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ToggleSe você conhece alguém do ativismo antiproibicionista, provavelmente já deve ter ouvido falar que “a legalização da maconha começa em casa”. Claro que cada casa é uma casa, mas o lance é que legalizar em família, para quem assume um estilo de vida cannábico, acaba muitas vezes tornando-se necessidade. Chega uma hora que o papo tem que acontecer e a maconha em casa deve ser debatida. E pode nem ser no seu lar, ou só nele. Mas na casa de outros familiares, com os pais da sua namorada ou namorado, ou até mesmo no seu trabalho.
Este, então, é um guia para você lidar com julgamento ainda equivocado de pessoas de gerações passadas. Pessoas que você quer bem, mas que ainda precisam ser esclarecidas sobre as suas posições e que têm pensamentos neblinados, seja pela falta de informação ou pelo preconceito. Contudo, pessoas que, apesar da resistência, estão abertas ao diálogo sobre a maconha em casa.
Os tópicos são pontos que comumente surgem nestas conversas. Vale sempre lembrar que para estes momentos é importante paciência redobrada para conseguir “descaretar” seus pares. Afinal, há divergências na mesa, mas também há vontade de conversar.
“Sou maconheiro (a)”
Se não foi a outra parte que chamou a conversa, um bom jeito de dar o papo é falar que você cansou de viver escondido (a). Que eles provavelmente já sabem (se for esse o caso; muitas vezes é) e que você é maconheiro (a) mesmo. Que arca com as consequências do seu estilo de vida como um adulto (a) responsável, que trabalha e paga sua própria erva (se for esse o caso; muitas vezes é). Além do mais, lembre que você é livre para fazer suas escolhas, que não faz mal a ninguém e que é feliz vivendo assim.
“Maconheiro (a) não vai a lugar nenhum”
O que não faltam na história, da Grécia antiga aos dias de hoje, são maconheiros (as) de sucesso. Geógrafo e historiador grego, Heródoto foi o primeiro a mencionar a Cannabis na literatura ocidental, mas depois dele apreciaram a erva nomes como o do escritor e dramaturgo William Shakespeare, do escritor e astrônomo Carl Sagan, do ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, do nadador Michael Phelps e do CEO da Apple, Steve Jobs. Sem contar a lista extensa de artistas da música, de Bob Dylan a Rihanna, de Rita Lee a Gilberto Gil. Tem ainda Jay-Z, Paul McCartney, Jane Fonda, Brad Pitt, Erasmo Carlos, Betty Faria e por aí vai.
Portanto, ao falar sobre maconha em casa, não se esqueça de mencionar grandes nomes da história, da medicina, da ciência, da música, dos esportes e do empreendedorismo que também já fizeram uso da erva. Reforce esses exemplos de maconheiros (as) que tornaram-se grandes vencedores (as).
“Maconha é porta de entrada para outras drogas”
Esta é uma das maiores falácias quando o assunto são as drogas. Afinal, a maconha é uma droga sabidamente menos danosa que o álcool ou tabaco, que são lícitos e socialmente aceitos. Ainda proibida, a Cannabis é uma substância que não causa dependência química nem letalidade (não, não existe overdose de maconha), cujo apenas 10% dos usuários ficam psicologicamente viciados. A grande maioria dos usuários não fica dependente, já afirmou o professor Dartiu Xavier, da Unifesp.
Ademais, não há qualquer evidência científica que ligue a maconha ao aumento do uso de drogas mais potentes, por exemplo, como crack, heroína ou cocaína. Muitos estudos mostram, na verdade, o contrário: a erva como uma grande aliada no combate ao vício em outras drogas. Inclusive, essa é outra linha de pesquisa de Dartiu Xavier, como ele explicou no Connabis. Portanto, é muio fácil refutar este argumento, já que o que realmente pode levar a outras drogas é a proibição e o contato com o tráfico.
“Maconha faz mal”
O hábito de fumar causa prejuízos ao pulmão e às vias respiratórias, por conta da inalação de monóxido de carbono. Mas, hoje, sabe-se também que existem várias outras formas de consumir maconha que não apenas fumando. Os extratos, óleos e comestíveis de maconha, bem como o uso dos vaporizadores, têm sido opções cada vez mais exploradas, que minam quaisquer danos relacionados à combustão.
Claro que, como qualquer outra substância psicoativa, a Cannabis deve ser usada com responsabilidade. Daí, a importância de um discurso que incorpore a política de redução de danos. Para que isso seja possível, é preciso falar abertamente sobre maconha em casa e na sociedade, até para avaliar padrões de consumo e discutir formas de fumar menos e melhor.
Mas lembre-os: a maconha te faz bem. Você decidiu usar porque ela te traz coisas boas. É uma planta, inclusive, que possui diversos princípios terapêuticos cientificamente comprovados. Há famílias no Brasil e no mundo todo que lutam pelo direito ao acesso e ao estudo desta erva para tratar de seus entes queridos.
“Você se expõe muito”
Até uma década atrás, ainda imperava um entendimento equivocado de que falar sobre maconha era apologia no Brasil. Mas isso tem mudado e muito se deve a uma grande conquista do ativismo pró-legalização: o julgamento da ADPF 187 no Supremo Tribunal Federal (STF), que legalizou as Marchas da Maconha no País, em 2011. Depois da decisão, o assunto passou a ser discutido abertamente em diferentes esferas, surgindo revistas, lojas de parafernálias, filmes, livros, entre outros.
Ou seja, não é contra a lei falar sobre maconha, postar sobre maconha, usar uma camiseta com a folha da maconha, etc. Ninguém pode te demitir por isso, ninguém pode te preconceituar por conta disso. E, cá pra nós: hoje em dia, mesmo postar uma foto fumando um baseado é tão aceito quanto uma foto tomando um drink. Os mais velhos têm que entender que atualmente não é mais absurdo algum fumar ou falar sobre maconha.
“Você está financiando o tráfico”
O gatilho para o papo do cultivo! Ninguém gosta de maconha por causa do contato com o tráfico, né? Essa é uma consequência nefasta do hábito de fumar maconha em países onde ela ainda é proibida. É uma imposição do proibicionismo e não do hábito de fumar maconha em si.
Todo mundo que ama essa erva gostaria de plantá-la em sua varanda com tranquilidade ou de comprar suas flores legalmente. Sem contar que é muita hipocrisia culpar o usuário e ignorar todo o resto da cadeia de organização do mundo das drogas ilícitas, que deve incluir juízes, políticos, empresários e por aí vai. Mas a grande resposta é: se eu plantar em casa, para consumo próprio, eu não estou financiando nenhuma rede de violência e crime organizado.
“Você pode ser preso”
De fato, este é um ponto sensível, ainda mais dependendo da sua cor e do seu recorte social. Quando você escolhe ser maconheiro (a) num país proibicionista, precisa saber seus riscos e direitos. No Brasil, desde 2006, a Lei 11.343 não prevê pena privativa (prisão) para usuários de maconha (artigo 28 do Código Penal). Isso quer dizer que se você for pego com maconha pela polícia – fumando, portando ou cultivando – o máximo que deveria acontecer é ir à delegacia, assinar um termo e provavelmente pagar alguma medida.
Mas isso é o que “deveria”. Porque depende completamente da interpretação do policial, do delegado e do juiz, que são quem vão definir o seu destino. E enquanto o usuário não pode ser preso, a pena para tráfico é de 5 a 15 anos de cadeia (artigo 33). O problema, então, é que como a lei não estabelece quem é quem, essas autoridades fazem suas decisões em cima de critérios totalmente subjetivos, baseados principalmente em aspectos sociais e de raça.
Portanto, o lance é não dar mole para o azar e saber os seus direitos na ponta da língua. Dizer à sua família que você é sagaz, que evita se arriscar, que prefere fumar maconha em casa e, se tiver condições, de cultivar. Que se abrir com eles, inclusive, te deixa mais tranquilo e seguro nesse sentido.
O que não pode faltar na hora de legalizar a maconha em casa
- Paciência;
- Argumentos embasados em dados;
- Ouvir quando necessário e saber responder;
- Respeitar as diferenças;
- Citar drogas legais e que são mais nocivas: tabaco e álcool;
- Usar bons exemplos de maconheiros (as) citados no texto;
- Os males do tráfico e da proibição.