Há 13 anos, surgia o site que tornou-se referência do ativismo pela legalização da maconha no Brasil. Conheça um pouco mais da história do Growroom na luta por uma política de drogas justa
Nessa quinta-feira, 12 de março, o Growroom completou 13 anos de muita luta e fumaça. A história do maior fórum de cultivo de cannabis da América Latina confunde-se com a própria história do ativismo antiproibicionista brasileiro. Afinal, partiram do Growroom os tentáculos sociais que deram origem à Marcha da Maconha e a tantos outros coletivos que ampliaram a batalha por uma política de drogas mais justa e humana. Mais que isso, o Growroom sempre foi além do ativismo de ideias, ao propor o cultivo caseiro como ação direta – que empodera o usuário medicinal e recreativo, libertando-o das amarras do tráfico de drogas e ressignificando sua relação com a planta.
Criador e coordenador do Growroom, William Lantelme considera que o site conquistou avanços palpáveis no que toca ao debate sobre a legalização da cannabis nos últimos anos. “Esses 13 anos de Growroom mostram que muitas pessoas se conscientizaram que o cultivo é uma alternativa menos prejudicial à sua própria saúde e à sociedade. Conseguimos ampliar esse debate e informar muita gente que cultivare pode ser uma saída para se desvencilhar do mercado ilegal”, ressalta. “Também conseguimos fomentar a união entre os usuários, construir um espaço para pessoas que comungam da mesma ideia, montando uma rede de ativismo que atua não somente para defender o cultivo, mas no debate da legalização, em si. A sementinha cresceu, amadureceu e acho que hoje o Growroom é um dos mais importantes personagens na luta por uma nova política de drogas no Brasil”, celebra.
Usuário medicinal e ativista, Gilberto Castro conta que o Growroom está intimamente ligado à melhora de sua qualidade de vida, uma vez que foi através do site que o paulista, que é portador de esclerose múltipla, aprendeu sobre os benefícios medicinais da maconha. “Quando descobri que a cannabis era boa para a minha doença, busquei me informar mais e descobri o Growroom, ainda em 2003. Na época, a internet era muito limitada para assuntos de maconha medicinal e o Growroom era o único canal de informações confiável. No fórum do Growroom, fui aumentando meu conhecimento sobre o assunto, que até aquele momento era completamente distorcido pela guerra às drogas, que me escondeu esse maravilhoso medicamento por tanto tempo”, conta.
Castro conta que, em 2011, já ciente da relação da cannabis com a esclerose múltipla, resolveu que deveria “sair do armário” para ajudar outros portadores da doença. “Foi quando comecei a gravar vídeos e fazer com entusiasmo o ativismo que realizo até hoje”, ressalta. “No Growroom, conheci maconheiros que chamo de irmãos, que me ajudam, me acompanham, me apoiam no dia-a-dia. Seja quando tenho problemas de saúde ou pessoais, até quando tenho motivos para comemorar, sei que posso contar com eles”.
O cultivador PHD THC também conheceu o fórum em 2003, mudando sua vida ao conhecer outros usuários guerreiros, que também cultivam sua própria erva para fins pessoais, e ganhar um espaço para a troca de ideias. “Posso dizer que existem dois momentos na minha vida: antes do Growroom e depois do Growroom. Foi após frequentar o fórum que conheci as pessoas mais interessantes da minha vida, foi lá que fiz as minhas melhores amizades e foi o Growroom que me trouxe o sentimento de liberdade, de poder me expressar e compartilhar experiências. Foi lá que conheci o meu melhor amigo, foi lá que tive a certeza que evoluir é o caminho”, pontua.
Mas nem tudo são flores. Como infelizmente a evolução política no Brasil não aconteceu no mesmo ritmo que o ativismo do Growroom, o número de cultivadores presos não para de aumentar. Assistimos, nos últimos anos, a uma caça injusta àqueles que decidiram plantar exatamente para desvencilhar-se do contato com o crime organizado. Pensando em minimizar o impacto da política repressora, o Growroom oferece voluntariamente há alguns anos consultoria jurídica para auxiliar cultivadores presos de forma injusta e arbitrária Brasil afora. Advogado e consultor jurídico do Growroom, Emílio Figueiredo explica que o site, além de um local de convivência de cultivadores e usuários de maconha, conta com um grupo de operadores do Direito espalhados pelo Brasil. “A vanguarda do Growroom é justamente por enfrentar o pânico moral da proibição com a livre circulação de idéias, com o debate democrático, com o incentivo a autotutela de direitos fundamentais e com a efetiva defesa dentro das regras do ordenamento jurídico”, reflete.
Figueiredo defende que “o Growroom é uma manifestação de pensamento que está à frente de seu tempo por justamente resgatar um conhecimento ancestral da humanidade sobre uma planta, a maconha”. “O Growroom se apresenta como um quilombo do século XXI, para onde fogem aqueles que não aceitam a opressão contra o cultivo e uso da maconha. A importância do Growroom é por se apresentar como contraponto dentro do debate democrático ao proibicionismo, um local onde as idéias podem fluir livremente, onde ao mesmo tempo combate o obscurantismo da proibição, também educa seus membros acerca da relação com a maconha”, defende. “O Growroom mostra que cultivar é reduzir danos, para si e para a sociedade, uma vez que cada pessoa que planta deixa de alimentar o mercado violento mantido pela proibição”.
Advogado da Marcha da Maconha, André barros lembra que “o Growroom já impediu a prisão de muitas pessoas e ajudou a colocar tantos outros em liberdade”. “Os consultores jurídicos do Growroom já construíram muitas jurisprudências no Brasil. Apesar de ser um assunto com poucas decisões jurisprudenciais, de segunda instância, os consultores jurídicos já fizeram grandes jurisprudências, como a importação do canabidiol, como a questão das sementes”, afirma.
Para Barros, a defesa do cultivo caseiro como ferramenta para combater o tráfico é mal-entendida. “Quando diz que o cultivo caseiro combate o crime organizado, o Growroom não está falando do varejista, pobre, do tráfico de drogas realizado por milionários através de toneladas distribuídas em caminhões de carga, caminhões e helicópteros”, defende. “O cultivo caseiro é a defesa da planta como um bem comum, um bem de todos, que não pode ser apropriada nem pelo mercado nem pelo Estado. E o Growroom é um pioneiro nessa luta, como movimento organizado e politizado, que utiliza a internet para fazer essa defesa da planta. É uma referência nacional na luta pela legalização da maconha”, conclui.