Não é raro assistirmos a cenas de cinema em que baseados são coadjuvantes, muitas vezes afastando os personagens de uma suposta “caretice” ou, por outro lado, os deixando perto do patético, de acordo com as necessidades da trama. Basta tomarmos, respectivamente, “Carne trêmula”, de Pedro Almodóvar, e “De olhos bem fechados”, de Stanley Kubrick. Mas há tempos a grande indústria de cinema e TV não voltava seu foco para o uso de drogas, mais especialmente a maconha. A maior novidade é que a esperada abordagem moralista e a caricatura que rondam usualmente os maconheiros foram deixadas de lado.
Trinta anos depois de os comediantes Cheech Marin e Tommy Chong popularizarem o mito dos maconheiros como afáveis chapados em “Up In Smoke”, produtores de cinema e televisão estão retratando consumidores de maconha como gente comum, que segue um estilo de vida.
Na TV, a série “Weeds”, na qual uma mãe de família vende maconha para completar seus rendimentos de viúva, se tornou uma febre desde sua estréia, em 2005 ( saiba mais sobre o seriado no blog “Papo séries”). Entre os filmes, as produções “Harold & Kumar” têm como protagonistas um banqueiro maconheiro e um postulante à carreira médica. Em “The Wackness”, Sir Ben Kingsley interpreta um psiquiatra e usuário de maconha. Agora, na comédia “Segurando as pontas”, com estréia nos EUA dia 6 de agosto e no Brasil 10 de outubro, o assunto volta à tona e serve largamente à promoção do longa-metragem.
A nova produção traz seus protagonistas maconheiros fugindo da polícia após testemunharem um assassinato, uma idéia do produtor Judd Apatow, por trás também da comédia “Ligeiramente grávidos”, cujos protagonistas, como se diz popularmente, fumam um, naturalmente.
– Ele buscava fazer um filme de ação-maconheira – define o diretor Seth Rogen, egresso do cinema alternativo americano.
Mas não pensem que a grande indústria faz isso por acreditar que o melhor para o mundo seria o fim da chamada “War on drugs”, invenção que espalhou, a partir dos anos 70, especialmente pelas zonas produtoras do Hemisfério Sul, tropas para combaterem o plantio e o beneficiamento de drogas. Não. Embora a política de enfrentamento pouco tenha feito para frear a queda de preços – e a popularização – das drogas no EUA, apesar das somas cada vez maiores de recursos empregados, o que executivos de cinema e TV miram é a rejeição menor – e o interesse maior – pelo tema.
– O clima político e o cultural andam juntos. Aquele era um tempo muito conservador – pondera, em entrevista à Reuters, Bruce Mirken, porta-voz do Marijuana Policy Project, que defende a descriminalização da erva, referindo-se aos anos 80, quando o “War on drugs” foi ampliado com o slogan “Just Say No”, usado pelo ator Ronald Reagan em sua campanha presidencial.
Roberto Benabib, um dos produtores executivos de “Weeds”, afirma que estava inebriado pelos pilotos do programa quando este foi para o ar, em 2005.
– Sentimos que este era o último dos assuntos intocáveis – disse, antes de afirmar que o sexo já havia sido abordado de tal maneira que o uso de drogas acabou ficando “sozinho” como “último tabu”.
Já o conservador conselho de pais para TV (Parents Television Council, em inglês), que notou o aumento das produções cujo tema é a chamada “marijuana”, teme um aumento do consumo da droga por jovens.
– Se crianças podem ser influenciadas por cigarros comuns, cuja venda é ilegal para menores, por que deveríamos crer que não seriam inclinados a fumar maconha, que é totalmente ilegal? – reforçou à Reuters Melissa Henson, porta-voz do grupo.
No entanto, os produtores de Hollywood discordam. Afirmam que seus trabalhos não encorajam, apenas refletem a sociedade atual. A arte imita a vida, diriam.