Ir para conteúdo

Maconha: Brasil Discute Mudanças, Mas Não Vai Votar Agora


CanhamoMAN

Recommended Posts

  • Usuário Growroom

Maconha: Brasil discute mudanças, mas não vai votar agora

http://www.alagoas24horas.com.br/conteudo/?vCod=197808

07/04/14

Decisões judiciais e projetos de lei no Congresso acendem debate, refletindo flexiblização no exterior. Mas discussão vai esbarrar nas campanhas eleitorais deste ano.

Juliana Spinola/Demotix/Corbis

Marcha da maconha. Fracasso da política de guerra às drogas é um dos argumentos a favor da legalização

No último dia 20 de março, uma decisão do juiz Marcos Augusto Ramos Peixoto, da 37ª Vara Criminal do Rio, rejeitou uma denúncia do Ministério Público Estadual pedindo a prisão de um homem detido com nove gramas de maconha e 18 gramas de cocaína. Em sua sentença, o magistrado usou uma série de referências jurídicas para afirmar que o uso de drogas jamais deve ser visto como crime, mas sim, na pior das hipóteses, como um problema de saúde. Mais recentemente, na última quinta-feira, outra determinação, desta vez da Justiça Federal de Brasília, obrigou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a liberar o uso de um medicamento à base de canabidiol (CBD), derivado da maconha, no tratamento de uma criança com epilepsia.

Os ventos de flexibilização da política em relação à Cannabis sativa, que sopram fortemente no Uruguai e em estados americanos como Colorado e Washington, chegaram ao país. Em outubro do ano passado, um juiz de Brasília já tinha absolvido um homem flagrado com 52 trouxinhas de maconha e acusado de tráfico, ao entender que a portaria do Ministério da Saúde que inclui a erva no rol de drogas proibidas é inconstitucional. E, no Congresso, dois projetos de lei dão nova força ao debate. Em fevereiro, o deputado federal Eurico Júnior (PV-RJ) propôs liberar a plantação de maconha em residências, além do cultivo para usos medicinal e recreativo. Mês passado, o também deputado federal Jean Willys (PSOL-RJ) foi mais longe, com um projeto que regulamenta produção e venda de maconha.

O termômetro no centro de poder nacional indica que este ano, com eleições executivas e legislativas à vista, nada disso será votado. Mas toda essa movimentação reflete intensas transformações em torno do assunto. Enquanto, no Colorado e em Washington, a comercialização da droga por particulares foi liberada e rende lucros e impostos, o governo uruguaio deve divulgar até a próxima quinta-feira a forma como as autoridades locais cultivarão e venderão, controladamente, a maconha.

Não digo que devemos seguir o Uruguai, mas não podemos ficar do jeito que estamos. Perdemos a guerra contra as drogas. O jeito agora é descobrir como reverter a derrota comenta o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que vai promover uma série de audiências públicas para, até o fim do ano, produzir um relatório sobre a maconha que será entregue à Comissão de Direitos Humanos do Senado. Há várias questões a responder. A maconha leva às drogas pesadas? Até que ponto estamos sacrificando pessoas que precisam de medicamentos com base na planta?

Esse relatório foi motivado por uma petição on-line no site do Senado que reuniu 20 mil assinaturas. São pessoas que pedem mudanças na legislação. Hoje, vale no país o artigo 28 da Lei 11.343, de 23 de agosto de 2006, que instituiu o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (Sisnad). Segundo o texto, porte de drogas para consumo pessoal não deve ser punido com prisão. Mas a lei também diz que, para diferenciar uso de tráfico, o juiz deve atentar à quantidade, ao local e às condições do flagrante, além das circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente. Sem jamais especificar a partir de que quantidade de droga se configura o tráfico.

Quando a polícia pega uma pessoa preta, pobre, diz você não é usuário, é traficante, e ela vai para a cadeia. Mas, se o usuário for de classe média, não vai analisa o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, coordenador da Comissão Global de Políticas sobre Drogas. As drogas no Brasil são formalmente proibidas mas, na prática, não, o que é gravíssimo. É um faz de conta. Melhor é regulamentar e educar, e agora o Brasil está acordando. Vamos discutir, vamos quebrar o tabu, ver do que se trata.

FHC sabe que, em ano eleitoral, se for discutir esse assunto vai virar cara ou coroa, e não é assunto partidário, é de saúde pública. O tema divide opiniões no Parlamento, onde muitos se opõem a sequer debater uma mudança. O Poder Legislativo, contudo, não é o único caminho para a flexibilização, dizem especialistas. Está em trâmite no Supremo Tribunal Federal recurso extraordinário da Defensoria Pública de São Paulo contra a condenação do presidiário Francisco Benedito da Silva à prestação de serviços comunitários após ser flagrado com maconha numa cadeia em Diadema (SP).

No recurso, a defensoria questiona a constitucionalidade do artigo 28 da Lei 11.343 com o argumento de que fere o direito à intimidade e à vida privada. Em dezembro de 2011, o STF reconheceu a chamada repercussão geral da questão, o que significa que casos semelhantes em todas as instâncias da Justiça deverão seguir a decisão da Corte. Se, no julgamento do recurso, o Supremo decretar a inconstitucionalidade do artigo que prevê punição a usuários, porte e consumo estarão, de fato, descriminalizados, a exemplo do que ocorreu na Argentina, onde, em 2009, a Suprema Corte decidiu que usar droga é questão de liberdade individual, desde que não cause danos a outros.

O relator do processo é o ministro Gilmar Mendes, e não há previsão de debates em plenário. Mas, mesmo no STF, há risco de o assunto ser engolido pela campanha eleitoral, diz Ilona Zsabó, diretora-executiva do Instituto Igarapé, focado em segurança e desenvolvimento, e integrante da Comissão Global de Política sobre Drogas.

O que queremos este ano é ter as cartas na mesa para fazer um debate aprofundado, sem polarização. Não pode ser uma questão de proibir tudo ou liberar geral. É um caminho do meio comenta Ilona, corroteirista do documentário Quebrando tabus, que teve a participação de FHC. Desde a lei de 2006, aumentou muito o número de presos por crimes relacionados a drogas. No Brasil de hoje, as drogas estão liberadas, inclusive para menores de idade, o que é um problema. Não está dando certo. Se esse mercado fosse regulado, teríamos controle.

Já os adversários da ideia acham que isso levaria à explosão de consumo, aumentando gastos na saúde para além dos impostos arrecadados.

É uma ilusão achar que com a legalização e a regulamentação vamos controlar o acesso dos jovens às drogas. Já não fazemos isso com o álcool e o tabaco afirma Analice Gigliotti, chefe do Serviço de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa da Misericórdia do Rio. Está comprovado que maconha provoca a morte de neurônios. Em indivíduos vulneráveis, também eleva o risco de surtos esquizofrênicos e, como o tabaco, aumenta o perigo de problemas pulmonares, câncer no trato respiratório e nos testículos.

Diretora-geral de Prevenção da Associação Brasileira de Alcoolismo e Drogas (Abrad), Mina Seinfeld de Carakushansky crê que a venda regularizada não evitaria um mercado paralelo, procurado por usuários que não gostariam de se identificar ou que buscassem preços mais baixos:

É só termos paciência que isso ficará bem claro no Uruguai. Dizer que a guerra às drogas está perdida e que não adianta mais lutar porque todo mundo usa não é válido.

Governo não cogita legalização

No Uruguai, a regulamentação da venda, a ser divulgada esta semana, fornecerá mais subsídios para o debate. As pessoas poderão cultivar 480 gramas da droga, associar-se a clubes de consumidores ou comprar a maconha do governo, a um custo de um dólar por grama. Algo assim está longe de acontecer no Brasil, mas, em seu projeto de lei, Jean Wyllys prevê regulamentação de cultivo controlado, venda e uso da maconha recreativa e medicinal e anistia a presos já condenados por tráfico e sem vínculo com outros crimes. Ao propor mudanças na legislação que acredita serem importantes para o debate da saúde e da segurança pública, ele diz saber que poderá angariar oposições radicais. Mas afirma:

Se eu não me reeleger, não tem problema. Não sou deputado. Eu estou deputado.

Ilona Zsabó pensa que a recente divulgação sobre os efeitos medicinais da maconha pode amenizar o preconceito. A decisão judicial que obrigou a Anvisa a liberar o medicamento com base no CBD para uma criança de 5 anos com epilepsia teve grande repercussão. O medicamento reduziu a frequência de suas convulsões drasticamente. Os efeitos medicinais de derivados da maconha, aliás, são bastante reconhecidos em países como o Canadá, cujo governo começou em setembro uma produção em larga escala de maconha medicinal.

Temos que deixar esse preconceito inventado nos anos 1930. A maconha era usada como remédio na Antiguidade, a ciência está redescobrindo coisas sabidas há milênios critica o neurocientista Sidarta Ribeiro, diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Ainda longe de se envolver em debates sobre flexibilização, o Executivo federal continua a investir no combate ao tráfico. O secretário nacional de Políticas sobre Drogas, Vitore Maximiano, considera a discussão importante, mas esclarece que o governo não trabalha com a hipótese da legalização:

Temos que ter, cada vez mais, equilíbrio entre redução de oferta e redução de demanda.

Fonte: O Globo

  • Like 1
Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Usuário Growroom

Analice tem interesse na proibição!

Felizmente, as mudanças estão acontecendo contra a vontade dela, de todos os proibicionistas e do governo!

Hora de ir pra cima, growers!

  • Like 1
Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

Join the conversation

You can post now and register later. If you have an account, sign in now to post with your account.

Visitante
Responder

×   Pasted as rich text.   Paste as plain text instead

  Only 75 emoji are allowed.

×   Your link has been automatically embedded.   Display as a link instead

×   Your previous content has been restored.   Clear editor

×   You cannot paste images directly. Upload or insert images from URL.

Processando...
×
×
  • Criar Novo...