http://odia.ig.com.br/odia/ciencia/ci180901.htm
Quarta, 18 de setembro de 2002.
Tolerância com a maconha
Pesquisa mostra que muitos cariocas não reprimem seus filhos que consomem a droga Autor:Madalena Romeo
Pesquisa do Centro de Integração Empresa Escola (CIEE) com 1.772 estudantes de 11 capitais brasileiras revela que no Rio de Janeiro há mais jovens que fumam maconha com a permissão dos pais do que no resto do país. Dos jovens cariocas que disseram usar a droga, 14% podem fumá-la na casa dos pais. Porcentagem muito acima da média nacional de 3%.
Segundo Maria Thereza de Aquino, diretora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso das Drogas (Nepad), o Rio é mais liberal em relação às outras cidades. É uma espécie de Califórnia brasileira, onde se concentram pessoas mais liberais. Seria uma herança da geração, explica. A pesquisa foi encomendada pelo telejornal Hoje.
Outra pesquisa, realizada pelo Nepad nas escolas da cidade, em 1998, revelou que fumar maconha com os pais é um fenômeno exclusivo da Zona Sul carioca. Muitos jovens responderam que usaram a droga pela primeira vez com os pais, conta Maria Thereza. No entanto, também conheço muitos pais, que fumavam maconha na adolescência, mas que não querem que seus filhos usem a, conta.
Droga causa dependência e danos à memória
Para a diretora do Nepad, muitos pais passam para os filhos a idéia errada de que maconha não faz mal. Hoje, sabemos que a maconha causa dependência e danos reversíveis à memória, diz.
O presidente do Conselho Estadual Antidrogas, Gerson Hallais, lembra, porém, que a tolerância dos pais às drogas não é regra. Muitos pais também não vêem o problema dos filhos, afirma.
Quarta, 18 de setembro de 2002.
Mais segurança dentro de casa
A funcionária pública Laís, 51 anos, e seu marido, o arquiteto Éverton, 49, moradores de Copacabana, fumam maconha desde a juventude e nunca esconderam isso de seus dois filhos, que também passaram a usar a droga. Não gosto de hipocrisia e também acho que fumar em casa é mais seguro. Assim, eles têm menos chances de serem vítimas de policiais inescrupulosos, diz Laís.
Para ela, a maconha não é tão prejudicial à saúde como se fala por aí. Se fosse assim, ninguém aqui tinha uma vida normal, argumenta. O filho mais velho de Laís, com 25 anos, fez faculdade de Filosofia e, hoje, estuda para fazer concurso público. O caçula, de 21 anos, cursa faculdade de Comunicação.
Na pesquisa do CIEE, depois do Rio, as capitais em que os pais mais toleram o uso da maconha por seus filhos são Porto Alegre, com 9% dos jovens usuários, e Manaus, com 4%.