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Artigo: A Crise Da Ufsc Não Está Nas Drogas


CanhamoMAN

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  • Usuário Growroom

Artigo: A crise da UFSC não está nas drogas

11 de abril de 2014

http://wp.clicrbs.com.br/moacirpereira/2014/04/11/artigo-a-crise-da-ufsc-nao-esta-nas-drogas/?topo=67,2,18,,,77

Artigo do professor da UFSC Paulo C. Philippi.

Lendo algumas reportagens, comentários e depoimentos na Imprensa local e na mídia universitária tenho verificado que existe alguma desinformação e mesmo prática diversionista em relação às reais razões que culminaram na crise de março na UFSC. A desinformação é o que se depreende de alguns comentários e mesmo textos de reportagens. Por exemplo: “Que existe divisão e confronto entre alunos da UFSC”.

A prática diversionista aparece latente na moção de repúdio assinada por 83 professores dos centros de Filosofia e Ciências Humanas (CFH), Educação (CED) e Comunicação e expressão (CCE) que não encontrou aderência nem mesmo no CFH, o centro da crise, com 135 professores efetivos. A moção recorreu inclusive ao machismo para repudiar a ação da PF e a cobertura da Imprensa: “Externamos confiança em nossas colegas e repudiamos as infâmias veiculadas na imprensa, muitas das quais colocam em dúvida suas competências por serem mulheres”. Já uma nota do Sindicato dos Professores do Ensino Superior (Andes), que não representa os professores da UFSC, chegou a assimilar, neste 31 de março, a ação da PF aos piores feitos da ditadura militar.

Não há divisão entre alunos. O que existe são 30.000 alunos que vem para cá para estudar e 200-300 que estão associados a núcleos ativistas e movimentos da esquerda radical que veem na universidade um campo de luta política, secundados por alguns professores e servidores. Ainda que predominantemente das áreas humanas (o que é natural) estes 200-300 não são o CFH e arriscaria dizer que os professores ligados a estes núcleos ativistas são uma minoria naquele centro.

O que está acontecendo é que, com a anuência da Reitora, este pessoal está dando o ritmo para a universidade e isto ficou evidente nos últimos incidentes quando a universidade ficou paralisada por 3 dias em função da ocupação da Reitoria por uma minoria absoluta de estudantes (1%).

Se há alguma divisão esta é entre os professores, a grande maioria querendo dar à UFSC os padrões de qualidade para que ela seja academicamente competitiva a nível nacional e mesmo internacional e uma pequena parte querendo transformar a UFSC numa “universidade popular”.

De fato, não sei o que seria uma “universidade popular”, mas esta foi uma das “gritarias” nas manifestações do grupo “Levante do Bosque” quando da ocupação da Reitoria.

A droga foi só o estopim de uma crise que é muito mais grave. Os vídeos que dispomos mostram claramente que o que houve foi uma tentativa de estudantes liderados pelo Diretor e sua vice do CFH de dificultar ou mesmo impedir a ação da PF. O que se pode é qualificar a ação da PF de desastrosa. A PF veio aqui, pelo que se supõe (com as informações que temos), para ver se os cães recém-chegados de Brasília conseguiam farejar maconha nas mochilas no bosque. Ficaram muito tempo, não pegaram nenhum traficante e a reação era previsível (o que não era previsível era que fosse deflagrada por uma professora).

Mas tirando toda a “lambança” que daí decorreu, o fato é que vivemos na UFSC uma crise de autoridade institucional.

E não se entenda aqui, autoridade com “autoritarismo” (uma outra linha diversionista que muito agrada alguns colegas)

Autoridade significa ter a capacidade, saber transmitir o respeito à nossa instituição e ao papel da universidade para o país: para nossos filhos, nossos netos e nossos vizinhos.

Autoridade em uma universidade significa saber transmitir o respeito ao conhecimento, à ética, aos valores humanos.

E não estou vendo nada disto por aqui.

Um problema que temos no CFH é que as decisões neste centro são tomadas por voto universal.

Um princípio básico da democracia é que os direitos são proporcionais aos deveres.

E o voto universal é o oposto deste princípio.

O voto universal significa dar a um aluno o mesmo direito de decisão de um professor.

E não são os alunos os atores intelectuais de uma universidade.

Não são os alunos que planejam as disciplinas e os cursos de graduação e de pós e que estabelecem os seus programas de pesquisa e extensão.

Dar a um estudante o mesmo poder de decisão de um mestre é tratar desiguais com igualdade e ferir o Art. 5 da CF, justamente o ´princípio da igualdade´.

Uma forma de “populismo” que, ainda que possível de ser admitido em uma república, é extremamente nocivo em uma casa hierárquica baseada na meritocracia como é o ambiente universitário.

Enfim, o fim da universidade como centro de domínio, produção e difusão do conhecimento.

E é esta a real crise que estamos vivendo na UFSC.

Vejamos um dos aspectos desta crise.

A Lei 9.192 de 1995 define em seu Art. 1 e incisos I, II e III que:

I – o Reitor e o Vice-Reitor de universidade federal serão nomeados pelo Presidente da República e escolhidos entre professores dos dois níveis mais elevados da carreira ou que possuam título de doutor, cujos nomes figurem em listas tríplices organizadas pelo respectivo colegiado máximo, ou outro colegiado que o englobe, instituído especificamente para este fim, sendo a votação uninominal;

II – os colegiados a que se refere o inciso anterior, constituídos de representantes dos diversos segmentos da comunidade universitária e da sociedade, observarão o mínimo de setenta por cento de membros do corpo docente no total de sua composição;

III – em caso de consulta prévia à comunidade universitária, nos termos estabelecidos pelo colegiado máximo da instituição, prevalecerão a votação uninominal e o peso de setenta por cento para a manifestação do pessoal docente em relação à das demais categorias.

Todavia, a Portaria 2343 do(a) Presidente do Conselho Universitário (Cun), Profa. Roselane Neckel, de 13 de dezembro de 2013 constituiu um Grupo de Trabalho (GT) paritário (dois professores, dois servidores e dois estudantes) para “construir uma proposta de revisão das normativas em torno da consulta informal à comunidade universitária para a escolha do Reitor”.

A Reitora, por este ato, constituiu, pois, uma comissão para construir uma proposta de revisão das normativas em torno de uma consulta “informal” para a escolha do Reitor. Se a consulta é informal não há como ela ser regida por uma normativa que possa ser aprovada pelo Cun. E daí não haver qualquer razão para ela ter sido constituída, significando um “ato nulo” ou, ao menos, um ato que não permite à esta comissão ter qualquer atribuição ou responsabilidade.

Por outro lado e esta é a maior irregularidade, a Reitora, com esta Portaria, está admitindo a possibilidade da construção de uma normativa que regulamente uma consulta “informal”. E o termo “informal” significa uma consulta regida por alguma regra que “burle” a lei 9.192 em seu Art. 1 e inciso III. Caso contrário seria formal.

Tudo bem que uma iniciativa como esta parta das entidades de representação das categorias e dos estudantes (Apufsc, Sintufsc e DCE), como tem sido feito nos últimos 30 anos. Mas não é este o caso. Trata-se, aqui, explicitamente, de um ato formal da Reitora de uma Universidade Federal (uma portaria) apontando para uma proposta (uma saída) informal.

Universidades são autônomas, mas não soberanas. E os atos (portarias) de seus dirigentes, no uso de suas atribuições, devem ter como limite o limite destas mesmas atribuições.

O “GT-Democracia”, como se auto intitulou o grupo de trabalho designado pela Portaria 2343, realizou 6 reuniões, a metade das quais com a presença de apenas servidores e estudantes e a outra metade com a presença de apenas 1 docente. O GT está sendo presidido por um servidor técnico-administrativo (STAE) com mestrado em Administração e um dos integrantes titulares do movimento “Reorganiza-UFSC” que defende o turno de 30h para os STAE. Os estudantes que participam da comissão são oriundos da chapa 1 que concorreu no ano passado para o Cun com a seguinte plataforma: i) por um protagonismo estudantil autônomo atuante dentro das esferas universitárias; ii) pela ampliação das cadeiras estudantis no Conselho Universitário e demais órgãos colegiados visando uma representação paritária; iii) em defesa de projetos de pesquisa-extensão populares e iv) em defesa do Hospital Universitário 100% SUS.

Como resultados dos trabalhos, o GT veiculou um texto base para discussão que é uma apologia ao “voto universal” nos processos de consulta à comunidade visando a escolha do Reitor: i) criando a figura de “cidadão universitário” e ii) citando o Art. 5 da Constituição Federal: “Todos são iguais perante a lei”. O texto pode ser encontrado no link: http://gtdemocracianaufsc.wordpress.com/

Não nos deixemos enganar pela desinformação e pelo diversionismo. Está em curso um projeto para transformar a UFSC numa “universidade popular” e não acho que seja isto o que quer a sociedade catarinense. Santa Catarina é hoje o sexto estado com maiores riquezas do Brasil e o terceiro em IDH. Muito do seu desenvolvimento industrial só foi possível graças à implantação na década de 60 de uma universidade federal meritocrática preocupada com a geração do saber e em vencer os desafios científicos e tecnológicos que nos eram e que nos são impostos.

Paulo Cesar Philippi, 63, é professor Titular lotado no departamento Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Santa Catarina, Pesquisador 1A do Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq) e Coordenador do Laboratório do Meios Porosos e Propriedades Termofísicas ( LMPT ).

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  • Usuário Growroom

Não nos deixemos enganar pela desinformação e pelo diversionismo. Está em curso um projeto para transformar a UFSC numa “universidade popular” e não acho que seja isto o que quer a sociedade catarinense. Santa Catarina é hoje o sexto estado com maiores riquezas do Brasil e o terceiro em IDH. Muito do seu desenvolvimento industrial só foi possível graças à implantação na década de 60 de uma universidade federal meritocrática preocupada com a geração do saber e em vencer os desafios científicos e tecnológicos que nos eram e que nos são impostos.

Alguém precisa ensinar a este dito cujo que o propósito das universidades públicas é ensino pesquisa e extensão. Universidade que não é popular, não pode ser popular. Ainda mais pagas com recursos públicos.

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