Não pude deixar de lembrar do Cabelo lendo esse trecho do texto:
" O juiz passa a agir como um delegado de polícia, assumindo a hipótese da acusação como verdadeira. Com isso, o processo se torna nada menos que uma tentativa de demonstrar que está correto (quando não, mero empecilho). Essa atuação antecipa seu julgamento desde no início.
O problema (...) é que “ao partir de uma hipótese falsa, o julgador que adota essa postura inquisitorial, não raro, chega a uma conclusão falsa, mas que ele acredita ser verdadeira, mais precisamente, chega a uma “verdade” que ele construiu, a partir do senso comum ou de distorções, por vezes inconscientes, do próprio conjunto probatório”.
Isso compromete a imparcialidade e rompe a distância que o julgador deve manter das versões postas pelas partes, o que resulta num “quadro mental paranoico”, já que o magistrado decide antes e depois sai em busca de material probatório para “confirmar” sua versão. Deste modo, se passou a louvar a figura de juízes justiceiros. E isso foi estimulado, pois se ouviu de autoridades do STF que os magistrados devem combater a corrupção. Se o juiz vai combater, quem a julgará?
Os resultados dessa desastrosa política penal refreou a corrupção? A Lei da ficha limpa alterou a composição do Congresso Nacional e purificou a política brasileira? A famigerada lei dos crimes hediondos reduziu as estatísticas de prática de crime?
Todas as respostas são negativas, mas ainda se insiste, pois a sedução de punir sem regras nos acompanha desde muito tempo.
Possivelmente, dessa lamentável execração pública que assistimos saíra um novo “pacote” de alterações legislativas. Infelizmente, não para tornar o processo mais democrático e fiel aos princípios constitucionais, mas sim para dar mais poderes à polícia, aos juízes de primeiro grau, ampliar o rol de crimes hediondos, inverter o ônus da prova, aumentar as penas e criar ritos sumários.
Assistiremos impassíveis, até que um dia tenhamos que nos defender de uma delação cujo teor não nos será dado acesso, veremos nossos rostos nas revistas e poderemos nos tornar máscaras de carnaval. Pior é que nesse caso, sequer poderemos cantar que “todo carnaval tem seu fim”.
Fonte: http://www.viomundo.com.br/denuncias/patrick-mariano-o-auto-de-fe-de-graca-foster.html