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[folha] Mentor De Programa Contra O Crack De Sp Diz Que Objetivo Não É Fim Do Uso


Granjaman

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  • Usuário Growroom

Mentor de programa contra o crack de SP diz que objetivo não é fim do uso

Primeiro neurocientista negro a se tornar professor titular da Universidade de Columbia, em Nova York (EUA), Carl Hart, 48, cresceu em um bairro pobre de Miami e foi ele mesmo traficante de maconha por algum tempo.

Hábil com matemática, obteve bolsas por cotas e estudou nas melhores universidades dos Estados Unidos, onde decidiu que que ia "solucionar a dependência de crack". Isso até descobrir que não necessariamente existe uma solução para ela.

"Percebi que a minoria das pessoas que usava drogas se tornava dependente. Então, não dá para culpar a substância pela dependência. Há outros fatores nessa equação, sejam eles focados no indivíduo ou no seu ambiente", explica.

Pesquisas de Hart chegaram a princípios para lidar com a dependência muito semelhantes àqueles utilizados no programa Braços Abertos, da Prefeitura de São Paulo. O principal deles é oferecer alternativas atraentes a usuários de crack, capazes de fazer escolhas racionais.

Segundo o neurocientista, suprir as necessidades básicas dessas pessoas as afasta do pequeno delito e abre espaço para uma vida responsável, mesmo sem eliminar o consumo da droga.

Hart chegou na última quarta (27) ao Brasil para participar na quinta de um seminário do IBCCrim (Instituto Brasileiro de Ciências Criminais), em São Paulo, e para lançar um artigo na edição de agosto da Revista Internacional de Direitos Humanos, Sur. Ele também se reuniu com o prefeito Fernando Haddad (PT) para saber sobre o andamento do programa.

De acordo com a prefeitura, dos 500 participantes do Braços Abertos, 380 atuam em frentes de trabalho de quatro a cinco dias por semana. "Se essas pessoas estão bem e têm responsabilidade com o trabalho e com a família, é isso o que importa", disse.

Nesta sexta (28), a Folha mostrou que, quatro meses depois de uma ação dopoder público para remover a "favelinha", que facilitava a movimentação de traficantes, a situação voltou ao que era antes.

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

Daniel Marenco/Folhapress 15240131.jpeg Carl Hart é professor titular da Universidade de Columbia, em Nova York, nos EUA

*

Folha - Como você avalia o programa Braços Abertos e seus resultados?

Carl Hart - Eu tenho muito orgulho deste programa porque ele é muito humano e lida com as necessidades básicas do ser humano: abrigo, alimentação e trabalho para o sustento pessoal e da família. Sei que os críticos dizem que muita gente que faz parte do programa ainda usa drogas. Em muitos casos, quem diz isso também usa drogas como álcool, café, cigarros, mas toca sua vida com responsabilidade. Então, a pergunta não é se eles estão ou não usando drogas, mas se estão aparecendo pra trabalhar e arcando com suas responsabilidades. Essa é a medida do sucesso e aquilo no que deveríamos focar. Se essas pessoas não estiverem nas ruas, cometendo pequenos crimes, é um grande avanço. Se você não tem suas necessidades básicas satisfeitas, é uma escolha racional roubar alguém que parece ter de tudo em abundância. Então, programas como esses fazem com que todos fiquem mais seguros na sociedade.

E os resultados?

Ainda há poucos dados sobre ele até agora, mas o fato de haver gente inscrita no programa é um ótimo sinal porque essas pessoas não estão o tempo todo nas ruas. Há um paralelo entre o Braços Abertos e os programas de heroína feitos há mais de 20 anos na Suíça. Lá, o governo dá duas doses de heroína, todos os dias, para quem se inscrever no programa. Isso quer dizer que duas vezes por dia esse usuário entra numa instalação médica e interage com enfermeiras e agentes de saúde, o que é fantástico. Eles não estão nas ruas o tempo todo e estão sendo acompanhados de alguma maneira.

Há a informação de que, a cada dez pessoas inscritas, seis permanecem no programa e quatro o evadem.

Se há mais gente permanecendo no programa do que abandonando ele, avalio como algo bom. Ainda assim, é prematuro pensar em termos de sucesso ou fracasso com bases nesses números. Eu gostaria de saber por que essas pessoas deixaram o programa. Sei que havia muita gente de fora de São Paulo entre os primeiros beneficiados. Será que voltaram para casa? Será que têm uma vida produtiva hoje? Seria importante saber. Eu, por exemplo, estava num pós-doutorado na Universidade de Yale antes de me tornar professor em Columbia e decidi abandonar o projeto lá. Vi isso acontecer com outros pesquisadores. Podemos dizer, com base nisso, que Yale é um fracasso? Não.

Você diz ter decidido se dedicar à pesquisa de drogas para solucionar o problema da dependência. Há solução?

Sua pergunta é mais sofisticada do que aquelas que eu fazia quando comecei a pesquisar drogas. Na época, eu queria entender o que acontece no cérebro que faz com que alguém queira usar drogas exclusivamente. Acontece que eu descobri que ninguém quer usar drogas o tempo todo. Isso é uma ficção, um personagem. Descobri que uma minoria das pessoas que usava drogas se tornava dependente.

Mesmo no caso do crack?

Com certeza. A substância que mais gera dependência é o tabaco: 33% de quem experimenta, se torna dependente. No caso da heroína, 25%. Crack, 20%. Álcool, cerca de 15%. Maconha, menos de 10%. E foi aí que eu percebi que, se a grande maioria das pessoas não se tornava dependente, a causa da adição não poderia ser apenas a substância. Então, precisa haver explicações focadas em cada indivíduo e no seu ambiente que expliquem melhor a dependência do que as drogas em si. Estudos demonstraram que quem se torna dependente de drogas tem mais chance de manifestar também distúrbios psiquiátricos como depressão, ansiedade e esquizofrenia. Então, é provável que a doença esteja levando à dependência? Que se tratarmos da doença, a dependência vai desaparecer? Em outros casos, a pessoa pode não ter aprendido a ter responsabilidade e a dominar seu comportamento. Em outros, o uso de drogas pode ser a melhor opção que aquela pessoa tem no momento.

Isso explica a dependência mais que efeitos no cérebro?

Muito mais. Mais que qualquer gene que você possa pesquisar. Vários estudos apontaram que as drogas eram muito perigosas porque ratos de laboratório apertavam um botão da jaula que lhes dava uma dose de cocaína até se matarem de overdose. Quando você olha mais de perto, descobre que não havia nada na jaula dele além do tal botão. Se você coloca uma fêmea, uns brinquedos, umas bananas e outras coisas, o rato não usa cocaína até morrer. Isso mostra que se animais tiverem acesso a alternativas, as drogas deixam de ser um problema.

Você fez então estudos com humanos?

Isso. Levei usuários de crack para o laboratório e ofereci a eles, diariamente, uma dose de droga ou uma pequena quantidade de dinheiro, como US$ 5 (R$ 18). Em metade das ocasiões, escolhiam a droga. Na outra metade, o dinheiro. Se não houvesse o dinheiro, eles só teriam a droga para usar todo dia. Quando aumentava a oferta de dinheiro, eles preteriam a droga.

Não seria por que o dinheiro compraria mais do que droga ofertada de graça?

Esse é um bom argumento. Mas essas pessoas estavam morando no laboratório por três semanas. Eles poderiam estar guardando dinheiro para quando fossem para a rua. Se eles estavam guardando para comprar droga, isso ainda demonstra que dependentes de crack podem prorrogar a gratificação do uso da droga e fazer planos de longo prazo, o que contradiz a imagem de incapacitados ou incontroláveis que muita gente tem deles. Mas houve muita gente que pediu que assinássemos um cheque com o dinheiro ganho para o pagamento de certas contas.

Você é a favor de tratamento compulsório?

Não. O fato de a China usar tratamento compulsório deveria nos fazer suspeitar desse tipo de ação. A China nunca foi um exemplo de direitos humanos. Também não acredito em tratamentos que são doutrinação religiosa, por mais que respeite muito a religião. Tratamento é algo que precisa ser desenhado individualmente porque, como falei, há fatores diferentes que podem levar pessoas à dependência. É preciso descobrir porque aquele indivíduo está com problemas com drogas e tratá-lo de acordo. Se for por depressão será diferente do que se for por falta de alternativas de vida.

Fonte: http://folha.com/no1674836

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  • Usuário Growroom

E olha o complemento desta notícia:

Neurocientista negro diz ter sido barrado em hotel em SP

Primeiro neurocientista negro a se tornar professor titular da Universidade de Columbia, em Nova York (EUA), Carl Hart, 48, diz ter sido barrado na quinta-feira (27) na entrada do hotel cinco estrelas onde se hospedaria e ministraria uma palestra a convite do seminário do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCrim), em São Paulo.

A Folha entrou em contato com Hart na noite de sexta (28) para confirmar informações que circulavam sobre o suposto constrangimento ao neurocientista.
Quando questionado sobre se ele havia sido impedido de entrar no hotel, o pesquisador respondeu por e-mail: "É verdade, mas foi [algo] menor". Hart, porém, não deu detalhes do que ocorreu na ocasião.
Procurada pela reportagem na manhã deste sábado (29), a gerência do hotel Tivoli Mofarrej, nos Jardins (zona oeste de São Paulo), negou que tenha barrado o hóspede. Imagens do circuito interno apresentadas à <b>Folha</b> indicam que, até entrar em seu quarto, Hart não foi abordado por funcionários do estabelecimento.
As gravações mostram o palestrante chegando ao hotel acompanhado de um homem, na manhã de quinta. Durante a entrada e a passagem deles pelo saguão e pela área do evento, a circulação dos dois ocorre sem impedimentos. Quando voltaram à entrada para buscar a mala do cientista, os dois são abordados por organizadores do evento.
Não é possível ouvir o que é conversado, mas, em seguida, Hart se dirige à recepção do hotel com a ajuda do homem que o acompanhava, onde faz o check-in. Logo depois, ele segue sozinho quarto.
PALESTRA
A palestra de Hart no evento foi sobre como a guerra às drogas tem sido usada para atingir certos grupos sociais mais vulneráveis, entre eles, jovens pobres e negros, em lugares como o Brasil e os EUA.
Durante sua palestra, Hart percebeu que era o único negro no auditório no qual falou para advogados criminalistas e juízes. "Vocês deveriam ter vergonha disso", disse ele à plateia.
Em entrevista à Folha, Hart, que pesquisa drogas há 20 anos, disse que sua percepção sobre o assunto mudou drasticamente quando começou a "olhar para quem estava preso por crimes ligados às drogas nos EUA".
"Apesar de os negros serem menos da metade dos usuários de drogas nos EUA, eles compõem muito mais da metade dos presos por causa de drogas. Um em cada três jovens negros americanos serão presos pelo menos uma vez na vida por causa das leis de drogas", explicou. "Ou seja, a guerra às drogas tem sido usada para marginalizar os pobres."

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2015/08/1675340-neurocientista-negro-e-barrado-em-hotel-onde-ministraria-palestra-em-sp.shtml

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    • Já está na hora de colher? Os pistilos estão marrons...
    • Salve galera, a quanto tempo eu não passo por aqui, caraca. Seguinte, estou passando por uma situação que nunca tinha me acontecido antes e gostaria de saber se alguém aqui já teve esse problema e se teve, como resolveu. Meu substrato está baixando o pH sozinho e muito. Eu faço rega com pH 6,35 por exemplo, como fiz hoje, e o run off sai com 5,2 e até 5,0. As plantas já estão na 2 semana de flora só que já  estão apresentando deficiências, as folhas se dobrando em garra, parecendo over de N, e elas estão bem  verdes mesmo. Estou usando um substrato 50/50 perlita e turfa. Quantos mais dias eu demoro pra fazer a proxima rega, mais ácido parece que fica. Usando Remo nutrients, iluminação LED 350W num grow 80x80. São 5 plantas automáticas, 4 na flora e uma no início da vega. Abaixo fotos.
    • Salve galera, tudo certo?! Alguns anos sem entrar aqui na casinha, mas como eu vi que tem alguns Growers retornando à casa e outros novos chegando, resolvi postar uma "atualização jurídica" (que não é tããão atual assim) para todos os usuários que já "rodaram/caíram" nesses anos todos de cultivo!!  Todos nós sabemos do julgamento do RE 635.659 (Recurso no STF para descriminalização do porte de maconha), agora chegou o momento de revisar as antigas condenações.  Sabe aquela transação penal assinada? Aquela condenação pelo 28 (que não foi declarada inconstitucional na época)?? Aquela condenação do seu amigo pelo 33, mas que se enquadrava nos parametros de um grower??? Pois então, chegou o momento de revisar todos esses processos para "limpar" a ficha de todos(as) os(as) manos(as) jardineiros(as)!! "O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) dará início, em 30 de junho, ao mutirão nacional para revisar a situação de pessoas presas e/ou condenadas por porte de até 40 gramas de maconha ou seis plantas fêmeas. A realização do mutirão cumpre determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) ao julgar recurso sobre o tema em junho de 2024, que resultou na fixação de parâmetros para diferenciar o porte de maconha para uso pessoal do tráfico. Entre o dia 30 de junho e 30 de julho, os tribunais da Justiça Estadual e regionais federais farão um esforço concentrado para rever casos de pessoas que foram condenadas por tráfico de drogas, mas que atendam aos critérios do STF: terem sidos detidos com menos 40 gramas ou 6 pés de maconha para uso pessoal, não estarem em posse de outras drogas e não apresentem outros elementos que indiquem possível tráfico de drogas. De acordo com da Portaria CNJ n. 167/2025, os tribunais atuarão simultaneamente para levantar os processos que possam se enquadrar nos critérios de revisão até o dia 26 de junho. Este é o primeiro mutirão realizado no contexto do plano Pena Justa, mobilização nacional para enfrentar a situação inconstitucional dos presídios reconhecida em 2023 pelo STF. O CNJ convidará representantes dos tribunais que atuarão diretamente na realização do mutirão para uma reunião de alinhamento na próxima semana, além de disponibilizar o Caderno de Orientações." LINK DO CNJ Caso o seu caso se enquadre, ou conheça alguém que também passou por essas situações, sugerimos buscar um Advogado de confiança ou entrar em contato aqui neste tópico mesmo com algum dos Consultores Jurídicos aqui da casinha mesmo!! Bless~~
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