Fonte: Blog Sobre Drogas
Propostas, onde estão as propostas? Se não as vejo, devo crer que o mundo não precisa mais de novas idéias? Porque, diante de uma apreensão recorde de cocaína em uma favela do Rio, constatar que a retórica das autoridades é um resumo magrinho da falta de criatividade na gestão pública me dá uma tristeza profunda. O burocratas do Governo do Estado se apressam em afirmar que o enfrentamento (guerra mesmo, só que no quintal da casa dos pobres) vai continuar. O governador, de quebra, critica frontalmente (mas sem dar nomes, o que, a meu ver, imprime o temor de um debate mais aberto) “os sociólogos de plantão”, que, segundo ele, sonham com o impossível: “uma solução da segurança pública sem disparar um tiro”. Quem, governador, sonha com isso? Só, talvez, em seu discurso, vazio de sonhos, como o senhor admite. Estes sociólogos pedem paz. Eu peço paz. É sonhar muito alto? Ou deveríamos nos contentar com o pouco que a atual política de segurança nos dá? Essa é sua melhor idéia?
A única política que tentamos no Brasil para deter as mortes provocadas pela guerra entre polícia/ traficantes/milícias tem sido o enfrentamento. E lá se vão anos, vidas e vidas de bandidos, policiais e inocentes, sem que nada indique uma mudança. Sem falar no indício mais constrangedor da falência deste modelo que Cabral insiste em defender: a venda e o consumo de drogas não parecem sofrer qualquer abalo. Se fizéssemos uma transposição para a economia, seria como manter uma política que provoca o agravamento da pobreza. Que modelo econômico resistiria a isso em democracias consolidadas? Taí o sucesso do plano brasileiro de estabilização para provar que vale mudar modelos, abolir regras, criar outras, em busca de resultados melhores. Tem que dar resultado. Onde estão os resultados? Mais apreensões podem significar mais volume sendo traficado. O governante alardeia seus números e o tráfico multiplica os zeros à direita em sua contabilidade. O preço das drogas subiu? Tenho informação de que não. Ou seja, a repressão à oferta não mexe nos preços praticados. Patético. E a venda, o negócio da droga, vai de vento em popa no vácuo de idéias novas.
Ao contrário da direção para onde aponta o governador, nem no Brasil, nem nos Estados Unidos, nem na Colômbia (onde, apesar dos bilhões investidos, as plantações da coca que será exporta em parte através dos “parceiros” brasileiros vêm aumentando) o enfrentamento sozinho deu resultado. Aproveito aqui para questionar o artigo do colega Bruno Quintella. A meu ver, não é o uso de drogas que financia ou, usando um termo mais claro, faz o tráfico existir. É o modelo econômico vitorioso dos traficantes diante do engessamento das idéias e do estado. O tráfico resiste muito bem às investidas das polícias porque tem, sim, clientes. Mas, principalmente, porque tem na ilegalidade seu maior poder de barganha, de pressão, de valorização de preço de seus produtos. E assim, faz dinheiro de sobra para subornar autoridades (quantos casos já vimos?) e irrigar outro grande negócio, a indústria de armas (cuja permanência no pais teve apoio do povo no referendo de 2006, lamentavelmente). Dessa equação resulta o absurdo: volta e meia, traficantes são elevados a inimigos públicos número um. Burrice, o estado não pode se igualar a garotos cheirados portando armas pesadas. Se o uso financia a violência, deveria haver violência mudo afora. Mas mundo afora se consome droga e a guerra fica restrita a alguns lugares como Brasil, Colômbia, Afeganistão. Ou seja, a guerra é sempre na periferia, do mundo ou do Rio.
Se Cabral não quer ver povo e governo sentindo as insuportáveis dores desta violência, que apresente idéias novas, porque nós o colocamos lá, onde ele está, para fazer diferente, inovar. Afinal, os resultados anteriores eram muito ruins. E o tempo está passando, sem avanços. Como sugestão, recomendo ao governador que se permita sonhar, sim, porque sem sonhos não se constrói absolutamente nada. Hoje, o que vemos é a reprodução de um jogo escravocrata em que a polícia (gente de renda e escolaridade baixas, em grande parte negros e mestiços) faz o papel dos velhos capitães do mato, atrás dos insurgentes traficantes-favelados (renda e escolaridade baixas, em grande parte negros e mestiços) em nossos morros. Qual a novidade? Qual a inovação? Qual o sentido de renovarmos nossa política com jovens líderes como o atual governador se falta uma saída criativa, que nos alimente com a esperança que, aparentemente, só em NOSSOS sonhos podemos encontrar?
Governador, com todo o respeito, mude o disco.