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Caá-Yaríi: Deusa dos ervais - a origem da erva-mate


Ilex p.

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  • Usuário Growroom

Cáa-Iari

(A senhora deusa dos ervais)

Lenda do mate

Na grande taba às margens do mar, a tribo festejava uma nova vitória. O entusiasmo chegara ao auge. Reunidos em círculo, ao redor das fogueiras onde mocavam as carnes dos prisioneiros, os guerreiros cantavam suas proezas na grande batalha em que os ferozes inimigos tinham sido completamente destro­çados.

O generoso espumante cauim  circulava de mão em mão em largas cabaças.

De repente, entre dois guerreiros famosos - o jovem Piraúna, o maior nadador dos mares igual aos velozes peixes, e o valente Jaguareté, temível como a fera da qual tinha o nome - surge acalorada disputa.

A fama de valentes e invencíveis acendera entre eles implacável rivalidade. Na memorável batalha, ambos tinham pra­ticado prodígios de valor; e cada qual pretendia ter abatido mais inimigos do que o outro.

No auge do furor, Jaguareté, cego de ódio e desvairado pe­las libações, pega o tacape e, com traiçoeiro golpe, esmigalha o crânio do rival.

O assassino é a custo dominado pelos outros guerreiros, o atado ao poste de torturas. O seu gesto  homicida tinha de ser redimido, pelo preço do sangue, que dava aos parentes da vítima o direito de tirar a vida ao seu matador.

No meio da algazarra infernal, troam os borés, e ouve-se a voz do velho Curuassú, pai de Piraúna, pedindo silêncio.

E assim falou Curuassú, que outrora fora famoso guerreiro, e que era então, não menos famoso nos conselhos por sua sabe­doria.

— Curuassú não quer o sangue de Jaguareté. Não foi ele quem derramou o sangue de meu filho; foi Anhangá, o espírito do mal, que escureceu o seu humor com o vinho embriagante, servindo-se de seu braço para tirar a vida a Piraúna. Que Jaguareté viva, mas que deixe a tribo, e vá viver só nos sertões.

Desatado do poste de torturas, o banido recebeu suas armas, e cingiu  seus ombros com o uru  de palha, contendo sua rede e alguns utensílios.

A um gesto do chefe, dois guerreiros acompanharam Jagua­reté, graves e silenciosos. Depois que saíram da taba, passadas as últimas roças de milho e de mandioca, os guerreiros voltaram-se e ficaram imóveis. Sem olhar para trás uma só vez sequer, o matador de Piraúna continuou a andar, desaparecendo na flores­ta próxima.

Passaram-se anos; do proscrito, ninguém mais teve notícias...

A tribo, outrora invencível, havia sido desbaratada em muitos combates e fora impelida pouco a pouco das margens do gran­de mar, às florestas e às campinas do interior.

Um dia, jovens caçadores perseguindo a presa descobriram, surpresos, uma cabana que se erguia solitária no meio de uma clareira, circundada de belas árvores.

Aproximaram-se; e o espanto deles foi maior ainda quando viram, suspenso à porta da cabana, o arco ornado de penas de tucano, emblema de sua própria tribo!

A porta da oca, surgiu um homem, cujos cabelos brancos indicavam a avançada idade, em contraste com o porte ereto e varonil. Vendo os recém-chegados, o seu semblante demonstrou uma profunda comoção, pois reconhecera logo, nas armas deles, o mesmo distintivo que, em recordação de sua antiga tribo, ele trazia sempre ornando o seu arco!

Depois de ter cumprido os deveres da hospitalidade, repartindo com os estrangeiros suas provisões, e mitigando-lhes a sede com uma bebida que eles desconheciam, o anfitrião contou-lhes a sua história.

Era Jaguareté, o banido, de quem eles tinham ouvido falar por seus pais.

Expulso da taba de sua nação, Jaguareté se internara na floresta virgem, inextricável e sem fim. Depois de ter caminhado durante muitos sóis exausto e faminto, fora cair desfalecido em um lugar onde cresciam árvores desconhecidas.

Em sonhos lhe aparecera, então, a formosa deusa Caá-Yaríi, a senhora dos ervais, que lhe ensinara a preparar com as folhas daquelas árvores uma bebida, a mesma que lhes servira. Graças às propriedades maravilhosas daquela planta, que o revigorara e lhe dera novas energias, Jaguareté escapara da morte, e tinha se conservado robusto e são, durante as luas sem conta em que vivera afastado de seus semelhantes.

O uso do Cáa, nome que os guaranis davam à erva-mate tornou-se um dos hábitos das tribos da região, onde ela era encon­trada em extensas matas, ou ervais.

 

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    • Salve galera, tudo certo?! Alguns anos sem entrar aqui na casinha, mas como eu vi que tem alguns Growers retornando à casa e outros novos chegando, resolvi postar uma "atualização jurídica" (que não é tããão atual assim) para todos os usuários que já "rodaram/caíram" nesses anos todos de cultivo!!  Todos nós sabemos do julgamento do RE 635.659 (Recurso no STF para descriminalização do porte de maconha), agora chegou o momento de revisar as antigas condenações.  Sabe aquela transação penal assinada? Aquela condenação pelo 28 (que não foi declarada inconstitucional na época)?? Aquela condenação do seu amigo pelo 33, mas que se enquadrava nos parametros de um grower??? Pois então, chegou o momento de revisar todos esses processos para "limpar" a ficha de todos(as) os(as) manos(as) jardineiros(as)!! "O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) dará início, em 30 de junho, ao mutirão nacional para revisar a situação de pessoas presas e/ou condenadas por porte de até 40 gramas de maconha ou seis plantas fêmeas. A realização do mutirão cumpre determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) ao julgar recurso sobre o tema em junho de 2024, que resultou na fixação de parâmetros para diferenciar o porte de maconha para uso pessoal do tráfico. Entre o dia 30 de junho e 30 de julho, os tribunais da Justiça Estadual e regionais federais farão um esforço concentrado para rever casos de pessoas que foram condenadas por tráfico de drogas, mas que atendam aos critérios do STF: terem sidos detidos com menos 40 gramas ou 6 pés de maconha para uso pessoal, não estarem em posse de outras drogas e não apresentem outros elementos que indiquem possível tráfico de drogas. De acordo com da Portaria CNJ n. 167/2025, os tribunais atuarão simultaneamente para levantar os processos que possam se enquadrar nos critérios de revisão até o dia 26 de junho. Este é o primeiro mutirão realizado no contexto do plano Pena Justa, mobilização nacional para enfrentar a situação inconstitucional dos presídios reconhecida em 2023 pelo STF. O CNJ convidará representantes dos tribunais que atuarão diretamente na realização do mutirão para uma reunião de alinhamento na próxima semana, além de disponibilizar o Caderno de Orientações." LINK DO CNJ Caso o seu caso se enquadre, ou conheça alguém que também passou por essas situações, sugerimos buscar um Advogado de confiança ou entrar em contato aqui neste tópico mesmo com algum dos Consultores Jurídicos aqui da casinha mesmo!! Bless~~
    • Curitiba é sempre pior parte hahahaha!
    • o teu chegou? o meu já passou por Curitiba mas tá devagar (pelo menos o pior já passou) kkkkkkkkkk
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