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Maconha - Coletânea De Trabalhos Brasileiros - 1958


ericksky

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Pra quem gosta de História...

O livro é de 1958 e tem 31 artigos sobre diamba, makiah, maconia... ou maconha =)

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O primeiro artigo é do famoso Dr. Rodrigues Dória, um dos primeiros a realizar pesquisas sobre maconha no Brasil. O outro famoso Dr. Pedro Pernambuco viria depois do Dória...

Ambos proibicionistas.

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Segue trechos do artigo chamado "Os Fumadores de Maconha: Efeitos e Males do Vício", de 1915.

[...]

Minha atençao foi chamada para a maconha, e seu uso no Brasil, depois da leitura de uma obra de Bentley, A Manual of Botany, no qual, tratando da família das Cannabinaceas, e referindo-se à Cannabis Sativa, e a sua variedade Indica, diz o autor: "Esta planta é igualmente conhecida pelo nome de liamba, na Africa Ocidental, onde é empregada para fins intoxicantes sob os nomes de maconia, ou makiah."

[...]

[...]

O cultivo da maconha, ou do canhamo, entre nós, nao é largamento espalhado, por nao ser

aqui utilizada a liamba na industria das fibras texteis, e somente empregada como planta

da felicidade, causando as delícias dos que a fumam pelo extasis em que entram. Esse

cultivo é acompanhado de práticas fetichistas, que bem fazem lembrar a celebrada mandragora da antiguidade. Os mistérios que cercam os cuidados com a planta concorrem para lhe dar mais valor, exaltar as suas virtudes, excitando a imaginaçao dos ignorantes, sugestionando-os. Os meus colegas e amigos, Drs. Aristides Fontes, clínico em Aracaju, e Xavier do Monte, em Propiá, atendendo bondosamente às minhas solicitaçoes, fizem em Sergipe, nas suas respectivas cidades, inquéritos, que muito me vão auxiliar na confecçao deste ligeiro e despretencioso trabalho.

A planta, da familia das cannabinaceas, é herbácea, anual, atingindo em Sergipe, como verifiquei, um metro e meio mais ou menos, dióica, com folhas inferiores opostas, e alternas as superiores, estipuladas, de limbo profundamente fendido, com 5 e 7 lóbulos, de bordas serrilhadas, como se vê nas figuras juntas. A inflorescencia feminina é em espigas compostas; as flores sao regulares, na axila de uma bráctea persistente, que envolve o fruto, o qual é um achênio, amarelo ecuro, com venulaçoes claras. As inflorescencias ocupam os vertices das hastes.

Dizem os cultivadores que o vegetal macho nao atinge o crescimento, nem tem a abundancia de ramificaçao da planta femea, e são mais delgados os seus ramos. Isto talvez devido aos cuidados maiores que têm com a femea, emprega de preferencia em todos os místeres, exceto, na medicina popular, quando dão em infusão contra as cólicas uterinas. Somente neste caso recomendam as inflorescencias e folhas da planta masculina.

É sem a menor dúvida o vegetal cultivado e usado no Brasil sob a denominação de maconha, fumo d`Angola e diamba, nada mais do que o canhamo -- Cannabis Sativa, ou sua variedade Indica, que nos países quentes adquire propriedades mais ativas e enérgicas, e com a qual os asiáticos preparam o haschich e outras misturas, e cujas folhas, colhidas na época na floraçao, e desecadas, sao por eles fumadas, sob a denominaçao de gunjah.

Quando a planta atinge certo desenvolvimento, e tende a se ramificar, procedem ao processo de capaçao, que consiste em cortar o olho ou o rebento terminal, para provocar o desenvolvimento de olhos laterais e, portanto, produzir maior ramificaçao, à semelhança do que fazem os cultivadores de nicociana.

Essa operaçao, efetuada no segundo mes da vegetaçao, nao deve ser feita na presença de mulheres, que nao podem tocar o vegetal, principalmente em ocasiao das regras, pois faz machear a planta, isto é, esta produzirá inflorescencias masculinas, que são as menos apreciadas.

[...]

[...]

Para mitigar a açao irritante da fumaça que provoca tosse, e as vezes faz espirrar, adaptam o cachimbo a um dispositivo, em imitaçao ao cachimbo turco, e pelo qual a fumaça é lavada, deixando na água, segundo dizem os fumantes, o sarro, e ficando mais fresca, agradável, aromática e ativa. Esse dispositivo consiste numa garrafa comum, ou em uma cabaça, que é o fruto de uma cucurbitácea, Lagenaria Vulgaris...

[...]

[...]

Dizem que a maconha os torna mais espertos, e de inteligência mais pronta e fecunda para encontrar a idéia e achar a consonância. É fumada nos quartéis, nas prisões, onde penetra às escondidas; é fumada em agrupamentos ocasionais ou em reuniões apropriadas e nos bordéis. Muitos fumam isoladamente à semelhança do uso do tabaco.

Os sintomas apresentados pela embriaguez da maconha sao variaveis com a dose fumada., com a proveniencia da planta, que pode conter maior quantidade dos principios ativos, com as sugestoes, e principalmente com o temperamento individual. Um estado de bem-estar, de satisfaçao, de felicidade, de alegria ruidosa são os efeitos nervosos predominantes. É esse estado agradável de euforia que leva a maior parte dos habituados a procurar a planta, a cujo uso se entregam com mais ou menos aferro. As idéias se tornam mais claras e passam com rapidez diante do espirito; os embriagados falam demasiadamente, dão estrepitosas gasgalhadas; agitam-se, pulam, caminham; mostram-se amáveis, com expressões fraternais; vêem objetos fantásticos, ou de acordo com as idéias predominantes no indivíduo, ou com as sugestões do momento.

À esse estado segue-se as vezes sono calmo, visitado por sonhos deliciosos. Há na embriaguez da maconha o fato interessante de, após a dissipaçao dos fenomenos, lembrar-se o paciente de tudo o que se passou durante a fase do delírio.

[...]

[...]

O Dr. Aristides Fontes, que conversou com pescadores habituados a usar a maconha, ouviu que, quando se encontram no mar em canoas ou jangadas, fumam em grupos para se sentirem mais alegres, dispostos ao trabalho, e menos penosamente vencerem o frio e as agruras da vida do mar. Denominam assembléia a essa reunião, e começam a sessão fumando no cachimbo maricas, no qual 'cada um puxa a sua tragada', na frase por ele empregada, para exprimir o esforço que exige o cachimbo tosco e a quantidade maior da fumaça que procuram absorver. Depois de algumas fumadas, tocados pelo efeito da maconha, tornam-se alegres, conversadores, íntimos e amáveis na palestra; uns contam hitórias; tais fazem versos; outros tem alucinaçoes agradaveis, ouvem sons melodiosos, como o canto da sereia, entidade muito em voga entre eles. Um desses, caboclo, robusto, de 43 anos de idade, fumando a erva há mais de 20 anos, sem apresentar perturbação da saúde, informou que a usava quando se sentia triste, com falta de apetite e pouca disposiçao para o trabalho, principalmente à noite, quando ia para a pescaria, ficando satisfeito, disposto, e podendo comer copiosamente.

[...]

Com o tempo vou postando outros.

:smokeweedab0:

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  • Usuário Growroom

Muito legal , continua postando ai por favor cara..

Interessante como o dito homem civilizado , branco , ou como queiram chamar , teme o prazer. Mais , teme aquilo que não possa ser explicado pelos meios que conhece e julga serem os únicos de valor ; a ciência médica principalmente. Ao invéz de se tornarem sucetíveis ao prazer tal qual aqueles que estão observando , preferem relatar minunciosamente do alto do pedestal que julgam ocupar e manter uma distância kilométrica de seus objetos de pesquisa (medinho). Não vejo diferença para o Laranjeira, um exemplo contêmporaneo deste tipo de posicionameto .

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  • Usuário Growroom

Excelente!

Ficarei muito agradecido se tiver a disposição de scanear e fazer um PDF!

Uma duvida, qual o primeiro no nome do maldito Dr. Pernambuco? Pedro ou Jarbas?

Já ouvi o carlini falando Jarbas, e no livro o texto é Pedro!

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Então Sano, eu to pensando em escanear e fazer um PDF sim, inclusive essa semana vou pesquisar uns editores.

Nesse livro tem dois textos do tal Dr. Pernambuco... Aparece como Dr. Pedro Pernambuco:

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Até agora o Dr. Dória até parece imparcial, né não?

Mais alguns trechos do mesmo texto:

[...]

O amor dos prazeres e da sensualidade, uma vida indisciplinada e descuidosa, sempre ávida de novas e estranhas sensaçoes, que é o apanágio dos gozadores e sibaritas, conduz igualmente os desregrados a procurarem no vício a felicidade e os gozos, que artificiais e passageiro lhes causa o extase produzido pela absorçao da fumaça da planta maravilhosa.

[...]

[...]

A proibiçao do comércio da planta, preparada para ser fumada, poderá restringir a sua disseminação progressiva. Sei que em alguns estados do norte a violencia cometida durante a embriaguez da maconha tem levado as autoridades policiais a proibir a vendagem da erva nas feiras. Em Penedo, segundo informaçoes que me deram, essa proibiçao tem dado resultado, quase extinguindo as brigas provenientes da embriaguez pela maconha.

[...]

[...]

A raça preta, selvagem e ignorante, resistente, mas intemperante, se em determinadas circunstancias prestou grandes serviços aos brancos, seus irmãos mais adiantados em civilizaçao, dando-lhes, pelo seu trabalho corporal, fortuna e comodidades, estragando o robusto organismo no vício de fumar a erva maravilhosa, que, nos extases fantasticos, lhe faria rever talvez as areias ardentes e os desertos sem fim de sua adorada e saudosa pátria, inoculou tambem o mal nos que a afastaram da terra querida, lhe roubaram a liberdade preciosa, e lhe sugaram a seiva reconstrutiva;

[...]

[...]

NOTA:

Só após a minha volta do Congresso Científico Pan-Americano foi que recebi o resultado do questionário, a meu pedido feito, pelo meu colega e amigo Dr. Francisco Fonseca, clínico na cidade de Maroim (Estado de Sergipe), na zona de sua prática. Essas informaçoes confirmam pontos tratados neste texto, e foram principalmente fornecidas por um fumante inveterado de 60 a 65 anos, robusto, musculoso, sadio, atribuindo o seu vigor ao habito de fumar maconha, desde rapaz, no Estado de Alagoas, de onde é filho, residindo há muitos anos em Pirambu, povoaçao e praia de banhos em Sergipe. Nessa povoaçao, e outras proximas, onde existem muitos pescadores, o vício é grandemente disseminado. Em lugares de Sergipe e Alagoas, às margens do rio Sao Francsico, cultivam a planta, que vendem, preparada para ser fumada, sob a denominaçao de pelotas, pela forma que tomam as inflorescencias, e à razao de 3$000 o quilo, e 30$000 e 40$000 a arroba.

Os informantes fazem as declaraçoes com dificuldade e timidez, receiosos de uma açao policial. Nesses lugares fumam em reunioes e lugares determinados.

[...]

Vejam que até o momento em que o Dr. Dória estava apenas relatando o resultado das observaçoes, estava tudo bem.

Quando ele começa a emitir opiniões pessoais... a casa cai.

É isso aí!

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  • Usuário Growroom

Muito bom.Um achado!!!

Mostra que a proibição da canabis é questão de puro preconceito.

Contra negros e nordestinos...

Até parece que hoje em dia, sendo proibido, morrem muito mais pessoas em brigas no interior, por causa da CACHAÇA...

Se conseguir, que venha em PDFão...

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  • Usuário Growroom

iradoo!

vamos fazer uma grande coletanea mesmo!

vo colocar alguns textos tambem

...

Me amarrei no relato histórico sobre os bongs, que chamavam de cachimbo turco.

...

olha aqui mais sobre os bongsmed_gallery_19842_5076_79331.jpgsobre

e tem um texto do baudelaire sobre o haxixe aqui.

http://www.growroom...._20#entry892967

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Pessoal, o sano mostrou ali no post de cima que em 2010 o verdegulho começou a digitalizar esse livro!

Se eu tivesse visto antes...

Mas pelo jeito ele nao digitalizou tudo, então eu vou continuar e a gente faz um merge... e disponibiliza um pdf só. Depois pode unir tudo no começo de ambos os tópicos.. sei la.

Eu pretendo continuar postando os trechos mais interessantes de certos artigos.

Semana que vem levo a multifuncional pra casa e começo a escanear.

:)

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