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Papo de maconheiro, o governo Dilma, essas coisas nem lá nem cá…


CanhamoMAN

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http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/papo-de-maconheiro-o-governo-dilma-essas-coisas-nem-la-nem-ca/

Papo de maconheiro, o governo Dilma, essas coisas nem lá nem cá…

Eu vou ser franco. Há coisas que não entendo. Mais precisamente: há pessoas que estão aquém ou além da minha compreensão. Sou muito obtuso para entender, por exemplo, o que diz Marina Silva, presidente da Rede. Sou esforçado. Chego a submeter seus discursos a uma análise sintática. Nada! Dilma Rousseff, que foi sua antípoda no governo Lula, está na mesma categoria. Jamais aceitaria ser seu ministro. Entraria em desespero.

Eu tenho enorme dificuldade de conviver com anacolutos, com palavras soltas, com ilogismos… Minha mulher, minhas filhas, meus parceiros de trabalho e meus amigos sabem disto: sou tolerante com todas as diferenças do mundo. Mas preciso desesperadamente que as palavras façam sentido. Ou começo a ficar desagradável.

É por isso que nunca tive paciência com consumidores de maconha. Eles sempre acham que a gente deveria entender o que supõem ter enunciado. Meu problema com esse mato não é de natureza moral. Eu diria que é gramatical mesmo. Vamos ao ponto, que isso já está parecendo papo de maconheiro.

Dilma reuniu ministros, alguns estavam em viagem, nesta sexta. Exigiu deles fidelidade. Eu já começo a estranhar aí, né? Cobrar um comportamento fiel de quem pode ser demitido e só foi nomeado por vontade de quem faz a cobrança foge à minha compreensão. Outra disfunção deste escrevinhador: tudo o que atenta contra a lógica atenta contra a minha paciência.

Na primeira fala aos ministros depois da reforma ministerial e da sova que levou no TCU, Dilma fez esta declaração estupefaciente:
“Querem pôr em andamento um golpe democrático no país”.

Eu não sei que zorra quer dizer “golpe democrático”. Se é golpe, não é democrático; se é democrático, não é golpe. Quando alguém apela à expressão “golpe democrático” está, a meu juízo, tentando cassar prerrogativas da democracia, acusando-as, então, de golpistas, ou tentando desagravar o golpe.

De novo: eu sou lógico. A lógica me deixa preciso. E a precisão me faz parecer um sujeito mau, o que não sou. Só uma ex-comunista e ex-terrorista como Dilma recorreria a uma expressão como “golpe democrático”, porque é próprio de alguém com esse passado não saber a diferença entre golpe e democracia. É por isso que ela nunca se arrependeu de seu passado. É por isso que ela não tem futuro no regime democrático.

E não estou apenas sendo retórico. Ao falar em “golpe democrático”, a presidente soltou um adjunto adverbial: “à paraguaia”, sugerindo que a deposição de Fernando Lugo, no Paraguai, no dia 22 de junho de 2012, foi um golpe. É mentira! Tratou-se de uma solução constitucional. Dilma é que aproveitou para, em companhia do banditismo político de Cristina Kirchner, suspender aquele país do Mercosul e abrigar no bloco a Venezuela, então comandada pelo ditador Hugo Chávez. Desculpem a crueza: esse tipo de fala me dá nojo.

Ah, sim: no encontro, ficou claro também que o governo espera que a base fique muito atenta ao movimento das oposições — o que me parece, como vou dizer?, prudente. Jaques Wagner, da Casa Civil, revelou que esteve com Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, e que esse diálogo será constante. Que bom! Mais: também se assegurou que o governo não resume o PMDB a Leonardo Picciani (RJ), líder do partido na Câmara. Deus do céu! A tal reunião, afinal de contas, tratava do quê? De objetivo? O governo prometeu fazer uma cartilha para ajudar os ministros a defender as pedaladas fiscais…

Wagner chegou a dizer que, em razão da reforma, a “fidelidade do partido ao governo será demandada”. O que quer dizer? Não há mato queimado que explique. Um ser lógico entenderia que, se o governo não for atendido, pode reagir, ora essa… Afinal, não mudou ministério por isso? 

Ficou claro que não é assim. Se fidelidade não houver, haverá nova rodada de conversa.

Só faltou queimar mato na reunião.

Texto publicado originalmente às 2h18

Por Reinaldo Azevedo

 

 

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