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Sexo, Drogas, Rock E Ditadura


Luluds

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  • Usuário Growroom

28/03/2004

Liberação dos costumes e luta contra regime militar caminharam juntas na trajetória

da juventude durante o período

No extenso prontuário da militante da esquerda armada Lúcia Murat, preparado pelos serviços secretos dos militares, há uma boa lista de atentados ao que se chamava na época de segurança nacional: assaltos a banco, ações de guerrilha, propaganda de exóticas ideologias e... “relação ilícita com vários homens”.

— É impressionante esse delito entre aspas, namoros, estar na mesma lista de ações revolucionárias — diz a hoje cineasta Lúcia Murat (do autobiográfico “Que bom te ver viva”). — Mas isso mostra que as mulheres da esquerda armada da geração 68, participaram, sim, desse momento incrível de libertação de comportamento da época.

Para Lúcia, o tripé ideológico marcante da juventude do período — sexo, drogas & rock’n’roll — não era estranho à juventude mesmo sob a ditadura ou, no caso da esquerda, mesmo sob a rigidez da militância clandestina.

— Em relação às drogas, a militância armada impedia na prática, mas havia contato com os desbundados, que faziam experiências com drogas. E rock também, embora eu me lembre de companheiros censurando o meu gosto pelos Mutantes... — diz Lúcia.

No oposto da juventude da época, os chamados alienados, a liberação sexual seria o marco do período. Tanto que, enquanto a esquerda juvenil, armada ou não, combatia a ditadura, e via os filmes do Cinema Novo, os alienados deliciavam-se nas pornochanchadas, o gênero cinematográfico típico do período pós-68.

— Minha ideologia era o sexo, e a da maior parte das pessoas também — reconhece um dos reis da pornochanchada, o ator, produtor e diretor Carlo Mossy, que se autodefine “politicamente vazio”.

Mesmo assim, fazendo filmes “exclusivamente para divertir e ganhar dinheiro”, Mossy acha que a pornochanchada ajudou a minar a ditadura.

— O deputado corno, o general ridículo que apareciam nos filmes eram uma espécie de vingança — diz Mossy. — E toda vez que eu ia à Polícia Federal para liberar um filme, era uma luta contra a ditadura. Eu me lembro que quando consegui a liberação de ‘Giselle’ como filme pornográfico, o primeiro considerado assim no Brasil, consegui no pacote que liberassem “O império dos sentidos” (filme japonês de arte com cenas de sexo explícito), considerado obra-prima. O fato de hoje crianças assistirem a todo tipo de filme no colo dos avós que antes nos censuravam é obra nossa.

Subversivo ao seu modo, Mossy tinha uma técnica para enganar a censura:

— Botava uns peitinhos a mais, cenas de sexo a mais, que eram censuradas, e liberavam o filme...

Paralelamente à pornochanchada, a indústria do sexo ganhou força num país em que a censura proibia qualquer manifestação política mais explícita. Vedetes do teatro de revista, como Brigitte Blair, viraram cult. A arte de conotação sexual, válvula de escape.

Matou a mulher que queria dançar

No dia-a-dia de quem combatia a ditadura, contudo, sexo, drogas e rock’n’roll não eram questões tão simples. Defensores do sexo livre e do fim do casamento convencional, os militantes de esquerda Nadja Leite de Oliveira e Vicente Roig conheceram-se no Presídio Tiradentes, em São Paulo.

— Foram dois anos e meio para a gente conseguir ter contato físico. O primeiro beijinho demorou seis meses — diz Nadja, hoje casada com Vicente, dois filhos.

— Em 1968 surgimos já contra o Partido Comunista, não havia o sectarismo que alguns dizem ter visto nas organizações de esquerda — diz Vicente, que, embora reconheça que a esquerda preferisse MPB e cigarros convencionais, diz não se lembrar de rejeição a rock e drogas.

Em certos setores da esquerda, contudo, o conflito entre política e comportamento adquiriu contornos trágicos. O jornalista Alípio Freire conta, no livro “Perfis cruzados”, sobre histórias do período, o caso do marinheiro cassado, depois guerrilheiro, Cláudio de Souza Ribeiro. Em 1971, ele foi recolhido ao Presídio Tiradentes por subversão, numa cela que reunia 16 presos políticos. Logo que entrou na cela e contou sua história, Cláudio causou uma ebulição entre os presos. Seriam, afinal, todos machistas, embora revolucionários? Cláudio foi preso de propósito, porque queria ser torturado e morto. Matou a companheira, porque ela gostava de dançar. Revolucionário, segundo ele, não podia gostar de dançar.

Cláudio continua desaparecido, mas foi visto há pouco tempo por amigos do jornalista, que era um dos presos. Os trechos da fala de Cláudio foram registrados pelo jornalista: “Sou marinheiro cassado e clandestino desde 1964. Vocês já devem ter lido nos jornais sobre minha história. Devem ter tido dúvidas. Mas desta vez a imprensa burguesa não mentiu: eu assassinei minha companheira”, contou o marinheiro.

Namoradeiras eram malvistas

Militante da Dissidência Comunista da Guanabara, e hoje historiador especializado no período, Daniel Aarão Reis acha que a maior parte dos militantes situava-se no meio: nem na liberalidade dos alienados e desbundados, nem no conservadorismo do marinheiro.

— O namoro era livre entre os militantes, mas se a menina trocasse muito de namorado era malvista — diz o historiador. — A militância ainda tinha um certo conservadorismo. Fumava-se maconha, mas escondido. Como descreveu o Herbert Daniel (militante e escritor, já morto), os ímpetos homossexuais também eram reprimidos. Os avanços de comportamento não estavam na militância, mas nos simpatizantes de esquerda de fora do movimento.

COLABOROU Soraya Aggege

Jornal: O GLOBO

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  • 2 weeks later...
  • Usuário Growroom

legal esse texto , mostra não só a evolução sexual , mas prova que conservadorismo não é algo unilateral , só da direita no caso , ele se encontra em todos os lados , e naquela epoca se tratando de sexo , principalmente no lado masculino , seja de direita ou esquerda.

pornochanchada , assim como jovem guarda e outras atrações que eram vendidas , pra min , mesmo que não tivesse a intenção no fundo servia mais para os repressores do que para a população alienando e impondo regras não escritas .

Talvez eu seja conservador em relação ao sexo , porém não tanto como se era claro ,( penso assim mas sou só um e viva a liberdade) , só acho que ele(sexo) esta sendo difundido de maneira errada e destrutiva ,

tornando principalmente as mulheres em objetos vazios disfarçados por uma complexidade invisivel que as torna mais vazias ainda e mais vendaveis para os olhos dos alienados e dos conservadores de mentira , que infelismente não são poucos .

"...minha fé é meu jogo de cintura..."

O Rappa

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  • Usuário Growroom

Interessante nessa época também foi a luta do movimento estudantil, algo de extrema importância... inclusive, o AI-5 foi instituído utilizando como pretexto o discurso de um deputado (nao me lembro qual agora) contra a invasão da Universidade de Brasília (UnB) em agosto de 68. O movimento aqui de brasília era um dos mais violentos... nego enfrentava a polícia direto, um dos principais líderes, Honestino Guimarães encontra-se desaparecido até hoje.

Tem um livro que conta a história toda: A REVOLTA DOS ESTUDANTES, se alguém puder ler... e um documentário tb: BARRA 68 - Sem Perder a Ternura

É bom a gente conhecer essas histórias que mudaram a história do país... sem falar que todo o movimento estudantil foi construído à base de muita maconha! huiahauiha Pois é, deveriam ensinar mais isso nas escolas.... hoje em dia ningué,m mais tem coragem de lutar por nada... é foda

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  • 2 weeks later...
  • Usuário Growroom

Ae pessoal, importante lembrar que neste ano, completa-se 40 anos do Golpe Militar de 31 de março-1° de abril de 1964. Não podemos achar que é passado, que já era. Muitas seqüelas do Brasil decorrem daquele período (não só dele, é claro); e, pior ainda, os ditadores e todos os agentes da repressão ficaram completamente impunes. É esse tipo de condescendência que faz com que sempre se reproduza a impunidade, o autoritarismo. Não julgamos nosso passado, achamos que esquecer é melhor, mas aí as coisas acontecem e fica todo mundo com cara de bunda.

Quem quiser umas indicações de leitura sobre vários temas do período em questão me manda uma mensagem. Atualmente, tô fazendo mestrado de História neste assunto. Tô lendo pra burro.

Agora eu vou cremar um que é pra relaxar... tchau!

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