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Arnaldo Bloch - Drogas: Duas Faces Da Liberação Do Consumo. Crônica De Hoje


sano

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  • Usuário Growroom

4_20-CronDrogas-.jpg

Li com grande interesse cívico, no início

da semana, que a comissão de juristas

encarregada do anteprojeto para alterações

no Código Penal aprovou proposta

que descriminaliza o uso de drogas. O

texto, apesar de bastante evoluído, deixou-me

com meia dúzia de paranoias (note bem: não

oriundas de consumo de entorpecentes).

Paranoias moderadas, pulgas atrás da

orelha, grilos falantes nos ouvidos de um

hippie-velho que é a favor do projeto mas

não renunciou, nem renunciará, jamais, ao

que lhe restou de apreço à razão nem à sua

ração diária de lucidez.

1 — Pelo projeto, o usuário poderá transportar

ou trazer consigo uma quantidade suficiente

para cinco dias de consumo sem que

isso configure crime ou contravenção.

Qual a quantidade para cinco dias de consumo

de um junkie, de um fumante social recreativo

ou de um partidário do “tapinha não dói”?

Isso pode variar, sei lá, de 1g a uns 30g ou

mais, se uso pessoal puder ser entendido

como uso familiar, caso o casal seja adepto

de um chá verde.

Para decidir esses subjetivos enquadramentos

contaremos com o senhor Juiz, com toda

sua carga de idiossincrasias, preconceitos,

preferências ou traumas pessoais. Imaginem o

grau kafkiano de incerteza no tribunal.

2 — Será permitido o plantio caseiro, desde

que não destinado à venda.

Em primeiro lugar, quem garante que não

será destinado à venda? Qual o tamanho máximo

da estufa? Ou cada cidadão terá o seu

vasinho de barro?

Quem vai ensinar os que desejam rumar para

esse modelo de autossustentabilidade as

melhores técnicas para garantir uma safra de

boa qualidade, ou, ao menos, uma erva adequada

e imune a pragas tóxicas?

E, considerando que o projeto trata de drogas

em geral, o cultivo de coca e o processamento

de pasta também estará contemplado?

E o da papoula?

3 — Tirar do contingente prisional ou da

linha de mira do crime centenas de milhares

de pessoas que só desejam consumir

maconha, assim como outros (ou os mesmos...)

“usuários” desejosos de cerveja e

de uísque com energético é muito interessante,

bem como o intuito de tratar a questão

da dependência como problema de saúde

pública (que, na prática, já é).

Isso tudo já é a tendência mundial mesmo.

Mas a relação muitas vezes involuntária desses

usuários com o tráfico se mantém intocada.

Ninguém acredita que cada cidadão vai ter

sua horta caseira. O que, aliás, deverá deixar

tentados os plantadores mais competentes e

empreendedores a passarem para o comércio

informal e cair na esfera do...tráfico.

4 — Ou seja, o cerne da questão não está

sendo, nem de longe, contemplado: ninguém

quer saber de conversar sobre o fim da proibição

ao plantio, ao fabrico, à distribuição e à

venda em farmácias ou pontos de comércio,

com respectivos controle, arrecadação, estatística

e campanhas, vertidos na prevenção,

na polícia e, quem sabe, sobrando um trocado

até para a luta contra as milícias, essa coisinha

sem importância.

A utopia da erradicação do tráfico mantendo-

se o ouro na mão do bandido se mantém a

guiar os passos do pensamento vigente, estimulando

a violência, o confronto, a militarização.

O argumento de que um fim ao embargo

provocasse mais assaltos e sequestros é um

clássico engana-trouxa: polícia serve, fundamentalmente,

para prender ladrões, sequestradores,

agressores, assassinos e corruptos.

A diferença é que, com reserva de mercado de

substâncias tão almejadas, eles ficam mais

poderosos e bem armados.

5 — Quem financia o tráfico é a proibição. A

Lei Seca americana, nos anos 1920, ao proibir

o consumo de álcool, armou uma poderosa

rede de gângsteres. A posterior liberação baixou

o consumo e zerou o tráfico.

Não discutir o fim da proibição e, ao mesmo

tempo, liberar o consumo é um avanço

de um lado e um retrocesso do outro, uma

vez que o combate direto ao tráfico é uma

guerra sem fim. Isso dá força aos que citam

a relação estatística direta entre homicídios

e drogas a pôr no mesmo saco usuários

e traficantes e seus argumentos falaciosos

contra a discussão em curso.

6 — O texto inclui medicamentos, essas balinhas

de êxtases e de sonos tão diversos vendidas

licitamente e receitadas por psiquiatras

muy amigos. No caso, quem lucra nem são os

traficantes, mas a indústria farmacêutica. Em

passando as alterações pelo Congresso, queria

ver, na prevenção de uso abusivo de remédios,

o mesmo esforço que já existe, com sucesso,

no combate ao fumo de tabaco e ao consumo

excessivo de álcool, ao menos no trânsito.

http://oglobo.globo.com/blogs/arnaldo/posts/2012/06/02/drogas-duas-faces-da-liberacao-do-consumo-cronica-de-hoje-448565.asp

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  • Usuário Growroom

Eu não sei se já li um texto tão bom sobre a decisão da comissão que está delineando o novo código penal.

Descriminalizar o porte não significa o fim do tráfico, por mais que se possibilite o autocultivo sempre haverá o usuário que não planta, que não sabe, que não quer, que não pode, que não consegue.

Sem regulamentar toda a indústria, a exploração do mercado continua no limbo do mercado negro, nas mãos dos traficantes.

Descriminalizar não resolve. Ajuda? Claro, mas não resolve toda a problemática.

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  • Usuário Growroom

Eu acho que com a liberação do plantio para uso próprio, abre-se uma GRANDE oportunidade para difundir informações sobre plantio de uma forma mais explícita e direta! Revistas, matérias em blogs, cartilhas, livros!

Com o tempo, vai se mudando a cabeça dos maconheiros e com isso acho que a procura no tráfico diminui.

Mas a pergunta é, se fosse liberado HOJE o plantio para consumo prórpio, quantos maconheiros começariam a plantar? IMO acho que muito, mas MUITO pouco, mais pela falta de informação da parte dos usuários.

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  • Usuário Growroom

Ele ta certo galera, realmente o que ele fala é correto. Infelizmente temos de pensar que a mudança na cabeça da galera depois da anos de lavagem cerebral nao vai ser uma coisa tao facil nao...mas eu pelo menos acho q estamos caminhando com essa lei sim...menos pior!!

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  • Usuário Growroom

Tá parecendo que ele anda lendo o Gr. O interessante é que cada hora mais as pessoas tão saindo de cima do muro, tão perdendo o preconceito imposto pelo sistema e questionando-se sobre o tema.

Sano é muito importante municiarmos esses cidadãos com informações verdadeiras que, por vezes se perdem, nesta lama de falacias e futilidades midiáticas.

Se essa galera que se destacou em suas áreas de atuação, e fuma um ou já fumou desde os anos 50, 60, 70 porem a cara ficará mais fácil de informar a sociedade e diminuir o preconceito existente.

Eu não sei se já li um texto tão bom sobre a decisão da comissão que está delineando o novo código penal.

Descriminalizar o porte não significa o fim do tráfico, por mais que se possibilite o autocultivo sempre haverá o usuário que não planta, que não sabe, que não quer, que não pode, que não consegue.

Sem regulamentar toda a indústria, a exploração do mercado continua no limbo do mercado negro, nas mãos dos traficantes.

Descriminalizar não resolve. Ajuda? Claro, mas não resolve toda a problemática.

Está aí, mais uma boa oportunidade de apresentarmos o nosso projeto de lei !!!

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  • Usuário Growroom

muito legal ler nesse texto tudo que nós mesmos dissemos aqui no gr sobre esse mesmo assunto....

vi ele repetindo muitas coisas que eu mesmo postei comentando sobre o assunto! rsrsrsrs

mas ele não deve ter vindo aqui não, esse raciocínio é lógico e os exemplos como o do tráfico de álcool que desapareceu com a legalização são mais que evidentes....

bons ventos !!!!!!

pelo menos ainda tem gente que pensa agindo na mídia para ajudar a conscientizar o povo !!!!

com certeza esse texto vai ter ótima repercussão !!!!

Parabéns ao arnaldo e que essas pulgas saiam de todas as nossas orelhas o quanto antes !!!!!

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