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Minha Opção Em Abusar De Drogas


leprechaunz

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  • Usuário Growroom

E aí pessoas...

Em 2007 encontrei na net um livro chamado "My choice to abuse drugs", assinado sob o pseudônimo Embeca Hipara. Não se sabia a procedência, até que no primeiro parágrafo, o cara já descrevia uma cena na qual estava fumando um na cidade de Sofia. Comecei a ler e curti pra caralho: era uma crítica meticulosa sobre todos os argumentos existentes no senso-comum burguês/cristão etc. normalmente usados "contra" as pessoas que usam drogas. E o melhor era o seguinte: não era um texto metido a academicista ou cientificista. Pelo contrário, o cara tirava uma onda da ciência: "se meus oponentes não usam do bom senso, então porque é que eu vou me preocupar em contra-argumentar em dados científicos?" ^_^

Então, como as idéias são bem malucas e é um livro representativo da filosofia canábica, surgiu a idéia de traduzir isso. Tentei entrar em contato com o Embeca (a essas alturas não sabia se era ele ou ela, heehe), e por muito tempo fiquei sem resposta. Há algum tempo atrás ele respondeu (sim, era um cara mesmo), foi totalmente de apoio à tradução, ficou lisonjeado (muito parceiro) e agora chamei um amigo pra me ajudar a terminar o trampo. Nossa idéia é disponibilizar na íntegra via net, as duas partes do livro (a primeira argumentando sobre a proibição das drogas em vários níveis, e a segunda falando sobre tecnologias da viagem sobre uso de maconha). Têm umas editoras alternativas que conhecemos, vamos baratear o máximo possível e vender a preço de custo. Bem, é o projeto inicial...

Então. Quero botar na roda aí algumas partes que já estão traduzidas, nem revisamos muito mas a idéia é ter esse retorno, ver o que vocês acham ou se poderíamos acrescentar outras coisas. Lá vai a primeira parte da Introdução! Se rolar, vou postando o resto aqui conforme terminamos.

Abraços!

Minha Opção em Abusar Drogas (Embeca Hipara)

INTRODUÇÃO

A

Era uma vez...

Eu e um amigo meu estávamos sentados num banco de uma típica praça pública, com jardim - dessas que ficam entre pequenos blocos de apartamentos -, próximo ao centro da cidade de Sofia . Fazia uma hora que a chuva havia parado, e encontramos com sorte um banco que não estava molhado - protegido da chuva pelos galhos de uma castanheira - e ali, dividíamos um baseado. Em meio a isso, notamos uma turma de senhoras, que estavam sentadas, paradas no espaço vazio da outra ponta do jardim.

Ninguém nunca sabe o que esperar de uma turma de senhoras. Nos idos de 1989, muitas delas tinham por aqui o hábito de denunciá-lo à polícia secreta, se por acaso você fizesse piadas sobre o partido comunista, ou se você ouvisse "música capitalista" - e um hábito desses aí não costuma morrer fácil, sendo mais provável que acabe se adaptando a novas realidades, como uma Guerra às Drogas, por exemplo.

"Agente" é a gíria mais usada por aqui para falar dessas pessoas curiosas demais, geralmente mais velhas, que observam você por trás das cortinas de suas janelas. Tipo:

- Olha ali cara.. parece que tem um agente no terceiro andar.

- Qual deles? Ah sim.. então, vamos acender um cigarro. Aja naturalmente.

Assim que a erva fez efeito, as cores ficaram mais brilhosas que o comum, os sons da cidade e dos insetos ficaram mais destacados, e as batidas do coração mudam de ritmo. No chão já seco logo abaixo do banco do jardim, algumas lesmas e caracóis vagueiam, em seus delírios de câmera lenta, deixando trilhas brilhosas na grama e nas rachaduras do concreto.

"Olha isso", eu disse, e coloquei a ponta do baseado bem em frente a um caracol. Após um bom tempo de observação - algo típico de um maconheiro -, o caracol havia chegado até o cigarro e, ao invés de simplesmente dar a volta por ele, parou bem na frente. Quinze minutos depois, três caracóis e uma lesma já haviam se juntado à festa. Como estátuas, ficaram ali, parados em frente à bagana de maconha. "Eles estão ficando chapados", meu amigo falou. "Sim", eu respondi.

- Será que é perigoso para eles? Assim, venenoso ou algo do tipo?

- Bem.. sem dúvida é tóxico para nós. Então não vejo porque não seria para eles.

- Será que eles podem morrer depois da exposição ao cigarro?

- Não faço idéia.. mas eles provavelmente vão morrer, ou podem ficar doentes, ou coisa do tipo.

- Isso não lhe incomoda?

Essa pergunta me fez repensar éticas, memórias e pensamentos - tarefa que pode exigir considerável esforço às vezes, quando se está chapado. Acabei respondendo algo do tipo: "Meu posicionamento é o seguinte, que caracóis são criaturinhas patéticas. No pouco tempo em que vivem, elas ficam tentando sobreviver e procriar. Elas estão aí, sendo esmagadas por pés, infectadas por bactérias, amassadas por carros. Até onde eu saiba, elas sequer possuem consciência, mas são como pequenos robôs que sentem dor, prazer e talvez algumas vezes, confusão, e que tentam desesperadamente fazer aquilo que foram programadas para fazer - procriar - antes que algo aconteça. Neste exato momento, enquanto elas ficam intoxicadas ou chapadas, como nós estamos dizendo, elas estão fora do programa que controla suas vidas, pelo menos por um pouquinho. Isso é a coisa mais próxima da liberdade, de alguma coisa como "individualidade", que elas poderiam um dia alcançar. Talvez todas morram em menos de meia hora. Não vou me sentir um assassino. Na verdade eu acho que até desejaria, se algum dia eu fosse um caracol ou uma lesma, que alguém viesse me oferecer um baseado".

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  • 2 weeks later...
  • Usuário Growroom

B

Há um pouco de arrogância, e uma bravata desnecessária, naquele argumento, mas de qualquer maneira eu ainda mantenho aquela atitude, que me fez dizer isto. De fato, eu a mantenho com mais convicção e argumentos mais desenvolvidos do que eu tinha naquela época. Considere eu. Onde eu estou neste jogo de destinos? Há uma eternidade antes do meu nascimento, há uma eternidade após minha morte. Planetas lentamente flutam no espaço, virando seus diferentes lados para os sóis em torno dos quais eles giram, os próprios sóis seguem seus padrões de movimento por milhões de anos, no nosso planeta montanhas mudam, continentes colidem e se reagrupam, oceanos evaporam, milhares de espécies de animais, pássaros, insetos, aparecem, se desenvolvem por milhares ou milhões de anos, e depois desaparecem. Quem sou eu? Minha vida é uma pequena faísca que está lá por um segundo, mesmo mil vezes menos que um segundo, depois desaparece. Puf! e eu me fui. No meu entendimento, durante esta minha vida eu posso fazer o seguinte:

a) seguir meus programas biológicos - os instintos das espécies a que pertenço - os "reflexos herdados", e meus "reflexos adquiridos" - hábitos simples que eu automaticamente aprendo do ambiente. Isto não me faria diferente de uma hiena ou de um mosquito.

B) eu posso também ser um humano, ultrapassar partes dos meus instintos e seguir programação social, que tem moldado minha psiquê desde meu nascimento, gerada por meus pais, minha educação e a sociedade como tal. Tal programação social molda o pensamento, as emoções e os hábitos do indivíduo humano do nascimento à morte, diferentemente, em diferentes sociedades e idade: de tal forma que eu faço, penso e vejo o que outras pessoas me dizer para fazer, pensar e ver.

Isto me faria um boneco biomecânico, que sente dor, prazer e talvez, às vezes, confusão, mas é diferente de um animal pois segue não instintos - a programação da natureza, e sim reflexos sociais - a programação da sociedade.

c) A terceira opção é manter as tentativas de rompimento - me desprogramar, me estudar e ver partes de mim que são de "fora", que são de "dentro", e talvez algum dia alcançar a transição de ser um típico representante de minha civilização - um triste e doente macaco com problemas emocionais e desilusões - a ser um a "pessoa" "autêntica", "real". Não apenas reconhecendo quão loucos todos são, e quão louco eu sou, não apenas tentando descobrir uma maneira de combater toda esta loucura, mas também tentando experimentar a vida em si, sem intermediários, experimentar a vida como tal, e não a versão distorcida, rasgada que foi jogada em minha cara, para ser seguida sob a ameaça de violência, prisão ou segregação mental.

É claro que este caminho do uso das drogas é perigoso - mesmo ignorando que aquela cadeia ou hospício estão a um fio de cabelo de distância - um erro durante a prática em si pode levar a doença ou morte.

Mas todos nós morremos. E ninguém está qualificado para escolher, por mim, quando e como eu morro. Na maioria, e talvez em todas as constituições das nações mundiais, o cidadão tem "um direito de viver". Mas nossas vidas não são eternas. Elas são eternas em um sentido religioso, mas nas leis existentes não há a vida eterna que é protegida, e sim a finita vida biológica de nossos cidadãos. E como humanos não são imortais - nós somos mortais - todos nós morremos, o "direito à vida" não significa o direito de não morrer - isto é impossível. Significa o direito de não ser assassinado. Significando o direito de não ter outra pessoa decidindo por você quando e como você morre.

Meu nascimento não foi minha escolha mas minha morte certamente pode e deve ser. Desde que eu não machuque ninguém diretamente - e eu certamente não mato, roubo ou estupro - eu deveria ser deixado comigo em paz. Eu inteiramente concordo com a visão de que se todos fossem cabeças-duras como eu, a sociedade iria entrar em colapso. Se todos fossem geólogos abstêmios ou policiais alcólatras em escritórios e tivessem como hobby a observação de pássaros, a sociedade certamente também iria entrar em colapso. É precisamente a interação de pessoas radicalmente diferentes que faz única a nossa civilização e ao mesmo tempo a renova, não permitindo que ela se cicatrize e fique estagnada.

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  • 5 months later...
  • Usuário Growroom

Pô galera, que massa que vcs curtiram a idéia! Foi mal o atraso, tava fora do ar por muito tempo. Rolou até contribuição da FolhadeSaoPaulo! clap

Se alguém quiser, vamos dividir os capítulos!

Então... vou passar aqui o que eu já tenho, logo após a parte postada em colaboração aí...

Parte 1: Saúde Física. Saúde Mental. Pânico Moral. Crimes futuros contra terceiros. Aberração.

1. Saúde Física

Este capítulo lida com os argumentos que falam dos danos que as drogas ilegais causam ao corpo - argumentos para que pessoas que usam drogas sejam colocadas na prisão ou em instituições de saúde mental, pois muitos dizem que isto salvará a sua saúde. Como justificativa, dizem que drogas causam mal à saúde, que elas matam - como se a cadeia fosse melhor ou deixasse você viver por mais tempo. Bem, vamos tomar como exemplo a droga mais forte possível: heroína (para onde, de acordo com a mídia, todas as drogas "leves" acabam levando). Eu nunca experimentei heroína, e me sentiria mal se alguém muito próximo acabasse tendo uma dependência por heroína, mas definitivamente, eu não "proibiria" a heroína. Os repressores e normatizadores em geral dizem que quando você começar a experimentar heroína, você já era. Dizem, também, que pessoas morrem de heroína.

Estas idéias são absurdas! Pessoas nunca morrem só por causa da heroína. Na verdade, sabemos que nos lugares nos quais já existe uma tradição na cultura do ópio e manufatura da heroína, como no Afeganistão ou no Paquistão, existem pessoas já velhas, de 80 anos ou mais, que têm usado heroína desde quando tinham 10, e ainda estão vivas e tudo. Ou vivas e resmungando de tudo; enfim.

As pessoas que injetam heroína em suas veias e que como resultado direto desta prática acabam morrendo, inclusive quando jovens, morrem geralmente devido a três razões: a) overdose; b] heroína adulterada; c) doenças de uma seringa contaminada.

Quando alguém morre por uma overdose de heroína, isto acontece porque o consumidor de heroína nunca pode saber ao certo a concentração de heroína dentro daquele pó que ele compra do vendedor de drogas. Vamos supor que Jimmy esteja habituado a uma dose com 15% de heroína, mais 85% de alguma porcaria adicional que foi misturada . Se em algum dia, alguém vender a Jimmy uma mistura com 30% de heroína, ao invés de 15%, significa que, para não morrer, ele deveria tomar a metade do que normalmente toma (que é, no caso, a dose prevista para 15%), do contrário, ele sofre overdose, ou seja, uma dose de heroína para a qual seu organismo não estava preparado.

Jimmy não planejava morrer de overdose, assim como praticamente todas as outras pessoas que morreram de overdose, em geral. Mas Jimmy não sabe o que compra, porque heroína é ilegal, e não há nada parecido com um controle de qualidade. Na verdade, ele morre porque a heroína é ilegal. Se a heroína fosse legal, adquirida em algum estabelecimento local, com estrito controle de qualidade desta droga, ele não teria morrido.

Se você acha um absurdo o que estou falando, espere um pouco. Responda-me: o que é que os grandes agitadores da campanha do “diga não às drogas” fizeram para conter esta morte? Nada, e talvez nem poderiam. Afinal, muitos desses cretinos são até capazes de considerar as mortes por overdose como algum tipo de punição moral. E sim, por incrível que pareça, estas mesmas pessoas que vibram diante da notícia de jornal são as que dizem querer salvar nossa saúde; são as que dizem estar preocupadas com as nossas vidas!

Vamos à parte da heroína adulterada. Quando alguém morre logo após injetar heroína misturada com veneno para ratos, o que aparece na notícia não é "cidadão morre em caso de envenenamento", mas sim "viciado morre após injetar heroína". Se alguém morresse logo após beber vinho com veneno para ratos, este alguém seria tratado como uma vítima de envenenamento e as pessoas não ficariam condenando "o vinho" por isso, ou todas as safras de vinhos que algum dia já existiram. Quando Jimmy morre depois de usar heroína com veneno de rato, ele morre porque a heroína é ilegal, porque os meios não são legais, não são abertos, não são regulamentados, e dessa forma aí a pessoa que usa drogas não tem proteção alguma. Não estou dizendo que deveríamos vender heroína! Só estou dizendo que ele não teria morrido se a heroína fosse legal. E é claro que podemos dizer o mesmo para os casos de seringas infectadas, para os quais tudo o que é preciso são seringas limpas, e não campanhas estúpidas contra a heroína. É como se simplesmente realizar esses eventozinhos anti-drogas, com artistas abusadores de drogas (hipócritas), amparados por farta cocaína e por viciados em whisky, fosse mais eficiente para reduzir o índice de mortes relacionadas à heroína do que ter seringas limpas e uma heroína de qualidade. No assunto de políticas de drogas, a hipocrisia está vencendo o óbvio. Só um primata pode acreditar nisso. Só um hipócrita diabólico pode dizer que acredita nisso. Confuso (a)? Vista aí o seu chapéu.

Mas é claro que não é só a heroína que mata. De acordo com a mídia (e a propaganda da guerra às drogas), todas as drogas matam e corrompem o corpo. Vamos ver, por exemplo, a maconha (minha droga preferida): dizem que ela consome o seu pulmão, ela causa impotência, ela te transforma em um esquizofrênico. Eu até poderia simplesmente dizer que os argumentos em que essas "pesquisas científicas" se baseiam são parciais e inconclusivos, assim como aquelas que ligam loucura, suicídio e crime com masturbação, rock n' roll e histórias em quadrinhos. Eu poderia dizer inclusive que, se o Estado precisar um dia que os cientistas comprovem que Judeus são uma raça de mutantes ameaçadores, ou que os críticos do governo possuem patologias mentais graves, haverá uma forte tendência para que os cientistas provem exatamente essas coisas. Eu poderia dizer, também, por maior que seja o clichê disso, que as substâncias legais são tão danosas quanto as ilegais, e às vezes até mais. Mas eu acho que esses argumentos aí são todos uma grande perda de tempo. Acho, também, que o próprio tempo poderá provar tudo isso que estou dizendo.

Estes exercícios lógicos não têm muito potencial, porque meus oponentes já não fazem mesmo uso de qualquer lógica válida. Eles se baseiam em outras coisas, como suas moralidades – e algumas outras coisas que tentarei examinar aqui mais adiante. Mas enfim, o que tento expor aqui é: não existe substância no universo, que não poderá matar você, se você não usá-la cuidadosamente, sem seguir a informação correta a respeito. Se você quebra um braço ou, sei lá, arrebenta alguma coisa fazendo exercícios em uma academia, é porque você não foi cuidadoso ou suficientemente informado, e não porque exercícios em academia são coisas danosas - e o mesmo vale para qualquer outra prática, incluindo sentar-se em uma cadeira ou tomar um ducha, ou para qualquer substância conhecida, incluindo-se água, oxigênio e tomates: use essas coisas incorretamente e você morrerá.

Pra terminar com essa parte: minha saúde é minha saúde. Se eu assim desejar, corto fora meus testículos e uso eles no pescoço, pendurados por um fio . Esta poderia ser uma escolha minha, sim, e ninguém poderá escolher além de eu mesmo. Diante disso, se o governo pensa que pode impor à força aquilo que ele considera ser a “saúde perfeita”, ele só pode estar com outros interesses em jogo, que são interesses morais. A questão é que o Estado não só pode pensar assim, como de fato pensa assim. Agora examinaremos outras idéias que estão por trás desta força (ou seria farsa?)

2. Saúde Mental

A

O argumento nº2 para me colocar em um sanatório diz que eu não estaria mais no mundo real. Que as drogas que eu uso distorcem a realidade, embaraçam os sentidos; que eu estou tentando escapar para o fantasiado mundo das alucinações ilusórias. Então, essa realidade oficial aí não é uma ilusão? Ela é "real"? Tenho minhas dúvidas. Vou soar clichê de novo: pense numa geração inteira acreditando em anjos, e eles enxergarão anjos; pense numa geração acreditando em OVNI's, e eles verão OVNI's no céu. Mas os bandos de tristes primatas parecem ter essa mania, de achar que devem sempre demonstrar “firmeza” quando se deparam com o que deve ou não ser visto, com o que deve ou não ser pensado; quando a sociedade dita coisas como, por exemplo, com que tipos de rostos e corpos eles deverão associar seus desejos, etc. E assim vão os primatas, apressados em atingir os parâmetros doentios dessa vida - vida que parece mais ser um sintoma de algum tipo de doença coletiva. Assim vão eles, seguindo esse projeto de vida sonhado, pelo menos até que seus corpos envelhecidos atinjam uma "deformação" sem volta. As pessoas ficam presas a uma mesma idéia de realidade...

Eu acho que esse pensamento consensual, essa crença das pessoas em geral, de sociedades anteriores ou da nossa própria, de que elas estão vivenciando "a Realidade verdadeira", é bastante infundada, infantil e perigosa. Eles balançam livros sagrados com as mãos, batem punhos em mesas, ou então, mostram uma foto de uma molécula - e acreditam que assim estão comprovando experiências de realidade.

O que se segue na próxima página (página e meia) pode ser até meio chato para algumas pessoas, mas é muito importante para outras, como um exemplo da lógica simples que pode ser usada para expôr os tipos de bobagens através das quais muitas de nossas desgraças são construídas.

Eu conheço muito pouco de biologia, física ou ciências cognitivas em geral. Mas confio nas opiniões que coloco a seguir, e que estão baseadas em informações facilmente disponíveis para qualquer pessoa interessada. Aquilo que nós de fato "vivenciamos" (enxergamos, ouvimos, tocamos ou sentimos o cheiro) é somente uma pequena, microscópica parte do universo ao qual nossos sentidos reagem. A realidade total estaria fora de nosso alcance, pois somente podemos vivenciar aquilo que somos capazes de vivenciar, no máximo podendo otimizar, através de máquinas, a experiência que já somos projetados a poder vivenciar.

Quando uma árvore tomba e ninguém está ali para ouví-la tombar, ela na verdade não está fazendo som algum. Os sons não possuem uma existência externa aos ouvidos dos seres vivos. O som é uma vibração no ar, que acaba se tornando "som" apenas quando estas vibrações entram em contato com o ouvido, ou com qualquer outro aparelho auditivo de um ser vivo qualquer. Sons não existem externamente a nós, seres vivos. São apenas vibrações no ar. Para ser mais preciso: o som é uma coisa, é essa coisa que nós percebemos com o auxílio de nossos aparelhos auditivos, enquanto vibrações-no-ar. Por acaso, chamamos essa coisa de som. O que está além disso não poderíamos saber, só podemos saber daquilo que nossos sentidos traduzem em sons, aromas, cores, etc. A realidade infinita, total, seria uma idéia muito além de nosso alcance.

Já posso adivinhar, a essas alturas, contra-argumentos que alguns leitores poderiam atestar conforme o senso-comum: "Ah, se as cores existem somente dentro de nós, como todos nós reagimos da mesma forma a elas? Se cinqüenta pessoas ouvem um som, isso não significaria que ele têm uma existência externa a elas?" Não exatamente. Isso só significa que os órgãos dos sentidos dos cinqüenta humanos são padronizados, por isso é que certos aspectos da realidade são traduzidos em uma informação semelhante (realidades internas semelhantes), por órgãos semelhantes. Se junto destas cinqüenta pessoas colocássemos cinco cachorros, e eles reconhecessem também o som, isso só significaria que alguns órgãos dos sentidos nos cachorros são parecidos em tese com aqueles dos seres humanos. Não significa dizer que haveria um "som" objetivo, externo às pessoas e aos cachorros - havia alguma coisa à qual seus ouvidos reagiram, tornando possível um "som" dentro deles. Essa é a padronização biológica: seres humanos vivenciam uma realidade, porcos vivem uma outra realidade, cobras uma terceira realidade, aranhas uma quarta, moscas uma quinta, peixes uma sexta, e por aí vai. Estas realidades não existem "externamente", mas sim "internamente" à cada ser vivo, que por sua vez é parecido com todas as outras criaturas de sua mesma espécie. Cada uma destas "realidades" é real o suficiente para que cada espécie sobreviva - logo, todas elas são verdadeiras, e ao mesmo tempo. Isto significa, também, que o meio ambiente provocará nos seres muitas impressões diferentes entre si - tão diversas quanto possam ser diversos os organismos na Terra. Nosso mundo é uma coleção de um número indecifrável de realidades sobrepostas - e nós só podemos vivenciar a nossa! Não parece pretensiosa essa idéia de realidade “verdadeira” em relação aos sentidos?

Além desta padronização biológica que falei acima, está a padronização social: é quando um grupo de humanos é programado por outros humanos, a ver, pensar, se expressar, viver e morrer de uma mesma forma. Diferentes sociedades, em diferentes épocas, existiram (ou pelo menos, mantiveram-se) em diferentes realidades. Estas realidades são construídas por seres humanos, mas não conscientemente. Uma pequena parte - a parte visível, legítima - de cada uma destas realidades é construída e mantida conscientemente - e todo o resto, ou seja, milhões de detalhes e de mecanismos implícitos, mentiras e medos, anjos e demônios - todos estão no subconsciente. A matéria invisível, os padrões e as lógicas escondidos por entre as realidades humanas, são subconscientes. Portanto, pode-se dizer que a raça humana vive em sonhos diferentes (pra não falar em pesadelos). E cada sonho é vivenciado como se fosse uma experiência totalmente desperta, para o grande infortúnio de todos nós.

Essa idéia de realidade verdadeira estaria muito além da experiência social e biologicamente padronizada de vivermos como seres humanos. As realidades parciais, possíveis, já são muitas, a maioria delas também inacessíveis para muitos indivíduos - e todas elas são igualmente surreais.

Algumas sociedades chegaram a perceber isso de algum modo, permitindo aquilo que eu chamaria de uma maior diversidade no mercado de realidades. Os diferentes partidos políticos voltam-se à realidades diferentes, devaneios diferentes. O que seria uma verdade incontestavelmente ligada à natureza do homem e da sociedade, para um socialista, pode ser questionável a um centrista, e certamente soará como um grande absurdo, para um conservador de direita. Você não pode dizer que um partido nos oferece a realidade verdadeira, enquanto que todos os outros são doidos varridos. Quer dizer: até pode, sim. Mas eu acho que uma sociedade de um partido só não tem graça, e se você prefere viver em uma, seria até meio contraditório que continuasse lendo este livro. Veja as religiões: cada religião oferece uma realidade diferente; e algumas vezes radicalmente diferente. Você não pode adotar uma e dizer: "Esta é a realidade e todas as outras religiões estão sendo mantidas por um bando de retardados alucinados". O mesmo vale para arte, música, e as várias correntes filosóficas ou de meditação. Não vamos nos esquecer também das centenas de milhares de curadores pela fé, videntes, astrólogos, praticantes de magia negra, praticantes de magia branca, e toda e qualquer outra pessoa que saia por aí fazendo gestos, consertando campos de energia, lendo o futuro ou conversando com seres iluminados vindos de qualquer lugar imaginável. Então, se para os cristãos ou muçulmanos já de antigamente falar com Deus sempre foi uma coisa normal, e o é até os dias de hoje; e se uma velha senhora não é colocada atrás das grades quando ela olha para o futuro com a ajuda de espíritos, não há razão alguma para me colocar atrás das grades só porque eu vejo um monte de bobagens esquisitas quando estou chapado. Então eu sou um louco? Comparado a quem? Quem é esta pessoa, que estaria servindo como padrão de normalidade? Estou ainda pra conhecer uma pessoa normal. Todas que já encontrei até agora variaram de levemente malucas a intensamente malucas, de levemente doentes a muito doentes. Nunca encontrei quem pudesse ser considerado completamente normal e saudável. E querer forçar uma crença de que você é normal e saudável, mesmo sabendo perfeitamente que você não é nem poderá ser, e usar de álcool, pílulas, masturbação excessiva, tabaco, telenovelas ou religião para suprimir esta consciência, somente o lançará cada vez mais fundo a labirintos de mentiras e de sofrimentos. Porque não desistir disso tudo, vivenciar seus intensos mas limitados momentos de sofrimento, e então, com uma alma mais leve, começar tudo de novo?

Neste mundo humano no qual criamos e habitamos, existem alguns fluxos de compartilhamento entre diferentes realidades, e enquanto eu acredito que deveria haver um mercado livre de diferentes realidades, o estado e a igreja acreditam que eles possuem um direito natural sobre o monopólio de realidades. Acho que cada membro de igreja ou pesquisador de laboratório pode acreditar no que quiser, mas isso não deve ser uma lei de estado - os governos deviam estar voltados a outras coisas. Seres humanos vivem juntos e seguem regras visando proteção mútua, visando alcançar coisas que um humano sozinho não conseguiria. Esse Estado deveria ser um aparato de estruturas sociais para que um bom ambiente de trocas, serviços e idéias se dessem de forma segura. Deveria cuidar para que pessoas não roubassem, matassem, estuprassem, torturassem ou enganassem umas às outras. Que o forte não se aproveitasse do mais fraco, que aqueles que não conseguem sobreviver por si próprios sejam protegidos pelos outros. Mas ao invés disso o Estado age como um Deus, afirmando que possui o conhecimento definitivo sobre o homem e o universo - afirmando aquilo que posso comer, beber, fumar, no quê posso pensar, ver, ouvir e sentir; afirmando que devo fazer tudo isso do seu jeito. Porque, é claro, o Estado não somente pensa saber tudo sobre o presente, como também acha que prevê o futuro... é só isso que o permite julgar, sem constrangimento algum, que se eu fumo maconha ou cheiro pó hoje, inevitavelmente me tornarei no futuro o maior dos ladrões estupradores alucinados.

B

Os cidadãos-de-bem jamais admitiriam isso, mas na verdade são justamente as noções de realidade deles (suas mentiras e pretensões) que criam estes monstros aí em torno de nós, pessoas que usamos drogas. É claro, eles nunca iriam tomar para si a responsabilidade, de estarem definindo seus filhos, companheiros e companheiras como pessoas histéricas, sádicas e assassinas, enquanto que procuram a culpa em algum agente externo qualquer: o diabo, a conspiração, as drogas, músicas ruins, filmes ruins... Enquanto estas pessoas estão acordadas, muitas delas passam cada minuto de seu tempo tentando proteger suas frágeis realidades primitivas daquelas informações que poderiam descomplicá-las - e negam isso até a morte.

O que vejo, penso e sinto é problema meu. Só vai se tornar um problema social se eu matar, roubar ou estuprar; ou quando me tornar socialmente inadequado a ponto de querer subir em paredes ou não conseguir me manter vivo por meia hora que seja sem a ajuda de outras pessoas. E veja bem, isso só é válido para quando eu realmente começar a subir paredes, e não para quando alguém manifesta que acha provável que isto aconteça daqui alguns meses ou anos. Isso é bobagem, tratam-se de duas coisas diferentes. Uma coisa são os fatos, outra coisa são as especulações paranóicas dos primatas/cidadãos-de-bem/normatizadores.

Eu, meus amigos, e milhões de pessoas que usam drogas pelo mundo afora, não roubamos, estupramos nem tentamos atravessar paredes, e mesmo assim somos levados pra prisão ou para o tratamento compulsório em um hospital, de acordo com as teorias de saúde mental que estão na moda, com as certezas da moda sobre o que nós iremos nos tornar nos próximos anos e décadas.

Olhe, mesmo que eu acabe mesmo matando alguém em 2030, devido unicamente ao fato de usar drogas e não por qualquer outro motivo, há motivos para me prender em 2007? Isso é insanidade, não seria aceitável nem segundo as lógicas penais estilo Jornada nas Estrelas , mas incrivelmente é aceito por políticos, doutores e cidadãos de muitos países (isso, aliás, vai ser assunto para um outro capítulo).

Vamos concluir a questão da saúde mental: não importando o que aconteça em minha cabeça ou sob a minha pele; enquanto eu for capaz de me expressar, fazer alguns trocados, atravessar uma rua e etc. serei uma pessoa socialmente adequada, não uma pessoa maluca. E o que quer que eu veja, faça ou pense não estará no mundo para ser controlado por policiais, doutores ou políticos formais. Tentem imaginar uma pessoa com depressão crônica, ou uma sado-masoquista emocionalmente guiada por sentimentos de culpa, que trabalhe em um emprego maçante e que costume construir verdadeiros oceanos de mentiras entre ele e seus amigos e companheiros(as). Imaginem, agora, esta pessoa tendo a tarefa de julgar se você é ou não normal, talvez tomando a si própria como um parâmetro de normalidade. Bem, julgar ou não outras pessoas como normais será um direito dela (afinal isso que é liberdade, não?). Agora, se estas mesmas interpretações pessoais acabam sendo impostas e legitimadas através de aparatos repressivos ou de instituições biomédicas, aí estaríamos falando de um inferno. Estamos falando em uma sociedade que permite, através de suas leis, que pessoas como o Jimmy morram de overdose, e que no outro dia a notícia de sua morte seja vista como uma coisa desejável - como uma punição moral.

3. Moral Degenerada

A

Um argumento que corre por fora desse papo moderno de proteção compulsória à saúde (ou seja, a proteção usada para me forçar a esta situação desagradável que é doar dinheiro ao estado através de impostos, e receber em troco medo e ameaças) na verdade é um argumento bastante antiquado: o de que as pessoas que usam drogas têm uma moral degenerada. Aqueles que usam drogas são imorais, não possuem senso algum do que é bom ou mal, permitido ou proibido, o que faria com que não se tratassem de pessoas civilizadas. Elas são como bárbaros imprevisíveis que precisam ser enjaulados, se é que queremos que a sociedade sobreviva!

Mas o quê diabos esses cidadãos de bem estão temendo? Que imagem seria essa, de uma sociedade que não sobreviverá? O quê exatamente essa sociedade demonstraria, se por acaso eu não fosse enjaulado? Será Morte? Violência? Dor? Medo? Bem, essas coisas estão todas aí, já estão presentes, por séculos aliás, desde o início da história que temos notícia. Existiram assassinos, estupradores, ladrões e golpistas; houveram guerras brutais; pais sádicos e mães sádicas e filhos sádicos. Eu diria que há hoje ainda (por exemplo) uma sede de sangue tomando conta da mente de alguns policiais, fazendo com que espanquem pessoas indefesas. Bem, nenhuma das coisas acima pode, de forma alguma, ser o resultado direto e isolado do fato de algumas pessoas estarem fumando maconha ou viajando em ácido, ou de outras injetando (aquilo que se acreditam ser) heroína em suas veias.

Agora, convenhamos: dizer que eu seria uma das milhares de pessoas que financiam o crime organizado ou a máfia por comprar drogas ilegais, e que por isso estaria causando danos indiretos a terceiros, é uma típica manifestação histérica, repetindo uma lógica que só explica a si mesma e é muito pouco fundamentada. Eu compro drogas ilegais porque elas não são legais! Se elas fossem legais, eu estaria comprando drogas legais, e nem me importaria em deixar de financiar o tráfico, para ao invés disso financiar o estado - mas eu não tenho sequer esta escolha, e tudo isso por causa do próprio estado. E, mesmo que eu fosse de fato indiretamente responsável por manter satisfeita alguma pessoa envolvida na estrutura ilegal, porquê este ato indireto seria motivo para me mandar à prisão? Seria como se alguém fosse preso ou internado por ter comprado frutas sem pedir antes comprovantes das condições de trabalho das pessoas que estiveram na colheita, ou sei lá, por ter comprado alguma coisa sem pedir comprovantes de que os impostos estão sendo pagos, ou coisa do tipo. Eu nunca fui forçado a investigar as pessoas que fazem a camiseta que estou vestindo agora, ou as que distribuíram para a loja. Se estivéssemos em um mercado livre eu estaria apto a escolher qual destino meu dinheiro teria - porém como se trata de um mercado ilegal, graças ao estado, então eu pago para quem está me oferecendo. Não gostaria que fosse assim, gostaria de ter uma escolha, enquanto pessoa que usa drogas. Então parece ser a coisa mais hipócrita possível, que as mesmas pessoas que me privam da escolha de comprar drogas de uma forma legal, queiram me prender por colaborar com um crime organizado que eles próprios deixaram se organizar?

Uma outra questão sobre o fenômeno da moral degenerada, é que os valores morais, pelo menos do ponto de vista dos cidadãos-de-bem, teriam as seguintes características:

a) Não são dominantes na sociedade atual. Os ditos cidadãos-de-bem, ou os agentes, somente pensam que a vida funciona de acordo com seus valores morais, mas não é isso o que acontece. E além do mais, esses são sempre os primeiros a mentir e subornar - mas humanitários, são capazes de babar quando vêem uma criançinha no colo dos outros.

b] Estes mesmos valores morais nunca foram dominantes; nunca foram realmente seguidos. Cada geração sempre têm os seus velhos tempos, segundo os quais tudo era bom e hoje tudo está errado. Tristes primatas malucos.

Quando adultos tentam programar crianças para que vivam sob certas regras, eles não abrem o jogo com elas. O mais provável é que os adultos queiram construir um casulo de informações controladas em torno da criança, um micro-universo que não segue as regras do mundo observável (do mundo adulto); mas sim as maravilhosas regras especiais que existem na imaginação rasa do adulto. O adulto segue a ilusão de que se ele ou ela mentir, confundir e ameaçar a criança o suficiente (em busca sempre de métodos mais adequados para fazer isso), então de alguma forma o resultado dessa mistura aí de lixo mental e emocional que está sendo imposto transformará aquele ser numa boa criança, que certamente se tornará em uma boa pessoa quando crescer. O adulto já mantêm em torno de si próprio esta informação controlada, para tentar desesperadamente proteger sua personalidade da desilusão, e se a criança não aceita este casulo, isso coloca em risco o próprio casulo do adulto. A criança precisa ser imposta às mentiras do adulto, porque ele depende que as pessoas acreditem nelas.

Quando a próxima geração está programada, está sempre voltada às coisas boas da realidade corrente, enquanto que as coisas ruins são omitidas, como se não existissem. No processo, a criança aprende a mentir para si mesma e percebe conscientemente apenas a realidade imposta pelos adultos. Caos, medo, dor e confusão poderão fazer parte do processo de tornar-se adulto. Tentar ser a máscara que eles usam, recusar-se a aceitar o que está por trás dela, recusar-se a aceitar que existiria algo mais aí a ser levado em conta...

***

Continuamos... Quem quiser ajudar no projeto, mande uma MP, vamos combinar os capítulos!

Abraços

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  • 3 weeks later...
  • Usuário Growroom

Uma das melhores leituras que eu já vi. Como falaram, o raciocício e argumentação do cara são excelentes. Em muitos trechos parece que ele pegou a minha opinião e colocou no livro, só que de uma forma MUITO melhor, mais elaborada, mais explicativa. O cara escreve muito bem, e tem um ótimo domínio do assunto...

Valeu pela dica! :bong:

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  • Usuário Growroom

Ótima Leitura, com certeza, uma das melhores que ja li a respeito...

To baixando em Ingles, e ajudo na tradução tambem...

Podiamos reunir as partes, e disponibilizar para download/impressão !

Na integra !

:Maria:

[]'s

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  • 1 month later...
  • 6 months later...
  • 1 year later...

Faltou a letra C da introdução:

C

People who take illegal drugs, ‘drug abusers’, officially are criminals of the worst kind, who must either go to prison, so that ‘decent folks’ don’t get infected by their wickedness, or to

have their brains washed by normalizing psychiatrists, who in the previous decades kindly

cured in various parts of the globe, with their pills, electric shocks and syringes: children and

teenagers from masturbation; dissidents from anti-communism; women from their ‘hyper-

sexuality’; homosexuals from homosexuality. Normalizers. When one of the biomechanical

dolls begins behaving strangely, or communicating with weird signals, it must be disposed of,

or ‘fixed’.

- “Another one with a broken brain for you, doctor.”

- “Oh is that so? Lets just take a look… Hmm, yes, oh, ah yes… Nurse! Half a foot of wire, a

set of B class depth perception circuits and a sexual inhibitor type 3.”

In this book I mainly attempt to present and analyze the various arguments which support the need for my imprisonment or brainwashing, while at the same time presenting my own case of why I in fact should not be imprisoned or brainwashed. There are also some afterthoughts and additional comments. One final point: even if person X does not use drugs for anything ‘useful’ and only drifts aroundin a haze, this still should not make him or her a criminal. The most useless person in the world is not a criminal until killing, stealing or raping takes place. Everything else is a moral judgment of personal lifestyle, which should have no place in the laws of states which describe themselves as ‘impartial’, ‘democratic’ and ‘free’

C

Pessoas que usam drogas ilegais, "viciados em drogas", oficialmente são criminosos do pior tipo, que devem

ou ser presos para que "cidadãos de bem" não sejam infectados por sua loucura, ou sofrerem uma lavagem cerebral por psiquiatras normalizadores, que em décadas anteriores curaram carinhosamente em várias partes do globo, com suas pílulas, choques elétricos e seringas; crianças e adolescentes da masturbação; dissidentes de anti-comunismo; mulheres por sua "hiper-sexualidade"; homossexuais de sua homossexualidade. Normalizadores. Quando um dos bonecos bio-mecânicos começa a agir de forma estranha, ou a se comunicar com sinais esquisitos, ele tem de ser jogado fora ou "consertado".

- "Outro com o cérebro quebrado, doutor."

- "Ah então é isso? Vamos dar uma olhada...Hmm sim, ah, sim isso...Enfermeira! Meio metro de fiação, um conjunto de circuito B de percepção de profundidade de classe e um inibidor sexual tipo 3."

Nesse livro eu tento principalmente apresentar e analisar os vários argumentos que apóiam a necessidade do meu emprisionamento e lavagem cerebral, enquanto ao mesmo tempo apresento meus argumentos sobre como não devo ser preso ou sofrer uma lavagem cerebral. Há também alguns pensamentos posteriores e comentários adicionais. E uma observação final: mesmo se a pessoa X não usa drogas para nada 'útil', e só vaga por aí chapado, mesmo assim isso não deveria fazer dessa pessoa uma criminosa. A pessoa mais inútil do mundo não é criminosa até que mate, roube ou estupre. Qualquer outra coisa é um julgamento moral de um estilo de vida pessoal, que não deveria ter lugar nas leis de um país que se descreve como 'imparciais', 'democráticos' e 'livres'.

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