Nunca na história do Cannabis Cup uma batida policial havia acontecido. São 24 anos de luta pela legalização da erva e nada semelhante jamais ocorreu.
Podemos argumentar que é um evento comercial, americanóide, que não elege a melhor maconha etc, etc... Não vou perder tempo argumentando sobre isso. A grande questão é que esse evento é um marco. Ele é algo que representa muito no terreno da normalização da maconha. Uma batida no Cannabis Cup é uma declaração de guerra. A invasão da Polônia.
Eu, infelizmente não estava lá.
Não tenho o espírito do ativista. Sou apegado de forma assustadora a minha tranqüilidade. Nunca seria um linha de frente. Mesmo sabendo que estes são a parte mais importante em qualquer revolução.
Tendo dito isso, não deixo de enxergar a importância de pessoas como eu, que se dedicam a escrever de forma clara e didática como é absurda a política de ilegalidade.
Por tudo isso talvez você imagine que eu não queria estar lá.
Mas eu queria. Muito.
O que aconteceu foi histórico e meu lado jornalístico sofre pela ausência.
Então, para não perder mais tempo, decidi que precisava coletar mais informação e corri para as fontes. A primeira parada era o Melkweg, onde teria a festa com o Cypress Hill. A principal atração da noite do Cannabis Cup. Bolei um baseado de “White Snow”, do Homegrow Fantasy Seeds, tirei o cadeado da bicicleta e pedalei rápido.
O lugar estava abarrotado. Apenas duas viaturas estacionadas não muito longe dali. Um cenário completamente diferente do que havia acontecido na Expo algumas horas antes. Não demorei a encontrar um brasileiro, que conheci durante o evento, e ele passou a relatar os fatos que se sucederam na feira, com riqueza de detalhes.
A policia chegou ao local pouco antes das 4:20. Um horário simbólico. Em seguida fechou suas vias de acesso e pediu para a organização comunicar no microfone que todos deveriam sair do prédio. Falaram ainda que seria feita uma revista na busca por excessos no limite pessoal da lei do ópio que é de 5g para uso pessoal e 100g para Coffeeshops.
Segundo investigação da policia, que tinha visitado o evento um dia antes com oficiais disfarçados, havia clara infração a Lei do Ópio. Maconha estava sendo distribuída pelos estandes e pessoas carregavam volumes muito maiores do que as 5 gramas regulamentadas.
Em seguida o que se viu foi uma cena rara. Pessoas jogando sua maconha no chão ou tentando fumar o máximo possível. Baseados gigantes eram acendidos e o chão ficava coberto de saquinhos contendo as espécies de erva mais caras, valorizadas e potentes do mundo. Ninguém sabia ao certo quanto carregava então, na dúvida, melhor queimar tudo.
Rapidamente a policia separou visitantes de expositores. Esses últimos foram convidados a ficar em suas posições para futura revista mais qualificada e interrogatório. Segundo as testemunhas, toda operação foi feita de forma eficiente e educada. Mesmo estando armados, nenhuma delas foi sacada e o clima de animosidade ficava mesmo no momento em que os oficiais confiscavam a maconha. Sim, toda maconha foi levada e, mesmo a revista sendo bem tranqüila e até desleixada, muita erva foi apreendida. Nenhuma pessoa foi presa ou agredida, diga-se de passagem.
Números variam mas acredita-se que entre 100 e 200 policiais militares organizavam a operação enquanto alguns fiscais do imposto, com seus coletes verdes, interrogavam expositores sobre suas vendas, produtos e perguntando também sobre recibos relativos as transações.
Inicialmente, a notícia mais falada era de que o Cannabis Cup, por mudar o lugar da Expo, acabou afastando- se tanto de Amsterdã que estava sujeito a lei de outra jurisdição. Essa informação foi desmentida ainda na noite de ontem. Segundo a própria polícia, o que motivou a ação foi a informação de que expositores estavam dando maconha para o público. Esse ato é considerado uma violação da Lei do Ópio e desencadeou todo o processo de fechamento da feira.
Durante a noite no Melkweg, ainda houve o discurso de Dan Skye Diretor Executivo da High Times, que disse que o evento continuaria e que a manhã seguinte seria um dia triunfal para todos os presentes. Logo em seguida ele passou a voz para os caras do DNA Genetics. Segundo informações foram eles os expositores que tinham mais maconha na feira e acabaram assim sofrendo maior pressão dos agentes.
Eles desculparam-se sobre o fato da polícia ter levado os 5g da galera. Depois disso convidaram todos a irem com sua maconha para a Expo e mostrar para a policia quem manda. Além disso fizeram muita propaganda pelo fumo deles e pedindo votos aos juízes. Um fato que foi até engraçado pois eles tinha recebido a palavra para falar sobre a ação dos agentes e não sobre a maconha que eles colocaram para concorrer no evento.
Link com o vídeo:
Após o breve discurso do DNA Genetics, que no fim das contas não esclareceu nada, Dan Skye pegou o microfone novamente e falou que eles garantiam a continuidade do evento para o próximo dia. Ele bradou que tudo havia sido negociado com as autoridades e não havia motivos para preocupações. Finalizou dizendo que foi uma surpresa para eles e que todos que estavam lá faziam parte da história. Agradeceu todos com aquela vibração americana tradicional e motivou a platéia para o show da noite.
Conversei com outras pessoas ainda e aproveitei para ficar bem perto do Velho Soma que queimava descaradamente em seu cachimbo quantidades volumosas de haxixe. Com aquela carinha de velho safado ele acendia sua erva com um maçarico ridículo. Logo acima da cabeça dele um cartaz alertava para a proibição do uso de tabaco na pista de dança do Melkweg. Apenas tabaco, maconha estava liberado.
Amsterdã mudou muito para pior. Mas mesmo assim continua Amsterdã.
Para continuar sabendo mais informações sobre o evento podem conferir os posts futuros no meu blog.
http://diariosdocannabista.tumblr.com/