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Enxugando Gelo E Sangue


sano

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  • Usuário Growroom

Enxugando gelo e sangue

Nos últimos dias, a expressão "enxugar gelo" foi usada duas vezes nesta Folha para referir-se à atuação do Estado em relação aos problemas gêmeos das drogas e da criminalidade. O curioso é que ela marca duas avaliações opostas da questão.

Em entrevista ao jornal no dia 11, a socióloga Julita Lemgruber diz que a guerra "falida" contra as drogas está ajudando a produzir o caos nos nossos presídios e aumentar a violência ao multiplicar as prisões de pequenos traficantes. "Estamos enxugando gelo", diz.

No dia 30 de dezembro, o colega psiquiatra Antônio Geraldo da Silva reconhece em artigo que o governo enxuga gelo no combate às drogas. Seu diagnóstico parece ser o de que falta pulso firme ao Palácio do Planalto para vencer essa guerra.

Antes de analisar essa tensão, permita-me contar uma história: não muito tempo antes da legalização da produção e da distribuição de maconha no Uruguai (porte pessoal para consumo já não era crime por lá), eu fui a um bairro da periferia de uma cidade brasileira para orientar ações de saúde mental. Circulando pelo bairro, perguntei a um profissional de saúde que conhecia muito bem a região: "É difícil comprar drogas por aqui?". A resposta: "Não, doutor. O difícil é não comprar. Está tudo liberado aqui".

Produz-se, dessa forma, uma situação paradoxal: a maconha, o crack e outras drogas são, ao mesmo tempo, proibidíssimas e completamente liberadas. Essa sobreposição de estados se faz acompanhar de um conjunto nefasto de implicações sociais, penais e sanitárias. Tais consequências são particularmente proeminentes no caso daqueles com maiores riscos: os adolescentes –em especial os pobres.

Ainda assim, o rigor me obriga a apontar que, em seu artigo, Antônio Geraldo da Silva se equivoca na interpretação dos dados da Universidade Federal de São Paulo ao afirmar que "37% dos jovens que usam maconha ficam viciados". Na verdade, o estudo citado aponta uma estimativa de que 10% dos adolescentes que usaram maconha no ano anterior à pesquisa sejam dependentes. Da mesma forma, ainda inexistem dados científicos que permitam sustentar a afirmativa de Silva de que o número de usuários de crack "dobra a cada dois anos".

No caso da maconha, a proibição suprime benefícios do uso medicinal, reprime quem não quer alimentar a criminalidade plantando a própria erva e impossibilita a existência de controle e conhecimento sobre teores de canabinoides, algo particularmente importante para diminuir riscos e maximizar benefícios.

O resultado todos conhecemos: o impacto negativo do consumo de drogas sobe, a pressão sobre o SUS também, a violência relacionada ao comércio de drogas ilícitas idem e a população amedrontada dá força a políticos que prometem ainda mais rigor: mais da suposta solução que é, em última análise, o próprio problema. A tragédia do presídio de Pedrinhas é parte dessa equação, como bem aponta Julita Lemgruber.

Quebrar esse círculo vicioso depende, primeiramente, de reconhecer que o cenário atual é insustentável. Depois, é preciso desadjetivar o debate, por assim dizer. Expressões como "droga maldita", "reféns das drogas" e "exército de zumbis" podem ser boas para explorar o medo dos telespectadores nos programas vespertinos e no horário eleitoral gratuito, mas não ajudam a avançar as políticas públicas.

Para isso é preciso menos preconceito e mais coragem, como a que demonstraram o Uruguai e os Estados americanos de Colorado e Washington ao decidirem regulamentar sem hipocrisia seus mercados locais de maconha.

Essas experiências devem ser avaliadas de forma atenta e desapaixonada no Brasil, em especial neste ano de eleições presidenciais, no qual a tendência dos candidatos é repetir 2010 e endurecer o discurso da repressão na disputa pelo voto conservador.

Enquanto diversos países avançam em direção a uma abordagem distinta da fracassada guerra às drogas, seria muito ruim se a sociedade brasileira condenasse a si própria a passar os próximos anos enxugando gelo –e sangue.

LUÍS FERNANDO TÓFOLI, médico, doutor pela Universidade de São Paulo, é professor de psiquiatria na Universidade Estadual de Campinas

http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2014/01/1399951-luis-fernando-tofoli-enxugando-gelo-e-sangue.shtml

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  • Usuário Growroom

O texto é bom. Mais um argumento. O foda é ler tais noticias todo dia, ontem, hoje e amanha e ver que nada muda.

De fato o crack, a maconha e a coca sao proibidas. Assim como o alcool e o cigarro a menores de 18. Mas, qlq um que chegar num banca ou fiteiro compra facilmente 1 carteira de cigarro e uma latinha.

Assim como, qlq um que xegar numa boca (as vezes nem precisa desse envolvimento todo) compra maconha, pó e/ou crack.

Em presidios ( tenho familiar que trabalha em um) a realidade é pior ainda. Um amigo proximo foi "ver como é" há um mes atras. Justamente porque tava com 50g no carro e terminou descendo por causa disso. Drogas por lá sao commodities. Maconha? Os caras fazem colares com os "quadradinhos" de prensado e vendem a qualquer um a qualquer hora. O que é caro la dentro, é justamente o que é barato aki fora.

Nós (o primeiro e mais importante "grupo social", que tem a voz abafada, por assim dizer) sabemos que é assim. -> O agente penitenciário sabe -> O diretor do presidio sabe -> O secretario de segurança sabe -> A presidente sabe.

Mas e ai, alguem se move? Se a pior droga é ver a Tv aberta nos dias de domingo, e ninguem faz nada...imagina com as drogas que geram dinheiro na mao dos corruptos (espero, e muito, estar errado).

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  • Usuário Growroom

se ligaram que quando rola notícia pinta mil reaça dexando seus rastros de confusão, mas quando se trata de um texto anti-proibicionista eles nem tem por onde argumentar...

edit: rastro de confusão = comentários....

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  • Usuário Growroom

a palavra certa para conseguirmos alguma coisa é LOBE , precisamos identificar no meio dos politicos quem é a fovor da nossa causa e os elegermos depois precisamos encher a mão desse pessoal de dinheiro . assim vamos ter resultado rapido . é assim que funciona brasilia LOBE , DINHEIRO NA MÃO DE QUEM FAZ AS LEIS .

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  • Usuário Growroom

a palavra certa para conseguirmos alguma coisa é LOBE , precisamos identificar no meio dos politicos quem é a fovor da nossa causa e os elegermos depois precisamos encher a mão desse pessoal de dinheiro . assim vamos ter resultado rapido . é assim que funciona brasilia LOBE , DINHEIRO NA MÃO DE QUEM FAZ AS LEIS .

prefiro cair fora daqui do que chegar a esse ponto, saber que uma planta que só traz o bem foi liberada apenas pela corrupção dos homens, liberada pelo mesmo motivo q foi perseguida...

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  • Usuário Growroom

po Sano, muito bom texto .. mas doi imaginar que os proibas querem contnuar assim, temos que mudar isso.

Pra atingir nossos objetivos nós temos q mudar a mentalidade do povo brasileiro,q é muito conservadora.É foda mas é o único jeito de se mudar alguma coisa.

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