“É preferível cultivar o respeito do bem que o respeito pela Lei”. Henry Thoreau.
Por Cassady e Sano
RIO BABILÔNIA – O maior cultivo canábico brasileiro não se encontra em nenhum quarto de empregada, muito menos em algum quintal ou selva guerrilhada. Fica em um espaço virtual, que, há 11 anos, se tornou real na vida de milhares de pessoas por divulgar verdades ainda anônimas sobre a maconha em nosso país. O Growroom, que comemorou nesta semana o início de sua puberdade, é isso: um cultivador de cultivadores, um provocador das provocações, um disseminador de ideias que acabaram reverberando e contribuindo positivamente para a transformação da nossa sociedade.
O número de cultivadores que lutam contra o crime organizado cresce absurdamente a cada ano que se passa. Vasos, lâmpadas, substratos e fertilizantes passaram a ser o cotidiano de muitos usuários da erva que, antes, só tinham as bocas de fumo como fonte de seu medicamento. Este crescimento pode ser comprovado com o aumento de cadastros no Growroom neste período – atualmente, contamos com 51 mil inscritos, que geram cerca de 15 mil acessos por dia. Isso prova que a legalização da maconha, aos poucos, está se tornando algo palpável no Brasil, pois os benefícios desta política podem sim transformar a nossa sociedade, não só quanto à violência urbana, mas também em nossa economia – como a produção de cânhamo, um dos tecidos mais antigos e valorizados do mundo, que poderá ser feita em nosso solo caso a canábis seja legalizada.
A certeza de que este caminho tortuoso se transformará em uma reta asfaltada e sem semáforos levou o Growroom a elaborar uma proposta de projeto de lei para regulamentar a canábis no país, algo inédito em toda a história marofada brasileira.
Verdades e mudanças
Nesta década+1, os argumentos beligerantes e inconsistentes dos proibicionistas foram rebatidos paulatinamente pelo Growroom com os dados científicos que calçam nossa luta pela descriminalização e legalização da canábis. Por incrível que pareça, é uma tarefa árdua (e muito arriscada) explicar que a mesma ciência que criou as vacinas, nos levou à lua e descobriu o DNA e o Bóson de Higgs, afirma veementemente que a maconha é significativamente menos prejudicial à saúde que o álcool e o tabaco, vendidos livremente no Brasil. São estas verdades contemporâneas que provocaram na última década a legalização da erva em dezenas de países, mas, no Brasil, ainda encontram barreiras sociais e governamentais que as impedem de serem ouvidas e assimiladas por todos.
No entanto, é inegável a mudança de contexto nestes 11 anos. De provocador de impotência e deturpador de personalidades, a erva começou a ser vista pelas mentes verde-amarelas como medicamento eficaz no tratamento de diversas patologias, entre elas AIDS e câncer, artrites e tendinites, e até depressão e esclerose múltipla. Os cultivadores, vistos antes como traficantes e homicidas em potencial, começaram a ser interpretados como aliados da paz e da verdade.
Neste período, um ex-presidente declarou apoio à legalização, e outros políticos também abraçaram a causa, bem como artistas e músicos. E o Growroom esteve presente em cada momento desta luta, o que o tornou a principal referência no debate sobre a ganja no país.
Perdemos a vergonha
Para aqueles que, em 2002, ainda se lamentavam por não terem assistido a um show do Planet Hemp devido à censura que ressurgiu no final da década de 1990, pensar em uma marcha civil pública que defendesse a legalização da maconha em plena luz do dia era algo inconcebível. Mas aconteceu, e o Growroom estava lá, desde o início, mobilizando e conscientizando a sociedade civil a botar a cara à tapa nas ruas de várias capitais brasileiras em nome da verdade.
Quando a marcha foi proibida e a questão foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF), o GR também estava lá, pedindo celeridade no julgamento e se colocando como adversário declarado de qualquer proibicionista acéfalo de plantão até que os ministros decidissem positivamente sobre a questão, o felizmente que ocorreu.
Perdemos a vergonha também, e, nestes 11 anos, realizamos a primeira Copa GR, que, a exemplo da Copa de La Plata e HTCC, revelou fenos e talentos nacionais no cultivo da canábis. Além disso, participamos diretamente de outros campeonatos e eventos canábicos em todo o país. Documentários (“Cortina de Fumaça”) e livros (como “Cannabis Medicinal”) também receberam o apoio do Growroom na sua divulgação.
Orientações jurídicas
Infelizmente, estes 11 anos não foram marcados só pelas vitórias. A legislação brasileira não acompanhou a mudança de prisma da sociedade, o que gerou eventos lastimáveis neste período. Muitos irmãos cultivadores de flores foram erroneamente indiciados pela Polícia Federal por tráfico internacional de drogas por terem cinco, dez, quinze sementes apreendidas pela Receita Federal. Vários growers queridos do GR, como Sativa Lover, foram presos por tráfico também por plantar maconha em suas residências. A prisão de Ras Geraldinho, líder da primeira Igreja Rastafari do Brasil, também foi algo que entristeceu o coração dos cultivadores de todo o país.
Mas as derrotas fazem parte da guerra, e o saldo até o momento é muito mais que positivo. O crescimento de cultivadores cresceu e a defesa dos seus direitos também, principalmente, e sem falsa modéstia, pela criação de uma Consultoria Jurídica no Growroom, que, numa atitude de vanguarda na história da Justiça brasileira, agrupou advogados competentes e corajosos para orientar os cultivadores e usuários sobre seus direitos e, inclusive, acompanhar os indiciados em delegacias, juizados e tribunais, de forma totalmente gratuita. Um ativismo que tem feito a diferença para muitos growers, evitando que a ignorância destrua com mais vidas por causa de uma simples planta. E em nenhum momento o Growroom acobertou os “possíveis” malefícios do uso da maconha. Estes e outros pontos foram amplamente discutidos em vários tópicos, fato registrado nos boards do site, basta procurar. Esconder a verdade nunca foi e nunca será a nossa vocação.
O Growroom acredita que sempre trilhou o caminho certo. Foi esta certeza que fez um simples fórum de cultivadores se transformar em uma das maiores referências da história da canábis no Brasil. Nossa bandeira é a verdade, sem a vaidade que impede os proibicionistas de admitir que as nossas leis estão defasadas. Esta evolução ocorreu graças ao respeito e gratidão de todos os nossos usuários, que contribuem diariamente com ideias e experiências no site. Então, podemos dizer que este aniversário também é seu, e de cada um que nos observa com os olhos nus, despidos de qualquer “pré-conceito”, pois, só assim, a verdade se faz ser vista e ouvida.
Parabéns para nós! E keep high!
Growroom: 11 anos plantando a paz por mais flores e menos guerra