Sei que existem estudos que versam sobre a questão da intoxicação canábica. Mas, se entendo bem, é caso pra anos de consumo, e os efeitos não se parecem com esses que você descreveu.
No entanto, testemunhei uma experiência um tanto parecida com essa sua. Um brother começou a queimar uns comigo e passou a experimentar uma visão diferente da realidade. Não exatamente por causa da maconha, eu diria (e não falo só pra defender a planta), porém não é difícil notar os efeitos psicoativos dela. Vou chamar a erva de "catalisador" pra me fazer entender.
"Catalisando" com a química do THC, expus alguns fatos a respeito da vida, fatos que não costumamos dar atenção. Ele parecia entender o que eu queria dizer com as palavras que eu usava. Eu me sentia ouvido quando conversava com ele. Tinha sua atenção. Mas eis que um fato muito comum ficou nítido tempos depois: como a maioria de nós, humanos, que não nos comunicamos realmente com as pessoas, mas com as imagens que temos delas, ele desistiu de duvidar, e se aprisionou pelas conclusões a que chegou em algumas investigações filosóficas, tomando por realidade as interpretações que seus pensamentos lhe criaram.
Assim, ele se deixou levar por todos aqueles pensamentos, todas aquelas imagens. Assumiu "super-poderes", como você diz ter assumido também, quando o verdadeiro super-poder (quem puder entender isso, entenda) é na verdade estar livre do pensar e poder enxergar a realidade exatamente como ela é, intocável, livre dessas imagens que nossa mente cria.
Como consequência das escolhas que fez, muita coisa na vida dele começou a ficar confusa. Ele perdeu a namorada, se iludiu com várias ideias, começou a surtar e foi parar no psiquiatra, sendo internado em uma clínica na sequência, onde ficou sob observação por mais de um mês.
Hoje ele evidentemente se esforça pra voltar à vida que levava, e o faz também com a ajuda de drogas lícitas, sintéticas, adquiridas sob prescrição médica. Anda constantemente dopado. Mas quando conversamos (ou tentamos conversar), ele ainda expressa suas perturbações. Elas só não se manifestam mais da maneira que se manifestavam, mas ainda estão lá. Na sua voz embriagada de remédios, ele ainda parece "buscar", confuso, o que quer que ele esteja buscando.
Velhinho, não acredite em mim, duvide de cada palavra, mas reflita sobre isso: a confusão da mente não tem nada a ver com a maconha. A perturbação só fica mais alta, como qualquer coisa é mais fácil escutar depois de um beijo de Maria - seja a divina sinfonia do cosmo ou o barulho demoníaco das ilusões.