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A Coluna Inútil Daquele Maconheiro


∆-9-THC

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  • Usuário Growroom

07/10/2013

A coluna inútil daquele maconheiro

Cara Folha de S.Paulo,

Como vocês sabem, os jovens (e o FHC) estão querendo legalizar a erva. Eu, que nunca fumei nem pretendo fumar, mas sei que ela é danosa, pois só quem fuma é marginal, venho por meio desta carta pedir que o jornal explique ao leitor jovem (e para o FHC) por que é que ela não pode ser legalizada. Para ajudá-los, recolhi alguns argumentos entre meus amigos do clube militar.

1. Se legalizar, vai virar moda. Nos países em que a ditadura gay venceu e as feministas legalizaram o aborto, as pessoas passaram a abortar só para se enturmar. Resultado: os países foram dizimados e hoje em dia nem existem mais.

2. Se legalizar, os jovens que atualmente trabalham no ramo do tráfico de drogas vão ficar desempregados. As ruas vão ser tomadas por jovens roubando, matando e estuprando para sobreviver.

3. A maconha impede os jovens de serem violentos quando eles precisam ser. Enquanto a cocaína os torna mais ativos, a maconha os deixa lesos, uma presa fácil para assaltos e estupros. A legalização da maconha vai gerar uma juventude muito facilmente estuprável.

4. Maconha é crime. Como é proibida, é através dela que os jovens entram no mundo do crime. Sim, se ela for legalizada, o argumento muda. Mas como não é, é melhor não legalizar, porque é crime.

5. Maconha é uma droga tradicionalmente cultivada por negros. Não é à toa que bastou os Estados Unidos terem um presidente mulato para afrouxarem em relação à erva. Liberar a maconha equivale a oficializar que vivemos numa negrocracia, não bastasse o pagode, o funk e aquele programa da Regina Casé.

6. Maconha gera a famosa "larica", fenômeno que faz com que o jovem coma qualquer coisa, comestível ou não, que ele veja à sua frente. O que é que isso gera? Obesidade, indigestão e mortes por engasgamento.

7. A qualidade da maconha vai melhorar e vão começar a surgir sommeliers de beque, pessoas que vão achar na erva sabores que só eles sentem. "Esse baseado tem notas de baunilha". Ou então: "A melhor parte do soltinho da Bahia é o retrogosto". Não, por favor. Já bastam os enochatos. A sociedade não está pronta para o surgimento dos ervochatos.

Peço que a Folha me ajude nessa cruzada elucidativa a favor da família brasileira, de preferência publicando a minha carta no lugar da coluna inútil daquele maconheiro carioca (perdão pela redundância).

gregorio duvivier

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/gregorioduvivier/2013/10/1352671-a-coluna-inutil-daquele-maconheiro.shtml

E hoje saiu essa historia dele..real.

21/10/2013

História real

A primeira vez que eu fumei maconha foi no aterro do Flamengo, depois de uma pelada. Éramos quatro pernas de pau do liceu francês. Perdemos de muito a zero. Sentamos debaixo de uma árvore e o Marcio apertou (mal) um baseado pra atenuar a derrota. "Tomamos um esculacho." O esculacho maior estava por vir. O beque mal apertado ainda não tinha dado uma volta completa quando brotaram, do nada, dois PMs trincados: "Cadê o flagrante?". O flagrante, a essas alturas, estava longe. Bruno tinha isolado o beque pro mato. O PM bom disse que se a gente não achasse o tal flagrante eles levariam a gente para Bangu 2, onde "bandidos comeriam o nosso cu". Argumentei, me sentindo Mel Gibson em "Coração Valente", que se eles não achassem o flagrante, não haveria prisão, porque só pode haver prisão com flagrante. E que nós éramos menores de idade e não iríamos pra Bangu.

Mas essa última frase eu não cheguei a dizer, porque o PM mau me deu um soco no peito e eu fui parar no chão. Se eu fosse Mel Gibson, teria revidado. Se eu fosse Mel Gibson, eu estava morto. A sorte é que eu não sou Mel Gibson e a garganta apertou. Comecei a chorar. Bruno, Marcio e Antonio, que tampouco eram Mel Gibson, começaram a procurar o flagrante no chão, de quatro. Acharam. Pronto, não tinha mais o que fazer. Ou melhor: tinha. Esvaziamos nossas carteiras, que, juntas, deram R$ 10. Naquela época o ônibus custava R$ 0,90. Achamos R$ 10, era uma fortuna. O PM mau não achou. Marcio disse que morava ali perto.

Eles ficaram com as nossas carteiras de identidade, pra gente não sumir ("Retenção de documentos não é crime?", teria dito Mel Gibson). Na casa do Marcio, a mãe dele estava vendo TV na sala. Atravessamos cabisbaixos. "Boa noite, mãe." Saímos do quarto dele com uma mochila pesada, contendo tudo o que ele tinha de mais valioso na vida: uma nota de R$ 50, um PlayStation velho, meia dúzia de jogos de PlayStation, um videocassete, algumas fitas de VHS, os controles do PlayStation. "A gente já volta, mãe." Deixamos a mochila na viatura, com muita dor e vergonha. No dia seguinte, rachamos o prejuízo: uns R$ 200 pra cada um. E uma raiva que eu iria levar pra vida.

Desde então, aprendi a temer a polícia. Aprendi que ela não existe pra me proteger. Aprendi que as coisas não mudam. A sorte é que tem gente que não é feita do mesmo material que eu. Tem gente que toma soco no peito e revida. Assim, quem sabe, um dia, ninguém mais vá precisar tomar porrada.

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Gregorio Duvivier é ator e escritor. Também é um dos criadores do portal de humor Porta dos Fundos.

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/gregorioduvivier/2013/10/1359632-historia-real.shtml

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  • Usuário Growroom

História real

por Gregório Duvivier, Folha de SP

A primeira vez que eu fumei maconha foi no aterro do flamengo, depois de uma pelada. Éramos quatro pernas de pau do liceu francês. Perdemos de muito a zero. Sentamos debaixo de uma árvore e o Marcio apertou (mal) um baseado pra atenuar a derrota. “Tomamos um esculacho.” O esculacho maior estava por vir. O beque mal apertado ainda não tinha dado uma volta completa quando brotaram, do nada, dois PMs trincados: “Cadê o flagrante?”. O flagrante, a essas alturas, estava longe. Bruno tinha isolado o beque pro mato. O PM bom disse que se a gente não achasse o tal flagrante eles levariam a gente para Bangu 2, onde “bandidos comeriam o nosso cu”. Argumentei, me sentindo Mel Gibson em “Coração Valente”, que se eles não achassem o flagrante, não haveria prisão, porque só pode haver prisão com flagrante. E que nós éramos menores de idade e não iríamos pra Bangu.

Mas essa última frase eu não cheguei a dizer, porque o PM mau me deu um soco no peito e eu fui parar no chão. Se eu fosse Mel Gibson, teria revidado. Se eu fosse Mel Gibson, eu estava morto. A sorte é que eu não sou Mel Gibson e a garganta apertou. Comecei a chorar. Bruno, Marcio e Antonio, que tampouco eram Mel Gibson, começaram a procurar o flagrante no chão, de quatro. Acharam. Pronto, não tinha mais o que fazer. Ou melhor: tinha. Esvaziamos nossas carteiras, que, juntas, deram R$ 10. Naquela época o ônibus custava R$ 0,90. Achamos R$ 10, era uma fortuna. O PM mau não achou. Marcio disse que morava ali perto.

Eles ficaram com as nossas carteiras de identidade, pra gente não sumir (“Retenção de documentos não é crime?”, teria dito Mel Gibson). Na casa do Marcio, a mãe dele estava vendo TV na sala. Atravessamos cabisbaixos. “Boa noite, mãe.” Saímos do quarto dele com uma mochila pesada, contendo tudo o que ele tinha de mais valioso na vida: uma nota de R$ 50, um PlayStation velho, meia dúzia de jogos de PlayStation, um videocassete, algumas fitas de VHS, os controles do PlayStation. “A gente já volta, mãe.” Deixamos a mochila na viatura, com muita dor e vergonha. No dia seguinte, rachamos o prejuízo: uns R$ 200 pra cada um. E uma raiva que eu iria levar pra vida.

Desde então, aprendi a temer a polícia. Aprendi que ela não existe pra me proteger. Aprendi que as coisas não mudam. A sorte é que tem gente que não é feita do mesmo material que eu. Tem gente que toma soco no peito e revida. Assim, quem sabe, um dia, ninguém mais vá precisar tomar porrada.

Gregorio Duvivier é ator e escritor. Também é um dos criadores do portal
de humor Porta dos Fundos.

Eu vi no: http://coletivodar.org/2013/10/humorista-do-porta-dos-fundos-relata-sua-primeira-experiencia-com-maconha-e-com-a-pm/

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