio esfregar a revista na minha cara pra dizer que maconha não faz mal!" rachei tanto o bico naquele tempo. Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Usuário Growroom MaryJoanaAbucetaDivina Postado June 16, 2011 Usuário Growroom Denunciar Share Postado June 16, 2011 muito perspicaz essa materia Pô gente, galera tá fumando demais e ficando sequelada. Esse jornalista aí foi o cara que fez acontecer aquela reportagem da Super Interessante há uns anos atrás. "A verdade sobre a maconha". Nessa época eu era moleque e minha coroa assinava, me lembro até hj que na edição posterior na seção de resposta/sugestões dos leitores uma mãe ficou EXTREMAMENTE indignada com a matéria e escreveu algo tipo "agora meu filho veio esfregar a revista na minha cara pra dizer que maconha não faz mal!" rachei tanto o bico naquele tempo. certamente vo esfregar na cara de muita gente ainda nesse mundo. Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
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