Um dia desses estava eu lá no APPP e li que uma user está grávida. Ela perguntava se havia perigo em fumar cannabis durante a gravidez. Fiquei curioso e fui atrás no growroom, aí achei dois tópicos digitando "gravidez" na busca, mas o cunho científico caiu para o lado mais pessoal da questão. Então decidi ir atrás dessa informação e colocá-la aqui no board cannabis medicinal, pois além de enriquecer a base de dados, posso ajudar ela e outras meninas do ponto de vista médico, não que ele esteja certo, pois existem questões éticas, e estereótipos, envolvidos, mas sempre é bom um outro ponto de vista em qualquer discussão. Bom, vamos ao que interessa:
A cannabis pode causar danos durante a gravidez?
O mais prudente é recomendar que a grávida não tome nenhuma substância que não seja estritamente necessária durante este período. O motivo é que está moralmente proibido utilizar substâncias desconhecidas durante a gravidez, pelo possível perigo oferecido ao bebê.
Os únicos dados que podemos dispor são do tipo retrospectivo: análises, depois do parto, do estado e dos costumes da mulher durante este período e que puderam ter influenciado, mas são muito menos confiáveis, pois não diferenciam entre o efeito da cannabis e outros que também puderam atuar.
Está claramente estabelecido que não é teratógeno, isto é, não produz má formação sobre o embrião. Tão pouco produz síndrome de abstinência no recém nascido, como ocorre com o álcool.
Se tem tentado relacionar com uma diminuição de ganho de peso fetal, abortos, partos pré-maturos e alterações cognitivas e na idade escolar. Mas nos estudos em que estão baseadas estas hipóteses, excluindo outros fatores, as diferenças encontradas com o consumo de maconha não eram estatisticamente significativas. Assim, por exemplo, há uma relação clara quando se tem realizado tais estudos em consumidoras com um padrão epidemiológico tipicamente ocidental: jovens (muitas vezes mães solteiras), com gravidez não planejada, de classe social média-baixa, consumidoras de outras substâncias tóxicas (especialmente tabaco), com má assistência médica, etc. No entanto, em outro estudo realizado na Jamaica, onde o uso de maconha é típico das classes altas e onde se costuma consumir por via oral, o resultado é que as crianças destas mães deram melhores resultados nos testes neurológicos que a população não consumidora de cannabis.
O suposto dano parece que viria da hipoxia (ou diminuição de oxigênio no sangue) como conseqüência do monóxido de carbono do fumo e dá combustão das plantas (seja a cannabis ou o tabaco), não dos componentes da maconha em si. Logicamente dependerá da quantidade consumida, mas parece que sua importância não é tanta, comparada com outros fatores como nível sócio-econômico, a alimentação, o esporte, uso de substâncias prejudiciais, condições de higiene e parto hospitalar, maturidade, estado psíquico da grávida, etc.
Tem também um post em portuguës muito bom sobre Cannabis na Gravidez no Portal