Olá amigos ativistas, ha tempos não passava por aqui, mas estou na ativa fora do mundo virtual.
Aproveitando a chegada da Marcha 2012 vou passar uma matéria muito importante para os ligados no ativismo no Rio de Janeiro.
Moscas na Sopa. Um esclarecimento sobre a Marcha da Maconha e a política partidária.
http://http://anarcokunk.wordpress.com/2012/05/04/moscas-na-sopa/
Vasculhando o vasto material de registro que juntei ao longo de 6 anos de ativismo na Marcha da Maconha, achei uma foto da marcha de 2008, que na verdade não aconteceu, foi proibida. Na foto se vê três grandes bandeiras do PSTU sobre uma pequena aglomeração de manifestantes no Arpoador, local marcado pelos ativistas da maconha. Eu sabia perfeitamente que o partido ou os militantes presentes, não tinham nada a ver com a organização da manifestação, pelo contrário, nunca haviam se envolvido, então, o que faziam ali em tanto destaque?
Como o mandato judicial expedido, proibia qualquer manifestação pela legalização da maconha, os ativistas canabicos tiveram que baixar suas bandeiras. Por isso apenas as despudoradas bandeiras vermelhas, com a enorme legenda do partido em amarelo tremulavam no céu. Não durou muito tempo. Como era ano de eleição o TRE estava de olho na propaganda eleitoral irregular, e fez com que os três (únicos) militantes do partido, que portavam as três imponentes bandeiras, as tirassem do cenário que tinha se armado no Arpoador.
Esse dia deve ter sido de fato exaustivo para os fiscais do TRE. Horas antes em Copacabana acontecia a “Marcha da Família”organizada pela candidata a vereadora pelo DEM Sílvia Pontes. Em sua passeata candidata a vereadora que tem nítidos problemas de cognição e grande dificuldade em se expressar, inicia seu discurso afirmando que a manifestação não é politica e em seguida agradece diversos colegas de trabalho. A passeata também contou com a participação dos inexpressivos Integralistas que aproveitaram a mídia para tirar a bandeira do armário.
Essa foi a primeira vez que percebi a fragilidade de um ato como a Marcha da Maconha Brasil, de caráter horizontal, que se organiza de forma colaborativa e evita títulos como lideres ou coordenadores, e não se preocupa em estabelecer hierarquia ou comando. Mas a verdade é que essa forma de organização que confere a ele o caráter festivo e carnavalesco, fora dos moldes já estabelecidos para protestos ( assimilados por todos, portanto com menor impacto), é o que possibilita que o evento seja uma forma de revindicação baseada na comemoração de uma cultura, sem envolvimento com grupos políticos tradicionais de esquerda ou direita. Na verdade pouco se ouvia falar sobre politica partidária no coletivo que botava para frente a manifestação que iniciou em 2002, com uma ativista portuguesa que espalhou sua despretensiosa convocação para o evento em folhas de seda carimbadas. A partir dai a manifestação foi toda construída por trabalho voluntário de ativistas que se aproximaram da causa de forma espontânea, através do uso de fóruns da internet, em encontros as escondidas, em locais privados, por conta do medo de represarias da polícia. Mesmo assim quem procurava a organização da Marcha chegava lá facilmente, ficava por dentro do que acontecia e passava a atuar no coletivo, até que finalmente ele ganhou apoio jurídico e as reuniões para organizar o evento passaram a acontecer em locais públicos, que foram do Amarelinho na Cinelândia ao IFCS também no centro do Rio, posteriormente as reuniões passaram acontecer no campus da UFRJ na Praia Vermelha.
Esse formato de manifestação que foge ao padrão das manifestações organizadas por movimentos estudantis, partidos e sindicatos, onde os militantes não tem muita experiência em outros movimentos sociais, por ser uma novidade, atrai muita atenção da mídia, e é muito suscetível a ser cooptada por forças politicas que tem interesse em cima dos temas chave para promover candidatos ou atuar por dentro desses grupos conforme seus interesses politicos, atraindo jovens para o partido e pressionando determinados grupos políticos rivais (estrategia conhecida como aparelhamento). Recentemente um candidato a vereador do Partido Verde tentou levar as reuniões da Marcha da Maconha de Nova Iguaçu para dentro da cede do partido, atitude duramente combatida nos foruns e comunidades da internet. O partido que tentou se apropriar do ato em Nova Iguaçu foi responsável pela proibição do mesmo alguns anos antes em Curitiba. Isso deixa claro que não existe realmente uma posição clara sobre a manifestação, que é vista apenas como uma plataforma eleitoral, cada vez mais popular.
“Paranhos entrou com o pedido pela manhã. Depois dele, o também deputado estadual Roberto Accioly (PV) protocolou no Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) um requerimento pedindo ao Ministério Público do Paraná que proibisse a “Marcha da Maconha”, programada para acontecer no próximo domingo, às 15 horas. “
http://www.band.com.br/noticias/cidades/noticia/?id=100000433275
Como nas primeiras edições os organizadores da Marcha eram anônimos por questão de segurança, algumas figuras ligadas a politica partidária sempre presentes, atraíram a atenção das câmeras e são constantemente associadas a manifestação, mas os mesmos nunca tiveram real envolvimento com a organização do ato.
Outra vez um discurso contraditório é apresentado. É importante lembrar que o que eles falam não representa a manifestação no geral, apenas os grupos que se sentem por eles representados.
2010 foi ano de eleições novamente, e a Marcha foi fortemente atrelada á campanhas políticas, dessa vez a vereadora Sílvia Pontes não se manifestou publicamente a respeito, mas integrantes do coletivo Marcha da Maconha RJ envolvidos na organização da manifestação que tinham ganhado visibilidade, por serem os que atuavam como relações publicas da manifestação, respondendo acusações injustas e esclarecendo as intenções da manifestação junto a mídia, passaram a ter a manifestação como principal foco de publicidade em suas campanhas, mesmo sobre protestos de antigos ativistas que deram anos de trabalho voluntário e não concordaram com o uso eleitoral da manifestação. Usaram a identidade visual da logo criada para a manifestação assim como imagens da mesma acontecendo na Zona Sul do Rio.
Nesse mesmo ano, graças a questões ideológicas e organizacionais a ORG da Marcha RJ sofreu um racha que deu origem a grupos independentes que passaram a contribuir cada um de sua forma para organizar a manifestação, esses diferentes grupos alguns já existentes e outros que se desenvolveram a partir de 2010 deram origem a um verdadeiro movimento canabico no Rio de Janeiro.
Growroom- www.growroom.net
https://www.facebook.com/Growroom.Net
MLM-http://www.legalizacaodamaconha.org/
https://www.facebook.com/groups/188921267801848/
Planta na Mente-https://www.facebook.com/plantanamente
https://www.facebook.com/groups/180436025323305/
Legalize Boldo-http://legalizeoboldo.blogspot.com.br/
https://www.facebook.com/pages/Legalize-o-Boldo/102111956545760?ref=ts
Radio Legalize-http://www.radiolegalize.com/
https://www.facebook.com/pages/R%C3%A1dio-Legalize/106573646089108
AnarcoKunk-http://anarcokunk.wordpress.com/
https://www.facebook.com/groups/406599059357029/
O uso partidário da maior manifestação da cultura canabica do Brasil tem gerado muitos debates dentro do movimento pela legalização da maconha, não confundir com MLM “Movimento Pela Legalização da Maconha” nome do grupo criado em 2010 por alguns candidatos a vereador e outros militantes que apoiam suas candidaturas, e que estão envolvidos, junto a outros coletivos, na organização da Marcha da Maconha RJ e recentemente no DF.
Me pergunto quantas pessoas que foram até lá marchar no ano de 2010 imaginavam que acabariam numa propaganda eleitoral, apoiando candidaturas. Todos deveriam se perguntar quantos ativistas que botaram a Marcha onde está agora concordam com esse uso de seus trabalhos. Sei que muitos não concordam. Eu sou um deles. Atrelar a Marcha a candidatos específicos de determinados partidos afasta militantes apartidários e anti-partidários, assim como pessoas ligadas a outros partidos rivais, além de “normalizarem”a manifestação, colocando ela junto a aquelas tradicionais manifestações ditas populares, incitadas por interesses partidários.
Recentemente surgiu uma manifestação que lembra em muitos aspectos o momento inicial da marcha, é o Ocupa Rio, que também foi organizado pela internet e rendeu meses de ocupação da praça Cinelândia no centro da “cidade calamitosa”. Na primeira reunião convocada para a ocupação da praça, estavam lá presentes as tais bandeiras vermelhas, as mesmas que tremulavam no céu do arpoador no dia da marcha proibida. Como o movimento é de cunho apartidário e muitos integrantes são anarquistas e anti partidários, surgiu um acalorado debate. A resolução foi simples; os que se sentiam representados pelas bandeiras do partido deveriam permanecer embaixo delas, e os que não se sentissem confortáveis deveriam se dirigir ao outro lado da praça. O resultado foi que depois um tempo de exílio, abandonados pela grande maioria, os militantes solitários do partido entrão se retiraram.
O relato completo está aqui.
A Chegada – a Bandeira
A sugestão do AnarcoKunk para minimizar os embates no movimento é simples; Tirando o Ocupa Rio como exemplo, acreditamos que deveria caber aos manifestantes decidirem se querem ou não, atrelar suas imagens e lutas aos candidatos e partidos em questão. Para isso sugiro que os amigos candidatos, quando estiverem no já tradicional discurso aos berros no microfone, berrem aos manifestantes que as imagens dos manifestantes e da manifestação serão usadas em propaganda eleitoral para apoiar suas candidaturas. Isso é dar liberdade para as pessoas escolherem onde vão empregar suas imagens e ideais. Não achamos que isso pode afastar muita gente, mas se é o que acontece, e o que deve ser exposto. Do contrario as pessoas que estão na manifestação estarão sendo usadas como massa de manobra para encher a urna de candidatos que agem na moita.
PS: Gostaríamos de lembrar que a Marcha da Maconha é uma manifestação apartidária por mais que políticos façam uso eleitoral da mesma, isso é feito contra a vontade de coletivos como AnarcoKunk, e que no dia da Marcha o microfone para discurso é aberto. Se os próprios candidatos não falarem, qualquer um pode falar por eles.
Abraços verdes