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JARDINEIROS URBANOS: CONHEÇA OS ‘NERDS DA MACONHA’


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  • Usuário Growroom

JARDINEIROS URBANOS: CONHEÇA OS ‘NERDS DA MACONHA’

atualizado em 23 de junho de 2015, 19:28 

http://elastica.abril.com.br/jardineiros-urbanos-conheca-os-nerds-da-maconha

  •  

por Thaís Reis Oliveira

A maconha apareceu na vida de Marcelo aos 17 anos, dentro de um cachimbo tosco feito com três furos numa maçã. Depois um tempo de relação furtiva com a erva e muitas brigas com a família, convenceu a mãe que plantá-la dentro de casa era uma boa ideia. “Mostrei vários documentários e artigos pros meus pais até eles entenderem o que é realmente a cannabis e as vantagens de consumir minha própria produção”.

Há dois anos, ele trocou o ‘pau podre’ que comprava nas bocas de fumo da região pela plantação verde e aromática cultivada por ele. “Tô até com vergonha de mostrar essas plantas, se você viesse semana passada, elas estariam muito mais bonitas”, se desculpa sobre os quase trinta pés de Cannabis sativa que ocupam dois ambientes da casa modesta na zona oeste de São Paulo, adornados por lâmpadas de 600W, sistema de ventilação e fertilizantes orgânicos. O designer de 27 anos é um grower, nome dado aos entusiastas do cultivo para consumo próprio.

Na hora de apertar um baseado, os quase 3 milhões de maconheiros do Brasil só tem duas opções: a erva paraguaia vendida pelos traficantes ou driblar a lei e cultivar alguns pés em casa. Segundo eles, a intenção do autocultivo é garantir a qualidade do que está fumando e deixar de fazer parte da cadeia do tráfico. “Não quero fazer girar nem 1 centavo da maconha de rua, suja de sangue, corrupção e violência”, justifica o operador financeiro Paulo, de 37 anos. A produção caseira também resulta em extratos como o óleo medicinal rico em canabidiol.

Assim como a moda do homebrew (produzir a própria cerveja), o autocultivo é uma tendência mundial que ganha cada vez mais adeptos no Brasil. O maior reduto de cultivadores é Growroom, fórum é precursor do movimento que vem ocupando banheiros, quartinhos, armários, estufas e varandas em todo o Brasil. Desde 2002, frequentadores camuflados sob nicknames discutem ativismo, compartilham técnicas complexas de jardinagem e, claro, dão palpites nos cultivos uns dos outros.

“Não quero fazer girar nem 1 centavo da maconha de rua, suja de sangue, corrupção e violência”

Em sua tese de doutorado, o antropólogo Marcos Veríssimo cunhou o termo cannabier para explicar a “aproximação significativa entre os círculos de apreciadores de cannabis oriundas de autocultivos domésticos e os círculos de apreciadores de vinhos”. As flores da maconha (conhecidas como buds ou camarões) demoram cerca de seis meses para amadurecer, mais o tempo de tratamento e secagem. “É como um bom vinho de uma boa safra, o somatório de etapas é o que faz a erva se destacar”, se gaba o carioca Paulo, que cultiva alguns pés em seu apartamento há doze anos.

Para julgar se uma florada é boa ou não, os growers levam em conta três critérios básicos: aroma, sabor e a ‘onda’. “Pra mim,cannabis boa tem que ter pelo menos 15% de THC (substância responsável pelo barato) e um aroma maravilhoso, frutado, como manga”, completa o engenheiro de TI Leonardo, 43 anos.

É a partir dessas características que surgem os nomes sinestésicos de algumas variedades, como Cinderella 99, Girl Scout Cookies, Atomic Haze e Lemon Kush. “Cada uma tem seu momento, pra namorar, para ficar atento, para dar boas risadas, para discursar por horas.” explica Paulo. No site Leafly, é possível descobrir qual necessidade combina mais com o temperamento e a necessidade do usuário.

No caso dele, que nunca havia tido contato com a maconha, a paixão pela jardinagem canábica também tem razões terapêuticas. “Depois de passar muitas madrugadas acordado para operar no mercado asiático, já não aguentava mais café e estimulantes. Li que as Sativas poderiam atender minha necessidade, ficar mais alerta e acelerado. Precisava encontrar a strain(variedade) correta e o prensado não me atenderia. Só me restou aprender plantar”, conta.

Apesar dos anos de ativismo, de Bezerra da Silva, Planet Hemp e do veneno da lata, a lei brasileira não se atreve a transpor a cortina de fumaça que ronda a discussão sobre a legalização. Enquanto Argentina, Uruguai e alguns estados americanos regularam o uso e autocultivo  o mercado legal nos EUA já movimenta 3 bilhões de dólares por ano   os growers brasileiros correm o risco de passar até quinze anos na cadeia, enquadrados pelo art. 33, § 1°, inciso II, que trata do “cultivo para outros fins que não o consumo pessoal”, ou seja, tráfico de drogas.

Nos últimos meses, a PM carioca empreendeu uma caçada aos cultivadores que resultou na prisão de nomes como o rapper Cert, do grupo carioca ConeCrew e do ativista Flavio Dilan, que foi detido pela polícia por plantar 39 pés de maconha medicinal para o tratamento de epilepsia.

Segundo o advogado Emílio Figueiredo, as autoridades presumem a circulação da safra no momento da prisão, desconsiderando o ciclo anual da planta. “Após a prisão, as plantas apreendidas são pesadas como um todo, mesmo que somente as flores fêmeas sejam consumidas. Com isso, a quantidade de maconha informada no laudo pericial é muito maior do que a real”, explica.

Mesmo com a avalanche proibicionista, pela primeira vez o Brasil foi palco de uma discussão séria a respeito do uso medicinal da maconha. O debate ganhou corpo com a repercussão do filme Ilegal (2014), que conta as dificuldades de Katiele Fischer para  importar o canabidiol (CBD) que cessa a epilepsia grave da filha de 5 anos. Em janeiro deste ano, a Anvisa liberou o uso controlado do composto, que é o primeiro derivado da cannabis a ter o efeito terapêutico reconhecido. Mas os ativistas ainda não estão satisfeitos.

“Eu luto pela legalização da planta, de todo o ciclo socioeconômico da cannabis. Quando você torna esse mercado ilegal, você também está restringindo o acesso de pessoas que precisam e jamais poderiam pagar pela importação do CBD”, analisa o ativista William Lantelme, fundador do Growroom.  “Além das questões medicinais e sociais, temos que falar da economia. Num país como o Brasil, é triste que um mercado tão promissor fique na mão de criminosos, sem pagar impostos”, completa.

*Os nomes na reportagem foram trocados

Foto: Felipe Cotrim/ Elástica
Foto: Felipe Cotrim/ Elástica
Foto: Felipe Cotrim/ Elástica
Foto: Felipe Cotrim/ Elástica
Foto: Felipe Cotrim/ Elástica
Foto: Felipe Cotrim/ Elástica
 
Maconha-2
Foto: Felipe Cotrim/ Elástica
Foto: Felipe Cotrim/ Elástica
Foto: Felipe Cotrim/ Elástica
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Foto: Felipe Cotrim/ Elástica
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Foto: Felipe Cotrim/ Elástica
Foto: Felipe Cotrim/ Elástica
 
Foto: Felipe Cotrim/ Elástica
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